Hetaoni: The Very Last Moment escrita por Kyra_Spring


Capítulo 4
IV - Prússia, Alemanha


Notas iniciais do capítulo

Nota da autora: Nihao! Depois de uma longa e tenebrosa espera, finalmente consegui terminar o capítulo 4. Ele foi um pouco... estranho de escrever. Sempre vi os Irmãos Batata (adoro chamá-los assim xD) como dois dos personagens mais fortes da série, e vê-los caindo foi doloroso de uma forma que não foi com os outros... Enfim, espero que gostem, e me desculpem por qualquer coisa.

E, bem. O capítulo 4 NÃO SERÁ O ÚLTIMO. Quem está acompanhando a fic da Hamiko0 ou os vídeos provavelmente sabe que faltou alguém nessa lista. O próximo capítulo (esse sim, o final) será mais longo que os outros, com múltiplos focos, e encerrará a história. Mas claro que vocês já sabem qual é o foco principal, não é? ;3 Enfim, chega de enrolação e vamos à fic!



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IV – Prússia e Alemanha

            Eu não entendia ao certo o motivo, mas parte de mim ainda tentava achar lógica naquilo tudo.

            O que era aquela casa? Aquele monstro? O que ele queria? O que ganharia, matando todos nós? O que poderíamos fazer para lutar contra ele? Aliás, poderíamos lutar contra ele? Ou só estávamos atrasando o inevitável e tornando as últimas horas das nossas vidas ainda mais dolorosas e patéticas?

            O olhar de Itália quando nos separamos ainda ardia na minha memória como uma queimadura recente. Era um olhar de perda, de desespero... um olhar que mostrava dor numa magnitude acima do suportável para qualquer pessoa. Ele havia visto outros de nós morrerem, eu sabia disso. As marcas de sangue contrastando com o azul do seu uniforme eram a prova.

            Mas eu tinha que protegê-lo. Primeiro, porque West jamais me perdoaria se algo acontecesse a ele e, segundo, porque eu realmente queria que tantos de nós quanto possível saíssem daquele inferno. Um pressentimento terrível tomava conta de mim. Eu não sabia quantos de nós ainda estavam vivos, e onde eles estavam. Alemanha era um deles. Nosso grupo foi atacado, tentamos lutar, mas o monstro estava grande demais e forte demais para nós. Então, decidimos correr em direções diferentes para despistá-lo. West e eu fomos os últimos a correr e a nos separar, e quando nos separamos, ele disse:

- Tem uma sala trancada no penúltimo andar da casa. Não consegui chegar até lá ainda, mas eu acho que tem algo pra nos tirar daqui. Tente achar os outros e reúna-os aqui quando a poeira baixar.

- De jeito nenhum, eu vou com você! – tentei retrucar, mas ele me encarou, os olhos em chamas, e disse:

- Qual vai ser a utilidade de nós dois morrermos aqui? Faça o que eu estou dizendo. Tente achar os outros, traga-os para perto da saída e me espere aqui. Vou tentar nos tirar daqui.

            Por “tente achar os outros”, ele queria dizer “tente achar Itália”, e por “vou tentar nos tirar daqui”, ele dizia “vou nos tirar daqui ou morrer tentando.” Ouvir aquilo era doloroso. Nem ele mesmo acreditava naquelas palavras, mas apegava-se àquela decisão de uma forma quase desesperada. Eu não podia ir contra aquilo. Seria como negar seu último desejo.

            Então, nos separamos, enquanto eu tentava me lembrar das direções que cada um tomou. E, depois de algum tempo, percebi a real dimensão daquela história de terror na qual estávamos presos.

            A sala do piano. Sangue espalhado pelo chão. E, encostado no piano, Japão. Morto, seu corpo coberto de ferimentos. Ao seu lado, a katana quebrada. O sinal de alguém que havia lutado até o fim.

            Um pouco depois disso, encontrei Itália. Milagrosamente vivo e ileso, mas pálido e desesperado. Ele não me disse nada, mas eu sabia que ele tinha visto Japão. Andamos juntos por um tempo até chegarmos à sala da lareira. A cena era ainda mais terrível. França, Rússia e China. O primeiro, em seus últimos momentos, me implorando para cuidar de Itália. Os outros dois tentando nos tirar dali, fingindo que ainda tinham condição de lutar. Nós dois vimos França partir, e eu só queria entrar em pânico. Mas não podia, eu tinha prometido! Precisava manter o foco e a calma ali.

            Foi nesse momento que chegamos ao penúltimo andar. E o pressentimento doeu ainda mais.

- Itália – parei – Preciso que você me ajude a encontrar os outros e levá-los de volta à entrada. West me disse que tinha uma idéia para nos tirar daqui, mas precisamos reunir todos. Você é rápido, então o monstro não vai te alcançar. Pode fazer isso?

- M-mas... – ele gaguejou – E v-você?

- Só quero ver como ele está – tentei sorrir – E já está na hora do meu incrível eu salvar o dia!

            Me senti um canalha por mentir daquela forma. O que eu realmente queria era tirá-lo do caminho, porque eu sabia que o meu irmão estava com problemas e precisava de mim. Mas Itália não percebeu, ou fingiu não perceber, e apenas correu em direção à escada. Nesse momento, me permiti desabar sentado no corredor. Céus, eu estava exausto. Minhas pernas protestavam veementemente. Eu não conseguiria avançar muito, daquele jeito.

            Voltei a andar, inspecionando cada um dos cômodos daquele corredor. Ao invés de correr, eu andava devagar, em silêncio, atento a qualquer sinal de aproximação do monstro. Foi nessa hora que ouvi o som de um tiro, vindo do andar de cima. Um único tiro. Não era o sinal de uma luta, na verdade, parecia mais...

            Não. Eu não quis continuar aquela frase. Não queria pensar no que aquilo significava.

            Por fim, encontrei a porta da qual West falava. A fechadura havia sido arrombada, e eu podia ouvir o som de caixas e gavetas sendo reviradas do lado de dentro.

- West? – chamei-o, do lado de fora, feliz por ouvir sinais de vida de lá – Você ta bem?

- Prússia?! O que está fazendo aqui? – ele disse, ríspido e surpreso – Eu disse pra me esperar lá embaixo com os outros, idiota! Por que você veio atrás de mim?

- Não tem mais “outros” – minha voz falhou quando eu disse isso – Japão, França, Rússia e China estão mortos. Não tenho certeza sobre o América, o Inglaterra e o Canadá, mas você ouviu aquele tiro também. Pelo menos Itália está bem, eu o mandei lá para baixo.

- VOCÊ DEIXOU ELE SOZINHO? – então, ele berrou, irado – QUAL O SEU PROBLEMA? VOCÊ SABE QUE ELE NÃO PODE ENFRENTAR AQUELA COISA SOZINHO, SE ELA APARECER!

- Se o que você está procurando realmente está aqui, onde você acha que é mais provável de o monstro aparecer? - retruquei – Onde você acha que ele estará mais seguro?

            Silêncio. Quebrado pelo som de um móvel se arrastando e da porta se abrindo.

            Entrei, e ele voltou a escorar a porta com uma cômoda depois disso. O olhar dele estava repleto de culpa e dor. Em sua mão, uma chave dourada, a tábua de salvação que nos tiraria dali. Mas ele sabia que não a usaríamos. De repente, ele voltou a se parecer com o menino teimoso que queria crescer antes da hora e ser mais maduro que o seu irmão mais velho.

            Uma criança... quem diria que, um dia, eu o veria assim outra vez.

            Foi então que ouvimos aquele som tão conhecido outra vez. Prendemos a respiração ao mesmo tempo em que olhamos para a porta. E, no segundo seguinte, arrastamos outra cômoda e uma cama para reforçar a proteção da porta. Um esforço que, ambos sabíamos, era tão inútil e patético como todos os outros. Mas éramos teimosos. Não iríamos cair sem uma última boa briga.

            A porta sacudiu. Uma. Duas. Três vezes. Encarei Alemanha, ele estava lívido. Mas seu olhar era o mesmo de sempre, disciplinado, endurecido e sério. Chegava a ser até um pouco assustador, na verdade. E, quando enfim a porta cedeu, foi ele quem fez o primeiro movimento, saltando com o seu chicote e atacando a criatura. Por um segundo, hesitei, completamente abismado. Quando aquela coisa tinha se tornado tão grande? Mas eu não tinha tempo para ficar chocado, então também ataquei.

            Não demorou muito até percebermos que causávamos tanto dano a ele quanto um dachshund causaria a um doberman. Ele mal parecia nos perceber ali, o que chegava a ser até ofensivo. Não conseguíamos pará-lo, não conseguíamos feri-lo...

            Até que, de repente, a chave caiu do bolso de Alemanha.

            O som do metal batendo no chão era como o som de sinos de um funeral. Tudo, então, começou a andar em câmera lenta: nós dois e o monstro nos viramos na direção do som, e a criatura começou a ir na direção dela. West me encarou, os olhos queimando de pânico.

            Estava na hora de realmente fazer algo incrível. Algo que salvasse o dia.

            E eu não precisei pensar muito para saber o que fazer.

            Correr mais rápido. Chutar a chave para longe. Berrar um “PEGUE, WEST!”. Afastá-lo. Ficar frente a frente com o monstro. Segurá-lo pelo tempo que fosse possível. Seria perfeito.

            Perfeito... tão perfeito que a garra que ele cravava em mim não parecia nada de mais.

-o-o-o-

            Por que Prússia tinha que ser tão inconseqüente? Por quê?

            Minha disciplina e meu treinamento me fizeram seguir exatamente as instruções que me foram dadas. Vi a chave deslizando para o lado oposto do cômodo, e corri até ela, agarrando-a. E, quando me virei, eu o vi. Medindo forças com aquele monstro, mesmo com aquela garra o atravessando. Ele continuava golpeando-o com sua espada, e gritando furiosamente.

            Eu não podia olhar. Não o meu irmão. Ele – não – podia – morrer – assim.

            Ouvi o som do corpo dele caindo no chão. E, ainda assim, não voltei a me virar. Não conseguia olhar. Tudo em que eu devia pensar era em dar continuidade ao plano dele, pegar a chave e protegê-la como uma relíquia sagrada (o que não era uma comparação tão absurda, sob um certo ponto de vista). E foi o que fiz, abraçando aquele pedaço de metal.

- Ótimo, agora dê o fora daqui – o tom zombeteiro dele não combinava com o esgar de dor que vi em sua face, quando finalmente me virei. Agora, ele estava de pé, as costas apoiadas na parede, empunhando sua espada sem firmeza alguma. O sangue escorria por entre os dedos da mão que pousava sobre seu ferimento.

- De jeito nenhum! – perdi o controle naquele momento – Não vou a lugar nenhum sem você.

- Eu sou seu irmão mais velho e estou mandando você ir, West – ele retrucou, agora completamente sério – Itália está te esperando lá embaixo, então tire-o daqui. Aquele comedor de macarrão é seu amigo, não é? Então vá tirá-lo daqui de uma vez!

            Eu não podia escolher entre os dois. Não... não podia, não era justo! De qualquer forma, eu trairia alguém importante para mim! E eu já havia traído pessoas demais... não, eu não seria capaz de me perdoar se fizesse isso outra vez. Tudo isso fez com que eu tentasse correr na direção de Prússia. Se eu fosse sair dali, levaria-o comigo nem que precisasse arrastá-lo pelo pescoço para isso.

            Mas o monstro era rápido demais para o seu tamanho.

            Ele percebeu meu movimento assim que eu o comecei. E, sem fazer o menor caso, me empurrou com violência contra os destroços dos móveis. Dessa vez, não deixei a chave cair, mas aquilo doeu como se eu tivesse sido atirado contra blocos de concreto. Mesmo assim, tentei me levantar. Estava claro que, agora que ele sabia que eu estava com a chave, iria focar seus ataques em mim para recuperá-la.

            Tentei me levantar, mas ele me derrubou outra vez, com mais força. O baque foi tão forte que me tirou o fôlego por alguns segundos, enquanto borrões negros passavam diante dos meus olhos. A falta de ar momentânea fez minha cabeça girar, e nesse momento de desorientação, não consegui reagir quando ele me agarrou e me atirou uma terceira vez. Foi quando bati a cabeça na parede.

            Sei que foi apenas uma sensação, mas nessa hora foi como se eu ouvisse meu crânio rachar.

- WEST, NÃO! – a voz de Prússia parecia distante demais. Eu não queria mais aquilo. Queria dormir, só isso. Dormir... ou acordar daquele pesadelo. Por isso, não tentei me levantar quando ouvi a aproximação do monstro. Eu queria me virar e pedir para ele me deixar dormir...

            Dormir... eu nem gostava tanto assim de dormir... quem gostava mesmo era... era...

            Itália.

            A lembrança do nome dele me trouxe de volta da letargia à força. E, com isso, consegui pelo menos tentar me arrastar para longe. Mesmo assim, os movimentos eram dolorosos demais. Se eu conseguisse ao menos atirar nele... Meu chicote seria completamente inútil, ali. E eu tinha poucas balas, não poderia fazer muita coisa...

- EI, BICHO FEIO! – então, olhei para trás do monstro. Para a minha surpresa, Prússia atirava pedaços de madeira nele, para atrair sua atenção. Isso... era brilhante! Percebi que ele piscava para mim, esperando que eu fizesse algo.

            Então me levantei. A tontura e a dor generalizada quase me jogaram de volta ao chão, mas milagrosamente consegui me manter de pé. E, tentando ser o mais preciso possível, usei o chicote para laçar o monstro pelo pescoço, e o puxei. Ele era pesado e logo começou a resistir, mas aquele ataque inesperado tirou o balanço dele por alguns gloriosos segundos. Tempo suficiente para trazê-lo para perto de mim. Tempo para Prússia saltar sobre ele. Tempo para que cada um furasse um dos olhos dele, eu usando minhas últimas balas, ele usando sua espada enferrujada.

            Tempo para o monstro me lançar contra a parede uma última vez, louco de dor, antes de sumir.

            Perdi a consciência. Quando acordei, estava encostado à parede, e Prússia estava sentado ao meu lado. Meu pescoço não parecia mais ser capaz de sustentar o peso da minha cabeça. Pude ver que a mão dele permanecia pousada sobre o seu ferimento, e que havia uma trilha de sangue pelo chão. Ele devia estar sentindo tanta dor...

            A minha, por outro lado, já estava completamente entorpecida.

- Prússia... – mal reconheci minha própria voz – Por que você voltou? É claro que você sabia que era isso que iria acontecer, então... por quê?

- Ha, ha, ha... – ouvir a risada dele, mesmo fraca e estrangulada pela dor, era de alguma forma reconfortante – Isso não é óbvio, West? Eu queria ficar ao seu lado. Você é meu irmão, não é? Então, família tem que ficar junta.

- Você não precisava ter voltado – meu peito doeu nessa hora – Não precisava... ter acabado assim.

- É, talvez não precisasse – senti o ombro dele se erguer sob a minha cabeça, e imaginei que ele provavelmente estava dando de ombros como sempre fazia – Mas eu quis. Acho que, já que estamos presos nesse inferno, pelo menos tenho o direito de escolher como, quando e por quem vou morrer.

            ...escolher... por quem morrer... Era uma idéia inesperada, sem dúvida.

- Além do mais, eu já não sou mais uma nação, mesmo – ele continuou, a voz se tornando amarga – Eu não tenho certeza sobre quanto tempo alguém como nós pode sobreviver depois de deixar de ser uma nação. Posso sumir amanhã e ninguém nem se dará conta. E... e... – a voz dele estremeceu, como se por um momento ele quisesse ceder às lágrimas, mas lutasse contra esse impulso – ...e eu só queria fazer com que tudo valesse a pena. Fazer... algo importante...

            Aquilo definitivamente não estava certo. Não era o Prússia que eu conhecia que dizia aquelas palavras. Não... não era ele.

- Mas, sabe? – ele murmurou, e pela voz eu pude perceber que ele sorria, apesar da voz embargada e triste – Fico feliz por você estar ao meu lado agora. Acho que... não conseguiria fazer isso sozinho.

            Não consegui dizer nada. Ouvi-lo daquela forma partia meu coração.

- Não... Alemanha... Prússia...

            Eu definitivamente conhecia aquela voz frágil e chorosa. Meus olhos ardiam por causa do sangue que escorria sobre eles, mas aquele borrão vestido de azul era muito familiar. E, naquela hora, ele se aproximou correndo e se ajoelhou perto de nós. Se ele estava ali, significava que estava bem, e se ele estava bem... significava que poderia sair da casa.

- Itália... – tentei sorrir, e estendi a ele a chave – Tome. Pode sair daqui, agora.

            Minhas mãos tremiam, como se aquele pedaço de metal dourado pesasse toneladas. Mas as dele também tremiam, quando ele a pegou. E eu pude perceber que ele chorava. Muito. Não aquele choro infantil de quando não queria acordar cedo para treinar, ou de quando alguma outra nação o provocava e ele queria que eu o salvasse. Não, aquele era o choro de alguém prestes a enlouquecer pelo desespero. Logo ele... tendo que passar por tudo aquilo...

- Aquele monstro foi um tremendo pé-no-saco – Prússia tentou zombar da situação – Mas pelo menos pegamos a chave de volta...

            Mas Itália nada dizia, apenas chorava. Segurava a chave com tanta força que parecia que seus ossos queriam romper a pele. Minha consciência começava a oscilar, e o rosto dele parecia entrar e sair de foco.

            O rosto dele... ele parecia ter envelhecido séculos, desde que entramos naquela casa.

- Pare de chorar, Itália – tentei imitar Prússia e sorrir – Nós arriscamos nossas vidas e passamos por muitos problemas para pegá-la de volta... você deveria estar mais feliz...

- Por que você mentiu? – a voz dele sumia entre os soluços – Você disse que só ia dar uma olhada!

- Talvez pela mesma razão que você não nos disse que os outros morreram – Prússia respondeu, sério. Percebi que Itália engasgou, surpreso, dizendo:

- ...você sabia?!

            Mas naquela hora, percebi que Prússia já não o ouvia mais. Sua cabeça pendeu sobre a minha, e sua voz diminuía, enquanto sua despedida era dita da mesma forma zombeteira de sempre:

- Bem... agora, West... vamos descansar um pouco – e deu uma risadinha rouca – Eu estou realmente cansado...

- Certo – sorri, também. Meus olhos se recusavam a permanecer abertos – Itália, pode seguir em frente. Nós alcançaremos você...

- NÃO! – senti as mãos dele em meus ombros, como se ele quisesse me sacudir, enquanto berrava desesperado – EU NÃO POSSO MAIS FAZER ISSO! TAMBÉM VOU FICAR COM VOCÊ!

            Você se lembra do que dizia sempre que eu o acordava cedo, Itália? Você se lembra de que, toda santa manhã, a resposta era sempre a mesma?

            “Veee... está cedo demais... me deixe dormir! Só mais cinco minutos... me deixe dormir...”

            Então... por favor... me deixe dormir agora... eu tentava dizer, mas não conseguia.

- Quem me desobedecer... – minha voz desaparecia, assim como a imagem dele – terá que correr... dez voltas...

            Você me fará correr dez voltas, se eu quiser dormir?

            Você... correria junto comigo, se eu pedisse?

- EU CORREREI! EU CORREREI DEZ VOLTAS! – ele gritava, eu sabia disso, mas o som de sua voz parecia tão baixo e distante... – EU CORREREI QUANTAS VOLTAS VOCÊ QUISER! EU CORREREI SEMPRE! E ENTÃO...

            Mas eu nunca soube como aquela frase terminava. Que pena...

            Mas, mesmo assim, estava tudo bem. Talvez, do outro lado, os outros estivessem me esperando. Mesmo que eu não acreditasse nisso, mesmo que não houvesse nada além desse mundo e eu estivesse apenas afundando em direção ao esquecimento absoluto... eu não sentia medo e nem me arrependia.

            Aquela era a minha escolha.

            E eu me orgulhava dela. Até o fim.

-o-o-o-


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