13h10.

Como sempre, nesse mesmo horário eu estava parado no ponto de ônibus, logo depois que eu saía da escola. Como eu não tinha muitos amigos, eu sempre ia pra lá sozinho, logo na hora que a aula acabava. Mas na verdade eu só ia tão rápido assim por um motivo: ele.

Aquele que me faz suspirar e que meu coração acelera toda vez que ele passa. Seus cabelos negros e seus olhos que me hipnotizavam. Eu nunca troquei uma palavra com ele, mas apenas um olhar já bastava para meu coração querer sair pela boca.

Eu mal precisei esperar e quando olhei para a direita, ele estava vindo. Nada mudou. Meu coração acelerou e provavelmente fiquei corado. Porém hoje aconteceu algo que eu não esperava. Ele não passou reto por mim, como sempre fazia. Desta vez ele parou na minha frente. Fiquei totalmente corado. Eu queria me esconder. Então para tentar amenizar aquela situação ridícula, abaixei a minha cabeça.

–Er... posso me sentar aqui? - e pela primeira vez, pude ouvir a sua voz. Uma voz maravilhosa por sinal, que só fez meu coração acelerar mais.

–Sim. - eu disse com a cabeça ainda baixa. Eu não tinha coragem de olhar nos olhos dele.

–Sempre vejo você aqui... estuda na Saito? - agora provavelmente ele estava olhando pra mim. Eu não podia continuar com a cabeça baixa, precisava olhar pra ele. Levantei minha cabeça e tirei a franja do olho.

–Estudo. - pronto. Agora ele deve estar me achando um idiota. Respondi feito um idiota. Perdi a maior chance da minha vida. Parabéns Masao, você estragou tudo!

–Ah, que ótimo! Pelo menos vou ter um conhecido lá. - ok, agora sim eu posso morrer. Não acredito. O moreno da minha vida vai se mudar pra minha escola? É isso mesmo? Meu coração acelerou tanto, que eu sentia que ele ia pular do meu peito. Arregalei os olhos para ele, que deu uma risada.

–Oh, e quando você vai se mudar? - foi a única coisa que eu consegui dizer.

–Semana que vem. - ele disse simples. Pensa Masao, pensa. Hoje é sexta. Semana que vem. Segunda-feira. Ou seja, daqui três dias eu vou vê-lo todos os dias, falar com ele todos os dias. Ai meu Deus, isso é muita coisa pra minha cabeça.

–Nossa... - eu apenas consegui dizer isso. Eu estava nervoso, meu coração estava acelerado demais para eu conseguir pensar em alguma resposta melhor.

–Bom, não acha que seria melhor a gente se apresentar? - ele deu uma risada gostosa. Foi inevitável não acompanha-lo nessa risada.

–Claro, claro. - eu estava um pouco mais relaxado agora. Bom, pelo menos eu acho -Meu nome é Masao, prazer.

–Hiroshi, o prazer é meu. - ele me lançou um sorriso que eu cheguei a deduzir que foi sedutor. Ok, eu confesso. Tudo que vem dele parece ser sedutor pra mim, ou seja...

–Você vai entrar em que ano?

–2º ano e você, está em qual ano?

–2º ano também. Pelo visto estamos na mesma classe também né. - eu sorri pra ele.

–Isso é ótimo, vou adorar ter a sua companhia. - não, agora sim eu posso morrer. Não é possível eu estar ouvindo isso dele. Precisei de alguns segundos para me recompor e responder alguma coisa.

–Ah, não sei se a minha companhia é tão boa assim, mas acho que serve, né... - dei de ombros e corei.

–Não consigo imaginar que sua companhia não seja boa. - ele sorriu pra mim novamente. Aquele sorriso. Pra minha sorte, o ônibus finalmente chegou para evitar maiores constrangimentos. Então peguei minha mochila e fui indo em direção ao ônibus, mas ele segurou meu braço. Aquele toque me causou arrepios na hora. Eu não esperava isso, não mesmo. Fiquei paralisado.

–Não vai se despedir de mim?

–Eu achei que você fosse entrar no ônibus... - eu disse meio desconcertado. Agora eu provavelmente estava vermelho.

–Parei aqui só para falar com você. - oh meu Deus, é isso mesmo que eu estou ouvindo? Não acredito. Ele parou só para falar comigo? -Então até segunda, Masao. - ele me soltou e acenou sorrindo.

–Até. - sim, isso foi o máximo que eu consegui dizer. Estava em transe. Entrei no ônibus e todas os últimos minutos passavam na minha cabeça como um filme. Eram coisas inesquecíveis. Aquele moreno por quem eu sofria de um amor quase platônico estava comigo agora. Parou ali só para falar comigo. Isso é... inacreditável.

Cheguei em casa e parecia que eu estava mesmo sonhando. Era tudo perfeito demais para ser verdade.

Quanto mais eu queria que tudo passasse rápido, mais demorava. Eu nunca quis tanto que a segunda-feira chegasse logo. E quando chegou, eu estava contando os minutos para chegar na escola e encontrar com o meu Hiroshi. Sim, meu Hiro, apenas meu. Eu sei que a gente não tinha nada, mas meu coração já o considerava meu.

Chegando lá, eu começo a procurar pelo seus cabelos negros e seus lábios carnudos.

–Masao? - pude ouvir sua voz perto do meu ouvido. Virei-me para ele, sorrindo.

–Ah, oi Hiro, eu estava te procurando.

–Bom, já estou aqui. Vamos entrar? Assim você pode ir me mostrando o colégio enquanto o sinal não toca.

–Ótima ideia, vamos! - segurei seu pulso e o puxei para dentro da escola. Só agora que eu percebi o quanto ele ficava bonito naquele uniforme.

–Que tal você me levar pra algum lugar que você goste daqui?

–Ah, pode ser... - então o levei para o jardim da escola. Pra minha sorte, estava vazio naquela hora.

–Que lugar lindo, Masao! Sabia que eu adoro jardins? Sempre gostei de flores... - ele disse chegando perto de uma flor e passando os dedos delicadamente sobre ela.

–Eu também adoro flores. - fiquei ali parado, observando Hiro andar lentamente, enquanto observava as flores com ternura. Aquela sim era uma cena linda. Vi ele pegando uma flor e a arrancando dali.

–Pra você. - ele estendeu a pequena flor delicada para mim. Como sempre, Hiro me surpreendendo. Abri um grande sorriso com aquele gesto. Eu nunca havia recebido uma flor de ninguém.

–Isso foi lindo, Hiro... - eu disse, me segurando para não roubar um beijo daqueles lábios perfeitos.

–Não mais lindo que você, Masao. - então ele se aproximou de mim perigosamente. Sim, aquilo seria perigoso, afinal eu não sei por quanto tempo eu poderia me segurar. Seu rosto estava cada vez mais próximo do meu e minha respiração começou a falhar. Ele mordeu o lábio inferior, me fazendo ficar cada vez mais atraído pelos seus lábios. Ele passou o polegar sobre a minha bochecha e pousou sua mão em meu pescoço, me puxando para finalmente colar nossos lábios. Aquilo me causou vários arrepios pelo corpo. Eu parecia uma garotinha boba apaixonada, mas era inevitável. Ele me deixava assim.

Ele passou sua língua macia sobre meus lábios e eu deixei que nossas línguas se encontrassem. Depois disso, eu já não raciocinava mais. Eu queria que aquele momento durasse pra sempre. Coloquei meus braços em volta de seu corpo e o trouxe pra mais perto de mim. Nos beijávamos calmamente, mas com essa maior aproximação, começamos a acelerar o beijo. Até que chegou uma hora que já estávamos sem fôlego e finalmente separamos nossos lábios. Eu sorria e ele também.

–Hiro... eu... eu não sei o que dizer. - eu queria dizer um “eu te amo”, mas eu tinha medo de ele não sentir o mesmo.

–Mas eu sei. Eu te amo, Masao. Desde a primeira vez que eu te vi naquele ponto de ônibus, eu não consegui mais tirar você da cabeça. Eu sempre buscava as palavras certas para tentar falar com você, mas eu sempre pensei que eu fosse parecer um idiota pra você... - ele riu. Nossa. Eu não acredito. Ele acabou de dizer que me ama. Sim, ele me ama!

–Eu também te amo, Hiro! E eu também não consegui tirar você da cabeça desde quando eu te vi passando por mim. Quando você parou ali para falar comigo, eu pareci um idiota, mas o problema é que me coração estava acelerado demais e eu estava morrendo de vergonha. - corei e ri um pouco. Ainda estávamos abraçados. Ele descansou a cabeça na curva do meu pescoço e ali ficamos por alguns segundos, até ouvirmos o som estridente do sinal.

–Acho que agora é melhor irmos, sim? - ele disse se afastando um pouco de mim.

–Infelizmente sim. - fiz um bico e ele roubou um beijo meu. Se bem que ele não precisava roubar nenhum beijo de mim, eu não me importo nenhum pouco de beijá-lo.

–Vamos? - ele estendeu a mão pra mim.

–Vamos. - dei a mão pra ele e entrelaçamos nossos dedos. Na minha outra mão, havia a flor que ele havia me dado.

Ali começava uma fase que provavelmente será a melhor da minha vida.

Afinal, consegui ficar ao lado da pessoa que eu mais amo.