— Rony idiota! — exclamou Hermione entrando no dormitório. Ela chutou seu malão e notou Gina, que estava ali justamente esperando por ela. — Seu irmão é um completo idiota!

— Diga-me uma novidade — murmurou Gina para si.

Hermione sentou na cama e fitou Gina por longos minutos. Seus cabelos pareciam mais volumosos do que o de costume. Os olhos, manchados por lágrimas, procuravam algum apoio nela, mas a garota não encontrou palavras de consolo para dizer.

— O que ele aprontou?

— Lilá aprontou, isso é o que aconteceu — falou Hermione entre soluços. — Aquela garota... Eu deveria trabalhar naquele feitiço que o professor Flitwick mencionou na sala.

Lembrando-se do feitiço que ela lhe falara, que transformava que fosse atingindo em uma larva, Gina riu.

— Você seria expulsa se o usasse, Mione.

Hermione deu um muxoxo, enxugando o resto das lágrimas.

— Dumbledore nunca me expulsaria. Depois dele e de Voldemort — Gina fez uma careta que Hermione ignorou —, fui a única aluna a ter 320% em uma prova de Feitiços.

Ela deu um risinho maligno e deitou-se, postando seus olhos no teto. Gina ficou observando-a, pensando se Rony era o único que não sabia (ou fingia não saber) do amor que Hermione sentia por ele.

E como Gina conhecia os sentimentos de Hermione. Passavam horas conversando sobre as brigas dos dois, de Harry e do olhar mortal que Lilá costumava dar quando via Hermione nos corredores. As duas esperavam movimentos de Harry e Rony, mas nenhum deles nunca fez nada.

Mesmo com o conselho da amiga de Harry para não segui-lo mais por aí, Gina não conseguia esquecê-lo. Desde pequena, quando ouvia Rony falar do “famoso Harry Potter” em casa, explicando como ele era modesto, esforçado e corajoso (com claro desejo na voz), ela se pegava pensando nele ao menos duas vezes por dia nos últimos seis anos. Harry gostava dela, Gina sabia, mas como Hermione dissera, tinha medo de perder a amizade de Rony.

Hermione... Ela olhou de relance para a garota deitada na sua frente. Talvez fosse o fato de que ela crescera e ficara tão bonita quanto qualquer mulher que aparecia no Semanário das Bruxas, mas Gina a via com mais interesse do que antes — e, para ela, não era um bom interesse. Talvez percebesse mais atrativos nela que Rony.

— Mione — sussurrou Gina, tão baixo que mais pareceu um suspiro. Ainda assim, Hermione levantou a cabeça curiosa. — Estou com problemas.

— Se é sobre o Harry, não fique desse jeito — ela tranquilizou, pois Gina estava à beira das lágrimas. — Ele sequer falar com a Cho.

Gina balançou a cabeleira vermelha em sinal negativo. Hermione prontamente ficou ao lado da amiga, abraçando-a de lado. Deixou que Gina encostasse a cabeça em seu ombro, o que fez a garota se sentir pior do que já estava.

Mas não deixou as lágrimas caírem. Você-Sabe-Quem estava solto pelo mundo fazendo suas crueldades, e ela ali, abraçada a alguém que simplesmente achava atraente. Não. Choraria por algo que valesse a pena, ou que fosse menos fútil.

— O que foi Gina? — perguntou Hermione gentilmente.

Ela hesitou. Desvencilhou de Hermione e caiu na cama, a expressão séria. A garota gosta do seu irmão, disse uma voz na sua mente. Faça o que for, mas não a beije!

Finalmente entendeu o paradoxo que Harry enfrentava.

— E-eu quero fazer algo — disse Gina —, mas não sei se devo.

— Não vai pôr uma Poção do Amor no suco de abóbora do Harry, vai? — indagou Hermione alarmada.

Gina, tão tensa com o que estava prestes a fazer, ouviu a outra e sorriu indulgente. Hermione não fazia ideia do que sentia, e até ficou um pouco aliviada com isso. Poderia deixar tudo quieto, voltar ao seu dormitório e terminar o dever de Poções enquanto a comemoração da vitória continuava no Salão Comunal.

Ou poderia beijá-la e ver sua reação, provocou outra voz na cabeça de Gina.

A mente de Gina se esvaziou após o que a voz falara, como se quisesse que ela tomasse a decisão por conta própria. A garota suspirou, sentou na cama e fez Hermione olhar em seus olhos.

E a beijou.

Hermione sequer recuou. Ficou paralisada nos primeiros minutos, mas depois relaxou. Gina torceu para que nenhuma das garotas entrasse: duvidava que Hermione conseguisse apagar a memória de alguém nervosa do jeito que estaria.

Quando o beijo parou, Gina passou a encarar os pés com mais atenção do que merecia; o rosto ficando tão vermelho quanto os cabelos. Hermione abriu e fechou a boca três vezes e, no entanto, nenhum som saiu.

— Achei que gostasse do Harry — falou ela depois do que Gina considerou muito tempo.

Gina tentou argumentar, mas sua boca estava seca.

— Está namorando o Dino — acrescentou Hermione, confusa.

— Para tentar seguir seu conselho, Mione! — A voz de Gina voltara. — E então você vem, com toda sua... — Ela não sabia como descrever o sorriso de Hermione; como gostava quando ela ficava irritada só por ter interrompido seus afazeres; como passava mais tempo observando-a estudar ao invés de fazer o mesmo... Pensou que seus olhos, desesperados e pedintes, explicassem tudo para ela.

— Sou sua única amiga e você é a única minha! Mione, eu sinceramente não entendo por que o Rony não assume o que sente, já que até eu...

Ela parou de falar, antes que dissesse alguma outra besteira. A outra permaneceu sem expressão, e ela reconheceu que estava pensando, analisando a situação, tão fora de seus padrões. Gina percebia o quão boba fora em agir por impulso. Hermione, seu elo maior com Harry, acabaria a amizade com ela. Teria de conviver com a culpa, e Hermione andando por sua casa nas férias.

Hermione tirou a varinha do bolso. Gina engoliu em seco; sua varinha estava no dormitório de cima. Assustou-se ainda mais quando a garota apontou-a para a porta e sussurrou:

— Colloportus. — E virou-se para Gina, com o mesmo sorriso maligno de quando falavam de Lilá. — Garotos não precisam saber o que uma garota faz no dormitório.

Ela se inclinou para Gina, os cabelos volumosos fazendo uma pequena cortina ao redor dela.