TRÊS MESES DEPOIS ~ POV. Lisa

  Vazio.

  Era isso que eu sentia dentro de mim.

  Um vazio enorme.

  Todos estavam chorando, mas mais inconsoláveis que eu ninguém estava. Eu estava lá, mais ninguém. Eu o vi morrer, bem na minha frente, sem saber o que fazer.

  Limpei as lagrimas que escorriam por meus olhos, se empoçando nos óculos escuros. A luva preta ficou mais molhada do que já estava.

  Pra um enterro, hoje o dia estava bonito. Sem nuvens, o sol bem estampado lá no céu.

  Completamente ao contrario da noite chuvosa e escura a qual transformou a minha vida.

  O carro estava ruim. Não me pergunte o que, acho que os pneus estavam carecas. Nosso carro bateu em um caminhão que transportava sabão em pó. E agora, ele estava morto.

  Todas aquelas pessoas que vinham me dar os pêsames, a maioria desconhecida... Isso me embrulhava o estomago. Cheiro de morte é completamente nojento, de um modo muito pior.

   Eu apenas sorria e às vezes abraçava o ente querido, ou só apertava a mão, ou ate ignorava se possível.

  Avril e June estavam tentando consolar tia Petúnia. Seu pai, Joshua, limpava o rosto vermelho de tantas lagrimas. Papai consolava mamãe, e eu poderia ate me sentir feliz, até por que os dois estão realmente bem juntos, mas a situação não era propícia.

  Dean estava longe. Eles dois nunca tinham se dado bem, mas eles tinham respeito um pelo outro. Carol estava sentada no gramado, enxugando o nariz.

  Eu chorava. Quase berrava, de tanta dor.

  Me sentei no gramado, enterrando o rosto nas mãos e soluçando.

-Não, não, não...

  Eu falava, em meio ás lagrimas.

  Não podia acreditar que ele tinha morrido, meu melhor amigo, noivo.

  Meu Jake.

  Papai dirigia o carro, todos em silencio. Mamãe estava no banco da frente, muda também.

-Querida, você está bem? Não come direito há dias.

-Estou bem.

  Falei, me desvencilhado da mão dela que puxava meu braço. Mamãe me encarou, e em seguida se encostou no banco novamente.

  Quando chegamos em casa, eu tomei banho e me deitei na cama.

  Escutei dez minutos depois o barulho de pedrinhas na minha janela. Encarei-a por um longo tempo. Me levantei, indo até ela e a abrindo. Quando vi, desci correndo as escadas.

  Lá estava ele, de blusa social preta, as mãos nos bolsos da calça.

  Andei até Brian, parando a sua frente.

-Fiquei sabendo.

  Ele falou, o vento batendo em nossos corpos.

-Sinto muito.

  Assenti, choramingando. Syn me puxou para um abraço forte, comecei a chorar.

-Quanto tempo você...?

  Perguntei, respirando fundo.

-Pra sempre.

  “Voltarei quando ele morrer”.

    3 ANOS DEPOIS

-Você põe esse dedo aqui, e o outro aqui. Não, Ju, aí não.

  Brian falava para Julianne, que olhava para a guitarra com uma cara meio engraçada.

-Os dedinhos dela são muito pequenos, Brian.

  Falei, entrando na sala.

-São nada.

-São sim, ela só tem três anos.

-Mas é uma guitarra de brinquedo.

-Não deixa de ser grande.

  Ele me encarou, pensando em uma resposta para contestar.

-Merda.

  Ele sibilou, quando viu que não tinha o que falar, colocando Ju no chão, que saiu engatinhando em direção de Avril.

-Vem cá, fofinha da mamãe!

  Avril pegou a garotinha clarinha de olhos claros, esticando os braços e a colocando no alto. Ju fez uma careta e sorriu.

  Avril engravidou de Elliot, um cara que conheceu na faculdade de medicina. Casar? Isso não é de Avril.

  Brian e eu somos os padrinhos de Ju, e eu sou também madrinha do casamento de June com Ettan.

  E não.

  Eu não estava com o Syn.

  Quer dizer, depois que todos foram para Nova York, nós dois compramos um apartamento lá, onde sim, nós vivemos juntos. Mas não, eu não sou namorada dele.

Cinco dias depois

  Raios de sol entravam em meu quarto. Abri os olhos embaçados, tentando por a visão em foco.

  Lembrei do dia de ontem.

  June tinha terminado a faculdade, e saímos para comemorar, e todos acabaram dormindo na minha casa. Olhei para o meu lado. Na minha cama de casal, June e Avril dormiam, Ju no nosso meio. No colchão do chão, Syn dormia de barriga para baixo.

  Desci da cama, me encolhendo num espacinho em seu colchão. Ele abriu os olhos.

  Sorri.

-Bom dia.

-São que horas?

  Olhei para o relógio.

-Oito.

-Sua retardada, que tipo de ser maligno acorda uma pessoa nessa horário?

  Ri, dando de ombros.

-Eu.

-Sei disso.

  Ele estreitou os olhos, se espreguiçando e se virando direito para mim.

-Quanto tempo eu vou ter que esperar para poder tentar de novo?

  Suspirei.

-Liss... Não sabe o que é não poder tocar em você, beijá-la. Por favor.

-Eu sei.

  Brian arregalou os olhos.

-O que?

-Eu sei, isso, tudo isso.

  Encarei-o hesitante.

-Por que me deixou ir?

-Pensei que você queria.

-Não, sabe que não. Eu queria dar uma de Edward e não atrapalhar a sua vida. Sabe, naquele filme que você me fez ver. Lua crescente.

-É Lua Nova.

  Ri, erguendo as sobrancelhas.

-Tato faz.

  Rimos, parando de falar.

-Espero que saiba que, quando eu falei que só ia embora quando ele morresse, não foi exatamente...

-Eu sei.

  Mais silencio.

  Syn ergueu minha mão, entrelaçando meus dedos com os dele.

-Bom... Que tal termos uma daquelas?

  Ele sorriu, torto, olhando para Julianne. Sorri, ficando vermelha.

  Brian encostou a mão em minha cintura, me dando um beijo em seguida.

  Sempre assim. Passamos por dificuldades, desafios que mostraram que tínhamos mesmo que passar por barreiras, fazer até anjos chorarem se for preciso, para ficarmos juntos.

  Sempre foi Lisa & Brian.