Capítulo 18 - Vamos dar uma volta

– Realmente não vai me contar para onde vamos? - Perguntei tentando não soar muito curiosa. Já fazia um tempo que estávamos na estrada, e eu não conhecia nada aqui, então..

– Já disse que é surpresa. - Olhou pra mim com um sorrisinho debochado. - Mas já que está tão curiosa..

– Isso, me conta! - Pedi ansiosa.

– Tudo bem, estamos indo para.. - Balançou a cabeça - Não, é surpresa. - Disse rindo em seguida da minha cara de decepção.

Fiquei em silêncio por alguns minutos, tentando controlar a curiosidade. O clima no carro ela leve, eu ficava confortável perto dele.

***

Alguém me chamava; abri os olhos e dei de cara com Damon.

– Chegamos, Bela Adormecida. - Disse sorrindo.

Saímos do carro, e a brisa me ajudou a despertar.

– Hmm.. viajamos por todo esse tempo para vir.. para o mato? - Só depois percebi que a pergunta era meio rude. Mesmo assim ele só riu.

– Não exatamente. - Ele admirava o lugar de um jeito estranho, como se não viesse aqui há anos. Provavelmente era esse mesmo o caso. Tirou uma mochila de dentro do carro e a colocou nas costas.

– Vem, vou te mostrar porque te trouxe aqui. - Fez sinal para que eu o seguisse, e esperou que eu o alcançasse.

Andamos por alguns minutos, ele me ajudava quando o caminho ficava muito difícil, com árvores caídas e pedras.

Não demorou muito, comecei a ouvir barulho de água.

– Tem um.. rio aqui? - Perguntei, tentando prestar mais atenção. Parecia um rio, mas eu não tinha certeza.

Ele não disse nada e continuamos andando.

Mais alguns metros à frente o vento trouxe o cheiro de água pura, que refrescou meu rosto.

– Isso é uma.. - Passei pelas últimas árvores do bosque e dei de cara com a cachoeira mais linda que já tinha visto na vida. - É.. incrível!

– Eu sei. - Também admirando a paisagem.

– Como descobriu esse lugar? - Perguntei enquanto me aproximava mais do pequeno rio que se formava abaixo da queda d'água. Percebi que a água era cristalina ali.

– Bem.. descobri por acaso há muitos e muitos anos atrás, enquanto cavalgava com Stefan. - Disse ele. - Me apaixonei pelo lugar, é silencioso; ótimo para organizar os pensamentos quando a vida complica. - Ele deixou escapar um sorriso; ainda observava a cachoeira.

– Se vem aqui para organizar as ideias no silêncio não acho que trazer suas amiguinhas ajuda muito.. - Comentei mantendo o tom brincalhão e não deixando a voz falhar ao dizer 'amiguinhas'. Imaginá-lo trazendo dezenas de garotas à esse lugar não me agradou nem um pouco, mas afastei esse pensamento rapidamente.

Damon finalmente olhou pra mim, como se lembrasse da minha presença. Mesmo com a expressão ainda séria percebi que parecia estar se divertindo por dentro.

– Sei disso. Por isso mesmo não trago 'amiguinhas'. - Ele riu e voltou a ficar sério. - Você é a primeira pessoa que eu trouxe para conhecer o lugar.. Imaginei que fosse gostar daqui.

– Oh. Eu gostei, e muito.

– E além do mais, achei que você precisava de um dia tranquilo.. Sei que as coisas estão mudando rápido demais pra você.

Eu era a primeira que ele trazia. O que isso significava? Sim, as coisas estavam mudando rápido demais, quanto a isso ele tinha razão.. Mas será que ele também estava se referindo à nós dois? Porque sem dúvidas essa relação louca estava na minha lista de mudanças rápidas e confusas. Eu não sabia o que havia entre nós, não mesmo.

Percebi que ele esperava uma resposta.

– É uma honra ser a primeira a conhecer esse lugar. - Disse sorrindo. - E acho que estou mesmo precisando tirar um dia para relaxar.

– Ótimo. Então podemos ficar por aqui mesmo. - Disse tirando a mochila das costas e a abrindo. Primeiro tirou uma manta que estava enrolada lá dentro. O ajudei a estender à sombra de uma árvore, bem perto da margem. Depois ele puxou uma garrafa térmica e algumas embalagens.

– Você preparou um piquenique? - Perguntei incrédula. Damon não me parecia o tipo de cara que fazia esse tipo de coisa.

– Não podia deixar você passar fome! E pensei que seria mais fofo do que pedir para Jenna preparar uma marmita. - Nós dois gargalhamos. - Aposto que está com fome.. Vamos ver o que temos aqui!

Haviam alguns sanduíches, vários morangos (que pareciam deliciosos), bolinhos e a garrafa térmica com chocolate quente.

– E por último mas não menos importante.. - Disse brincalhão enquanto tirava as mãos da mochila. - Ta-nan!

Foi impossível controlar a risada. Damon exibia orgulhosamente um pacote de biscoito idêntico ao de ontem, o que tinha causado a explosão de farelos.

– Bom, eu estava te devendo um pacote novo já que você não pode aproveitar os seus. - Disse rindo.

– Você não existe! - Disse ainda rindo enquanto pegava o pacote.

– Vou considerar como um elogio.. - Senti meu rosto esquentar ao perceber o que tinha falado. Será que eu estava sendo.. fácil demais? Bom, estávamos aqui para aproveitar um dia tranquilo e fugir do caos atual, então eu não iria me preocupar com isso, por hora.

Dividimos a garrafa de chocolate quente e acabamos com praticamente todo o piquenique. Depois Damon perguntou se eu queria dar uma olhada na cachoeira, e caminhamos por algum tempo observando a água cristalina e toda a beleza daquele lugar.

Passamos a tarde conversando, percebi que nos dávamos muito bem, os assuntos surgiam sem esforço. Em algum momento ele sugeriu um mergulho, já que eu estava morrendo de calor com o sol da tarde, neguei pela falta de roupa de banho. Quando ele disse que eu podia nadar de roupas e lavá-las quando chegasse em casa talvez eu não devesse ter soltado o comentário irônico "só se você me jogar"..

– Não acredito que você fez isso! Damon, eu te mato!! - Eu gritava/cuspia água enquanto ele ria cada vez mais da minha cara.

– Oras.. só atendi ao seu pedido! - Mais risos - "Só se você me jogar" - Disse afinando a voz para se parecer com a minha. - Cuidado com o que você deseja Nikki.

– Quero ver você entrar nessa água fria, covarde! - Meus pés não tocavam o fundo do rio, tinha que ficar em movimento para me manter na superfície, e por sorte sabia nadar graças aos anos na Flórida.

– Ah, agradeço o convite, mas estou bem aqui.

– Eu duvido que você tenha coragem. - Disse tentando faze-lo pular. Ele só riu mais.

– Isso não vai funcionar.

Bufei.

– Tudo bem.. É covardia da sua parte mas.. Ahh! - Gritei afundando. Voltei para a superfície tentando dizer à Damon que meu pé tinha ficado preso em alguma planta do fundo. Afundei mais uma duas vezes, mexendo os braços freneticamente. Na mesma hora Damon estava me segurando firmemente para que eu não me afogasse, seu rosto preocupado.

– Calma Nikki, te peguei! Consegue soltar seu pé?

Olhei para ele sem responder.

– O que foi? Conseguiu soltar?

Comecei a rir e ele me olhou sem entender.

– Desculpa.. mas era o único jeito!

– Do que você está falando?

– Era o único jeito de fazer você entrar na água!

Ele ficou em silêncio por um instante, seu rosto ilegível.

– Damon.. Foi uma brincadeira. Desculpa, não queria te preocupar. - Disse com medo de te-lo deixado com raiva.

– Só.. não faça mais isso. - Disse ele sério.

– Tudo bem.

Estávamos muito próximos, e pude perceber o quanto seus olhos eram lindos, extremamente azuis à luz do sol. Ele me olhava intensamente, mas não me senti constrangida por corresponder o olhar. Ele nos mantinha na superfície sem esforço algum.

Damon se aproximou lentamente, parando quando nossos narizes já se roçavam.

– Isso é loucura não é? - Eu disse. - Acabamos de nos conhecer, como tudo aconteceu tão rápido?

Ele pensou por alguns segundos ainda me encarando com aqueles olhos profundos. Suspirou e por fim disse "sinceramente, eu não sei".

– E o que vamos fazer?

– Bom, podemos descobrir juntos onde isso vai parar. - Disse sorrindo. - Parece bom pra você?

– Ótimo - Disse deixando escapar um sorriso.

Finalmente nos beijamos, e por um momento deixei as dúvidas e apreensões de lado, simplesmente aproveitando o momento.

...

Passamos o resto da tarde na cachoeira e tomando sol deitados no chão coberto de folhas. Damon me enrolou na manta enquanto assistíamos ao por do sol e ele me contava histórias de seu passado.

Anoiteceu e ele me levou para a casa de meus primos, já que teríamos aula amanhã.

– Está entregue. - Disse parando em frente à casa.

– Obrigada por tudo Damon, o dia foi incrível.

– Que bom que gostou. - Disse sorrindo. - Então.. te vejo amanhã?

– Err, tudo bem! - Respondi sem conseguir conter o sorriso. Abri a porta para sair do carro. - Boa noite.

Ele segurou meu braço quando me virei para sair, e no instante em que me virei seus lábios já estavam nos meus. A sensação de beijar Damon era indescritível, era como se nada ao redor importasse.

Ele se afastou com aquele sorriso de lado no rosto.

– Boa noite Nikki.