- Debaixo do Mesmo Guarda-Chuva -



                                                              [linha do tempo aberta]

Recolhi minhas lágrimas na tentativa desesperada de emitir os versos que há tanto tempo brotaram em meu coração.

Adeus?!

”Tenha cuidado!”

E então você se foi.
Senti o piso abaixo de meus joelhos se esvaindo. Infelizmente ele continuava lá, diferente de você, Madoka.
Numa tentativa vã de agarrar sua silhueta debrucei-me sobre a fria plataforma, mas minhas mãos não conseguiam alcança-la. Na verdade, elas nunca conseguiram, não é?

A água que se acumulava ao redor de seu vulnerável corpo parecia estar roubando os resquícios de calor que restaram. O piso de antes, agora em ásperos pedaços de concreto, feriam minhas mãos que buscavam incansáveis por alguma forma de confortar suas feridas.

- Por quê?
- Por que tinha que morrer?

As gotas salgadas se misturavam com a água da chuva, violando a expressão que se formara em minha face.
Meu corpo arfava sobre o seu, as batidas de meu coração estavam confusas, procuravam por ressonância familiar em seu seio.

Foi quando ele apareceu.

”Diga-me... Por qual desejo sua Soul Gem brilharia?”

                                                               [linha do tempo fechada]


- Akemi-san! – a menor de cabelos rosados soava de forma tímida.

O tempo fechado parecia se estender por todo o horizonte, certamente não era o melhor dia para se ter esquecido um guarda-chuva.

- Madoka? – a jovem portadora de longos fios negros se surpreendeu com a aproximação repentina.

- É que... B-bem...

- O que foi? – disse ríspida.

- Você não trouxe um guarda-chuva, certo? Eu pensei em dividir o meu, já que... – antes que pudesse terminar foi interrompida.

- Não tem necessidade – disse seguindo seu caminho.

Preocupada com a sua colega de turma sem qualquer proteção contra o tempo, a jovem de cabelos rosados resolveu a acompanhar, mesmo que em silêncio, a alguns metros.
A brisa fria da estação que percorria sua face instigou um espirro, que saiu abafado, tentando não chamar atenção.

- Por que você apenas não para? – o vento agora parecia brincar com os fios negros da garota que ficou imóvel de costas logo à frente.

A jovem olhou para os lados tentando encontrar a pessoa com quem sua colega conversava, a rua estava deserta, o que a deixou confusa.

- Akemi-san! – o ritmo desajeitado de seus passos ficara evidente ao correr para a companhia da outra jovem.

- Por que você não deixa de ser gentil, Madoka?
- Por que você dificulta as coisas?! – exclamou Homura.

Então como o esperado, uma forte chuva começou a cair.
As gotas indelicadas ricocheteavam no guarda-chuva que fora aberto por Madoka para proteger a si e a sua amiga do temporal.

- Vamos! – a desajeitada e tímida garota de antes agora projetava outra face, em um reflexo tomou a mão de sua companhia e a puxou consigo para debaixo de um ponto de ônibus, onde se sentaram.

A chuva permanecia forte, felizmente o ponto de ônibus abrigava sem muitos problemas as duas.

- Essa foi por pouco... – disse Madoka, estampando um breve sorriso em seu rosto.

Gotas manchavam o calçado de Homura, que estava cabisbaixa.

- Akemi-san, você está chorando? – retirando seu casaco Madoka se levantou e cobriu Homura.

- Akemi-san? Você se machucou enquanto corríamos?

- Me chame por Homura! – a garota se levantou, jogando seu corpo para cima de Madoka.

Ouvia-se apenas a água da chuva se esquivando por dentre as frestas no chão, como que procurando pelo leito da rua, onde fluía afobada.
Madoka se recolheu com a repentina aproximação de Homura, sentando quase que involuntariamente.
Não sabia o que dizer, era a primeira vez que se aproximava assim de Homura, não sabia como se comportar.

- Homura-chan...

                                                               [linha do tempo aberta]

Homura aproximou lentamente seu rosto ao de Madoka, que ficou ruborizada com o que a garota de longos fios estava a fazer. Com uma de suas mãos afastou a franja da jovem, acariciando o perfil de sua face, enquanto a outra se perdia em um entrelaçar de dedos.
O toque gélido de seu anelar contrastava com o calor da face rubra de Madoka, seus olhos fitavam a doce garota de cabelos rosados.

                                                              [linha do tempo fechada]

- Homura-chan... – Madoka começava a sentir a maçã de sua face formigar.

Aos poucos a chuva se findava, as gostas restantes percorriam as folhas das árvores até cederem suavemente sobre a calçada.

- Homura-chan... – algo se esboçava na memória de Madoka.

- Nós já nos conhecemos em algum lugar?