Capítulo 8 - A Última Lágrima

Depois que Jeremy saiu (corando depois de uma conversa madura sobre seu namoro.. Ok, talvez nem tãao madura assim..)

*Flashback On*

"Desci e encontrei Jeremy na cozinha, com um prato de comida à sua frente que parecia delicioso.

– Aqui está. Bom, se não se importar, eu tenho que tomar um banho rápido, porque daqui a pouco vou buscar minha namorada para sairmos. - Disse ele sorrindo no final da frase.

– Olha isso, alguém aqui está apaixonado.. - Eu disse tirando sarro. - Quem é a sortuda?

– Acredite ou não.. é a Bonnie. - Disse ele sorrindo mais ainda. Sim, apaixonado."

Nessa hora eu engasguei com a comida e comecei a sufocar, tossindo muito. Jeremy correu para pegar um copo de água e começou a dar tapas nas minhas costas. Admito, minha reação não foi muito encorajadora, mas em minha legítima defesa, foi sem querer.

– A.. a Bonnie??! - Eu disse após uma cena que provavelmente traumatizaria Jeremy, onde sua prima ficava azul por falta de ar e ele provavelmente interpretou mal minha reação..

– Bom, é.. Não entendo, achei que fossem amigas, ou sei lá, que não a odiasse.. - Ele disse muito sem-graça.

Tratei de corrigir o engano.

– Não, Jer, não é nada disso!! Estou muito feliz por você, e é claro que eu não odeio a Bonnie nem nada, ela é ótima, quero dizer, só me surpreendi. Eu nunca imaginei vocês dois juntos, não me leve a mal, mas ela sempre foi como uma irmã para Elena..

– Eu sei, no começo foi mesmo meio estranho, mas Elena não se importou, e aceitou nosso namoro. Na verdade ficou radiante com isso. - Ele sorriu, provavelmente se lembrando.

– Bom, eu espero que vocês sejam muito felizes juntos, Jeremy, de verdade. - Eu disse o abraçando.

– Obrigado Nicole, que bom que vocês também apoia.. - Nós dois rimos.

*Flashback Off*

Muito bem, onde eu estava..? Ah sim. Depois que Jeremy saiu, terminei meu almoço e lavei a louça.

Fui até o sofá e liguei a tv, e comecei a passar os canais em busca de algo para assistir; quando Elena desceu as escadas falando no celular, estava arrumada para sair.

– Oh, ela está aqui! - Ela exclamou - Estranho; ele deve estar enchendo a cara em algum bar, como sempre.. - Ela bufou - Claro amor, eu vejo se ela quer ir. Aham, chego daqui a pouco. Eu também te amo, tchau. - Ela desligou.

– Vai sair? - Perguntei estupidamente.

– Ah, vou sim. Estou indo pra casa de Stefan, pensei se você gostaria de vir junto.. Poderiam se conhecer.

– Ahn.. Tudo bem, eu acho.. Damon não vai estar lá, vai? - Perguntei temerosa. A última coisa que eu precisava era encontrar aquele imbecil.

– Não, Stefan não o viu desde que ele saiu pra te buscar.. - Ela pareceu finalmente perceber que algo havia acontecido. - O que houve? Nicole, ele fez alguma coisa? Te machucou?? - Perguntava ela alarmada.

– Calma Elena, não precisa ficar tão preocupada. Eu briguei com ele, nós discutimos; eu fui embora sem olhar pra trás.

– Mas porque vocês brigaram? - Ela estava preocupada, mas nem um pouco triste. Na verdade parecia aliviada por não ter dado certo.

– Bom, é uma história meio longa..

– Que tal você me contar no caminho? - Ela perguntou sorrindo. Parecia ser o primeiro sorriso sincero que eu recebia dela desde que havia chegado. Ela parecia realmente disposta a me ouvir.

Pensei um pouco. Não queria desperdiçar a chance dela simpatizar mais comigo, e seria bom desabafar com ela; e com sorte eu descobriria porque ela ficava tão estranha quando se tratava de Damon.

– Ok. Espera eu me arrumar? Não demoro. - Eu disse animada.

– Claro. - Subi as escadas e me arrumei. (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=31217950&.locale=pt-br).

Desci novamente e fomos pra garagem. Assim que entramos no carro, Elena disse:

– E então, o caminho é longo, acho que dá tempo de você me contar o que aconteceu.. - Ela deu um sorriso encorajador.

Respirei fundo antes de começar.

– Bom, ele me levou ao Grill. No começo estava tudo ótimo, ele estava sendo um cavalheiro.. E então eu conheci Matt, ele veio nos atender e reconheceu Damon.

Ela sorriu quando eu mencionei Matt. Como ele disse, eles ainda eram bons amigos.

– Ele foi super educado, perguntou de onde eu era, se iríamos estudar na mesma escola e tudo mais, disse que vocês ainda eram grandes amigos..

– É, Matt é assim mesmo, sempre gentil. Vocês vão se dar bem.

– Espero que sim. Assim que encontrá-lo de novo vou pedir desculpas pelo comportamento estúpido de Damon. - Eu disse trincando os dentes. - Ele o desrespeitou, tratando ele como "a criadagem" como ele mesmo disse. Foi super rude e depois que Matt saiu ele tentou agir como se nada tivesse acontecido. Não aguentei e disse umas poucas e boas pra ele. Ele disse umas coisas horríveis, que eu prefiro esquecer, e eu, como não tenho sangue de barata, fiz o que era certo.

– O que você fez? - Perguntou Elena curiosa.

– Mandei ele se fuder e saí do restaurante sem esperar uma resposta. - Eu ri ao me lembrar. - Não sou barraqueira nem nada, mas posso ter falado meio alto.. Quase todos que estavam presentes olharam pra nós espantados.

Elena riu junto comigo.

– Sinceramente, não consigo imaginar a cena. Damon não deve estar acostumado a levar foras assim.. A cara dele deve ter sido hilária!

Rimos mais um pouco. Eu não me sentia contente com a situação, mas se não risse provavelmente começaria a chorar. Que decepção tinha sido Damon se mostrar um canalha! E agora que o ódio do momento tinha passado, suas palavras começaram a pesar em minha mente, e meu coração se apertou. "Cala essa sua boca. Fica aí se achando a certinha sendo que foi uma tola ingênua à ponto de acreditar que eu poderia sentir alguma coisa por uma pirralha chorona como você!" Me controlei antes que as lágrimas escapassem. A última coisa que queria era que Elena me visse chorando por causa dele.

– Pronto, é aqui. - Disse ela estacionando.

À nossa frente havia uma enorme mansão, linda por sinal.

– E-eles moram aqui?? - perguntei incrédula. Jamais nem passaria por minha cabeça que existisse um lugar assim em Mystic Falls.

– Impressionante, não? - Disse ela sorrindo. - Espere até ver como é dentro.

Ela tocou a campainha, e após alguns segundos um cara que aparentava uns 17 anos apareceu, abrindo a porta com um sorriso.

Ele era lindo! Quase tanto quanto Damon.. Nicole, para de pensar besteiras, esquece do Damon! O rapaz tinha o cabelo castanho espetado e lindos olhos verdes. Ele deu um beijo rápido em Elena, e por um momento eles se olharam apaixonados. Depois ele se virou para mim.

– Ah, você deve ser Nicole! Muito prazer, sou Stefan. - Ele disse me cumprimentando. - É bom te conhecer.

Eu sorri. - Prazer em te conhecer, Stefan. Ouvi falar muito bem de você.

Ele riu. - Aposto que foi a Elena que disse, ela é meio suspeita.. - Ele disse olhando pra ela. Ela riu envergonhada.

– Entrem. - Ele abriu mais a porta.

Elena tinha razão; do lado de dentro a casa era ainda mais impressionante. A decoração era incrível, toda feita com móveis antigos e impecáveis. No centro da sala tinha uma grande lareira, e Stefan nos chamou para sentar nos enormes sofás.

– E então? Elena comentou que você veio da Flórida. Pretende ficar por aqui?

– Bom, vim pra cá por ainda ser menor de idade.. Só faço 18 no final do ano. Ainda não decidi o que vou fazer depois disso. Sabe com é.. vivendo um dia de cada vez.. Nunca se sabe o que pode acontecer. - Minha voz parecia triste até mesmo pra mim.

– Eu sinto muito, deve ser difícil tocar no assunto.

– Não tudo bem.. - Eu disse suspirando. - É só que não é uma história feliz, não é muito agradável para uma primeira conversa. - Dei uma risadinha sem humor nenhum.

– Sabe, como eu disse à Elena no dia em que nos conhecemos.. Nunca fui muito bom com conversa fiada. - Eles se olharam, relembrando. - Quando quiser conversar, pode contar comigo. - Ele sorriu.

– Obrigada, Stefan. - Eu tentei retribuir o sorriso, mas saiu uma careta de choro.

Senti os braços magros de Elena me envolvendo em um abraço.

– Vai ficar tudo bem, Nicole; estamos aqui para qualquer coisa que precisar. Se achar que vai se sentir melhor chorando, pode chorar. Eu sei que alivia um pouco da dor.. - Sua preocupação era sincera, assim como a de Stefan.

É claro que eu podia chorar, sabia que nesse momento eu tinha o direito de me afogar em lágrimas e botar meu sofrimento pra fora, compartilhar a dor e tudo mais. Tinha sofrido grandes perdas. Mas assim que Elena terminou de falar, as palavras de Damon voltaram à minha mente, mais fortes do que nunca. Acreditou que eu poderia sentir alguma coisa por uma pirralha chorona como você. Não. Eu não seria mais assim. Estava cansada de demonstrar fraqueza e ser consolada pelos outros. Não seria mais a garotinha que perdeu a família.

Balancei a cabeça em negação. Engoli o choro e obriguei minha voz a ficar estável.

– Não. Não vou mais chorar. - Disse decidida, me sentando ereta de novo, saindo do abraço reconfortante de Elena. - Já chega.

– Nicole, está tudo bem. Sabemos que é uma hora difícil, você não tem que ser forte. - Disse Elena.

Balancei a cabeça de novo.

– Vai ficar tudo bem. - Disse Stefan. Seu olhar de pena quase me despedaçou. Eu não queria pena.

– Eu estou bem! - Disse um pouco exaltada. - Não quero ninguém me tratando como criança! Acho que a essa altura já me acostumei a perder as pessoas que amo.. - Disse um tanto rancorosa.

Os dois me olharam um tanto espantados.

– Me desculpem, eu só preciso de um pouco de ar fresco.. Esfriar a cabeça. Com licença. - Disse me levantando e saindo da casa. Eles entenderam e não me seguiram.

Não pretendia ir muito longe, então comecei a caminhar pelo jardim, contornando a casa, até chegar ao ponto de encontro com um pequeno bosque. Era lindo e parecia convidativo. Ali eu teria meu tão desejado silêncio. Poderia por a cabeça no lugar em paz.

Adentrei o bosque, passando entre as árvores e tomando cuidado com os galhos e folhas no chão para não pisar em falso.

Cheguei até uma parte mais escura e me sentei num galho caído. Como não tinha ninguém por perto, me permiti chorar, sem ser vítima de pena. Chorei pensando em minha vida, em todas as perdas que sofri, em como eu era uma pessoa azarada. Pensei em o que seria de mim, em como seriam esses meses na casa de meus primos. E tentei visualizar como seria minha vida após completar 18 anos. O que eu faria? Minha mente traçou vários futuros, mas nenhum deles me parecia agradável, e em todos eles eu acabava sozinha no mundo.

Chorei até que todas as lágrimas secaram, não tinha mais forças para continuar ali. Limpei o rosto com o as costas da mão e me levantei. Já estava muito escuro. Havia se passado mais tempo do que eu havia percebido. Tentei refazer o mesmo caminho, mas, com a sorte que eu tenho, após o que me pareceu muito tempo, eu percebi estar completamente perdida. Que maravilha, pensei. Continuei andando, e nada de achar a saída. Já estava perdendo as esperanças, e decidi parar; estava exausta, meu rosto melado de suor e terra, provavelmente algumas folhas que devem ter grudado nas inúmeras vezes em que eu caí.

Ouvi um barulho de passos perto de mim, e fechei os olhos desejando que se fosse para eu morrer, que fosse rápido (dramática? Só um pouco.)

A pessoa chegou mais perto de mim e eu me encolhi, paralisada demais para correr. Abri os olhos, mas só enxerguei um vulto, por causa da escuridão.

Até que aquela voz rouca e conhecida me chamou.

– Nikki?? Te achei!

– Damon??!