Capitulo IV

Harry estava em casa, sentado no sofá afagando carinhosamente a cabeça que sua mãe descansava em suas pernas enquanto permanecia deitada assistindo junto a ele uma programação qualquer, coberta com um lençol

quente e limpo.

- Fico tão contente por você ter podido ficar hoje em casa, querido.

Ela amavelmente confessou ainda com os olhos presos na tela.

- Eu também, mamãe. Sentia falta de ficar com vocês.

Lilian se virou lentamente, ficando de barriga para cima, encarando Harry com seu olhar ligeiramente cansado e compassivo.

- Tem certeza que isso não lhe trará problemas, meu querido? Já bastam os sacrifícios que está fazendo por mim e...

Harry fez um sinal rápido para que se calasse.

Depois se encurvou ligeiramente para beijar-lhe carinhosamente a testa e a lhe afagar os cabelos castanhos.

- Por favor, mamãe... Não fale assim. Eu fiz esta escolha para poder ajudar a todos nós. A mim, ao papai e a você, porque eu os amo... Vocês são tudo que eu tenho; não estou me sacrificando ou carregando um peso maior que meus ombros podem carregar... E-eu... Se... Eu pudesse ajudá-los mais... Talvez... Você...

E Harry se calou, fechando os olhos, deixando as costas pesadas se apoiarem no acostamento do sofá, procurando a todo custo conter as lágrimas que persistiam em sair e os sons abafados da garganta. Lilian se levantou também e se sentou com as faces quentes e molhadas puxando o filho para seu colo e distribuindo beijos em sua face.

- Harry... Não, meu filho amado e querido, por favor, não chore meu bem. Eu ficarei bem, você verá! Esta doença não me vencerá, não deixarei! Então, meu filho, não sofra em demasiado... Não sofra tanto, meu querido, pois eu ficarei bem! Eu lhe prometo que ficarei bem. Oh Harry...

E ela sentiu os braços de Harry a envolverem e a abraçar desesperadamente, ainda chorando com sua face encostada em seus ombros lisos.

- Não nos deixe mamãe... Por favor...

Lilian também se agarra a ele com toda sua força e puxa de dentro de si a voz mais esperançosa e segura que encontrou, misturando suas lágrimas puras com a de seu filho.

- Eu lhe prometo, meu querido. Lhe prometo...

Longe aos olhos de todos estava Tiago encostado na parede do outro lado do corredor, escondido, tentando reerguer-se; respeitando o momento que pairava entre os outros dois... Sua cabeça pendeu e ele mordeu os lábios na esperança de abafar o próprio som. Procurava sempre a muito custo não chorar na frente da mulher, não preocupá-la, não entristecera. 

Então passou a acordar e a olhar para o lado e ver que ela dormia tão calma... Sempre tão linda e encantadora... E ele passou a orar e orava agradecendo a Deus pela benção de tê-la consigo por mais um dia, por ter a benção de tê-la em sua vida e na vida de Harry e o agradecia novamente pelo filho tão bondoso e amável que tinha.

E Lhe pedia que lhes dessem força, resignação e sabedoria para passarem por aquela forte prova... E que lhes dessem algum conforto... Porque ainda era muito doloroso... Era demasiadamente doloroso.

Tiago mantinha esperanças, ele mantinha apesar de tudo, e ele precisava disso porque se erguera através daquela base. Ele precisava ver sua esposa definhar lentamente e acreditar que ela se curaria, ele precisava ouvi-la dizer que ficaria bem e acreditar que aquilo fosse verdade; porque ele queria que fosse.

E então ele respirou fundo quatro vezes e secou a poucas lágrimas que não pôde segurar e se dirigiu sorrindo alegre à sala onde sua família estava – agora recompostos, mas permanecendo abraçados- com ambas as mãos segurando uma vasilha coberta de pipoca doce.

- Já posso colocar o filme família buscapé?!

- Sim!!!

Foi a resposta alta e divertida que ouviu. E ele riu verdadeiramente, sendo acompanhado por eles. Se sentou ao lado de Harry e dividiram todos o lençol onde outrora só permanecia Lilian.

Aquele momento pertencia somente a eles.

E ficaria para sempre na doce lembrança de todos.