Os jardins da mansão Valentine estavam calmos, o gramado cortado e as jasmins estavam trepadas nos pequenos muros onde emanavam aquele perfume belíssimo, logo uma das empregadas saiu de dentro da mansão e começou a rondar o jardim de rosas e gira-sois.

- Isabel? Isabel onde está você!

Uma pequena moita se movimentou e soltou-se um pequeno risinho de uma garota que logo se revelou, tinha cabelos brancos e olhos que lembravam duas ametistas, estava vestida com um vestido branco e tinha por volta de quatro anos.

- Isabel! Pare de brincar de se esconder entre o jardim!

- Mas Heiny-san...

- Nada de “mas” mocinha! Vai acabar rasgando seu vestido que acabei de fazer... Mas o importante é saber agora onde está sua irmã.

- Não vou conta!!!

Isabel fez um biquinho de ódio e ficou de costas para a costureira Heiny.

- ISABEL! Quer que sua irmã se atrase com as aulas de violino?

- Eu não sei onde ela está! BUH!!!

Isabel mostrou a língua e em seguida imitou um avião entre o jardim.

- Ai meu Deus... ISABEL! SE NÃO CONTAR AGORA CHAMO MADALENA AQUI!

- NÃO! Não chame aquela bruxa aqui!

- Então me conte onde está Lohanny.

- Onee-chan está na cozinha.

- De novo?... Aquela encrenqueira...

Heiny foi indo em direção a mansão e logo passou por alguns locais até chegar na cozinha onde se conseguia ouvir estrondos, quando a costureira abriu a porta achou a cozinha cheia de massa de bolo por todos os cantos, enquanto um dos mordomos da mansão de cabelos curtos castanhos e olhos mel tentava parar uma garota parecida com Isabel, só que seus olhos eram vermelhos.

- LOHANNY!

A garota parou e desceu de cima de um dos bancos onde estava jogando massa por todos os cantos.

- O que estava fazendo mocinha?

- Ora... Estava preparando um bolo voador! – Lohanny falava sarcástica.

- Era o que se esperava de você...

Lohanny se encolheu um pouco emburrada.

- E você senhor Faustus-san... – Heiny falou com uma aura negra que fez o mordomo se assustar e se encolher – Aprenda que você deve tomar mais cuidado com Lohanny na cozinha... Mas a propósito... QUEM MANDOU VOCÊ DEIXA-LA ENTRAR AQUI???

- H-HEINY-SAN! GOMENASAI! Foi culpa de Lyke!

- Oh... Vai culpar o gato preto de Lohanny agora?

- Não! É que ele fugiu para a cozinha e conseguiu destrancar a porta... Então ela entrou e... Bom o resto a senhorita sabe.... Hehe – Gota.

A costureira ficou pensativa por um tempo.

- Certo agora... Lohanny olhe para a cozinha.

- Que cozinha? Só vejo um grande bolo! HAHAHA!!!

- LOHANNY! Você pensa que quem vai limpar?

- KURT!!!! – Falou esperançosa Lohanny.

- Mas senhorita Lohanny – O mordomo Faustus se ajoelhou aos pés de Lohanny – Eu sou melhor que ele!!! Isso eu te juro!!!

Lohanny e Heiny começaram a gargalhar.

- Por que vocês sempre me torturam? – Chorando cascatas.

Um outro mordomo de cabelos pretos e presos em um rabo de cavalo, com olhos verdes como safiras magro e calmo surgiu e colocou uma das suas mãos sobre o ombro do outro mordomo chorão.

- Não se preocupe Faustus-san, eu te ensinarei a ser um mordomo exemplar.

- KURT-SAN!!! Eu ainda tenho esperanças!!! – Bandeirinhas – E ENTÃO SEREI UM DIA COMO VOCÊ!!!! – Brilho por todos os cantos.

- Infelizmente não posso deixar você ser como eu, Faustus-san, mas para sua alegria posso ensiná-lo a lidar com Lohanny.

Kurt falou isso segurando Lohanny pelos dois braços e a deixando no ar, emburrada Lohanny tentava se soltar.

- ISSO!!! E UM DIA EU PODEREI DETER ESTÁ FERINHA!!!

Lohanny olhou mortalmente para Faustus que sentiu calafrios e se encolheu perto de Heiny.

- Kowai ... Kowai... (Medo).

- Então... Senhorita Heiny?

- Fale Kurt-san.

- Foi Isabel que contou a localização da Lady?

- Em resumo você quis dizer se foi Isabel que contou onde estava a sua irmã?

- Yes.

- Então é óbvio que sim – Gota.

- Isso vai ser um problema para Isabel...

- Não me diga que vai obrigá-la à ficar três dias estudando para química.

- Se esse for o castigo de nossa pequena Lady.

- Será que podem me soltar agora... – Lohanny dizia com braços cruzados como se estivesse sido esquecida na conversa.

                                               Uma Hora Depois

- Pronto senhorita – Kurt dizia amarrando os sapatos de Lohanny – Só falta sua irmã acordar.

Os dois observaram Isabel encolhida e dormindo como um anjo, Lohanny se aproximou dela com um sussurro.

- Não se preocupe Nee-chan, logo o sofrimento irá.

Kurt sorriu com essas palavras e retirou um dos sapatos de Lohanny onde se encontrava em seu pé direito uma marca circular com duas borboletas dentro, assim como também tinha um símbolo igual nas costas das mãos de Kurt, só que era uma em cada mão.

- E logo tudo estará feito.

- Você fala isso como se quisesse minha alma.

- Como é irônica...

Kurt colocou o sapato de Lohanny em seu pé novamente e passou a mão sobre a cabeça da mesma.

- Não tem como eu desejar minha própria filha.

E saiu do quarto das irmãs Valentine com um sorriso entre os lábios.

- Uma semi-demônio... Isso soaria mais triste sem minha irmã... – Lohanny observou Isabel respirando levemente com o rosto sereno – A primeira filha de um demônio com uma humana herda a herança de seu pai... Eu seria muito arrogante se quisesse que Isabel tivesse nascido antes de mim... Seria normal eu estar odiando-a mas... – Observou-a novamente dormindo – Não tem como odiar uma pessoa como ela.

Lohanny ficou olhando para ela só que seus olhos agora se transformaram em olhos de um demônio.

- Aquela humana maldita morrerá logo e nossa família estará em paz, eu juro por você, Isabel... Ou melhor – Pega uma das mechas dela e coloca sobre os lábios – Nee-chan.

A porta do quarto se abriu fazendo Lohanny olhar para Heiny a sua frente.

- Está na hora da aula de violino Lady, pode deixar Isabel-san dormindo, afinal ela acordou muito cedo.

Lohanny concordou e foi ao salão principal para a aula de violino.

Kurt foi arrumar a cozinha, não demorou muito para ele deixar ela como um espelho de tão limpa e ir cortar algumas flores para por nos vasos da mansão. No meio do caminho notou alguma presença estranha no meio dos corredores externos.

- Heiny?

Não teve nenhuma resposta amais.

- Hu... – Riso – Jonathan?

Um homem ruivo estava atrás de uma das pilastras do corredor externo de costas impedindo que Kurt conseguisse olhá-lo.

- Faz quanto tempo que não venho?

- O mesmo tempo que você levou para fugir talvez.

O homem gargalhou.

- Achei uma vítima.

- O que fez?

- Apenas livrei uma alma impura.

- E quem recebeu essa carga?

Jonathan sorriu em meio à escuridão.

- Ciel Phantomhive.

Kurt se virou e o homem misterioso já havia ido embora.

- Exorcistas...

- Kurt-san! Kurt-san!

Kurt se virou e viu Isabel correndo atrás dele, ele se abaixou ficando do tamanho da garotinha.

- O que foi pequena Lady?

- Me cortei no jardim!

- De novo? Quantas vezes tenho que te dizer para me chamar quando quiser colher algumas flores, se continuar assim você irá ficar cheia de ferimentos, por ora me mostre o corte.

Isabel mostrou o corte a Kurt que não hesitou em limpa-lo com um pano que estava em seu bolso e em seguida fazer um curativo com parte do mesmo pano.

- Kurt-san!!!

A pequena disse puxando o terno dele.

- Diga.

- Você sente vontade de me devorar?

Kurt passou a mão sobre a cabeça da pequena bagunçando um pouco seus cabelos.

- Não diga coisas inúteis, está parecendo sua irmã.

A pequena sorriu e foi saltitante para o jardim, obviamente Isabel não iria ouvir Kurt e iria se cortar com os espinhos novamente.

- Preciso relatar à Lady.

Kurt foi direto ao salão principal onde foi recebido com um violino voando em direção à sua cabeça, que acabou sendo dividido em dois.

- QUANTAS VEZES TENHO QUE LHE DIZER PARA NÃO INTERROMPER AS AULAS DE LOHANNY???? – Disse nervosa uma jovem ruiva.

- Acalme-se Amélia, eu vim falar algo importan... – Interrompido com mais um violino em sua direção – Você vai ter problemas com a sua riqueza se continuar usando os violinos para me atacar.

- “ALGO IMPORTANTE”! É SEMPRE ASSIM! ESPERE ATÉ TARDE PARA FALAR ALGO À ELA!

- Amélia-san isso é um pedido.

- EU ME RECUSO!

- Ótimo, Faustus-san deve estar arrumando a mansão como um mordomo exemplar, acho que você não conseguirá ensinar Lohanny se não for um exemplo à ela...

Amélia saiu pisando fortemente com um violino em mãos e desceu em busca da vítima.

- Eu como sempre não preciso fazer nada – Disse Lohanny em um canto do salão sentada em uma cadeira e despreocupada – O que houve de tão importante?

- Um exorcista.

- Hunf... – Lohanny cruzou as pernas – E por que devo me preocupar? – Lohanny pegou uma xícara de chá e botou nos lábios.

- A vítima foi... Ciel Phantomhive.

Lohanny parou a xícara de derramar o chá sobre sua boca e olhou-o agora já mais preocupada.

- Eu pensei que ele havia sido morto...

- Foi o que todos pensaram.

- Então o que devemos fazer seria algo como procurar Ciel e ajudá-lo a se adaptar a esse novo... Século?... Milênio...?

- Não faz tanto tempo que ele desapareceu, pelo que seus empregados disseram foram três anos.

- Tempo o bastante para mim, poderia ter matado todos os exorcistas do mundo nesse meio tempo – Lohanny deixou a xícara em cima da mesa sem ter tomado o chá – Kurt, isso é uma ordem, traga Ciel para cá, não seja rude, não queremos assustá-lo.

- Yes, my Lady – Disse Kurt fazendo uma reverência sob a ordem.

- Sebastian, o que acha que houve comigo?

- Não sei Boochan, mas já ouvi coisas parecidas no passado.

- Faz quanto tempo que ficamos fora?

- Não sei, a diferença de tempo ficou indefinida para mim.

- Se não sou mais um demônio, isso quer dizer que serei devorado por você ao final de tudo?

- Resumindo... Sim – Disse Sebastian com um sorriso nos lábios.

Logo posicionou-se à minha frente e a de Sebastian um homem elegante que por certo tempo pude perceber apenas seus olhos verdes e felinos em meio a escuridão, Sebastian me pôs no chão e ficou à minha frente para me proteger.

- Quem é você?

- Onde está Ciel Phantomhive.

- Aqui! – Disse-lhe.

- Então esse é o seu mordomo Sebastian Michaelis?

- Sim – Respondeu Sebastian ainda em posição de defesa – Agora pode nos responder quem é?

- Minhas desculpas... – O homem elegante se revelou e pude ver que era um mordomo – Meu nome é Kurt Vicente, venho ajudá-los.

- Ajudar? Não precisamos de ajuda de estranhos. – Respondi.

- Não deveria dizer algo assim, faz três anos que desapareceu, acha que pode aparecer assim agora, Conde?

Pensei um pouco e então confirmei, se algo acontecesse Sebastian estava ao meu lado de qualquer forma.

- LOHANNY!!! – Sua prima Amélia já estava indo em direção ao salão – AHA!

Ela esperava ver Kurt sequestrando-a, mas Lohanny continuava do jeito que estava quando saiu.

- Aquele seu mordomo não ia te dizer algo?

- Não era importante, então descartei.

- MELHOR ASSIM!!! – Amélia disse já com brilho em seus olhos – Podemos voltar às aulas...

Amélia foi interrompida com a porta da mansão sendo aberta, não precisava de esforço para ouvi-la sendo aberta, Lohanny desceu para o hall de entrada enquanto sua prima se corroia de ódio.

- Lady, aqui está o que me pediu.

Lohanny olhou Ciel e Sebastian parados e sérios olhando em volta da mansão, as cores que se destacavam por lá eram branco e vermelho-claro dando paz ao local, Sebastian olhou atentamente e parou os olhos nas cortinas azuladas que acabavam com toda a simetria das cores.

- Por que azul? – Sereno.

- Onee-chan gosta de azul – Lohanny respondeu enquanto descia as escadas ao mesmo tempo – Acho que isso é uma coisa que não temos em comum.

- Você é a tal Lady Valentine?

- Claro, e você o Conde perdido – Riso – Seria de muito lucro de minha parte fazer você ser descoberto e assim todos iriam te fazer perguntas perturbadoras...

- LOHANNY! – Gritou Heiny com seu comentário.

- Infelizmente tenho que aceitar ser bondosa com vocês para cumprir meu objetivo.

- Objetivo? – Ciel já desconfiava.

- Odeio exorcistas, eles me causaram já muitos problemas, além de causar problemas ao país com seus salários incrivelmente altos.

- Exorcistas? Por acaso eles tem haver com demônios? – Perguntou Sebastian com uma mão sobre o queixo pensativo e atento a cada movimento e resposta de Lohanny.

- Mas é óbvio que sim, eles conseguem transferir a alma de um demônio para qualquer outro ser vivo, eles acham que isso é uma forma de purificar as almas.

- Estou aqui por que mesmo?

- Ciel, você está aqui para sua proteção, meu objetivo é único e você é essencial, afinal quando eu matar os exorcistas a alma demoníaca voltará para seu dono, você tem sorte, afinal estava entediada. – Lohanny estava com um sorriso maroto nos lábios – Leve eles para seu quarto, como Ciel não deve ter bagagens pode deixá-lo desfrutar da nossa hospitalidade.

- Yes, my Lady – Kurt disse e logo foi cumprindo as ordens, Sebastian e Ciel já começavam uma troca de olhares que significava já uma desconfiança grande.

Logo após deixá-los no enorme quarto, Kurt depositou duas xícaras de chá sobre a estante do lado da cama.

- Estranhamente nunca vi um demônio amável.

Sebastian terminou sua frase e Kurt não mudou nenhum centímetro de sua expressão sorridente e calma.

- Mais alguma coisa? – Ignorando totalmente a última pergunta.

- Pode nos contar sobre a família Valentine, é desconfortável ficar abrigado sobre uma casa de estranhos. – Ciel indignava-se de ter que ficar sobre o teto de estranhos.

- Como quiser, Lohanny Valentine é minha Lady, ela e sua irmã Isabel Valentine vivem nessa casa desde que nasceram, infelizmente a história que habita essas paredes não é nada agradável. – Kurt se sentia perturbado por dentro.

- Não estou acostumado a me agradar. – Ciel estava confiante.

- Pois bem... A certo tempo atrás um demônio conheceu uma exorcista, depois de mais de dez anos tentando se destruírem acabaram que se casando como humanos, conseqüentemente tiveram duas filhas, foram estas as próprias irmãs Valentine... Sua mãe Victória após descobrir que não queria ter filhas complexas fugiu junto com outros exorcistas para outro país, Lohanny sofreu de todas as maneiras possíveis e não queria o mesmo castigo sendo aplicado à sua amada irmã, mas sua mãe voltou e tentou destruir Isabel, Lohanny estaria morta junto de sua irmã se ela não tivesse feito um pacto comigo – Kurt suspirou – Infelizmente Victória conseguiu me aprisionar até que ela conseguisse fugir.

Ciel ainda estava impressionado com a história, Sebastian se impressionava pelo fato de um demônio ter filhos com uma humana, ele nunca tivera presenciado nem se quer esses pensamentos em toda sua vida, pensar neles agora era como repentinamente pensar em um hipopótamo voar.

- Quem é o pai delas? – Ciel sentiu um arrepio ao ver a face sorridente e calma de Kurt se transformar em uma melancólica e demoníaca.

- Eu.

Os dois estavam mais perdidos do que surdo em bingo naquele instante era como se estivessem entrando em um mundo paralelo em que tudo poderia acontecer.

- Ao fim você vai devorar a alma de suas filhas, o que adiantará? – Sebastian se assustou quando sua pergunta foi respondida com uma gargalhada.

- A primeira filha de um demônio herda sua herança demoníaca, como Lohanny é uma semi-demônio ambos de nós fizemos um contrato duplo.

- Um contrato duplo... Resumindo você não pode comer a alma dela nem ela a sua, pois ambos cancelam essa regra do contrato.

Sebastian havia se assustado com o raciocínio magnífico que Kurt possuía, algo que poderia causar inveja até à Einstein.

- Não é muito perigoso contar todas as informações a nós? – Ciel sabia que aquilo era aparentemente impossível mas racionalmente, não.

- Lady mandou tratá-los com a maior hospitalidade possível, e por aqui o maior perigo é a desconfiança.

Kurt se despediu formalmente e foi saindo assim como entrara, como se aquela conversa toda não se passasse de um conto comum.

- KURT-SAN~~~!

A dona daquela voz melosa não poderia ser outra a não ser Isabel que correu e rodopiou caindo sentada no chão e rindo com tal ato.

- Kurt-san!!! Pode preparar uma xícara de chá para mim???

- Não vai querer algo doce dessa vez?

- Não~~!

Kurt foi andando até a cozinha quando parou sério e colocou sua mão no queixo.

- Esqueci de dizê-los um grande detalhe... – Kurt sussurrou para que suas palavras atingissem somente ele próprio – Isabel não sabe que sou seu pai – Pensou novamente só que mais sereno – Também esqueci de Faustus...

Kurt abriu a porta da cozinha e encontrou Faustus com um violino no meio do nariz.

- Eu fico te devendo uma?

- Com certeza... – Faustus gaguejou tonto.