Capítulo I – Entre mágoas e lamentos

Era a segunda vez que ele a via chorar, e a milésima vez que se condenava por não ir até ela e abraçá-la. Segurá-la em seus braços e consola - lá. Mas em vez disso ele a via de longe chorar. Um choro contido, já resultado de muitos anos de sofrimento pela rejeição do pai.

Ele estava a dois metros de distância dela. Uma distância muito pequena, mas na verdade eles estavam separados, muito longe um do outro. Neji há muitos anos havia construído uma barreira entre eles. Apenas a tratando com sua típica frieza, a futura líder do clã, prima, amiga de infância, primeiro e único amor.

Esperava que aquilo acabasse logo. Vê-la sofrendo o afetava muito. Vê-la chorando então era angustiante. Seu rosto tipicamente claro como leite, estava levemente avermelhado, seus olhos, que ele tanto adorava, inchados. Grossas lágrimas desciam de seus olhos perolados. Ela tentava inutilmente secá-las com a manga de seu casaco, que já estava encharcado.

Mesmo depois de tantos anos tentando reprimir o amor que sentia por Hinata, ele finalmente conseguia admitir para si mesmo seu amor pela prima. Só não tinha coragem suficiente para se declarar para a mesma.

Já cansado de vê-la chorar, foi em sua direção, e parou em sua frente. 

-Hinata-sama. – a chamou seu costumeiro tom frio e calmo.

-... Nii-san? – perguntou ainda enxugando seus olhos.

- Temos que ir, Hiashi-sama deve estar preocupado.

-Não!Eu... Eu não quero ir... – soluçou.

-Hinata-sama... Tem que entender seu pai. - ele pediu.

-Eu não o entendo! - gritou fechando os olhos.

Aquele fato, na verdade também o afetara muito. Saber que seu tio planeja que sua prima se case logo após ela assumir o clã, era um fato que mudara a vida dos dois.

-Como futura líder do clã é seu dever pensar antes pelo clã, do que por você mesma.

-Sim, papai.

-Quero que se case com o líder do clã Uchiha.

-O-O quê? - perguntou agora com seus olhos arregalados.

-Me é de bom grado a união dos dois clãs. Com certeza, isso só trará benefícios a nós.

-Ma-Mas.

-Mas o quê? – perguntou já nervoso pelo gaguejo da filha.

-Papai, eu... Estou namorando o Naruto-kun.

-... Está falando daquele Uzumaki?Ele sequer é um jounnin ainda.

Sentiu enjôo e pensou que desmaiaria. Poderia mesmo seu pai estar dizendo aquilo?Queria casá-la com um completo desconhecido?É certo que estudaram juntos desde a academia, mas não passavam de colegas, nada mais que isso.

E ainda por cima não se preocupava que a filha já estava compromissada com um certo loiro de olhos azuis, por quem fora apaixonada desde a infância?

-Não fale assim dele!-gritou, e se arrependeu a ver a expressão do pai. -Ele... Ele é uma pessoa maravilhosa.

-Hunf! Como ousa me contestar? Tenha mais respeito para com seu pai!

-De-desculpe-me. – abaixou o olhar.

-Você tem um dever. Cabe a você cumpri-lo.

Ela não responde. Apenas ficou fitando o nada enquanto suas lagrimas molhavam o quimono azul.

O patriarca do clã Hyuuga se retirou sem ao menos se importar com o estado da filha.

Ele se agachou e começou a enxugar suas lágrimas com a manga do seu quimono. Sem querer acabou tocando a costa de sua mão no rosto da Hyuuga. O ato fez suas bochechas esquentarem. Neji tirou sua mão rapidamente e virou o rosto que agora estava vermelho.

-Vamos. Logo vai chover. – levantou-se rapidamente.

-Eu... Eu vou ficar mais um pouco.

-Está bem. – disse ainda a olhando. – Só não demore muito, seu pai vai ficar preocupado. – disse já se retirando.

-Hai...

Afastou-se deixando uma Hyuuga ainda chorosa, e triste. Mesmo com seu coração pesado, ele não conseguia expressar seus sentimentos, como realmente queria. Ainda tinha um Neji que gritava de dentro dizendo, que aquilo era errado, e que mesmo condenando-se ainda desejava de todo o coração poder te-la em seus braços.

“Kuso! Nunca consigo fazer a coisa certa! Sempre a faço chorar no final”. – fechou os punhos, batendo-os fortemente no tronco de uma árvore.

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“Tenho que contar para o Naruto-kun... Eu espero que ele me perdoe...”.

A Hyuuga andava em direção a casa do Uzumaki, seu atual, mas futuro ex-namorado. Ela o amava tanto, que não sabia como o diria que seu pai simplesmente não se importava de que ela estava compromissada, no qual estava muito apaixonado pelo loiro, e que ainda por cima iria casá-la com seu melhor amigo, e companheiro de equipe, Uchiha Sasuke.

 Seria duro ver aquele lindo sorriso que ela tanto adorava se desfazer e ainda por sua causa.

Bateu na porta duas vezes, e não ouviu resposta. Então fechou os olhos e suspirou aliviada. Teria mais algum tempo para se preparar para dizer aquilo a ele.

“Mas de qualquer jeito essa hora vai acabar chegando...” – pensou já se afastando da casa.

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-Neji! – gritou uma voz feminina.

O moreno virou-se para contatar aquilo que já sabia.

-Hanabi-sama. Estava treinando até agora?

-Neji-nii, não é hora de falarmos disso... – desviou o olhar. – Por que a Nee-chan tava chorando?

Ele ficou em silencio e fechou os olhos, apenas consentindo o que a prima já sabia.

-Otosan falou besteira de novo para a Nee-chan... – ela suspirou.

-Se seu pai lhe ouvir falando isso vão brigar novamente...

-Eu não ligo! É ele que fica magoando a Hinata!

Neji concordava com ela. Não gostava nada das atitudes que seu tio tomava em relação à Hinata. Muitas vezes ele era rígido demais com ela e nem sequer percebia.Ou então pelo menos parecia não se importar.

-Quando Hinata-sama voltar vou falar com ela. Agora volte para seu treinamento antes que Hiashi-sama perceba.

-Tá...

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Finos pingos de chuva ameaçavam a chegada de uma tempestade.

-“Oh não! É melhor eu correr!” – já era tarde demais.

Grossos pingos molhavam o grosso casaco de Hinata que estava começando a ficar ensopado.

“Nii-san vai brigar comigo se eu acabar me resfriando!” – alertava-se enquanto se abrigava debaixo de uma árvore.

“Naruto-kun... Eu ainda não sei como vou te contar isso...”

As gotas que caiam no chão naquele momento pareciam muito interessantes para a Hyuuga.

“Eu... Eu queria muito poder ter coragem para enfrentar meu pai!” – pensava ela cerrando os olhos fortemente ao se lembrar das palavras de seu pai.

-Assim vai se resfriar.

Seu coração bateu mais forte, anunciando um possível desmaio.

-Vo-Você? – gaguejou, arregalando os olhos.

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Fim do primeiro capítulo