Brian nunca gostara muito de Ren no princípio, mesmo antes de o conhecer. Kyoko sofrera bastante por causa dele durante dois anos e Brian odiara-o por mais do que algum dia odiara Tyler.

No entanto, Ren tinha-se revelado um homem responsável e competente que amava Kyoko e faria qualquer coisa por ela e ódio de Brian começara a desvanecer-se.

Serem apresentados como um casal pela primeira vez num show em direto tão palerma como aquele era uma coisa admissível e ele não ia deixar que isso acontecesse. Estava a ver o que aconteceria a seguir.

Pediriam para se beijarem em direto – não era o primeiro beijo deles, mas seria sempre embaraçoso para Kyoko – e talvez inventassem um nome estúpido para eles como Reoko ou qualquer coisa do género.

Até estarem os dois preparados, ele ia protege-los.

- Então, Kyoko-chan. – insistiu a apresentadora olhando para a cara branca de Kyoko – Quem é aquele jovem rapaz?

Ela suspirou e preparou-se para desvendar tudo mas Brian interrompeu-a. – Aquele é um amigo que encontramos na América. Chama-se………Corn?

Kyoko ficou de boca aberta a olhar para Brian mas, se pensasse bem, ninguém conhecia o Corn da sua infância.

Ren ficou um pouco chocado mas conseguiu sorrir e acenar a Kyoko que acenou também depois de hesitar por momentos. No entanto, a apresentadora notou que Kyoko parecia confusa com aquilo tudo e continuou com o interrogatório.

- Só um amigo, hm? – a apresentadora sorriu continuando a olhar para Ren com a sensação que conhecia aquele estranho rapaz – E não tem ninguém de que goste, neste momento?

- Do meu trabalho. – Kyoko riu-se um bocado mas depois parou e suspirou – Para dizer a verdade, sim, tenho. – a plateia silenciou-se imediatamente – Mas é segredo.

Os queixumes do público começaram mas a apresentadora não estava disposta a desistir. O seu show era um dos mais populares do Japão por alguma razão.

- Entendo que não queira revelar a sua vida amorosa em público. Afinal, ninguém tem nada a ver com isso. – a apresentadora apontou novamente para Ren – Aquele rapaz não será um parente do Tsuruga-san?

- O quê? – as mãos de Kyoko começaram a tremer – Porque é que diz isso?

- A cara parece-me familiar e, mesmo estando sentado, parece bem alto. – explicou a apresentadora – Mas nunca ouvimos falar da família do Tsuruga-san.

- Já chega. – disse Brian, surpreendendo a mulher irritante – Não acha que se está a esforçar demais para descobrir a vida pessoal da Kyoko? Não devia estar a perguntar sobre os nossos trabalhos?

- Sim, já chega.

Surpreendida, a apresentadora olhou para o rapaz de cabelos vermelhos que se tinha levantado e estava agora a descer as escadas, em direção ao palco. Kyoko pôs-se de pé imediatamente.

Quando Ren tirou os óculos e a peruca, os gritos começaram e até a apresentadora corou um pouco. O ator à sua frente tinha recusado o seu convite, por várias vezes, para ir ao seu programa, alegando que isso não o iria favorecer em nada.

No entanto, ali estava ele a afagar os cabelos a Kyoko e a sorrir-lhe docemente. Não como um Senpai sorriria a uma kohai, pensou a apresentadora.

- Tsuruga-san, é um prazer tê-lo aqui, connosco. – começou a apresentadora mas Ren não lhe deu oportunidade de continuar.

Com um sorriso prazenteiro, ele disse o que Kyoko e Brian estavam a pensar, sem sequer hesitar. – Não perceba mal. Eu não estou aqui para ser interrogado.

- Imagino. – com um sorriso forçado, a apresentadora forçou-se a continuar – Deve estar aqui para ver a sua kohai.

Ter-se-ia enganado?, pensou a apresentadora. O sorriso que tinha visto em Kyoko ao olhar para aquele homem era só de adoração e respeito pelo seu Senpai? Mas ela nunca se tinha enganado…

- Na verdade, estávamos numa reunião do novo filme que vamos começar a gravar amanhã e precisamos de voltar o mais rapidamente possível. – corrigiu Ren – Eu só vim trazer a Mogami-san.

Ren usou o último nome dela de propósito porque sabia que os repórteres aproveitariam cada pormenor para criar um rumor. Continuava à beira de Kyoko porque não conseguia reprimir o instinto de proteger a rapariga que amava.

- Sabia que a Kyoko-chan gosta de um rapaz? – perguntou a apresentadora querendo espicaçar Ren – Não nos quer dizer quem é?

- Não. – disse Ren simplesmente com um enorme sorriso – Agora, se nos dá licença, temos que ir.

- Mas é claro. – a apresentadora devolveu-lhe o sorriso e depois olhou para o público – Por hoje é tudo. Desejamos boas gravações para a Kyoko-chan e o Tsuruga-san e muito sucesso para o Brian-kun.

- Muito obrigado. – agradeceram os três e fizeram uma pequena vénia ao público que batia palmas.

…

- Peço imensa desculpa. – era a quinta vez que Brian o fazia desde que tinham saído da estação televisiva – Não ter-te-ia pedido para vires se soubesse que ela te ia fazer tantas perguntas.

- Não faz mal. – era a quinta vez que Kyoko o dizia sempre que Brian pedia desculpas. No entanto, Ren parecia chateado. Ela queria descansá-lo por isso tirou ao calhas – Ainda não estamos atrasados. Não te preocupes.

Ren concentrou-se na condução e não respondeu, sem saber que tinha-a magoado com o silêncio. Estavam quase a chegar à reunião quando Ren falou outra vez e, o que disse, surpreendeu, tanto Brian quanto Kyoko.

- Acho que devíamos admitir a nossa relação. Ao Japão, quero eu dizer. – explicou Ren – O presidente anda-me a chatear para dar alguma coisa interessante ao repórteres.

- E só farias isso para “dar algo” aos repórteres!? – Kyoko, que ia no banco de trás do carro de Ren, inclinou-se para a frente – A minha mãe cairia sobre ti…sobre nós!

- Eu disse que ia tratar da tua mãe. – lembrou Ren, enquanto Brian abanava a cabeça.

- O tribunal cairia sobre ti. – reforçou Kyoko – Não podes querer que eu me sinta culpada por te ter estragado a carreira!

Ren calou-se outra vez, enquanto estacionava e saía do carro, esperando que Brian se afastasse para continuar.

- Eu vou…falar com o meu agente. – disse Brian pegando no telemóvel – Acho que ele me vem buscar para me levar ao estúdio de gravações. Vou gravar a minha primeira música aqui, no Japão.

Depois de dar a desculpa esfarrapada, Brian afastou-se o mais possível com o telemóvel ao ouvido, falando alegremente com o agente.

- Do que é que estavas a falar? – Kyoko aproximou-se – Desde que voltaste estás estranho. De certeza que não se passou nada entre ti e a Miranda?

- Não confias em mim!? – Ren fecho as mãos em punho tentando controlar-se pois tinha medo de magoá-la – Já te disse que não se passou nada!

- Não precisas de gritar. Só quero perceber o que se passa. – a voz de Kyoko quebrou-se enchendo o peito dele de remorsos – O que é que se passa, Ren? Queres dizer ao Japão qual é a nossa relação? Mas…qual é a nossa relação? Obviamente já não somos só kohai e Senpai. Mas em que pé é que ficamos?

As palavras dela magoaram-no mais do que ele estava à espera e, as palavras que ele estava prestes a dizer, iriam magoá-la da mesma maneira. – Se não sabes, porque é que não permanecemos kohai e Senpai?

- Ren…? – o peito dela apertou-se.

- Vamos chegar atrasados para o teste…Mogami-san. – ele virou costas, sem esperar por ela, e entrou na sala onde todos pareciam estar a divertir-se.

- Ren…? – murmurou ela olhando imediatamente para Brian que tinha desligado o telemóvel imediatamente e estava, compreensivamente, de braços abertos para ela – Ele…

- Eu sei… – disse ele abraçando-a carinhosamente – Eu sei.

…

O teste aos gémeos foi profissional e rápido. Tal como as conversas que tinha tido com Ren durante o resto do dia…profissionais e rápidas.

Quando chegaram ao fim do dia e começaram todos a ir embora, Kyoko queria dizer “Ainda vais-me levar a casa e falar com a minha mãe?” mas porque é que ele o faria se agora eram simplesmente kohai e senpai?

- Sh*t. – murmurou ela sem se aperceber que Brian estava atrás de si.

- Não devias dizer isso aqui. As pessoas vão pensar que és pouco profissional – lembrou Brian sorrindo – Queres passar a noite em minha casa, outra vez?

- Bem, acho que pode…

- Hoje não. – Ren aproximou-se deles, movido pelos ciúmes – Ela vem a minha casa para criarmos as personagens.

O sorriso de Brian aumentou. – Está bem. – olhou para Kyoko – Eu telefono à tua mãe e digo que estás comigo. Tenham cuidado para não serem vistos.

Kyoko não estava propriamente em pulgas para passar a noite na casa de Ren depois do que tinha acontecido…tinham acontecido tantas coisas naquele dia. E estava prestes a acontecer outra se Brian não tivesse agarrado Miranda antes de esta ter tempo de apanhar Kyoko e Ren que estavam a sair do estúdio em direção ao carro.

- O que é que estás a fazer? – perguntou Miranda num japonês desajeitado – O Ren disse que me dava boleia até casa. Larga-me!

- Liar. – ao ouvir o tom ameaçador de Brian, Miranda encolheu-se e parou de tentar libertar-se – You think I don’t see what you’re trying to do? If you want, I can take you home. However, if you are trying to get between them, you have to back off or you’ll regret it.

- I’m not afraid of you. – ripostou Miranda.

- You should be. – avisou Brian – Because I’ll do anything to protect Kyoko.

Brian não disse mais nada e foi a assobiar até ao seu agente que o esperava no carro à porta do estúdio deixando Miranda a ranger os dentes.

No entanto, ela não ia desistir.

…

Kyoko já não ia a casa de Ren há quase um ano mas esta parecia completamente igual, tal e qual como ela se lembrava.

- Põe-te há vontade. – disse Ren dirigindo-se para o seu quarto – Eu vou mudar de roupa e tomar um duche rápido.

Tal como Kyoko sabia que ele fazia quando estava sozinho, Ren tirou a camisa e atirou-a para cima das costas do sofá. Ela não pode deixar de sorrir quando ele deixou a porta do quarto encostada. Estaria ele assim tão habituado à sua presença?

Com vontade de o fazer, Kyoko começou a procurar coisas que não estavam no mesmo sítio onde ela as deixara. Mas, para além da mala à beira da televisão que mostrava que ele ainda não tinha desempacotado tudo, estava tudo da mesma maneira.

Kyoko dirigiu-se ao quarto que ela tinha ocupado durante a sua estadia ali e ainda sentiu o cheiro que tinha deixado para trás. Percorreu o quarto recordando os bons momentos que tinha passado com Ren naquela casa mas, ao ouvir o chuveiro a parar voltou rapidamente para a sala.

Sentou-se no sofá fechando os olhos por momentos ao sentir o cheiro dele que provinha da camisa que tinha deixado lá e que estava mesmo ao seu. No entanto, ao abrir os olhos, ficou surpresa ao ver uma das poucas coisas que ele tinha desempacotado, em cima da televisão.

Queria levantar-se para confirmar que estava a ver bem mas tinha receio que Ren a apanhasse a mexer nas suas coisas. Mas tinha quase a certeza que estava certa. Havia DVDs de todos os filmes que ela tinha feito desde o início da sua carreira, incluindo as publicidades, PVs em que tinha participado, etc. Os que tinha feito durante a ausência de Ren pareciam mexidos e estavam separados dos outros, sugerindo que tinham sido vistos há pouco tempo. Viu também o DVD especial (com algumas cenas dos vestiários) da sua digressão pousado em cima do leitor de DVDs.

Emocionada, olhou para a aparelhagem e reparou na caixa aberta e vazia do seu CD. Aquilo não era justo, pensou ela. Como é que poderia ficar chateada com ele se ele jugava de maneira tão injusta.

Como se fosse o check-mate daquele jogo, Kyoko virou a cabeça para a pequena mesa do outro lado do sofá e viu as revistas. Sem querer acreditar naquilo, ela aproximou-se e folheou as revistas, confirmando as suas suspeitas ao ver todos os artigos e sessões fotográficas em que tinha aparecido…compradas na América, reparou ela olhando com mais cuidado.

Aquilo não era um jogo justo.