A Última Palavra. escrita por thammy-chan


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá. Mais um capítulo para vocês, espero que gostem.



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Era hora do jantar na casa dos Hermann. Como todos os dias desde o bombardeio na rua Himmel, Ilsa preparou o jantar com a ajuda de Liesel.


Ambas apreciavam a comida juntas, em meio às conversas e risos. Planejavam chamar o prefeito só depois que acabassem, afinal, ele sempre estragava aquele momento que passou a ser só das duas.


Neste dia em particular, não foi bem assim.


Houve um estrondo vindo da sala. Chegando lá, podia-se constatar que uma pedra da rua tinha atravessado a grande janela, repartindo-a em dezenas de pedaços.


Enquanto Ilsa foi ver quem era o responsável por isso, Liesel escorregou na ponta do tapete e caiu sentada no piso frio. Ou melhor, caiu encima dos cacos de vidro.


—Ai! –gritou enquanto via o sangue escorrer até o chão.


A dor aguda e a queimação espalhavam-se pela perna de Liesel, que inutilmente tentava se levantar.


Gritos também eram ouvidos da entrada da casa, aliás. Mas esses eram de Ilsa Hermann.


—Você não vai fazer nada a ela! –repetia Ilsa sem parar. —Nada, está me entendendo? Você está bêbado! Fique onde está!


Um estalo seguindo por silêncio absoluto foi o suficiente para Liesel perceber que Ilsa levara um tapa.


“Do prefeito.” Completou mentalmente, quando o viu cambaleando pela porta de entrada.


Heinz Hermann segurou-se no batente da porta para conseguir entrar. Estava realmente bêbado, como Ilsa dissera minutos atrás.


Liesel sentiu urgência em correr, mas não podia. A dor ainda dilacerava sua perna esquerda, fazendo-a permanecer imóvel.


Não se ouvia mais a voz de Ilsa. Não se ouvia nada, aliás. Apenas o som da fúria do prefeito sendo direcionada à menina que permanecia indefesa na poça de sangue que formou-se no chão.

Com seu cabelo penteado para trás e seu sobretudo preto, Heinz parecia uma pessoa séria. Uma pessoa do tipo que ajuda as outras com um sorriso no rosto quando elas se perdem , e não do tipo que as ataca na primeira oportunidade.



•UMA SURPRESA NÃO TÃO INESPERADA•
Na verdade o prefeito era do segundo tipo.


Rindo discretamente, ele aproximou-se de Liesel.


—Como pode uma criatura tão pequena causar tantos problemas? – jogou-se no sofá, sem conseguir manter-se em pé por muito tempo. —Oh, pequena Liesel. Eu sempre soubera que você traria problemas pra nós, mas não tantos assim.


Liesel continuava sem entender e ainda não conseguia mover-se. A poça de sangue aumentava a cada instante.


—Eu não quis trazer problemas, prefeito. –disse entre dentes. —Realmente sinto mui-


—Sabe, Meminger. –interrompeu Heinz antes que a roubadora de livros pudesse continuar. —O partido nazista do qual eu fazia parte já não existe mais. Porém, uns rumores esquisitos andam por aí. E se tem uma coisa que me deixa nervoso, querida – Ele tentou levantar, mas ao cambalear caiu no sofá novamente. —são coisas esquisitas.


Do outro lado da sala, Liesel congelou. Que rumores poderiam estar correndo que levava-o a crer que ela trouxe problemas para os Hermann? Sobretudo problemas relacionados ao partido nazista? A garota engoliu em seco.


Só se ele soubesse que...


Subitamente, Liesel sentiu-se fraca. Agora, sua cabeça doía tanto quanto sua perna.


Ai! Agora que se lembrou da existência da sua perna, a dor voltou. Ela nunca tinha ido embora, aliás. Mas o aperto que teve em seu coração entorpeceu todo o resto.



•O MOTIVO DO APERTO•
Não, eu não estava tirando a vida de Liesel – Ainda.
Mas o aperto que a pequena roubadora de livros sentiu teve um motivo bem específico.
Tinha até nome, eu arriscaria dizer.
Max Vanderburg.


Enquanto com lágrimas nos olhos Ilsa guiava o caminho, Max adentrou depressa e logo se deparou com Liesel.


Espantado com a quantidade de sangue no chão, ele correu para socorrê-la.


—Meu Deus. –disse enquanto pegou Liesel no colo para levá-la para fora. —Meu Deus, Liesel.


Jogado no sofá, o prefeito balbuciava coisas sem sentido. Quando conseguiu falar decentemente, tudo o que saiu da sua boca foi:


—Seu maldito judeu, tire as mãos da menina!


Nos braços de Max, a garota o sentiu enrijecer. Vanderburg procurou os olhos de Liesel, e quando os encontrou, descobriu que ela estava tão apavorada quanto ele.


—Suba as escadas. –pediu Ilsa. —Eu o manterei aqui embaixo.


Sem titubear, Max fez o que lhe foi pedido.


Não disse mais nenhuma palavra e dirigiu-se escada acima, ignorando os gritos do prefeito.


—Saumensch!


• • •

Sentada na ponta da cama, Liesel balançava as pernas sem parar.
—Como você fez isso?


A garota estava maravilhada. Sua perna não sangrava mais. Depois de um belo banho, estaria novinha em folha.


Ajoelhado no chão, Max revirava distraidamente uma gaze na maleta de primeiros socorros. Sem desviar seus olhos, respondeu em um tom desinteressado.


—Todo professor deveria saber um pouco sobre primeiros socorros, na minha opinião. –comentou. —Foram só alguns pontos depois de parar a hemorragia, Liesel. Deve ter cortado alguma artéria. Ah, e você deve trocar o curativo duas vezes por dia, não se esqueça.


Ela sorriu.


—Não vou esquecer. Obrigada, Max.


O rapaz apenas deu de ombros.


Sentindo-se ignorada, Liesel parecia disposta a quebrar o autocontrole do judeu. Inclinou-se até cair de joelhos no chão, ignorando a dor, e então jogou seus braços ao redor do pescoço dele, em um abraço desajeitado.


Max abraçou-a de volta, apertando-a o máximo que poderia sem machucá-la.



Tentou decorar tudo sobre Liesel em poucos instantes: Seu cheiro, sua respiração leve contra o pescoço dele, as batidas descompassadas do coração frágil.


Sim, do coração frágil. A garota parecia forte por fora, mas era só isso o que ela era. Uma garota.


Na verdade, o que Max queria com essas memorizações, era ter sempre um pedaço de Liesel consigo.



•RESPONDENDO PERGUNTAS QUE NÃO FORAM FEITAS•
Você deve estar se perguntando:
“Oh, querida morte, mas por que
Max iria querer isso?”
Porque nesse exato momento, ele planejava
deixá-la para sempre.
Mas aqui, entre nós: Ele não poderia.
E se você novamente se pergunta o motivo,
eu mais uma vez o respondo.
Eu cuido apenas da morte das pessoas,
mas um querido amigo meu cuida do destino delas.


—Eu quis dizer muito obrigada, Max. –sussurrou a garota ao ouvido do lutador judeu, tirando-o de seus devaneios.


Nessa hora, Max afrouxou o aperto. Liesel soltou-o como se seu corpo estivesse em chamas.


—Eu só quero que você seja direto comigo. – foi o que ela disse. —Se tem algo a falar, Max. Apenas diga.


Cuidadosamente, Max colocou-a de volta sentada na cama e sentou-se ao lado dela.


—Se é assim que prefere... Sim, eu tenho algo a dizer. E é muito importan-


—Direto ao ponto. –lembrou Liesel.


—Não podemos mais nos ver.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
Eu já tenho o resto escrito, mas achei que seria bom parar nessa parte, porque o restante abranje outro assunto, então seria bom ficar em um outro capítulo.
Vocês acreditam que eu tive que procurar o nome do prefeito no livro? Eu sequer lembrava que ele tinha um nome.
Bom, elogios, sugestões e críticas são aceitos. Como o resto já está pronto, em breve postarei para vocês.
Beijos!