Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 60
Capítulo 60 - Torre


Notas iniciais do capítulo

Desculpem por não ter postado antes, mas só tive tempo para sentar e escrever algo decente hoje. Mas..aí está. Boa leitura.



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"Não adianta mais olhar para trás..é ir em frente ou nada"

~ Martha Medeiros

Capítulo 60 - Torre

 Embora as meninas estivesse próximas da torre ainda precisaram andar por mais alguns minutos até conseguirem ver melhor a entrada do local. Tão perto, porém tão longe. Monalisa passou por todos os obstáculos, mas ainda assim precisava andar mais um pouco. O que eram alguns passos perto de toda a caminhada feita até então? Esse é daqueles momentos onde se pode ver a luz no fim do túnel, aquele momento onde se pode ver terra após ficar perdido dias no oceano. Se a esperança é uma pequena chama que insiste em ficar acesa na escuridão, agora essa chama havia aumentado, havia mostrado um pouco mais de seu vigor, iluminando uma área mais ampla. Serviria de lanterna para encontrar o caminho em meio à estrada que enfim estava chegando ao seu destino.

- Conseguimos - fala Monalisa, sentindo-se emocionada - Conseguimos, Ariadne!

- Não, você conseguiu - corrige a guia - Eu só mostro o caminho, mas é você quem decide se vai trilhar por ele ou não.

- Ah, deixa disso. Eu nunca teria chegado aqui sem você!

- Ainda não chegamos na torre - interrompe Ariadne, de forma realista - Mesmo faltando um centímetro, ainda pode acontecer alguma coisa.

- Mas o que poderia acontecer?

 A resposta se daria logo. Aproximando-se da entrada, Monalisa percebe que a torre inteira era cercada por enormes plantas cobertas de espinhos, tornando a travessia praticamente impossível. Será que...não havia uma entrada?

- O que é isso? - pergunta Mona.

- Espinhos - explica Ariadne - Nem pense em tocá-los...podem não te matar, mas talvez façam você perder tudo que conseguiu até agora.

- Só por encostar? - a garota se assusta, encolhendo as mãos diante da ameaça.

- Por via das dúvidas, é melhor não tocar em nada - fala Ariadne.

- Mas...como a gente vai entrar?

- Ora, não vai ficar nervosa por um detalhezinho desses - diz a ruivinha, sorrindo confiante - Você não chegou até aqui para ser impedida por uma coisa ridícula dessas.

- Entendo o que diz, mas não vejo nenhuma outra entrada - fala a loirinha - Parece que esses espinhos estão cercando a torre inteira.

- Estão sim - confirma Ariadne - Não importa quantas vezes você dê a volta nessa torre, há plantas gigantes com espinhos por toda a parte...é como o castelo da Bela Adormecida.

- Então...não querem mesmo que eu entre? - fala a garota - Mas existe algum jeito de entrar, não tem?

- É claro que tem - fala a guia confiante - Basta entrar pela porta da torre que está atrás de todas essas plantas. Simples assim.

- Mas se está atrás das plantas...como vamos chegar lá?

- Mais simples ainda. Se existe algo bloqueando o seu caminho, basta tirá-lo de lá.

- E como vamos fazer isso?

- Você não precisa fazer nada - explica Ariadne - Deixe isso comigo.

- Como assim?

 Sem dizer uma palavra, Ariadne começa a retirar alguma coisa da palma de sua mão. Mais estranho ainda é quando Monalisa começa a perceber que aquela coisa era, na verdade, uma enorme espada dourada de lâmina reluzente. Mais digno de contos de fada impossível.

- Uma...espada?

- Bastante simbólico, não acha? O herói é aquele que carrega a espada e a usa para derrotar o seu inimigo. Mas não acha estranho que eu seja a encarregada de usá-la? A heroína disso tudo é você.

- Nesse caso...pode me dar a espada que eu mesma traçarei o meu caminho.

- Oh, não posso - falou Ariadne, com um sorriso leve, mas por outro lado triste - Essa é a espada da guia. Só eu posso utilizá-la. Os eventos culminaram em um ponto em que para garantir a sua passagem eu preciso usar essa espada.

- Você sabe usar isso?

 Ariadne faz um movimento com as mãos e a espada que tornam a resposta dessa pergunta desnecessária.

- Não precisa se preocupar comigo. Cortando esses obstáculos, você pode entrar na torre sem problemas. O portão estará aberto. Acredite, eu sei.

- Não estou duvidando de você, mas...você está falando de um jeito meio estranho...

- Estranho? Por quê?

- Não sei. Sua voz está mais lenta...o que há de errado?

- Ah, relaxa - ela tenta se alegrar - São só plantas. Tudo que preciso fazer é cortá-las para liberar seu caminho. É como aquela história de Moisés abrindo o Mar Vermelho, mas aqui são plantas ao invés de água. Hehe. Mas nada impedia o Labirinto de ter colocado a Torre além do Mar Vermelho, na verdade, acho até que ficaria mais poético.

- Então não tem mais nenhuma dificuldade, não é?

- Não. Cortando isso é só você entrar.

- Você...por que está dizendo "você" e não "nós"? - pergunta Monalisa, com uma cara séria.

- Bem, isso é porque... - Ariadne muda para uma expressão mais triste, embora mantivesse um leve sorriso no rosto - ...nós nos despedimos aqui, Monalisa.

- O quê?! Espere! Nós não vamos até o fim? Achei que você fosse me mostrar a saída...achei que você tivesse que continuar existindo até tudo acabar. Como assim nos despedimos aqui?!

- Exato. Minha função é unicamente mostrar a saída. O fim de tudo está dentro daquela torre, Monalisa. Uma vez lá dentro você não precisará mais de mim. Não existirão mais dualidades e armadilhas. Tudo que você vai precisar fazer é seguir os acontecimentos sem se preocupar com nada.

- Sem...me preocupar com nada? Quer dizer que...

- Você não chegou na saída do Labirinto ainda, mas entrando por aquela porta não haverá mais nada com o que se preocupar. Mesmo que você precise fazer escolhas lá dentro, no que se refere a sair do Labirinto não haverão mais dúvidas. Você não precisa mais de mim. Depois daquela porta, tudo se desenrolará sozinho.

- Mas...o que vai acontecer com você?

- Não só comigo - corrige Ariadne - Com todo o resto. Esse é um momento em que você não tem mais necessidade de olhar para trás. Uma vez que você entrar por aquela porta, terei cumprido com a minha missão de te mostrar a saída. Você não precisa mais se preocupar comigo.

- Mas isso não é o mesmo que...

- Sim. Isso mesmo. Entrando por aquela porta você deixa tudo para trás. Só lhe restará alcançar o que você deseja. Fale com o Arquiteto e sane todas as suas dúvidas. Sua jornada finalmente chegará ao fim lá.

- Então...é mesmo uma despedida? - Monalisa fica com os olhos molhados. No final das contas, não podia deixar de sentir uma angústia. Ariadne foi a pessoa responsável por ajudá-la a chegar ali.

- O que foi? Não vai chorar, vai? Você não é apegada a mim como foi apegada a sua boneca.

- Claro que não! É que...você foi a pessoa que mais me ajudou...ainda acho que não fui agradecida o suficiente a você.

- Não precisa me agradecer por nada. Não fiz mais do que a minha obrigação. Minha função era te guiar até aqui.

 Ariadne falava de forma lenta, mas não era como se ela estivesse se segurando para não chorar. Na verdade, era como se estivesse falando de forma mais suave para não dar a impressão de que estava sendo fria demais.

- Muito obrigada por tudo! - Monalisa a abraça forte.

- Não precisa fazer isso...

- Eu sei. Não sou muito de abraçar...acho que você é a única pessoa que abracei por minha própria vontade e duas vezes ainda, mas...se não fizer isso agora, nunca mais voltarei a fazer.

- É...olhando por esse lado - diz Ariadne - Mas quero lembrar que foi a sua decisão de continuar tentando sair do mundo do Labirinto que me fez chegar até aqui. Como eu disse, essa era a minha função.

- Mesmo assim. Sou grata por tudo que fez.

- Não precisa ser tão sentimental. Sou apenas mais uma parte de tudo que encontrou até aqui. Não há menor necessidade de nutrir qualquer sentimento por mim. Quando terminar, tudo que deixou para trás deixará de existir. O Labirinto, as pessoas, os tutores, os vírus e eu mesma não seremos mais nada. Talvez não sejamos nem mais lembranças na sua memória.

- Sentimentalismo nunca foi meu forte, mas isso é radical demais até para mim - fala Monalisa - É impossível deixar de sentir alguma coisa por isso tudo...mesmo que tenha sido tão passageiro, senti afeição ou mesmo raiva. De certa forma isso tudo foi real, não?

- Se você achou que foi, então foi. Mas quando sair daqui, deixará de ser, mesmo que tenha sido.

- Desculpa, não entendi muito bem...

- Mona, você quer sair daqui, não quer?

- Quero. Foi por isso que lutei tanto.

- Então se desapegue e saia. Esqueça sobre mim e tudo que ficar aqui fora. Dentro daquela torre, você só precisará seguir as instruções e sair. As lutas e dificuldades para sair acabaram aqui. Você está com a faca e o queijo na mão...bem, no meu caso, estou com a espada e os espinhos na mão.

- Esses espinhos...são tudo que impede, não é?

- Na verdade poderia ser qualquer coisa. Poderia ser um tigre ou dragão protegendo. Poderia ser o Mar Vermelho para ser aberto. Enfim, poderia ser qualquer coisa que impedisse sua passagem. Mas haveria alguma coisa. Haveria alguma coisa que servisse de pretexto para nos despedirmos.

- P-Pretexto?

- Ora, Monalisa. Sendo eu sua guia, qualquer impedimento seria inútil. Mesmo que o impedimento fosse uma simples porta fechada, eu teria a chave. O impedimento não está aí para você não entrar e sim para tornar nossa despedida menos dolorosa. Ou você preferia que eu dissesse "tchau, foi bom brincar com você, mas acaba aqui"? Na verdade, essa é uma possibilidade, mas tivemos sorte de nos despedirmos ainda em uma última luta.

- Última luta... - repete a loirinha.

- Pelo menos uma última luta juntas - fala Ariadne - Lá dentro, você estará sozinha. Mas é um destino que ninguém poderá interferir. Não há mais necessidade de guia. Você não precisará mais se preocupar com destinos aleatórios. Tudo ficará claro lá, na presença do Arquiteto.

- Como será esse Arquiteto?

- Não é mais fácil entrar e ver como ele é? - diz Ariadne, balançando a espada e pronta para a luta - Eu estou pronta!

 Monalisa respira fundo e começa a refletir. Era um adeus, sem dúvida, um adeus não apenas a Ariadne mas a tudo que ficou para trás. Dentro daquela torre estariam as respostas para todas as suas perguntas. Se não havia mais necessidade de guia (pois a própria guia falou isso), então a jornada realmente terminava ali. No entanto, esse é o momento de angústia em não saber o que encontrará do outro lado. Desconhecido. Eis o maior de todos os medos. Monalisa sabia que havia lutado muito para ter aquela oportunidade, mas era inevitável sentir receio. Só naquela hora ela se toca que estava com muito medo.

- Você não vai me bater se eu disser que...estou com medo, vai?

- Claro que não - responde Ariadne - Posso ficar aqui dias ou anos com você até que se decida a entrar na torre...mas é a mesma história de sempre. Eu apenas te aponto as escolhas necessárias para sair. Se você vai obedecer ou não...isso é com você.

  O coração da menina batia cada vez mais forte. Mas também leva em conta todos os fatores. Que segredo tão grande era aquele que o mundo inteiro conspirava para mantê-la afastada dele? Por que devia ficar longe desse segredo? Por que criar uma realidade artificial para aliená-la tanto assim? Se não entrasse na torre, jamais saberia a verdade. Jamais iria entender aquilo que tudo, literalmene tudo, ao redor dela entendia. Ela era a única alienada. A única excluída. A única longe do conhecimento verdadeiro. Ela já havia feito sua escolha há muito tempo e não dava para voltar atrás. 

- E então? Vai ou não vai? - pergunta Ariadne.

- Sabe...eu devia mesmo ter tomado o café naquele dia - falou Monalisa - Mas já que descobri a mentira...vou descobrir a verdade agora.

- É o que eu esperava que você dissesse...

- Adeus...Ariadne - fala Monalisa, evitando olhar nos olhos ou mesmo no rosto dela.

- Adeus, Monalisa - fala a guia, erguendo sua espada e cortando todos os espinhos na frente com fúria e habilidade. Um caminho amplo se fez diante dela. Mas não havia tempo para ficar admirada. A garota corre na direção do caminho que foi aberto e logo avista a porta de entrada da torre. Deu certo. Tudo que precisava fazer era correr. Ela não olhou para trás. Não viu o último sorriso de Ariadne que concluiu sua missão com êxito. Não havia mais o que fazer. Estava consumado. Mas não para Monalisa. A loirinha corria o máximo que podia enquanto os arbustos se fechavam atrás dela. Enfim, ela chega na porta, abrindo e entrando. Acabou.

- Ufa! - suspira Monalisa. Assim que abre os olhos, ela olha para trás e vê que a porta desapareceu. Realmente, agora não havia mais nenhum meio de voltar atrás. Mas isso não significa que ela tinha saído do Labirinto. Ainda precisava se encontrar com uma pessoa. Sua única rota era vários degraus em espiral que provavelmente levavam ao topo da torre.

 "Essas escadas...elas devem levar ao Arquiteto", pensa a garota, "Finalmente...eu vou descobrir quem está por trás de tudo isso..."


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Notas finais do capítulo

É...mais dois capítulos para o fim. Até lá! ;)