Sakura iro no Kokoro

Primeiro foi a música
A canção fez você sorrir
E logo a primeira vista
O mundo girou pra mim
E a paixão é a loucura que passa
Como um terremoto
Com o tempo acalma
Mas onde você está

Verdes encaravam verdes na escuridão plena da muralha, que aos poucos era banhada pelos raios de luz tremeluzentes do amanhecer.

Ele ainda podia se lembrar do dia em que ouviu a risada límpida e recheada de contentamento que Sakura dera quando saíram pela primeira vez. Mas naquela época, ele jamais entendeu quais os motivos que a levavam a sorrir com tanta freqüência e tão cheia de sentimentos que ele desconhecia.

Agora, olhando os olhos dela refletindo a lua no céu limpo de Suna, ele podia se lembrar exatamente quando foi que tudo em sua vida pareceu ter um pouco mais de movimento; movimento que acompanhava as passadas e ritmos tão belos que o corpo e a felicidade de Sakura espalhavam por onde quer que passasse.

Ela sempre fora tão cheia de uma intensidade e vida palpáveis que ele jamais poderia ter, afinal ele era apenas mais um grão de areia no imenso deserto que o País do Vento era.

Gaara estava em uma conferencia entre os países ninjas, realizado no País do Trovão. Ela chegara junto de seu Hokage, Uzumaki Naruto, o grande Rukudaime de Konoha. Os dois raramente se separavam.

As esmeraldas úmidas e transbordantes de sentimentos prenderam-se aos jades opacos do Kazekage e, então, Gaara sentiu que queria um pouquinho daquela vivacidade que os verdes dela sabiam esbanjar tão bem.

Sakura se aproximara dele sem receio, sem medo, sem hesitar,  e isso ele apreciou muito mais do que do que os discursos agora distantes do Raikage. Gaara só tinha olhos para ela, e para tudo o que ela representava naquele momento, todo o poder que ela parecia ter sobre coisas que ele pouco entendia.

Durante os jantares, ela sempre conseguia um modo de se aproximar, de puxar uma conversa, ou no caso dos dois um monólogo. Gaara decidiu que gostava de vê-la falar, de vê-la gesticular e fazê-lo pensar como ele poderia estar tão perto dela quando ele, geralmente, não ficava perto de ninguém.

E assim foram jantares atrás de jantares, reunião após reunião, e ele se sentia cada vez mais envolvido com a menina que conhecera apenas como criança, mas que não conseguia negar a mulher bela e que lhe atraia como ela o fazia agora.

Ele a viu bebericar mais um gole do saquê, que era servido de tempos em tempos em sua mesa, e em seguida as mãos suaves e finas envolveram as suas, o fazendo se erguer da cadeira e o arrastando de forma nada discreta pelo salão a fora, carregando-o pela noite daquela vila tão distante…

Quando se deu conta, não mais conseguia desviar os olhos da imagem de Sakura, a silhueta de curvas estonteantes e delicadas que reluzia a cada onda que quebrava contra o penhasco, as gotículas que se iluminavam com a luz lunar, como se pequenos vaga-lumes se juntassem somente para que ele pudesse sentir com clareza o que Sakura lhe causava. Ele viu aquela cena magnífica se repetir pelos próximos dias e a sentiu de forma cada vez mais intensa, vendo seu coração tomar cor e forma de Sakura.

Agora estavam lá, como há dez anos quando ela se demorou por Suna, deixando Naruto voltar à Konoha primeiro. Abraçados no parapeito da muralha, ele lembrava exatamente o que ela havia dito, como se as palavras se formassem desenhadas em sua mente:

“Hoje é o dia em que os rapazes presenteiam suas amadas com marshmallows e presentes...”

Gaara ficou petrificado quando a caixa de embrulho esverdeado apareceu nas mãos frágeis e quentes que ele aprendera a admirar de uma forma tão absurda, Sakura era tão delicada e tão forte...

“Como pensei que você não se ataria a uma coisa boba como essa, eu fiz um presente que vale por mim e por você...”

As mãos de Gaara seguraram o pacote com força desmedida, as mãos suaram e ele se sentiu totalmente despreparado para aquilo, não pensou que ela faria algo do tipo, que o pegasse totalmente desprevenido, mas o que em Sakura não o surpreendia sempre?

A fita verde foi cedendo aos dedos trêmulos e dando lugar a uma pequena imagem que sobressaía dentro da caixa de tamanho médio. Perante seus olhos, surgiram às formas mágicas de um pequeno beija-flor vermelho, pintado à mão, e que beijava de forma doce um pequeno botão de cerejeira rosado.

Gaara sabia bem o que era o White Day, sabia o que deveria ter feito, e o quanto ela deveria estar esperando pelo presente que ele passou o dia inteiro escolhendo, porém chegando a apenas uma conclusão: só havia um presente bom o bastante para Sakura.

– Sinto muito não ter lhe trazido presente algum...  – Ele viu os olhos dela sorrirem tristemente, mas brilharem de forma intensa ao perceberem que ele ainda não havia terminado. – Mas a única coisa que posso lhe oferecer é o meu coração...

Como alguém como ela poderia amar alguém como ele?

Esta resposta lhe era dada todos os dias, desde aquele primeiro White Day que passaram juntos e que ela nunca mais fora embora.

Há dez anos era assim todo ano, todo o White Day. A cada vez que Sakura sorria, Gaara descobria uma cor nova, um sentimento novo na eterna vida de aprendizado que a Haruno lhe proporcionava.

A cada ano era um presente diferente...

Sakura abriu o embrulho do décimo ano em que passavam juntos aquele dia, dele surgiu uma luz rosada, um coração de vidro que mantinha um luz forte e rósea iluminando suas feições delicadas.

Há dez anos Gaara presenteava Sakura com nada mais, nada menos, que o seu coração...

Este ano era apenas mais uma representação da luz cálida e rosada da qual Sakura enchera o coração de Gaara.

Para ele, o White Day se transmutava num tom morno de rosa, um tom de Sakura.

O que eu sinto
Não é de mentira
E agora tenho certeza
Que é pra toda vida
Pra toda vida
você é pra toda vida

(Pra toda a vida_ Frejat)