Noite fria, inverno em Johto. O vento frio entra pela janela, mas não tenho coragem de fechá-la. Encontro-me sentada na escrivaninha do quarto, escrevendo em meu diário de viagem, narrando minhas histórias, porém, nenhuma delas faz sentido sem a história principal. O outono partiu com as últimas folhas das árvores e com elas, foi-se você, partiu sem nem sequer despedir-se direito, apenas virou-se de costas e foi embora, sem dizer nada.

Fazia um dia nublado, as nuvens encobriam o sol tímido que brilhava no céu. Eu observava-o atentamente, apoiada a uma velha árvore, que estava com o tronco retorcido. Escrevia em meu diário, um hábito que não consigo largar desde pequena, por mais que ninguém saiba dele até hoje, nem sequer meu irmão mais novo sabe deste hábito. Uma folha seca e alaranjada cai sobre as folhas brancas. Pego-a com delicadeza e coloco-a entre as folhas, logo após terminar minhas anotações. Ela seria uma recordação da estação que passou e eu poderia me lembrar sempre deste outono, meu primeiro outono viajando sozinha, apenas eu, Deus, minhas coisas e meus pokémons.

Decido levantar-me. Apoio minha mão sobre o tronco daquela pobre àrvore e dou impulso para levantar-me. Porém, logo sinto algo quente debaixo de minha mão. Aquela com certeza não era a textura de um tronco de árvore. Posso sentir como se alguém respirasse atrás de mim, uma respiração parece tocar levemente meu pescoço.

-Você por aqui, May.- Diz a voz ao meu ouvido, deixando-me arrepiada. Dou um grande salto de espanto, mal posso acreditar no que meus olhos veem.

-DREW!- Exclamo espantada, olhando para ele com os olhos arregalados de espanto e o coração acelerado em vê-lo ali, diante de mim e saber que a voz dele  tocou tão suavemente meus ouvidos.

-Me desculpe, acho que eu te assustei.- Disse ele, desculpando-se.

-Ah, que isso. Não me assustou. Só estou surpresa por vê-lo aqui, que eu saiba, não terá nenhum torneio nessa região.- Disse, sem entender ao certo o motivo dele estar ali.

-Não, não terá. Na verdade, eu vim para cá porque ouvi dizer que essa região fica muito bonita no outono e, acho que não estavam errados.- Disse ele, olhando atentamente para as folhas que caiam das árvores.

-É. Sabe, eu estava indo participar de um torneio, mas resolvi passar nesse lugar para ver se ele ficava tão bonito quanto dizem.- Disse, observando as folhas assim como ele e volta e meia, observando o rosto dele, que parecia tão calmo observando as folhas alaranjadas cairem.

Ficamos em silêncio por um longo tempo, sem dizer uma palavra sequer. Parecíamos em transe, as folhas pareciam ter nos enfeitiçado. De repente, quando estava totalmente distraída, ele aproximou-se e segurou minha mão delicadamente. Estava completamente nervosa, meu coração disparou tão rapidamente que parecia que explodiria a qualquer momento. Eu não consegui olhar para ele, pois minhas bochechas totalemente vermelhas entregariam tudo que se passava dentro de minha cabeça e de meu coração. Novamente, o silêncio tomou conta de nós. Eu tentava dizer qualquer palavras, fazer qualquer gesto, tomar qualquer atitude que pudesse surtir efeito. Porém, antes que pudesse ter qualquer ação, ele puxou-me rapidamente e me abraçou. Estava totalmente vermelha e nervosa. Meus braços e mãos trêmulos retribuiram o abraço. O calor do corpo dele no meu e as batidas do coração dele sincronizadas com as batidas do meu coração levavam-me a loucura. Eu tentava falar qualquer coisa, mas minha voz estava sufocada pelos meus sentimentos, as palavras embaralhavam-se mas não tomavam ordem. De repente, ele afastou-se lentamente de mim e ficou alguns instantes a encarar-me. Então, ele rapidamente aproximou-se de mim e tocou meus lábios suavemente com os lábios dele. Eu estava totalmente se fôlego, estava com a cabeça a mil e meu coração parecia a beira de sair do peito, de tão rápido que batia. Foi um longo e carinhoso beijo, que terminou sutilmente, quando ele afastou-se e, acariciando meu rosto e olhando em meus olhos, rapidamente se afastou.

-M-Me desculpe May!- Disse ele, correndo rapidamente pela estrada de folhas. Eu queria ir atrás dele, mas minhas pernas estavam tão bambas que mal podia ficar em pé. Caí de joelhos sobre o tapete de folhas e fiquei com a mão direita sobre os lábios. Eu não podia acreditar no que havia acontecido naquele momento. Ele havia...me beijado?

Durante tempos, senti imensa felicidade dentro do meu peito. Porém, agora, nesta triste e gelada noite de inverno, depois de um mês que se passou, observo, solitária, as estrelas que brilham no céu. Eu queria poder vê-lo de novo, queria entender porque ele agiu daquela maneira naquele dia, porém, as perguntas acumulam-se em minha mente e tentam preencher o vazio em meu peito.

Respiro fundo, seco meus olhos, que deixam lágrimas pequeninas escorrerem por sobre as folhas do meu pequeno diário. Observo atentamente as última anotações desta noite fria e solitária: "Em meus sonhos, eu posso te ver. Você sorri, mas seu sorriso é diferente de todos os que você já havia dado antes. Eu quero correr para você, eu quero te abraçar, quero te beijar, quero dizer que eu te amo, que eu te quero, que a noite, quando vou me deitar, sinto que um pedaço do meu coração está faltando dentro de mim. Eu quero chorar, porém, sei que ninguém irá ouvir. Não quero mais ter que segurar essa dor dentro de mim, mas não posso dizer o que eu realmente sinto. Eu só consigo pensar em você, eu te amo!"