Meu Querido Cunhado escrita por Janine Moraes


Capítulo 3
Capítulo 3 - Novo cunhado


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Me pediram e eu tinha um aqui. Então... Lá vai.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/136679/chapter/3


O jantar foi extremamente desconfortável para mim. Igor mostrou-se calmo e controlado. Fazendo todos da mesa rir, menos eu. Eu apenas olhava a comida, sabendo que seria uma tarefa de Titãs digeri-la. Percebi que Ceci me olhava com desaprovação, querendo que eu me soltasse mais, embarcasse na conversa com o namorado e o entretesse com minhas observações irônicas, coisas que eu sempre fazia. Eu costumava ser bem soltinha no jantar, porque não conseguia calar a boca quando tinha uma situação constrangedora dessa a minha frente. Mas isso aqui era um absurdo. Eu simplesmente não conseguia, principalmente porque Igor não parava de me encarar.

– Como vocês se conheceram?– Karol perguntou animada. Ela gostava dessa coisa de casaizinhos, mesmo sendo tão novinha.

– Karol... – Ceci ficou vermelha e me perguntei porque ela estava se fazendo de tímida. Quis bater na cara dela, um tapa bem forte a ponte de fazê-la cair da cadeira. – Bem, foi na praia. Ele ficou me encarando... Aí... Fui falar com ele, e bem... Foi divertido. Trocamos telefone e mantemos contatos. Bem rápido. E lindo.

– Legal. – Karol disse, não tão animada com a conversa agora. Ela gostava de coisas épicas, como esbarrões em corredores de escola ou algo semelhante, flores no dia dos namorados, papéis de carta e amor à primeira vista como nos filmes que ela gostava de assistir. Essas bobagens enganadoras, que teimavam em dizer que o amor era lindo. Blérgh! Meros mortais, sempre pensando positivo sobre coisas que estão fadados ao fracasso apenas por serem baseados em ilusões. Eu não entendia como podiam acreditar que esbarrar em uma pessoa e dividirem o gosto por economia e gatos, somente isto, poderia levar uma relação adiante. Tinha que ter uma coisa inexplicável no meio também, e afinidades; é claro, já que são elas que levavam o trem para frente, trilhando os trilhos com anos de casamento e companheirismo. Infelizmente, a minha família possuía um histórico impressionante de trens fora dos trilhos, divórcios e separações. E claro, troca de namorados constante. Ou seja, os relacionamentos amorosos estavam fadados ao fracasso, comigo não poderia ter sido diferente.

– Então Igor, no que trabalha?– Minha mãe perguntou, direta e rápida.

– D. Betânia, eu trabalho... – ele parou ao ver a careta da minha mãe. Me olhou confuso e eu me perguntei porque não olhou para Ceci, mas procurei deixar para lá.

– Ela não gosta de Betânia, se quiser chame de Tia Betty. Nunca Betânia. – expliquei.

– Ah, me desculpe.

– Tudo bem. – Minha mãe sorriu, parecia cada vez mais encantada.

– Pois bem... Eu trabalho no planetário no centro da cidade, meio período. Das 10 as 6 e depois tenho faculdade. Mas estou de férias e tudo o mais. Consegui o trabalho porque minha tia é astrônoma, já trabalhou lá e arranjou um trabalho para mim.

– Sério? Nossa, isso é ótimo. Mora com seus pais?

– Não... Eu tenho meu próprio apartamento.

– Tão jovem?

– Quando meu avô morreu, eu tinha 16 anos, ele me deixou um bom dinheiro. Nessa época meus pais já haviam me emancipado por... me acharem maduro o suficiente. – O olhei curiosa, não conhecendo esse detalhe sobre a família dele. Ele nunca falou sobre os pais, ou algo semelhante. – O dinheiro foi o exato para comprar uma casa para mim e pagar minha faculdade de Astronomia. Com meu emprego, paguei um carro para mim.

– Você parece um garoto decidido. Ao contrário da minha filha, Maria de Lourdes.

– Malu, mãe. Meu nome é Malu. – remexi meu arroz com o garfo nervosamente, já prevendo um desastre.

– Não sei por que não me deixa te chamar pelo seu nome verdadeiro, Maria de Lourdes. É um nome tão bonito.

– Por favor, mãe. Malu, você sabe disso. – controlei o impulso de cerrar os dentes e cruzar os braços irritada. – Já se acostumou.

– Malu é assim, a única coisa que sabe o que sabe da vida é que odeia o próprio nome. – Minha mãe comentou se dirigindo a Igor. Pronto, começou, pensei. Minha mãe se indignava por eu não escolher qual faculdade fazer e por não me interessar por nenhum cursinho, além do de inglês que eu havia terminado a algum tempinho. Não era minha culpa não ter descoberto minha vocação ainda, oras. Eu não me preocupava tanto porque tinha tempo para pensar. E não tinha culpa se nenhuma profissão se encaixava ao meu perfil atual.

– Mãe... Eu sei o que vou fazer na vida. Faculdade.

– Mas não sabe do que.

– Tenho tempo pra decidir. Já conversamos sobre isto. – A olhei esperando que ela se tocasse que não era hora para ouvir seus sermões. Ela voltou a olhar para Igor e sorriu.

– Faculdade de Astronomia? Que diferente.

– Nem tanto... – ele sorriu e olhou para mim, desviei os olhos. Irritada com a minha mãe, que babava por Igor, com Cecília, por exibi-lo toda orgulhosa, com Karol, por olhar meiguinha para ele e ser receptiva. Raiva de mim por... Por tantas coisas! E raiva dele, principalmente e inteiramente dele. Eu sentia um ódio ferver dentro de mim, misturado com o turbilhão de sentimentos e pensamentos que era minha cabeça. Meu estômago embrulhava e terminar de comer a salada de maionese da minha mãe tornou-se impossível. – Eu realmente gosto de estrelas.

– Você podia me levar no planetário. – Karol se intrometeu na conversa; ignorando o clima tenso entre mim e minha mãe como uma típica criança de 5 anos, tentando se livrar das verduras.– Eu gosto de estrelas também.

– Podíamos ir todos, quem sabe... – ele sorriu para Karol, carismático. Revirei os olhos, bebendo um copo de refrigerante e tentando de todo o jeito não olhar naquela direção, ou simplesmente enfiar um garfo na minha testa. Ninguém percebia como isso era desagradável. Que inferno!

– Parece ótimo. Que tal amanhã?

– Amanhã não. – Sem poder me conter, abri minha bocona. Xinguei baixinho quando todos me olharam. Infelizmente minha mãe veio com a pergunta mais difícil:

– Por quê? – vasculhei alguma desculpa boa na minha mente. Infelizmente eu era uma péssima mentirosa.

– Bem... É que... Eu vou sair. – sorri orgulhosa da minha grande desculpa.

– Pra praia? – Ceci se intrometeu, me olhou com um olhar sarcástico. – Você vai todo dia para praia.

– Eu não vou à praia amanhã. Vou a outro lugar.

– Que outro lugar? Que eu saiba todas suas ‘amigas’ viajaram e o Alexandre também.

– Não conheço só eles. – Eu não conseguia mentir, então só ficava nessas evasivas.

– Você vai. – Minha mãe disse sorrindo, mas eu sabia que ela haveria ameaças depois. Armei uma bela carranca para ela, que ignorou placidamente.

– Podemos ir outro dia. – Igor tentou apaziguar as coisas. Olhei para Igor tentando entender qual era o problema dele. – Aí não tem problema.

– Depois de amanhã! – Ceci disse animada. Senti vontade de desaparecer. Não respondi nada, e eles voltaram a conversar. Assunto? Praia. Eu? Martírio.

– Faz o que no tempo útil?

– Hãn... Eu surfo.

– Surfa?

– Arran.

– Surfa pra manter a forma?

– Não. Na verdade não. Quando comecei a surfar era bem magrelo e tinha horror a academia, sempre achei chato. Mas eu gostava um pouco de esportes, mas não tinha muito jeito. Mas eu amo o mar, achei a solução perfeita. Aprendi a surfar. Manter a forma é apenas um bônus.

– Você deve ter muitas garotas em cima de você.

– Não. Não.

– Como existe gente mentirosa nesse mundo, viu... – Eu disse baixinho. Alguns pares de olhos viraram para mim.

– Você disse algo?

– Não. Claro que não! – Corei e ele sorriu tristonho. A conversa retornou, minha mãe parecia definitivamente conquistada. Eu estava já cansada disso. Me levantei.

– Com licença. Vou dormir.

– Já? Mas nós vamos assistir a um filme.

– Eu aluguei um romance lindo, filha. Você ia amar. – ri ironicamente. Eu não gostava de romances, só quando tinha vontade de chorar. E ainda mais assistir o filme com esses dois? Eram piadas demais pra uma noite só.

– Eu prefiro dormir. Minha cabeça parece que vai explodir e tudo o mais. Boa noite pra vocês;

– Boa noite. – A voz de Igor saiu sussurrada, como antigamente. Até mesmo vislumbrei o sorriso dele se afastando Dois furinhos nos cantos de suas bochechas quando ele sorria abertamente. Me virei, sem olhar na direção dele, sentindo meu coração sufocar em meu próprio sangue quente. Subi as escadas correndo e tranquei a porta do quarto. Eu estava superconsciente da minha cabeça latejando, ainda sentindo a adrenalina pulsando em meu corpo. Fechei os olhos, procurando pensar em qualquer outra coisa. Formulas matemática, golfinhos, terroristas, um trapiche... Mas estava realmente difícil. Me concentrei no sangue martelando forte na minha cabeça, dos braços pulsando, nas pernas tremulas. E do coração se rebelando. Batendo dez vezes mais forte do que o normal. Péssimo sinal.

– Droga! – puxei um travesseiro e o apertei junto à cabeça. Fechando os olhos. Lembrei da minha promessa. Sem lágrimas. Sem lágrimas... Difícil. Elas molhavam meus olhos mesmo quando estavam fechados. Sentia como se tivesse areia em meus olhos e as lágrimas seriam como para expulsá-las. Abri os olhos olhando o teto e dando de cara com um céu azul que toldava meus olhos e com o cheiro de maresia que inundava meu nariz desde um ano atrás. E confusa, com os cílios molhados, comecei a pensar em uma forma de fugir ao encontro de depois de amanhã.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem. Reviews?