Por Amor ao Esporte escrita por Machene


Capítulo 2
O Líder da Equipe Feminina




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Cap. 2

O Líder da Equipe Feminina

Jyrdan

Assim que chegam ao aeroporto, não demora e várias pessoas se juntam e ficam sobre os famosos jogadores do Fuji, ignorando, entretanto, as garotas. Desconfortáveis, elas entram de limusine na casa de verão de Schneider. Chegando lá, os convidados desarrumam as malas em seus respectivos quartos. Sem querer ocupar muito espaço, as já acostumadas garotas dividem os seus quartos, com duas camas cada, entre elas. Logo que podem, aproveitam o espaço de fora da casa para treinar, como todos os dias.

– Querem tentar a sorte jogando com a gente? – uma ruiva dos olhos castanhos convida os jovens quando percebe que estão observando-as – Vai ser divertido!

Natália – Eles têm mais o que fazer Brigite. – ela ri com a amiga, sem tirar os olhos da bola.

Brigite – Eu só sugeri. Achei que eles fossem aceitar.

Shingo – Mas... Vocês são garotas. – algumas das moças o encaram seriamente, fazendo-o recuar.

– É claro que somos! – ri uma delas, tirando os curtos cabelos negros da frente dos olhos verdes – A menos que alguém tenha resolvido mudar de sexo.

Brigite – Garanto que estamos todas muito satisfeitas como somos hoje, Molly.

Ken – E vocês não acham que vai ser um problema nossa diferença de preparo físico?

– Problema? – a goleira reserva do time gargalha junto às outras, balançando os fios mais escuros que os de Molly e coçando um dos olhos negros – Acho que não precisam se preocupar com isso.

Molly – Deise está certa, meninos. Venham! Será uma honra enfrenta-los. – as suas amigas riem baixinho e se entreolham, despertando curiosidade em alguns dos observadores.

Benji – Por que não? Vamos lá! – incentiva ao colocar suas luvas.

Oliver – Você tem certeza disso Benji? – sussurra – Elas podem se machucar?

Benji – Bom, elas não parecem preocupadas com essa possibilidade. Eu gostaria de ver por que.

A motivação de Benji desperta o ânimo do resto dos amigos, que começam a treinar junto com as jovens e logo percebem que a disputa aparentemente garantida não é tão fácil assim. Mesmo quando seus técnicos surgem no jardim, os conselhos de Roberto não os ajudam. Lupita fica de goleira. Ela permanece sentada no centro do gol o tempo inteiro, o que os rapazes tomam como um desafio e se irritam, então Misaki dribla todas com agilidade e chuta a bola.

Camila – Ei, Lupita, está indo para você! – grita.

A jovem amarra seus cabelos e levanta a perna esquerda para o lado. Quase sem sair do seu lugar, bloqueia o impacto da bola e empurra de volta para Misaki, que cai com tudo no chão. Ela tira os fios de cabelo da frente dos olhos e ri, já em pé normalmente. Está claro que esperava por aquilo.

Lupita – Acho que estão treinando muito pouco.

Hannele – Ou você deveria tomar cuidado com a força!

Lupita – Desculpe, não queria machucar ele. – logo todos cercam o rapaz.

Misaki – Não tem problema, eu estou bem. – levanta devagar.

Jamile – Tem certeza? – preocupada, ela toca em seu ombro – Você caiu feio.

Leo – O Misaki é forte, certo?! – os dois sorriem.

Juan – Você tem um chute forte! – comenta.

Gisela – Nem se pode dizer que ela chutou, ela só defendeu.

Rivaul – E de onde foi que vocês conseguiram tanta força?

Molly – Está surpreso porque somos mulheres?

Anastásia – A intenção dele não deve ter sido essa não, Molly. – suspira e balança uma das mãos.

Molly – Ele não seria o primeiro a achar isto.

Jun – Devem ter tido muitas preocupações por causa da discriminação. O povo de Braja parece ser preconceituoso... Digo isso porque já ouvi muitas coisas maldosas por aí.

Gabriele – Mas a maior parte delas deve ser verdade. A maioria da população é mesmo cheia de preconceito, mas estamos acostumadas com homens.

Emília – Ei gente, por favor, entrem aqui! – assim que todos estão dentro de casa, acomodados na sala, Emília começa – Tenho uma notícia complicada para dar a vocês meninas. Nem sei por onde devo começar, então tentarei ser direta... O Fórtica desistiu.

– O QUÊ? – uma ruiva dos cachos medianos espreme os olhos azuis em revolta – Mas já estava tudo decidido! Não temos mais nenhuma chance!

Emília – Eu sei Inara, e concordo: é injusto que não dêem uma oportunidade para vocês. Mas o líder da equipe disse que eles não competirão por causa da escala feita. O time foi escolhido à mão para o campeonato desde o começo.

Deise – Devem achar que não estamos à altura. Bem típico.

Kojiro – Desculpe, mas... – levanta a mão, reivindicando o direito de falar – Se eles já tinham dado a palavra que iam jogar, por que de última hora desistiram da ideia?

Emília – Eu realmente não sei dizer. Enquanto vocês estavam treinando, Roberto e eu fomos até a universidade Pritt falar com o técnico do Fórtica, o senhor Max Masanttini. Ele também trabalha como o treinador físico do time. O caso é que ele parecia firme com a decisão, mas como eu disse, foi o capitão quem recusou a proposta. Não estou certa do motivo, contudo, pode ser como Deise disse. Eles devem ter ficado ofendidos pela proposta de apostarem sua vaga na escalação do campeonato para mulheres.

Flora – Nós quem estamos ofendidas! Não importa se somos mulheres, isso é muita humilhação!

Emília – Eu sei querida. Realmente sinto muito.

Jamile – Não é sua culpa Emília, só estamos frustradas.

Inara – Agora nem os olheiros das universidades vão poder nos ver jogar!

Gisela – É uma pena. Se pudéssemos fazer alguma coisa...

Gabriele – E podemos! – interrompe, descruzando os braços e colocando as mãos na cintura – Não vamos dar nossa vaga de mão-beijada assim! Mesmo não conseguindo armar um time feminino em Braja, lutamos muito para que o Fever existisse. É burrice desistir agora!

Deise – E o que vamos fazer se não podemos jogar?

Gabriele – Esperem um pouco que eu cuidarei do resto. – vira de costas e agarra a amiga de trás pelo pulso, a de cachos da cor da cajuína mais pura e dos olhos moldados como a ameixa mais escura – Selena, você vai me ajudar! – puxa-a escada acima.

Selena – Mas ajudar em quê Gabi? – a coitada é arrastada para longe.

Alan – O que deu nela? Ela tem algum plano secreto?

Inara – A Gabriele é doida, então eu nem vou chutar nada, mas com certeza ela esconde muitos truques na manga em momentos assim!

Roberto – Bom, não podemos ficar de braços cruzados. Com jogo ou sem jogo, temos que ficar em forma, certo?! Eu levarei todos para a academia antes de irmos ao estádio Lune começar os aquecimentos.

Natália – Verdade? Que chique! Nós nem tivemos a chance de pisar no gramado do nosso próprio estádio em Braja, o Byte, e também não pudemos conhecer o Ecole em Silja antes da viagem.

Roberto – Pois eu vou cuidar pra que vocês conheçam quando tudo estiver terminado.

Brigite – Eu gosto da ideia de um tour especial com passe VIP. – os outros riem.

Emília – Vou avisar as meninas que estamos saindo.

Durante seu tempo de descanso, os rapazes começam a conversar sobre o que cada um descobriu sobre as moças. O fato de Kojiro ter conseguido conversar normalmente com Gabriele instiga os amigos, pois aparentemente todas as amigas a julgaram em comum como “muito difícil de lidar”. Duas horas mais tarde, quando todos já estão no estádio e os rapazes pausam o treinamento novamente, Selena aparece entrando pelo portão de ferro e com um estranho sorriso nos lábios.

Atrás dela vem um garoto estranho, mas com feições semelhantes às de uma pessoa conhecida. A jaqueta preta e o boné verde escondem bem sua identidade.

– Você demorou Sele! – boceja uma loira, coçando os olhos azuis marejados – São duas da tarde. Quanto tempo vocês pretendiam nos deixar esperando?

Selena – Desculpe Elaine, eu tive muito trabalho!

Camila – E pode-se saber cadê a Gabriele? – questiona, cerrando os olhos pela claridade e calor – Ela devia estar com você.

Gabriele – Logo você não me reconhece Mila?

– GABRIELE?! – todos gritam espantados.

Gabriele – Não, o Papa! Claro que sou eu! O que acham?

Elaine – Se você queria mudar de sexo exagerou um pouco, não acha?!

Natália – E não é que a Molly tinha razão! Aí Molly, como você sabia que uma de nós corta pros dois lados? – as demais garotas riem.

Gabriele – Vou meter a mão na sua cara, falastrona!

Lupita – Com certeza é a Gabriele. – ri.

Selena – Tudo bem Gabi, explica o seu plano de uma vez.

Gabriele – Ok. É simples: eu vou jogar contra o Filiam no time masculino de Silja! – olha para os rapazes estáticos – Ou seja, com vocês.

Elaine – Certo... Será que alguém pode chamar urgente um psicólogo? Temos uma crise aqui!

Roberto – O que está acontecendo? – chega perto junto de Emília, que logo ri ao ver Gabriele.

Emília – Mas que fantasia é essa? – toca na peruca dela.

Gabriele – Gente, minha ideia é perfeita: eu entro no Campeonato Esportivo Mundial no time Fuji e venço o Fórtica e o Filiam de uma vez só na competição!

Emília – O que disse? Minha filha, você está passando bem?

Deise – Gabriele, eu não quero ser cruel contigo, mas a Elaine tem razão. Como vai fazer se você acabar sendo desmascarada, e se alguém descobrir...!

Gabriele – Deise, não nos resta mais nada a não ser tentar.

Kojiro – É uma ideia bem estranha, mas pode funcionar.

Hannele – Fala sério? A chance de nos deixarem fazer parte dos próximos campeonatos se a Gabi puder passar pelos juízes sem ser percebida é grande, só que a probabilidade dela conseguir é mínima.

Selena – E temos outra opção? – pausa – Parece loucura, mas é a nossa última esperança.

Gabriele – É isso aí! O que você nos diz técnica?

Emília – Ora Gabriele, a decisão não é minha, é do Roberto.

Roberto – Claro que por mim não tem problema.

Emília – Por favor, Roberto, não brinque comigo, seja franco! Você está mesmo disposto a arriscar que seu time sofra uma suspensão das competições por nossa causa?

Roberto – Rapazes?... – os jovens se entreolham e acenam em acordo – Aí está a sua resposta.

Emília – Vocês podem perder muita coisa. Sabem disso, não é?!

Roberto – Podemos ser punidos agindo sem o consentimento dos presidentes e dos juízes, mas vou correr este risco. E pelo visto, os rapazes concordam comigo. – ri.

Emília – Tem certeza mesmo Roberto? Não quero trazer tormento para vocês.

Kojiro – Não se preocupem. A Gabriele não será descoberta com o jeito masculino que ela tem.

Gabriele – O que quer dizer, seu felino arrogante?

Hyuga – Vocês viram o que eu disse? – antes que Gabriele voe encima de Kojiro, Lupita e Jamile a seguram – Depois eu sou nervoso.

– Você é! – os seus amigos falam ao mesmo tempo e todos riem menos Gabriele, que ainda está ocupada tentando acertá-lo com um soco.

Elaine – Se o Kojiro provocar ela assim, os dois vão acabar se matando!

Gabriele – Eu mato ele primeiro. – a enfezada garota empina o nariz.

Com a decisão final tomada, os treinamentos continuam pesados, mas há uma mudança brusca no hábito de Gabriele, inexplicável de início. A técnica nota de longe as atitudes apressadas da garota, o mau humor mais constante, o tipo de alimentação redobrada na parte da gordura entre doces e salgados... O motivo é fácil: a culpa é de Kojiro! Não somente devido às provocações, mas o simples fato de ficar mais próximo da garota pra praticarem ataques juntos vai a costumando bem mal, e ele nem mesmo percebe.

Aos poucos, Gabriele começa a afastar outras existências femininas que possam prender a atenção dele, até inconscientemente; uma doença dependente, chamada AMOR! Um dia, Emília chama a garota para uma conversa a sós. As amigas estão treinando do lado de fora com os rapazes, Kojiro está fazendo uma vitamina recomendada por Roberto na cozinha e o próprio técnico deu a pausa desejada para assistir um pouco a televisão, portanto, elas se dirigem ao escritório atrás da escadaria que leva aos quartos.

Emília senta na poltrona em frente ao sofá de veludo, cruzando as pernas e esperando a sua filha adotiva se sentar, coisa que a garota demora a fazer ansiosa e nervosa pela convocação de última hora. A lareira não está acesa, mas a claridade vinda das extensas janelas, quase invadindo totalmente todo o aposento se não pelas cortinas, é suficiente para iluminar o escondido lugar.

Emília – Gabriele, querida, você está se sentindo bem?

Gabriele – É claro treinadora! Por que não estaria?

Emília – Bom... – junta as mãos – Ultimamente eu venho te observando, e as meninas me contam coisas aqui e ali que...

Gabriele – Que tipo de coisas? – corta.

Emília – Elas acham que está distraída.

Gabriele – Distraída? Eu estou jogando como sempre!

Emília – Não se trata apenas do futebol. Nós estamos percebendo o modo como vem tratando o jovem Kojiro e as garotas que o cercam.

Gabriele – O que tem aquelas peruas? – Emília não pode evitar um sorrisinho e solta suas mãos.

Emília – Gabriele, por acaso se lembra da primeira boneca que eu te dei?

Gabriele – Mas é claro! Era uma sua, de porcelana.

Emília – Isso mesmo, e ela tinha o seu nome! A pequena Gabriele...

Gabriele – Eu amava aquela bonequinha... Até ela quebrar.

Emília – E você recorda de como e quando ela quebrou?

Gabriele – Sim, foi um ex-aluno da minha antiga escola em Braja, e ele fazia parte de um time da liga de juniores naquela época. Quando eu estava mostrando a boneca às garotas, ele a tomou das minhas mãos e jogou no chão, dizendo que ela era feia.

Emília – Você se lembra de como reagiu quando ele fez isso?

Gabriele – Sim, eu soquei o nariz dele! – dá de ombros.

Emília – Pois é... – ri – E antes disso, você vinha contar a mim todos os dias como era divertida a escola quando via ele, não é?

Gabriele – Ele não era bonito, mas eu o achava legal, até ele fazer aquilo...! – emburra a cara.

Emília – É verdade. Sabe por que eu comentei isso?

Gabriele – Não faço idéia. – cruza os braços, se encostando ao sofá.

Emília – É porque eu queria te lembrar de como você é. – sorri – Desde a sua infância, nunca agiu como as outras garotas Gabriele. Você é muito linda, mas também tem atitudes bem pouco femininas. – a garota ergue uma sobrancelha – É irrequieta, cabecinha-dura, só de ver uma bola já tem vontade de jogar!

Gabriele – Mas o que isso tem a ver com os urubus que cercam o Kojiro?

Emília – O assunto não é com elas, mas sim com ele mesmo!

Gabriele – Ih, agora eu estou muito mais confusa! – cruza as pernas.

Emília – Com toda a certeza, eu nunca julguei as suas atitudes ou disse como devia agir ou falar em determinadas situações, a menos que você mesma viesse me perguntar. Gabi, você é a filha que eu nunca tive! – ambas sorriem – Eu te adoro como amo as meninas, e nunca teria começado esta conversa se não achasse que ela é necessária, levando seu comportamento meio estranho em consideração. – pausa – Aquela história da boneca eu trouxe a tona para te mostrar como a sua personalidade é diferente e anda diferente agora. Você não se comporta mais como antigamente.

Gabriele – Ok... Ainda estou boiando... Diferente como?

Sem elas imaginarem, Kojiro estava saindo da cozinha neste exato momento e parou para escutar a conversa, encostando agora o ouvido na porta.

Emília – Ora essa, eu pensei que perceberia que anda fulminando as fãs de Kojiro com os olhos, se não as congelando! – a moça arregala os olhos.

Gabriele – O quê?! – ri – Ah, mas se eu ando fazendo isso tem motivo!

Emília – E qual você acha que é então?

Gabriele – Eu não acho, é um fato! Todas elas são PIRADAS!

Emília – Está me dizendo que começou a fuzilá-las com práticas indiretas porque se transformou em uma discriminadora da loucura?

Gabriele – As malucas que são fãs dele são capazes de tudo! – desencosta do sofá, descruzando braços e pernas – Mais de duas vezes algumas delas invadiram a casa do Karl porque queriam tirar fotos dele ou até pegar um fio de cabelo! Negue a verdade!

Emília – Talvez elas sejam maluquinhas, mas você mesma disse: são FÃS! E quanto às outras?

Gabriele – Outras? Tem mais delas por aí? – eleva a voz.

Emília – Estava me referindo às fãs dos outros rapazes.

Gabriele – Ah bom... Delas eles podem cuidar.

Emília – E Kojiro não pode com as dele?

Gabriele – Pode!... Se ele aprender a correr mais rápido e não tiver medo de meter uma bolada na cara de qualquer uma delas, pode!

Emília – Ah, Gabriele Alves Monterrey, está se ouvindo?! Percebeu as palavras que saíram da sua boca agora? Se não fosse trágico eu acharia cômico.

Gabriele – Certo, admito, peguei pesado!... – ergue as mãos para abaixar em seguida – Talvez elas só devam ser engaioladas, não precisam apanhar.

Emília – Oh, meu Deus... – tapa o rosto e ri.

Gabriele – Qual a graça? Olhe, eu preciso voltar para o treino...

Emília – Está bem Gabriele, talvez você compreenda com o tempo o que eu quis te dizer com esta conversa. – a jovem levanta – Mas se lembre de uma coisa... Sendo toda ação causadora de uma reação, tome cuidado com o que irá fazer de agora em diante com relação às garotas atrás de Kojiro e ele próprio.

Gabriele – Ok, eu vou me contentar em só enforcá-las em pensamento! – abana as mãos no ar, rindo, e se dirige à porta – Tchau, mamãe.

Ao abrir a porta, Kojiro não está mais lá. Ele já havia saído ao ouvir os seus passos e voltou para o seu quarto. Gabriele então se dirige para lá sem pensar. Quando chega à porta do quarto do garoto, um dos poucos de solteiro, ela pára a mão no ar e próxima a maçaneta. Em um ímpeto de coragem, abre a porta sem bater e entra devagar. Kojiro está deitado, de olhos fechados e com as mãos atrás da cabeça. A garota toma fôlego. Se ele está dormindo, não a verá chegar mais perto, não?!

Ele não a vê se aproximando. Se ele está dormindo MESMO, não a escutará sentando na cama. E nenhum som ou outro sinal é feito por ele quando ela vem. Se ele está dormindo de VERDADE, a sua respiração precisa estar lenta... E ela está; Gabriele confere chegando mais perto do seu rosto. Mas... Um homem dormindo profundamente nunca sentiria sequer um toque de mãos, a respiração cortada de outra pessoa e menos ainda seus lábios. Será?

Alguém bem sensível talvez, porém, Gabriele sempre teve em mente a insensibilidade dos homens desde o dia em que sua boneca de porcelana foi espatifada por um.

Gabriele – Se os homens são brutos, indiferentes, cruéis e insensíveis com as mulheres... Perfeitos idiotas... Porque o meu coração está batendo assim, de um jeito tão forte, por um? – sussurra aborrecida, tocando em seu peito – Droga, eu não sou boba a ponto de não entender meus sentimentos! – começa a reclamar de si mesma, revirando os olhos e a cabeça junto – Bela porcaria! – volta a encará-lo.

A vontade de se aproximar mais ainda dele toma conta dela por inteiro. Ninguém olhando, ele nem impedirá se estiver mesmo no meio de um sono! E ela vai desperdiçar a chance de descobrir a identidade real do seu sentimento recém-acordado? A linda Gabi encurta a distância a ponto de tocar os narizes.

Gabriele – Ter me apaixonado por você é culpa sua, Kojiro maldito!

Kojiro – Tem certeza disto? – sussurra de volta.

A garota se afasta dele com o dobro da velocidade com a qual se assusta. Apenas um olho aberto, somente um pequeno sorriso e Kojiro se mostra um ciente atormentador com o perfeito mal que causa à pobre jovem, sendo todos os efeitos da sua brincadeira capazes de fazê-la cair para trás ao tropeçar em um banco. Se não estivesse de short, a situação seria mais grave!

Gabriele – Você estava acordado?! – grita alterada, se recompondo.

Kojiro – Tudo bem? – ele parece preocupado, se sentando na cama.

Gabriele – Ótima! – limita-se a responder, levantando e passando suas mãos pelos cabelos – Por que me enganou desse jeito?

Kojiro – Eu deveria estar perguntando primeiro por que disse aquilo.

Gabriele – Aquilo o quê? – se faz de desentendida.

Kojiro – Claro que sabe do que eu estou falando! Você disse...

Gabriele – Não, eu não sei! – ela vira de costas – Se não estava dormindo, uma pena alias, porque vamos treinar agora e seu tempo de soneca acabou, anda!

Kojiro – Não vai re...? – antes de terminar, ela já bateu a porta.

Chegando ao andar debaixo, todos já estavam achando estranho nenhum dos dois ter aparecido, já fazia algum tempo. Todo mundo está para sair pra academia, então ninguém se atreve a perguntar nada, especialmente para Gabriele e seu mau humor! Kojiro se mantém firme, apesar de achar estranho ela ter desmentido o que disse claramente. Mais tarde, na volta também a pé, Roberto chama-o.

Roberto – Kojiro, você sabe alguma coisa sobre o mau humor da Ga...

Kojiro – Não! – responde rapidamente, cortando-o.

Roberto – Eu acho que não preciso lembrá-lo da minha percepção muito aguçada e do meu celular com a lista cheia de telefones convidativos, dentre eles os de certas garotas que estão loucas para arrumar uma cobaia pro seu próximo experimento em andamento. Era alguma coisa sobre um jogador disfarçado de mulher em um time feminino, eu acho...

Kojiro – Mesmo que eu soubesse... – ergue uma sobrancelha com raiva, mas não retira as mãos do bolso – Eu não entendo a cabeça dela.

Roberto – E que homem pode entender a cabeça de uma mulher?

Kojiro – Vem alguma lição de moral por aí?

Roberto – É simples: não tente entendê-las, apenas apoiá-las. Assim elas virão até você. É como ser o lobo vegetariano do bando entre um rebanho de ovelhas medrosas; logo você será aceito por elas.

Kojiro – Isso é estranho e parece ser muito falso.

Roberto – Eu sei – ri -, mas é a mais pura verdade.

Kojiro – Sendo assim, vou tentar refletir sobre a moral.

Roberto – Só mais uma coisa... – começa a sussurrar em seu ouvido ao pararem de andar e olhando na direção de Gabriele – Quando estiver em apuros ela pode te ajudar a sair com dignidade da roubada, então é melhor aconselhar também o restante. Tratem todas muito bem, para sua segurança.

Kojiro – Se não fizermos isso vamos apanhar por acaso?

Roberto – Você pega rápido o espírito da coisa! – riem.

Continua...


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