A Vida de Um Arqueiro! escrita por Neko D Lully


Capítulo 5
Treinamento de arqueiro - II


Notas iniciais do capítulo

Eu dividi esse cap para ter mais uma parte de treino. Espero que gostem desse cap já que me dediquei para fazê-lo, o proximo vai ter um pouco mais de intriga e coisa e tal e o proxim do proximo mostrará a proximide dos dois parceiros ai. Que esta acompanhando obrigada pelos reviews ^^, estão me fazendo ter animo a voltar a escrever essa fic, estou muito feliz com isso ^^.
Aproveitem a Fic ^^.



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A vida de um arqueiro!

Acordei no outro dia antes do sol nascer. Tive que ser rápida, porque nessas horas é sempre quando minha doença ataca e eu tinha que me apressar a ter meus ataques de adrenalina antes que todos descobrissem o que tinha. As vezes me perguntava do que tinha medo, porque não queria que todos soubessem isso que tinha, afinal poderiam me ajudar, poderiam me ajudar a saber qual seria a cura disso para eu poder viver melhor. E é então que acho a resposta, não quero que sintam pena de mim, não quero que me olhem daquela maneira de “pobre coitada”, não quero que tenham mais motivos para me julgarem e me fazerem de invisível.

Depois de mais uma de minhas travessuras no castelo, dessa vez para o Brinquedo de Cachorro, nem me perguntem o que fiz porque seria inapropriado por aqui. Bom... voltando ao assunto, depois que fiz minha travessura voltei para a cabana quando o sol estava começando a nascer, rapidamente tomei um banho e vesti minha roupa, indo para a cozinha e já pegando alguns ingredientes para um café da manhã caprichado. Não pensem que me preocupo com as pessoas que agora estão morando comigo, só quero comer bem se for para treinar arduamente todo santo dia.

Esquentei a água e logo peguei os grãos de café que vocês nem precisam saber que achei em um saquinho por ai, os amassei e coloquei na água. Coloquei na mesa os pães que pareciam não ter muito tempo que estavam ali, a manteiga e uma jarra de leite. Não consigo tomar o café sem leite e açúcar então, por favor, não me julguem. Quando vi que o café estava pronto apaguei o fogo e coloquei o jarro de metal na mesa, procurei então um peixe ou alguma carne para Estrela Cadente e por sorte achei dois peixes, peguei um e o coloquei em uma tigela perto de onde ia me sentar. Preparei o que ia comer e calmamente tomei meu café da manhã.

Estrela Cadente logo apareceu na cozinha e foi direto para a pequena tigela que tinha a meu lado devorando o peixe com toda a alegria que um gato poderia ter. Bebi meu café com leite e açúcar, comi meio pão com manteiga e logo me levantei caminhando lentamente para meu quarto e deixando Estrela Cadente comer em paz. Em meu quarto me encontrei com o arco que meu mestre Hunter havia me dado. Alguma coisa naquela peça de madeira me atraia e eu não sabia o que era, por isso não resisti mais e peguei o arco junto com a aljava e sai da casa, dessa vez conferindo se alguém me seguia.

Fiquei na parte de trás da cabana e então comecei meu treinamento por mim mesma. Só um treinamento de mira com o arco, assim saberia usá-lo quando precisasse. Retirei uma flecha da aljava que havia pendurado em meu ombro passando pela cabeça e agora ficando bem presa perto de minha cintura, em um lugar fácil de se pegar as flechas. Coloquei a flecha no arco e puxei a corda até se manter bem esticada e preparada e então soltei a flecha que cortou o ar para frente em uma velocidade que até a mim me impressionou e então acertou o tronco da árvore, mas se fosse mais alguns centímetros para o lado teria passado rente a arvore.

Soltei uma lamuria e então peguei outra flecha. Queria acertar o centro do tronco da árvore, mas todas as vezes a flecha desviava, talvez por causa da pressão do vento ou algo do estilo, e fazia com que acertasse um pouco mais para o lado ou mais para cima. Isso era insuportável e por mais que meus dedos doessem de tanto ter tentado não conseguia parar e mais uma vez me preparei para tentar novamente, mas quando estava prestes a soltar a flecha alguém grita meu nome e me faz assustar e soltar a flecha de mal jeito, ela bateu em meu dedo e caiu desajeitadamente ao chão de uma maneira que senti vergonha de mim mesma...

– O mestre pediu para você entrar! – gritou o Garoto Sem Cor e minha mão formigou para pegar aquela flecha no chão e acertá-la nele, mas respirei fundo e segurei o impulso, colocando o arco sobre o ombro pegando as duas flechas que tinha usado e as colocando de novo na cesta de flechas pendurada na minha cintura do lado direito e então caminhei na direção da pequena cabana de madeira que passei a morar. Apesar de fazer pouco tempo que estava ali já me sentia meio que em casa.

Subi as pequenas escadas que tinha lá chegando na varanda da casa e então empurrei a porta para dentro, mas mal tinha colocado o pé para dentro quando uma mala fora tacada em meu rosto quase me mandando para fora de novo. Atordoada encarei Hunter, meu mestre, vendo como permanecia sério e imparcial, mas o Garoto Sem Cor a seu lado, usando usas costumeiras roupas pretas, ria divertido da minha cara.

– Arrume suas malas, vamos fazer uma pequena viajem. – disse simplesmente Hunter e caminhou para fora da casa, passando ao meu lado e fechando a porta atrás de mim logo que passou por ela. O Garoto Sem Cor se aproximou de mim e sorriu divertido enquanto eu permanecia atordoada.

– Se eu fosse você se apressava, porque se não vai ficar para trás. – logo depois ele saiu da casa também, já carregando um pequeno saco verde onde deveria ter suas roupas. Suspirei e corri até meu quarto jogando a pequena bolsa que tinham me entregado na cama e comecei a colocar um pouco de minha roupa lá dentro. Estrela Cadente pulou sobre meu ombro e então sai correndo porta a fora da casa e me encontrando com os dois já montados em pequenos cavalos, desgrenhados e de cores um tanto peculiares. Deviam ser um pouco menor que cavalos dos cavaleiros, o do Garoto Sem Cor era negro, para variar, com algumas partes brancas enquanto o de Hunter era castanho avermelhado, tendo um olhar negro bastante inteligente.

E assim começamos a viajem. Enquanto os dois tinham aqueles pequenos cavalos, que não eram pôneis, já que seu tamanho era maior, eu ia a pé ao lado deles com Estrela Cadente em meu ombro. As vezes ela pulava dele e ia saltitando a frente, saltando algumas vezes para pegar alguns pássaros que faziam rasantes ali perto, outras vezes ela pulava para dentro da minha bolsa, deixando apenas duas pernas e a cabeça do lado de fora, adormecendo no calor que tinha ali dentro. Eu procurava não me manter parada, exigindo o máximo da minha adrenalina e aceleração cardiovascular para me manter saudável, viva na melhor das hipóteses.

Aproveitei então esse tempo para treinar o lançamento com arco e flecha, mirando um ponto chave a frente e deixando a flecha cortar o vento até chegar lá, sempre errando por apenas alguns centímetros. Hunter as vezes me dava algumas dicas para eu melhorar, mas sempre acabava na mesma. Não sei quanto tempo de viajem fiquei nesse meu treino incessante, mas sei que quando finalmente suspirei cansada Hunter anunciou que já estávamos quase em nosso destino.

– Se continuar assim seus dedos vão sangrar igual a um porco para a janta. – comentou o Garoto Sem Cor, que trotava com seu pequeno cavalo bem ao meu lado. Deu de ombros e mirei minha mão, aquela que segurava a corda do arco para puxá-la e lançar a flecha. As dobras dos dedos estavam cortadas e vermelhas, só não saia sangue porque um pequeno fiapo de pele ainda mantinha os vasos de meus dedos seguros, mas se eu tentasse arremessar mais uma flecha era capaz dessa pele arrebentar e meus dedos começarem a sangrar. Meus ombros estavam rígidos e tive que rodá-los um pouco para que voltasse ao normal. – Tem espaço na sela de Gruter se quiser subir. Tenho certeza que ele não vai se incomodar em ter um pesinho minúsculo a mais.

Observei como o Garoto Sem Cor, meu agora parceiro de treino, acariciava a crina do cavalo que me olhou com os olhos negros inteligentes e bufou despreocupado, como se dissesse que não teria importância, e que eu realmente tinha um pesinho minúsculo. Devia admitir do tanto que comia não era de se impressionar que não pesasse quase nada, mas fazer o que? Não tinha muita fome.

– Não é necessário. Estou bem andando. – respondi movendo despreocupadamente a mão de cima para baixo. Minhas pernas estavam doendo um pouco por ter caminhado todo esse tempo e podia jurar que meus pés já tinham bolhas estouradas dentro da bota de couro que usava, mas não montaria nesse mini-cavalo. Orgulhosa? Completamente, aceitar ajuda depois de tantos anos agüentando viver sem um pingo de compaixão era simplesmente inaceitável. Podem me chamar do jeito que quiserem, mas sou o que sou e não vou mudar. Sem falar que tinha outro ponto muito importante nisso tudo. Não posso ficar calma e no trotar que aquele mini-cavalo ia eu provavelmente morreria! Quanto mais longe estivesse daqueles cavalos calmos eu estaria viva.

– Além de irritante é orgulhosa também? Vamos! Quando chegarmos é capaz de você não conseguir dar mais nenhum passo! – exclamou e eu apenas dei de ombros passando sua frente e chegando perto do cavalo vermelho de Hunter. Ouvira ele dizer seu nome e acho que se chamava Destroctos, mas não tenho certeza. Ele parecia ser bem treinado e movia suas orelhas de um lado para o outro captando todos os sons do lugar, mas sua cabeça não movia e seus olhos permaneciam atentos na estrada a frente. – Pelo menos não pregou uma peça hoje.

– Ah! Isso me fez lembrar que o Barão pediu para te perguntar Star se você sabe alguma coisa sobre o que aconteceu com o assistente dele. – continuei andando normalmente, prestando bastante atenção no que Hunter falava, mas ao mesmo tempo tentando segurar o riso que estava prestes a escapar de minha boca. – Dizem que ele esta enfermado na área medica do castelo por causa de ter acordado com uma queimação entre as pernas. Ao parecer alguém colocou pimenta dentro de suas calças.

– Por que eu fui abrir minha boca? – ouvi o Garoto Sem Cor murmurar em um suspiro deprimente enquanto as gargalhadas escapavam de minha boca e eu saia correndo a frente sendo seguida por Estrela cadente que saltava ao meu lado alegremente. Brincávamos de pega uma com a outra e por mais que ela fosse um gato isso tornava a brincadeira ainda melhor, já que ela era esperta o suficiente para escapar de mim com facilidade.

Passávamos agora por uma estrada de terra ligeiramente estreita, muito usada por comerciantes para chegar no feudo de Night Sky, que estava a apenas alguns dias de viagem do feudo de Arcanjeu. Ao lado da estada era possível ver uma campina verde clarinha que se estendia até onde vista podia alcançar e como não havia montanhas por perto o vento soprava com força, mas uma força calma que apenas servia para empurrar as roupas e os cabelos. Eu e Estrela Cadente corríamos a frente rindo e nos divertindo as custas do Brinquedo de Cachorro que eu, prazerosamente, fiz uma malvada brincadeira. Fora a mais pesada que já tinha feito e não me arrependia.

Aos poucos dava para deslumbrar uma cabana a frente, parecia mais uma fazendo com um enorme terreno lamacento e um estábulo para cavalos, mas não via nenhum nele. Estrela Cadente correu na direção daquela pequena fazenda e eu não demorei a segui-la. Nem me preocupava com os dois atrás de mim até que, quando cheguei na entrada daquela pequena fazenda, senti meu pé atolar na lama fundo, mas que aparentava ser apenas uma pequena e rasa poça de lama. Afundei até a metade da canela naquele amontoado de terra molhada e escorregadia e por causa disso cai de cara na lama sujando toda minha roupa azul e branca.

Retirei o rosto da lama e me encontrei com Estrela Cadente que só tinha seu fino rabo para fora daquela poça e fui obrigada a segurá-la por ele e puxá-la daquela maneira. Ela miou desagradada e eu a ajeitei em minha mão rapidamente, a colocando na cerca de madeira que tinha ali do lado, enquanto tentava levantar, mas novamente escorreguei e cai sentada na lama afundando até a cintura. Os dois mini-cavalos de meus companheiros passaram a meu lado e o Garoto sem cor me ofereceu uma mão. Dessa fez, enquanto ria, sendo que apenas tinha percebido que estava rindo agora, e não era apenas um leve riso, eu estava gargalhando sem parar quase morrendo de tanto rir. Quase não respirava! E enquanto via minha roupa suja eu apenas ria ainda mais!

O Garoto Sem Cor, meu parceiro que tentava me manter de pé, não compreendia porque eu ria tanto, mas eu não me importava e novamente cai no chão lamacento. Minha mão estava escorregadia por causa da lama e meus pés deslizavam facilmente pelo solo instável. Não me perguntem porque ria tanto, só sei que me divertia muito com o que acontecia e nunca tinha rido tanto em toda minha vida. Não sei, a vontade apenas me bateu como se fosse outra pessoa a ter ocorrido isso.

– Pelo menos isso prova que ela é digna de achar grassa mesmo quando ela mesma é alvo de risadas. – comentou Hunter um pouco a frente enquanto novamente tentava levantar só para escorregar mais uma vez e dessa vez, puxar o Garoto Sem Cor para fora de seu cavalo e o fazendo cair na lama junto comigo. Ai mesmo que desatei a rir, ele se lambuzou todo de lama e seu cabelo negro agora se encontrava marrom ao igual que sua roupa. Ele havia caído de cara na lama bem a meu lado.

– Mas que bagunça é essa?! – exclamou alguém ao longe que pude ouvir por cima de minhas risadas histericamente estrondosas. Um homem velho, de quase nenhum fio de cabelo na cabeça, sendo que os que permaneciam eram grisalhos e finos, a pele morena por ter trabalhado tanto no sol, o corpo já não tão forte como deveria ter sido um dia, mas que ainda permanecia em um bom estado de saúde e sendo um pouco maior que Hunter apareceu, com a corcunda bem a mostra e os olhos azuis claros reluzindo de desgosto e reprovação. Ele se aproximou de onde estávamos ficando do lado de Hunter e o encarou atentamente e logo a mim e o Garoto sem cor. – Hunte, esqueceu de como controlar seu aprendiz? Ou a namorada dele esta tornando isso mais difícil do que parece.

– Namorada? – perguntei rindo divertida ainda, escorregando mais uma vez. Meu corpo já estava completamente sujo e sentia minhas roupas já incomodando por causa disso, tendo lama passando para dentro delas. Mas quem disse que me importava? Eu ria ainda mais com aquilo. – Ta brincando?Nem se eu estivesse morta!

– Ela é minha nova aprendiz Junior. Seu nome é Star, e veio aqui para ganhar seu cavalo de arqueiro. – aquilo me animou, mas eu não conseguia parar de rir, puxando a capa do Garoto Sem Cor o puxando para mais uma queda junto comigo. E dessa vez até o cavalo dele o traiu, saindo da lama e se sacudindo o deixando jogado na lama junto comigo. Estrela cadente estava comodamente posicionada na cerca, mas ainda completamente suja sabendo, de maneira temerosa, que teria que tomar um banho alguma hora. – Tem algum para ela?

– Sim, acho que tenho um perfeito! Mas primeiro ela vai ter que sair daí. – ainda rindo engatinhei pela lama até chegar na parte onde eles estavam, com um chão firme e forte, sem nenhuma lama para me fazer cair. Fiquei ali por alguns instantes tentando parar de rir e então me levantei pronta para receber meu cavalo. – E se diz uma garota? – eu apenas dei de ombros e caminhei junto a ele enquanto meu companheiro reclamava aos gritos ainda na poça de lama. Ele me encaminhou até um cercado que tinha ali perto e me empurrou para dentro enquanto caminhava para dentro do estábulo de madeira que se encontrava bem ao lado. Ele então saiu com uma égua bela, branca como a neve, a crista meio acinzentada e os olhos de um potente castanho que se destacava naquilo tudo. Era linda, um pouco menor que os cavalos de Hunter e do Garoto Sem Cor, mas parecia bem mais forte e capaz. Meus olhos brilharam de emoção. – Essa é Nevasca e se conseguir domá-la terá ela toda para você.

Ele colocou a égua dentro do cercado onde estava e fechou a portinhola de madeira trancando-a enquanto pegava algumas maças bem vermelhas em um cesto ali perto. O olhar dela era inteligente e eu limpei a lama que tinha no rosto, quase já dura pelo sol de meio dia que batia sobre minha cabeça. Sorri e me aproximei do animal lentamente, pronta para segurar as rédeas que já estavam presas em seu corpo, mas logo que toquei a corda negra a égua empinou e me arremessou para o chão e se afastando de mim.

– Cuidado garota, Nevasca pode ser mais astuta e perigosa que um cavalo de guerra. – disse o velho Junior enquanto eu permanecia deitada no chão. Encarei o cavalo diretamente nos olhos percebendo o desejo de liberdade e de superioridade. Era um animal esperto, igual Estrela Cadente não queria ter um lar domada por um humano, e eu respeitava isso, mas tinha que arrumar uma maneira de convencê-la. Porque para domar um animal selvagem era preciso força, mas para dominar um animal selvagem e esperto era preciso de jeito. Levantei-me e me aproximei novamente, mas dessa vez não segurei as rédeas apenas fiquei parada perto dela a encarando.

Analisei bem a égua a minha frente e percebi que seu olhar desinteressado passou de relance pelas maçãs e logo voltava a olhar para mim. Sorri como se respondesse alguma pergunta que ela tinha feito com o olhar e logo voltei a ver Estrela Cadente. Ela compreendeu o que eu queria e pulou dentro da cesta de maçãs que tinha perto de Junior. Enrolou uma maçã com seu rabo e a tacou para mim, eu a peguei com ambas as mãos e então, estiquei uma na direção do animal que encarou a maçã com desejo. Logo depois voltou a me ver atentamente e eu voltei a sorrir.

– Sei que me entende, então é o seguinte: Não serei sua dona, apenas sua companheira. Você me ajuda e eu te ajudo, certo? – esperei, se ela mordesse a maçã quer dizer que aceitava minha proposta, se não quer dizer que me rejeitava. Alguns segundos se passaram e a égua pareceu pensar em minha proposta. As vezes me impressionava com a inteligência dos animais, Estrela Cadente sempre me impressionava mesmo com o tempo que estávamos juntas ela sempre me mostrava que podia ser mais inteligente do que esperava. A égua se aproximou e deu uma pequena mordida na maçã em minha mão e eu sorri novamente. Lentamente segurei novamente suas rédeas e com cuidado subi em suas costas montando com cuidado. – Trato feito então.

– Desde quando fala com animais? – questionou o Garoto Sem Cor do outro lado da cerca e eu lhe sorri acenando com a mão. Bom, não que eu pudesse falar com eles, eu apenas compreendia que poderiam ser inteligentes e se comunicar de alguma maneira. Estrela Cadente por exemplo era inteligente o suficiente para saber que não poderia ficar zanzando por ai sem ter uma proteção, já que era muito pequena, e por isso ficava comigo, em troca de companhia eu a dava proteção e comida. Com aquela égua não seria diferente.

– Agora veremos do que você é capaz. – murmurei para a égua passando a mão por sua crina e segurando com firmeza as rédeas. A égua mexeu a cabeça com força e então desembestou para frente, cavalgando como nunca tinha visto um cavalo fazer. Era rápida, talvez até rápida de mais já que quando dei por mim já tínhamos saltado a cerca e íamos na direção dos morros cheios de gramas rasteiras, campinas que se alongavam até onde a vista podia alcançar.

O vento se chocava com meu rosto com força, parecendo querer arrancá-lo do lugar, meus cabelos sujos de lama se moviam ao vento com tal velocidade que não conseguia sentir um fio em minhas costas. A minha frente as montanhas vinham e iam tão rápido quanto conseguia ver até que de repente a égua parou e empinou, jogando as patas da frente para cima por alguns segundos, chutando o ar, e então voltara a ficar com as quatro no chão se virando para voltar de onde viemos.

Para minha surpresa a pequena fazenda não passava de um pequeno pontinho ao longe. Tínhamos percorrido uma enorme distancia em questão de poucos minutos, o que provava a velocidade daquela égua tão peculiar. Com um forte relincho ele cavalgou de volta para a pequena fazenda, na mesma velocidade de antes. E foi naquele instante, naquele exato instante que jurei estar ligada aquela égua, que apostava tudo o que eu tinha e me restava que havia sentido a liberdade que aquela égua sentia no momento.

Aos poucos a cerca de madeira ia ficando mais nítida, mais próxima até o momento que pareceu perto de mais. Por um instante fiquei com medo de que a égua trombasse com aquela cerca de madeira, mas então, com um único salto, Nevasca passou por cima da cerca, chegando a tocar o chão apenas uns três metros mais a frente. Fora uma experiência que nunca esqueceria em toda minha vida e quando saltei dela para ficar de pé no chão senti minhas pernas bambearem, minhas mãos tremulas e meu coração a mil! Mais emoção que aquilo era impossível!

– Ela é incrível! Nunca vi um cavalo ir tão rápido em toda minha vida! – exclamei extremamente feliz. A égua relinchou orgulhosa, balançando a crina com rudez. Passei minha mão sobre seu pescoço em uma pequena caricia de parabéns e peguei mais uma maçã que Estrela Cadente acabara de me entregar, logo depois de subir em meu ombro. Dei a égua e então me virei para os outros que me observavam.

– Ela pode correr nesse mesmo ritmo durante um dia e meio. É bem inteligente também, arisca que só vendo. – comentou o velho Junior que sorria e trazia uma balde em sua mão. Não compreendi porque ele carregava aquele objeto de metal ligeiramente amassado até que tacou em minha direção me obrigando a segurá-lo com os dois braços e ver que dentro dele tinha uma esponja, uma escova de cavalo e um sabonete. O encarei ainda sem compreender o porque daquilo tudo. – E agora ela é sua. Então você vai ter que cuidar dela. – apenas no momento que ele disse aquilo percebi que a lama ainda molhada em meu corpo completamente sujo tinha caído no pelo branco da égua, a sujando em vários pontos inclusive na crina. Ela realmente precisava de um banho. – Tem um posso perto do estábulo, pode ir lá pegar água.

– Pelo menos assim eu me limpo também. – comentei encarando meu estado deplorável e então puxando a égua de leve para fora do estábulo. Senti em meu ombro como Estrela Cadente estava prestes a se afastar, como todo o gato ela tinha medo de água e por esse mesmo motivo a evitava sempre que podia, mas dessa vez não. – Você vem também Estrela Cadente. Esta toda suja!

Ela miou em desgosto, mas eu a segurei com firmeza entre os braços e a levei junto comigo. Atrás dos estábulos de madeira cheios de feno e cheirando a coco de animal tinha um pequeno posso de pedra e telhado vermelho. Cheguei a me inclinar sobre sua beirada de pedra para ver onde estava a água, sorrindo ao ver que o posso era bastante cheio. Deixei os materiais dentro do balde na beirado do posso e então pendurei o próprio balde em uma corda que tinha ali o lançando logo em seguida para dentro do posso. Quando ele encheu o puxei para cima o segurando e puxando para fora da boca do posso. Coloquei o sabão dentro da água e esfreguei para que saísse um pouco de espuma, quando finalmente tive esse resultado, afoguei a esponja lá dentro e então a tirei, completamente inchada, e coloquei sobre o corpo do cavalo.

Eram esfregadas aqui, outras ali, jogava o balde cheio de água sobre ela e então me molhando um pouco como conseqüência. A lama se umedecia um pouco mais e escorria até o chão enquanto todas, até mesmo Estrela Cadente que sempre tentava escapar, ficávamos limpas. Não vi o tempo passar e quando terminei, deixando Nevasca e Estrela Cadente limpas, de pelo brilhando e penteado, deitadas comodamente em um estábulo que havia acabado de limpar, já estava de noite e o vento frio fazia minha pele exposta se arrepiar. Tinha tirado minha roupa para que ela secasse logo depois de ter dado uma boa lavada nela. Agora usava apenas um longo vestido branco que o velho Junior tinha achado para mim e que milagrosamente coubera perfeitamente em meu corpo. Ele tinha as mangas compridas, bem pregadas nos braços, e descia rodado logo abaixo dos seios.

Sentei-me em um monte de feno que tinha perto de Nevasca e me encolhi perto de seu corpo quente, natural de sua espécie. Estrela Cadente pulara em meu colo se acomodara novamente e voltara a dormir. Sorri e lhe acariciei a cabeça sentindo que ronronava inconscientemente. Talvez eu dormisse ali mesmo, junto das duas e tendo aquele maravilhoso conforto. Era claro que no dia seguinte teria que ser rápida para fazer uma de minhas travessuras e assim acabar com a dor que vou acordar sentindo, mas ninguém vai ver e era isso que importava. Pelo menos eu pensava que ninguém veria.

Enquanto estava sentada distraída no estábulo ouvi como a porta do mesmo era aberta e então, no meio da escuridão, vi a silhueta do Garoto Sem Cor entrando e se aproximando de onde estava junto com seu cavalo. O mesmo se acomodou perto de onde estava Nevasca, ela apenas o mirou sem muito interesse e voltou a dormir profundamente. O Garoto Sem Cor se sentou perto de seu cavalo em um monte de feno que tinha por ali e me encarou atentamente.

– Não comeu nada, não parou de trabalhar um segundo se quer, e vai dormir aqui? Garota qual seu problema? – questionou ele surpreso e eu apenas dei de ombros, sem dar muita importância. Estava acostumada a quase não comer, não me importava quanto tempo trabalhava nem a onde dormia, para mim tudo aquilo não tinha importância desde que continuasse com adrenalina suficiente para me manter viva. – Deveria se cuidar melhor.

– Se eu me importasse comigo talvez. – respondi virando de lado sobre o corpo de Nevasca e fechando os olhos para dormir, me esquecendo por alguns instantes do problema que teria no outro dia. Ouvi meu parceiro resmungar alguma coisa e então tudo caiu em um silencio profundo, mas ainda não tinha conseguido dormir.

– Um dia vai me contar todos esses segredos que esconde? – questionou o Garoto Sem Cor e por um instante o mirei de certa maneira confusa. Ele se importava com aquilo? Por que queria saber sobre mim afinal? Um pequeno sorriso surgiu em meu rosto, um sorriso de certa forma sarcástico.

– Talvez. – foi tudo o que respondi antes de cair completamente rendida ao sono.


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Notas finais do capítulo

O proximo já vou adiantando que vai ter um conflito entre a Star e o parceiro dela. Espero que os reviews continuem vindo e que eu continue com esse meu animo de escrever essa fic ^^. Logo estaremos chegando na parte que realmente interessa nessa historia toda e pequenos misterios começaram a crescer.
Bjsss!



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