O garoto corria pela floresta. Estava desarmado. Totalmente vulnerável a qualquer ataque dos inimigos sem suas lanças. A fita vermelha tremulava pelo vento. Ele fatigava, nunca correra tão desesperadamente. Seu rosto estava vermelho e as gotas de suor escorriam por ele. O coração disparado. Apenas uma coisa em mente. Precisava falar com ele. O líder de Oshu, o Dokugan-ryu, Date Masamune.

Yukimura enfim chegou no território de Oshu. Os guardas já lhe apontaram as armas. Mas o jovem dizia vir em paz e desarmado, queria apenas falar com Masamune. Os guardas notaram a seriedade na voz do garoto e o deixaram passar, um deles foi com ele para assegurar que não era uma farsa.

Yukimura enfim chegou no lugar onde Masamune estava. Ainda arfava pela rápida corrida que fez, mas não abriria a boca, a não ser que fosse para falar com ele.

O guarda abriu a porta e Koojuro se aprontou em saber o que se passava. Ao ver Yukimura se assustou e se pôs a perguntar.

-O que você está fazendo aqui?

Yukimura rapidamente respondeu:

-Preciso falar com Masamune.

Koojuro franziu o cenho e com um gesto, mandou o garoto entrar. Foi até Masamune e anunciou a presença de Yukimura.

-Senhor, Yukimura deseja falar com você.

Masamune estava absorto em pensamentos, tinha um pergaminho e um pincel embebido em nankin em sua frente. Yukimura nunca tinha visto Masamune em trajes comuns, o que fez seu rosto corar ainda mais. Masamune levantou e virou-se com um olhar de pouco caso para o jovem.

-Ande logo! Não me faça perder meu precioso tempo e diga o que precisa.

Yukimura despertou de seus devaneios.

-Ah! E-eu preciso lhe falar algo... M-mas a sós...

Yukimura foi diminuindo o tom de voz. Koojuro irritou-se e Masamune revirou os olhos e mandou Kojuro sair. Enfim Yukimura estava a sós com ele. O homem que estava lhe causando dores de cabeça e insônia havia dias.

-Pronto! Conseguiu o que queria! Agora fale!

Masamune falava com uma certa entonação de impaciência. Yukimura balbuciava palavras incompreensíveis e em tom baixo, como para si mesmo, fazendo Masamune se irritar ainda mais.

-Olhe aqui moleque, se veio aqui pra me fazer perder tempo, retire-se imediatamente.

O jovem olhou para o mais velho com um brilho nos olhos. Era o brilho de lágrimas que se formavam e começavam a escorrer de seus vívidos olhos castanhos e respingavam no chão de madeira. Yukimura veio ao chão, ajoelhado, mantendo o rosto baixo e, em meio as lágrimas, enfim disse.

-Masamune-dono.. o único motivo de ter vindo aqui é porque já não aguento mais essa dor que me sufoca e faz meu coração doer.

Masamune olhou o garoto com um certo ar de dúvida, andou até ele e abaixou-se na frente do mesmo. Passou o indicador pelo queixo do mais novo, fazendo encará-lo. Nunca tinha visto aquele garoto engraçado e hiperativo chorando dessa forma. Preocupou-se de imediato.

-O que está acontecendo Yukimura? Você não é assim! Por quê está chorando dessa forma? Que dor é essa que lhe causa esse sofrimento?

Yukimura encarava o gélido olho azul de Masamune, notando que parte de seu cabelo cobria o tapa-olho. O garoto soluçou.

-Masamune-dono...essa dor... existe desde o momento que eu te vi pela primeira vez. Você fez despertar algo que nunca senti antes. Posso estar errado mas...mas.. eu te amo.

O mais velho espantou-se. Jamais esperava que aquele garoto, com quem tanto desejava batalhar, falasse isso. Masamune respirou fundo e puxou Yukimura para um abraço forte, fazendo o outro afundar o rosto em seu peito e continuar a chorar.

-Ah Yukimura... - Masamune suspirou - O fato é que eu senti a mesma coisa quando te encontrei pela primeira vez e nossas armas se cruzaram naquela curta batalha. Não pensava que encontraria alguém me fizesse querer viver e amar.

Yukimura prendeu a respiração, arregalando os olhos turvos de lágrimas. Levantou o rosto, afrouxando o abraço. Encarou o outro ainda estarrecido. Dava para ver nítidamente que Masamune estava um pouco envergonhado. O garoto foi recuperando um pouco da voz.

-Então quer dizer que...

-Sim, Yukimura - Masamune o cortou - Eu também te amo - E sorriu.

O garoto apertou Masamune quase o deixando sem ar.

-Ah Masamune-dono, eu te amo tanto. Precisava urgentemente confessar isso pra você. Se eu não dissesse logo, iria morrer!

E levantou o rosto encarando o mais velho. Estava tão perto que dava para sentir a respiração em seu rosto. Ambos os corações disparados. Os desejos corriam incontrolávelmente em suas veias. Yukimura perdeu a noção do que fazia e acabou por tocar nos lábios de Masamune com os seus. Masamune não recuou, ele queria aproveitar aquele singelo beijo amargado pelas lágrimas do mais novo. Acabou por entreabrir os lábios, deixando sua lingua invadir a boca do outro para aprofundar o beijo. O sentimentalismo que Masamune nunca sentiu, ele expressava agora para a pessoa que cruzou sua vida como um raio que corta os céus em uma tempestade.