A Mulher da Casa escrita por sisfics


Capítulo 3
Capítulo Três: Minha nova casa. Meus novos planos.




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Bella Pov

Eu sentia vergonha só em pensar levantar daquela cama e subir as escadas para pedir ajuda. Seria vergonhoso demais admitir que fizera algo de errado e agora precisava da ajuda de Carlisle para consertar.

A primeira semana, ao contrário do que Edward dissera, já tinha passado e dado lugar para a segunda, mas meu emprego estava firme e forte. Não posso dizer que nem por um instante não pensei em largar aquilo tudo, pois até o mal-humor de Adam da lanchonete era mais fácil de aguentar do que um dia sequer na casa dos Cullen, segundo minhas mais novas colegas de apartamento. Eu tinha vergonha até mesmo de pensar isso de um homem tão bom quanto Carlisle, mas sua casa era mesmo um inferno.

Tive que me desdobrar em duas, as vezes em três para conseguir fazer tudo que precisava. Eram muitas pessoas naquela casa, apesar do seu tamanho e eu nunca tinha entendido muito bem como administrar coisas grandiosas. Minha casa sempre fora tão pequena e mesmo morando com Vanessa e com Willian nada se comparava a bagunça que eu encontrara na vida dos Cullen.

Pensar em Vanessa fez meu estômago revirar, por isso meu abdômen doeu ainda mais e me remexi na cama para achar uma posição confortável. Mais uma vez a idéia de ir até o quarto de Carlisle pedir ajuda apareceu na minha cabeça, mas não queria incomodar mais. Respirei fundo, tentei fechar os olhos e dormir.

Rennesme era a criança mais solitária e triste que eu já tinha conhecido. Em certos momentos, ela me fazia lembrar meu irmão brincado sozinho no quintal dos fundos da minha antiga casa enquanto Vanessa não chegava para nos atormentar.

- Pare de pensar neles. - me ordenei em voz alta.

Ela era uma criança linda e cuidadosa. Por duas vezes, parei meus serviços para observar Rennesme brincar sozinha na sala de estar. Ela arrumava a casinha das bonecas, inventava suas histórias, interpretava três ou quatro personagens e o mais engraçado era se dois falassem ao mesmo tempo e ela fazia até as vozes diferentes.

Jasper era também o garoto mais tímido que eu já conhecera na vida. Ele se mantinha preso atrás de seus livros e seu caderno onde escrevia infinitamente algo sobre o que acontecia a sua volta. O silêncio com ele na hora do almoço era confortável, não estranho. Ele adorava minha comida e esse foi um ponto positivo para ganhar sua simpatia.

Emmett era um bagunceiro. Apesar de estar em casa apenas dois dias na semana, foi o suficiente para me deixar enlouquecida na segunda de manhã quando cheguei e encontrei seu quarto revirado de cima à baixo, mas ainda assim era um doce de rapaz.

Mas não era aquilo que mais me incomodava, eles não eram os piores. Eu tinha ganhado um inimigo um quanto tanto incoveninente. Edward piorava meu dia toda vez que cruzava comigo e era quase o tempo todo nas raras vezes que estava em casa. Algo nos olhos dele me dava um medo que não conseguira decifrar de onde nascia. Talvez do seu sorriso, ou dos seus olhos onde mal se conseguia penetrar na superfície, ou talvez ainda na sua própria amargura e no seu rancor vindo de motivos indecifráveis. Talvez indecifráveis até para ele.

Além disso, estava fazendo de tudo para dificultar o trabalho que já não era um mar de rosas e foi ontem à noite que tudo piorou. Eu estava me preparando para voltar para a cidade, quando Edward entrou na cozinha, fazendo bastante barulho. Eu no quarto de empregada ouvi, mas não dei atenção, então quando entrei na cozinha para ir embora, ele jogou um tigela de suco no chão sem a menor questão de fazer parecer que foi um acidente.
Apesar de não estar me esforçando muito nesses dias, naquela hora esqueci das recomendações médicas e limpei tudo. Enquanto me movia, algo aconteceu comigo, como se eu tivesse tomado um forte chute no estômago. E desde então a dor estava me enlouquecendo, tão forte que essa noite nem consegui ir embora para o apartamento.

Me sentei na cama, engolindo o ar em lufadas para satisfazer meu coração que palpitava com mais pressa. Levantei devagar, vesti um casaco para cobrir a camiseta que usava para dormir, calcei um chinelo que estava na beirada da cama e fui procurar Carlisle.

Eu não dormiria mais uma noite se continuasse escondendo assim o que estava sentindo, por isso me arrastei pelo escuro da casa, atravessando os cômodos até chegar na escada. Quando cheguei no segundo andar, olhei para os lados para ver se nenhuma das portas estava aberta. Bati algumas vezes na porta do doutor, mas ele não atendeu. Bati mais duas vezes, então quando estava quase desistindo e voltando para o quarto, a porta se abriu e ele apareceu sonolento.

- Isabella? O que aconteceu? - ele olhou para baixo, vendo as mãos que seguravam minha barriga com força - Você está com dor? - perguntou, vindo me segurar.
- Desculpe acordá-lo essa hora. - sussurrei - Não queria atrapalhar seu sono, mas não sei onde ficam os remédios e...
- Shiii. E mais nada, onde está com a cabeça pedindo desculpas desse jeito? Se precisa de ajuda sabe que pode me chamar.
- Por favor, fale baixo. Não vamos acordar seus filhos. - ele assentiu, então apoiou a mão na minha barriga.
- O que está sentindo? Vomitou sangue de novo? Você fez algum esforço?
- Acho que ultrapassei meus limites ontem, doutor. Eu juro que segui suas recomendações, mas uma certa hora, eu esqueci. - fez uma careta em reprovação, me provocando uma risada - Mil perdões. E não, eu não vomitei sangue nenhum, só estou sentindo mesmo uma dor insuportável.
- Consegue andar?
- Com dificuldade.
- Se importaria se eu te pegasse no colo? - pensei por alguns segundos.

A dor estava insuportável, como se uma faca cruzasse meu estômago, eu mal conseguia respirar. Descer todos aqueles degraus seria mesmo um sacrifício, mas eu não queria explorá-lo. Ele não merecia.

- Não precisa, doutor.
- Isabella, por favor, talvez a dor piore se andar. É melhor... - ele tentou me colocar medo, e estava conseguindo, por isso assenti corando.
- Não seria a primeira vez certamente. Mas, por favor, não me lembre disso depois. Ficarei mais envergonhada. - ele riu, passando a mão por debaixo da minha perna e com a outra nas minhas costas.

Eu estava mesmo fraca demais para andar, até para prestar atenção em qualquer coisa. Mas como uma prova de que o meu medo incomum não era infundado, assim que Carlisle pôs o pé no primeiro degrau, ouvi o ruído da fechadura da porta do final do corredor.

O quarto intocado de Edward. Era impossível que ele tivesse me ouvido subir a escada ou bater na porta de seu pai. Fui tão silenciosa, mas mesmo assim ele estava nos observando enquanto conversavamos e trancou a porta assim que descemos.
Carlisle não pareceu perceber, talvez por estar concentrado demais em não rolar as escadas comigo, por isso continuou descendo, e estiquei o pescoço para ver se aquele garoto daria algum sinal de novo. Mas logo o doutor colocava meu corpo sobre o sofá.
- Eu vou trazer uns analgésicos para você, mas preciso que não se mova.
- Tudo bem. - ele saiu, mas logo voltou com um copo d'água e dois comprimidos.
- Sente-se para tomar tudo. Se enjoar com a água me avise. - tomei os comprimidos e voltei a repousar - O que você fez para sentir tanta dor?
- Limpei uma jarra de suco que caiu ontem no chão quando eu estava saindo para a cidade. Não deveria ter feito, mas a pressa de aprontar tudo me ...
- Tudo bem. Não prolongue a história. Continue deitada, vai dormir em breve.
- Acho meio difícil.
- Confie em mim. - fiz o que ele mandou, apenas fechei os olhos rezando para que a dor passasse em breve - Ah, Isabella, eu vou te levar para o hospital amanhã, tudo bem?

Ergui meu tronco tão depressa que quase bati minha cabeça com toda a força na de Carlisle que precisou chegar para trás com o susto. É claro que aquele movimento não estaria impune. A dor me fez curvar o tronco, encolher a barriga, tamanho era o sufocamento. Ele tentou fazer com que eu deitasse de novo.

- Você não pode fazer isso comigo, por favor Carlisle. Sabe que eu não posso.
- Shiii. - soou rápido e decidido - Sem discussões. Eu não sou louco de te expor. Vamos para um hospital longe daqui e será um amigo meu que vai te atender. Para todos os efeitos você será minha filha.
- Filha?
- Sim, Isabella, confie em mim. Eu jamais faria nada para colocar seu segredo em risco. Veja bem, vou ligar para um amigo meu assim que amanhecer e marcarei uma consulta no nome de Rennesme. Chegando lá eu explico a situação para ele.
- Mas e se ele contar para o conselho tutelar? - tive que sussurrar.

Agora que sabia que Edward estava acordado, eu não poderia deixá-lo saber o que tinha me trazido para Forks.

- Ele não vai. Confie em mim. - tentei fazer.

Alguns segundos o encarando me fez ficar tranquila, deitar de novo. E mais alguns minutos depois a dor começava a amenizar. Logo eu estava dormindo.
Edward Pov

Entrei no quarto, mas ele fingiu não me ver. Bati a porta, caminhei ruidosamente até me sentar na grande cadeira de couro que ficava em sua escrivaninha, mas Jasper continou fingindo que não me via. Tossi forçadamente para chamar sua atenção, por isso ele cruzou as pernas para o outro lado e virou uma página do seu livro.

- O que está lendo dessa vez? - perguntei sem o menor interesse verdadeiro.
- A revolução dos bichos, de George Orwell.
- Ah. - respondi sem emoção.
- Se sua reação fosse outra aí sim eu me surpreenderia, Edward.
- Não posso não gostar de ler?
- Não pode não gostar de me importunar? - fechou o livro com raiva - Porque não me deixa em paz? Saia do meu quarto, por favor. Você deveria estar na escola, sabia?
- Eu quero conversar com meu irmão mais velho. Minha inspiração. Não posso?

Jasper me olhou de cima à baixo. Fez uma careta ao ver meu coturno sujo de lama, quase gemeu de dor com o rasgo no meu jeans, e estava quase tendo um filho ao olhar para o meu cabelo.

- Definitivamente, eu não sou e nem nunca fui inspiração para você. Não diga uma asneira dessa em voz alta. É até um insulto.
- Esse é seu tipo de piada?
- Não, esse é meu tipo de "cai fora do meu quarto, idiota".
- Olha, não quero brigar assim como faziamos quando pequenos que rolávamos pelo gramado dando socos um no outro. Ergui a bandeira branca faz muito. Me deixe ficar na sua companhia uns minutinhos, eu quero conversar com você.
- Conversar sobre?
- Sobre algo que está realmente me incomodando e eu preciso dividir isso com alguém da minha confiança.
- Desde quando você dividi algo comigo? Desde quando sou da sua confiança?
- Desde que temos o mesmo sangue correndo na veia. Talvez isso contasse um pouco mais para você como conta para mim.
- Engraçado como você não vê essa mesma consideração com nosso pai. - ele tocara num ponto delicado.

Ia se arrepender depois.
- Não quero tocar nesse assunto, Jasper. Agradeceria se você me respeitasse um pouquinho. Eu entrei numa boa no seu quarto, ainda não fiz nada para te irritar desse jeito, então se minha presença é realmente tão insuportável a ponto de você não conseguir ficar cinco minutos dessa forma, eu vou embora. Desculpa?

No fundo eu sabia que precisava melhorar minha técnica de ator, mas a cara que fiz foi o suficiente para convencer Jasper a me deixar ficar. Era só daquilo que eu precisava, que ele se sentisse culpado, então me deixasse ficar já com uma pontinha de remorso no peito, assim injetar as informações que eu tinha em sua cabeça seria muito mais simples do que pensei.

E junto com aquelas informações, nasceria uma pequena dúvida. Jasper era o de nós quatro que menos se conformara com o desaparecimento de Esme, por isso bastava usar as palavras certas para colocá-lo na jogada.

Não que a empregadinha nova fosse péssima pessoa, ela até era gostosa, mas sua presença me irritava como nunca tinha sentido antes com ninguém. Além disso, depois do que vi ontem à noite, não permitiria que ela dormisse mais uma noite em paz sobre nosso teto. Se Carlisle arranjara uma nova protegida, então eu tinha novos planos para acabar com a raça daquela vadiazinha.

- Pode ficar, Edward. Me desculpe, eu não quis dizer nada para ofendê-lo.
- Tudo bem. - me sentei, forçando um sorriso.
- O que tem para falar? O que está te incomodando?
- Bem, eu não sei bem como falar isso, mas você acha que o papai poderia... - apoiei a testa na mão para melhorar a cena - Poderia se envolver com outra mulher? Quero dizer, agora.

- Como? - quase se engasgou - Edward, ele mal consegue falar o nome da mamãe. Ainda faz muito pouco tempo. Eu não acredito que ele consiga, quero dizer, você se lembra como eles eram juntos. Porque está pensando sobre isso?
- Bem, porque, eu sei que vai parecer estranho, mas eu acho que aconteceu alguma coisa ontem a noite entre ele e essa nova empregadinha aqui de casa.
Não esperava a reação que se seguiu, logo Jasper estava rindo de maneira estúpida como se assistisse uma comédia pastelão. Afastei o pensamento ao sacudir a cabeça. Nem com a comédia do século ele riria daquele jeito.

- Essa foi boa, Edward. - falou entre uma gargalhada e outra, enquanto deixava seu livro de lado no travesseiro e se aproximava da beira da cama para continuar rindo - Daonde tirou isso? Quanta baboseira. Não acredito que caí mesmo na sua para no final ouvir isso.
- Porque não acredita que ele pode estar tendo alguma coisa com ela?
- Se você ainda tissesse dito que ele está tendo um caso ou coisa parecida com alguma médica ou enfermeira do hospital, talvez como muita dificuldade eu ainda acreditasse. Mas vendo a forma como ele tem vivido nos últimos meses por causa da separação dele e da nossa mãe, não posso pensar que ele tenha alguma espécie de desejo numa garota. A Bells é tão doce.
- A Bells é tão doce? Desde quando vocês são amigos? - ele bufou - Vocês já tricotam juntos então?
- É por isso que eu não converso com você. É impraticável qualquer assunto sério e sensato.
- E porque não? Ontem à noite, eu estava chegando de um lugar, era tarde e eu sabia que o papai arrumaria alguma confusão se me visse. Por isso, entrei pela janela e quando fui conferir que tudo no corredor estava calmo, eu a vi na porta do quarto dele, os dois conversando, ele estava com a mão na barriga dela e então depois de falarem por um tempo ele a pegou no colo e desceu as escadas com ela.
- O que disse?
- É, pegou no colo, sabe? A segurou nos braços. Você precisava ver a forma como os dois se olhavam. Trocando confidências. Era mais de três da manhã, o que acha que eles foram fazer lá embaixo sozinhos?
- Se eles tivessem um caso, não acha que ele a levaria para o quarto?
- Ah sim, levar a empregadinha para o quarto em frente ao da sua filha mais nova. Você é genial, Jasper.
Ele ficou em pé, então andou até a janela. A abriu, fazendo com uma brisa fresca e a claridade cinzenta das nuvens entrasse pelo cômodo. Jasper foi até a pequena varanda como se não estivesse se importando nem um pouco com o que eu dizia, mas eu sabia que no fundo ele estava só pensando.

- Você sabe daonde essa garota surgiu? - perguntei.
- Só o que conversei com ela nessas semanas que voltei para casa para almoçar.
- E o que foi?
- Bem, ela não sabia o que fazer da vida, deixou a casa dos pais e veio viajando até aqui. Ela conheceu o papai no hospital, você já viu a cicatriz que ela tem no supercilho, então conversaram, e agora ela tem um emprego. - bufei - Qual o problema nessa história, Edward?
- É inocente demais. Tem alguma coisa nessa garota que eu não consigo engolir.
- Talvez porque ela seja a única que não caí nas suas idiotices. Aliás, eu admiro a forma como ela consegue te ignorar. É impressionante levando em conta sua mania incontrolável de ser desagradável e debochado com todos.
- Tirou o dia para fazer isso comigo, certo? Ainda não sacou que eu estou mesmo com isso na cabeça?
- Ainda não sacou que isso é coisa da sua cabeça?
- Eu queria que você tivesse visto o que eu vi ontem a noite.
- Sabe qual o seu maior problema?
- Além de ser insuportável?
- Além disso. Você só vê maldade nas pessoas, Edward. Já pensou que ela pode ter passado mal, ter se machucado, ou estava...
- Ou estava? - incitei.
- Sei lá. São tantas as possibilidades. Você não pode ver maldade em tudo que acontece, nem em todas as pessoas.

Me levantei com pressa, e fui andando até a porta batendo os pés com força no chão.

- Pense o que quiser, Jasper. Eu não confio nessa garota... - ele abriu a boca para me contradizer, então terminei a frase - Muito menos em Carlisle.

Chamá-lo de pai agora era tão estranho quanto me sentir em casa de novo nesse lugar de merda. Que inferno!

Uns dias depois

- Bom dia. - Emmett entrou bem humorado na cozinha e quando passou por mim bagunçou meu cabelo.

Reprimi um instinto de levantar e lhe dar um belo soco no nariz, mas isso assustaria Nessie e uma criança gritando era o que eu menos queria agora, mesmo que fosse minha irmãzinha.

- Não faz isso. Sabe que eu não gosto. - rosnei.
- E do que você gosta? - Jasper perguntou.
- Não fala assim com o Eddie. - Nessie o chutou por debaixo da mesa o que fez Emm e meu pai rirem.

Eu não esbocei nem um simples sorriso, mas porque estava me segurando. Fiquei mesmo aborrecido, até porque não levantei com o pé direito da cama. Foi quando uma outra risada fez chamar minha atenção. A empregadinha estava ao meu lado, servindo café numa xícara. Sua risada era baixa, doce, melodiosa. Combinava com sua personalidade tanto quanto com seu rosto. Mas que diabos! A cicatriz em seu supercilho ainda estava rosada, então eu lembrei que tinha também me cortado uma vez no mesmo lugar que ela, mas por uma aventura com um péssimo final na minha moto. Ela caminhou até o outro lado da mesa e entregou a xícara para Carlisle.

Eles sorriram um para o outro, meu pai maior do que o normal.

- Obrigado, Bells. - ele sussurrou.

Um ódio subiu queimando pelo meu peito e pela minha garganta, uma vontade de gritar, de rosnar, de fazê-la sumir. Eu, simplesmente, não suportava mais viver com aquela garota embaixo do meu teto.

- Com duas colheres de açúcar e creme como o senhor gosta. - respondeu sorrindo antes de se afastar.

Eu sabia que Jasper estaria observando, mesmo sem aparentar. Por isso, bati com o calcanhar em sua canela e depois fiz o mesmo com Emmett. Eu agora só precisava que ele também ficasse sabendo o que estava acontecendo ali.
Emmett enrugou o cenho, apontei para ela com a cabeça, então deu de ombros não entendendo nada. Jasper se ajeitou, com seus braços cruzados, de forma que pudesse me olhar aborrecido.

- Idiota! - sibilou.
- Bella, por favor, sente-se à mesa conosco. - Carlisle gesticulou para a cadeira de Esme.
- Não, obrigada doutor. Eu tomo o café aqui mesmo. - ela se virou de costas para a pia.
- Por favor, Bella, sente-se. - Nessie também apoiou.

A empregada hesitou por uns minutos até que Emmett fez o mesmo gesto com um sorriso de orelha-a-orelha. Jasper também sorriu quando ela se sentou no lugar de Esme. A única explicação tão plausível quanto fantasiosa para aquilo era que aquela menina tinha jogado um feitiço sobre todos ali, principalmente em Carlisle.

- Chega a ser desconfortável te ver comendo em pé, enquanto estamos aqui. Não há problema em sentar-se conosco, por favor faça isso quando estivermos fazendo uma refeição.
- Não sei se me sinto bem dessa forma. Por favor, que seja só por hoje.
- Mas... - ele se interrompeu - Bem, se quer assim.
- Alguém pode me passar a geléia? - Nessie pediu.

Estiquei o braço para alcançar o vidro à minha frente, mas ao invés de tocar a tampa fria, encontrei dedos macios, longos, quentes. Ela me encarou por um segundo, nossas peles em contato, seus lábios entreabertos, suas pupilas estavam dilatas, escondendo um pouco do leve tom de chocolate, então como se a tivesse machucado, ela tirou a mão debaixo da minha com pressa.

- Desculpa? - a entendi sibilar, enquanto suas bochechas coravam.

Também recolhi meu braço, voltando minha atenção para minha xícara de café. Por uns segundos, a única coisa que eu conseguia pensar era na sua reação assustada, arredia, amedrontada, mas era favorável que assim se mantivesse. Quanto mais medo de mim, mas longe ficaria.

- Gente, eu ainda tô esperando a geléia, viu?

Duas semanas depois.

Alguém bateu na porta do meu quarto com batidas leves, rápidas, como se estivessem fugindo.

- Entra. - Nessie gritou, se jogando de novo no meu colo.
- Eu vou ganhar você. - chamei sua atenção, dando uma última jogada.

Ela saiu da minha perna, girando na cama de frente para mim. Encarou o tabuleiro, coçou o queixo e sorriu maliciosa. Logo depois, segurou seu rei na mão, beijou a peça de marfim e bloqueou o meu.

- Xeque-mate, bobão. - era um movimento que eu não tinha visto ou planejado.
- Ela sempre foi melhor nisso do que você. - Emmett disse se sentando na beira da cama com Jasper à tira colo.
- Reunião de família? - perguntei.
- Eu sou melhor do que todos vocês juntos. Podem admitir. - se jogou nos meus braços com um sorriso.
- Você pode até ser melhor no jogo, mas é uma péssima ganhadora.
- Você só está dizendo isso porque perdeu. Sabe que vai ter que me levar no parque de diversões em Port Angeles.
- Ah, Nessie?
- Aposta é aposta. Eu ia lavar sua moto se perdesse. Isso é exploração infantil e eu não reclamei.
- Então é isso que vocês ficam fazendo trancados nesse quarto? - Jasper perguntou com um nítido ciúme da nossa caçula.
- Só não jogo com você porque gosto de adversários à altura, Jas.
- Sim, à altura de tomar um sacode dela. - completei.
- Nessie, eu senti cheiro de biscoitos na cozinha, você não quer perguntar para a Bella se ela está fazendo alguma coisa para você? - Emm esfregou as mãos e piscou.

Naquela hora soube que eles queriam conversar alguma coisa séria comigo, por isso vieram em comitiva. Tentei conter o sorriso, sabia qual era o assunto, eles me procurariam mais-hora-menos-hora.

- Se vocês querem ficar sozinhos é só pedir. Que coisa! - ela deu de ombros.

Se esticou o máximo que pôde para me dar um beijo na bochecha, depois saiu saltitando até a porta, sacudindo a saia de seu vestido de um lado para o outro. Emmett suspirou ao ouvir o trinco.
- O que querem?
- Você deveria procurar ajuda psiquiátrica, Edward. Sua bipolaridade me amedronta.
- Quanta consideração com seu irmão, Emmett. É adorável.
- Vamos encurtar o assunto? - Jasper pediu, dando uma leve sacudida no ombro de Emm para que ele começasse.

- A questão é a seguinte, ontem de manhã quando desci para o café antes de todos e cheguei na cozinha, papai estava saindo do quarto da Isabella, por isso eu me escondi atrás da parede e depois a vi saindo de lá também. O Jasper já tinha me contado da conversa que você teve com ele e por isso eu associei e acho que você tem razão.

- Acha? - ironizei.
- Vocês têm de estar errados. - Jas sussurrou.
- Homens, Jasper. Você também é um. As vezes a gente não pensa direito quando vê uma saia.
- O papai está se remoendo com a separação.
- Ahn, e você também. Que lindo!
- Eu só acho isso meio impossível. Não é porque você e o Emmett enlouquecem com qualquer par de pernas que nosso pai vai fazer o mesmo. Ele ainda ama a mamãe. Está mais do que na cara.

- Sua inocência me provoca náuseas. Mas, voltando ao assunto principal, além de informar o óbvio o que vieram fazer aqui?

- Bem... o... o que acha que devemos, quero dizer, não imagino o que fazer. Devemos deixá-los sem mais explicações ou deveríamos perguntar ao nosso pai. Bem, eu gostaria de saber caso ele estivesse com uma mulher, principlamente embaixo do meu teto. Assim como gostaria de saber se mamãe...
- Vamos parar de falar dessa mulher? - rosnei.
- Sabia que essa mulher te colocou no mundo, idiota? - eu ia responder, mas Emmett me impediu, e também pediu para que Jasper se calasse.
- Parem, por favor. Você dois são impossíveis.
- Não tenho paciência com trogloditas.
- Como me sinto ofendido. - levantei, indo até o armário.

Peguei ali dentro uma camisa azul marinho em gola V. Tirei a que estava vestindo, jogando em qualquer lugar, e fui para o banheiro.

- Se vocês vieram até meu quarto é porque querem ouvir - e espero que respeitem também - minha opinião. Quando esses dois se separaram eles não contaram, deram explicações, ou simplesmente perguntaram o que achávamos. Esme fez as malas e saiu de casa. E só ficamos sabendo quando os papéis do divórcio chegaram pelo advogado. - voltei para o quarto já vestido - Mande Carlisle pastar. Por mim, a gente faz essa garota sair dessa casa por vontade própria.

- Como? - Emmett perguntou.
- Infernizem a vida dela até que saia daqui com seus panos e trapos dentro de uma mala.

- E você tem alguma idéia para isso?
- Várias. Pegue meu caderninho de maldades na última gaveta da cômoda da direita. Só não se assustem. - vesti um casaco, peguei a chave da moto e quando eu já estava saindo do quarto, Emmett gritou:

- Seja o que for, eu quero, Edward.

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