Arrumou os óculos de armação preta e lentes grossas.

Pegou com cuidado o precioso livro em mãos.

“O Retrato de Dorian Grey.” Oscar Wilde.

Indicaram-lhe o livro, então decidira lê-lo.

A biblioteca estava relativamente vazia.

O moreno puxou uma cadeira delicadamente, sem provocar ruídos e se sentou à mesa, apoiando o livro sobre a superfície de madeira.

Abriu na página um e começou sua atenciosa leitura.

Alguns fios pretos teimavam em cair em seu rosto.

Havia pouco tempo que Akira decidira deixar o cabelo crescer, talvez assim pegasse alguma garota.

Ah, sim...Já estou eu aqui narrando a história e nem apresentei o ‘mocinho’.

Nosso ‘herói’ se chama Suzuki Akira, conhecido como Reita. Tem 16 anos. Relativamente alto em relação à outros japoneses.

E nerd.

Akira já virara a vigésima sétima página quando ouvira cochichos e risadas, lhe atrapalhando a leitura.

Arrumou os óculos e ergueu o rosto, mirando duas garotas que riam.

-Olha que garoto estranho! – uma delas disse, se recuperando do riso. – Um nerdizinho! Meu, e aquele nariz? – não agüentou e voltou a rir, depois de cochichar para a amiga que riu junto.

Akira encolheu os ombros, sentindo que os comentários eram sobre si.

Fechou o livro, memorizando a página e se retirou da mesa, extremamente sem jeito, ruborizado.

Foi até a atendente e conseguiu alugar o livro por uma semana.

Saiu, chateado, do lugar, rumando a estação de trem.

Chegou em casa emburrado, ignorando os chamados insistentes de sua mãe para jantar, rumou seu quarto, batendo e trancando a porta.

Pôs o livro sobre a cômoda e se deitou na cama, jogando o cabelo preto para trás.

Suspirou.

Reita nunca se envolvera com ninguém com por causa do perfil nerd.

Nunca nem havia beijado.

As garotas riam da sua cara e os garotos o batiam, lhe chamavam de bicha, de frouxo.

Por isso, decidira estudar em casa.

Seu pai lhe dava aulas de geografia, matemática, japonês, literatura e tudo mais.

E tinha o bônus de não apanhar no fim da aula.

Sua família nunca devia ter saído de Kanagawa, assim pensava o jovem Suzuki.

Se revirou na cama, sentindo vontade de chorar.

Nunca tivera amigos, nunca tivera com quem desabafar.

Seu pai dizia que tudo que um homem precisava na vida era inteligência e um bom emprego.

Nunca mencionara “pessoas” ou “amigos”.

Mas “pessoas” ou “amigos” era tudo de que Reita precisava.

Pra que servia a inteligência se ela afastava as pessoas?

Pra que servia um bom emprego se você vai continuar solitário e deprimido no fim?

Essas eram as perspectivas de Aki, mas quem disse que ele tinha coragem de falar cara a cara com o Senhor Suzuki?

Akira se remoia todo dia.

Pegou seu iPod e pôs os fones, ouvindo Sex Pistols.

Fechou os olhos, tirando os óculos.

Adormeceu, mesmo com a natureza das músicas que ouvia.

Acordou no dia seguinte, no horário de sempre.

Se levantou, zonzo, indo até o banheiro e tomando uma ducha gelada para despertar.

Pôs uma roupa normal, calça jeans e camiseta e desceu.

Seus pais já tomavam café da manhã.

-Ohayou, Akira. – seu pai o olhou, severo como sempre.

-Ohayou gozaimashita, Otou-san! Ohayou, Okaa-san! – disse, ofegante pela descida das escadas, se sentando à mesa.

Sua mãe sorriu docemente.

Logo seu pai saiu para o serviço.

As 5 da tarde estaria de volta para as aulas de seu filho.

Sua mãe se retirou da mesa, arrumando-a.

Akira suspirou, pegando o jornal do pai.

Folheou algumas páginas, até cair nos classificados.

“Cansado de sempre se dar mal? Cansado de levar botas das garotas? Cansado de ser sempre um zero à esquerda?! Ligue para mim, seu conselheiro amoroso, Uruha.”

Akira ergueu uma sobrancelha.

Uruha, conselheiro amoroso, hein?