Coroa de prata escrita por Eleanor Blake


Capítulo 13
O primeiro de muitos




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Era um sonho, um estranho e pesado sonho.

As palavras de Nataniel ecoavam pesadamente por sobre meus ouvidos enquanto o cheiro de mamãe impregnava meus sentidos, tão fraco, quase que... Esquecido

Abri os olhos de súbito e lembrei-me das palavras de Nataniel. Sentei-me silenciosamente enquanto o sol apontava pesado no céu azul turbulento e tocava na amarelada folha de papel.

“Minha pequena boneca aconteceu o que mais temia nesta vida, afastaram-na de mim.

Minha querida, não pense que te tirei de sua família por mal, pelo desejo de roubá-la, mas sim, por atender a um pedido que sua mãe fez a mim e exigiu que eu cumprisse como pudesse e o mais rápido que conseguisse.

Não é o momento de contar a ti sobre o que ocorreu, mas é o momento de dizer o quanto mamãe te ama e sempre vai amar.

Fique firme minha bonequinha, não se dobre a eles nunca, pois não merecem uma lágrima sua.

Lembre-se minha pequena, lembre-se de nossa promessa

Pra sempre juntas

Com amor,

“Mamãe.”

O que eu sentia era dor, meu peito martelava tão alto que eu podia ouvir o coração pulando como um tambor, prestes a arrebentar-me e se libertar. Abracei a carta e caí deitada na cama tentando me controlar, tentando parar esse fluxo de emoções que corria desenfreado.

No amanhecer silencioso minhas lágrimas rolavam e memórias corriam em minha mente como um trem desenfreado e prestes a bater no que me restavam de forças. Passos ágeis vinham pelos corredores.

Sequei rapidamente as lágrimas e dobrei com todo o cuidado o papel escondendo-o dentro do travesseiro. Levantei-me e corri até o banheiro com Nico miando e vindo atrás de mim enquanto eu abria as torneiras da banheira como uma louca.

—Bom dia pra você também Nico. Você não viu nem ouviu nada.

Deixei escapar um riso confuso por ter falado com um gato como se ele entendesse o que eu dizia. O cárcere estava começando a me enlouquecer.

Quando a banheira estava cheia até a metade puxei o vestido e mergulhei deixando a água quente me cobrir. A porta do quarto se abrir com um rangido.

—Bom dia senhorita, sou eu, Jenna.

Suspirei pesadamente e fiquei observando Nico lutar bravamente contra a grande toalha cor de rosa pendurada no gancho.

Jenna invadiu o quarto como o furacão de organização de sempre e levando até Nico um pequeno pires de leite fumegante.

Parei pra prestar atenção em Jenna enquanto eu fingia meu banho. Queria saber quem era, por que trabalhava ali, se era obrigada a isso.

—Os olhos da senhorita estão refletindo as perguntas dessa cabecinha.

Pisquei duas vezes antes de perceber que ela me observava enquanto vinha com os potes de sempre.

—Hoje a senhorita não tem compromissos aparentes, pode fazer o que desejar, desde que seja dentro dos muros do castelo é claro- ela brincou.

—Você parece um oficial da condicional, só falta me botar um rastreador preso no pulso- eu murmurei.

Jenna sorriu parecendo encabulada enquanto jogava xampu na minha cabeça e começava a massagear meus cabelos. Minha mente só conseguia pensar nas palavras de mamãe, e em como elas tinhas me agitado mais ainda.

Precisava saber onde ela estava, precisava vê-la, precisava levá-la pra longe pra vivermos nossas vidas.

—Os vestidos da senhorita ficam prontos hoje e serão entregues a tarde junto com os sapatos que encomendamos. Isso vai animar a senhorita, tenho certeza.

Ignorei seu comentário enquanto minha mente divagava sobre a razão de Nathaniel me ajudar nisso. Se ele fosse meu irmão, se eu conseguisse enxergá-lo assim, se eu conseguisse ter o carinho que ele tem por mim...

Saí do banho com Nico dançando por entre minhas pernas enquanto eu tentava caminhar até a cama. Quando finalmente consegui Jenna veio e abriu o grande armário do sofrimento revelando aquelas coisas cor de rosa.

—Escolha um senhorita- ela disse apontando pra cada um deles como uma vendedora de lojas de departamento.

Suspirei pesadamente acariciando as orelhas de Nico e olhei pro último vestido, o mais isolado ali. Meus olhos cintilaram quando vi que ele era lilás e não rosa como os outros.

Jenna puxou o vestido revelando um tomara que caia todo trançado nas costas com uma saia longa e rodada. Fechei o cenho e pensei um pouco sobre o que vestiria. Eu não estava em um baile pra vestir um vestido longo.

—Jenna, traga uma tesoura – eu disse levantando-me e segurando a saia do vestido.

Ela não me contrariou, mas saiu murmurando coisas como “serei expulsa daqui se ela continuar rebelde assim”.

Alguns minutos de espera depois e Jenna tinha retornado com uma tesoura prateada em mãos.

Sorri pra ela e tomei a tesoura de suas mãos correndo para o vestido lilás. Por entre reclamações de Jenna cortei a saia pela metade e levantei o vestido sorrindo satisfeita.

—Finalmente algo legal.

Coloquei o vestido e calcei sapatilhas douradas, peguei Nico no colo e saí do quarto andando menos incomodada por usar um vestido.

Por cada criado por quem eu passava; eu via um olhar de espanto e reprovação pelo tamanho de meu vestido.

Cheguei a cozinha e me sentei em um dos balcões balançando as pernas no ar distraidamente enquanto ouvia a porta bater. David esta ali.

Um olhar irritado cruzou os meus até que ele passou nervosamente as mãos e se preparou pra esbravejar.

—Não me venha com recriminações, não me venha com lamúrias do quanto ficou preocupado ou coisa assim se você simplesmente se importa apenas com o que te mandam fazer e não comigo. Não quero uma palavra vinda de você.

David me olhava sem reação. Suas duas jades de frias passaram pra espantadas enquanto eu acomodava Nico em meus braços e saía deixando-o em seus próprios pensamentos.

Dei a volta pelo castelo até chegar ao meio do jardim e soltei Nico enquanto me sentava no banco daquela noite pra pensar sobre o que tinha dito a David. Realmente aquele seria um longo dia.

—Não deveria sair picotando os vestidos assim pequena.

Olhei pro lado e Nathaniel vinha segurando uma pequena cesta e sorrindo travesso como sempre.

—Nem vou me atrever a perguntar o conteúdo desta sua cesta- eu disse apontando.

—Digamos que seja nosso café da manhã, o primeiro de muitos- ele disse sorrindo.

Meu rosto corou levemente e eu desviei meu olhar do dele. Não queria magoá-lo, doeria em mim se eu o fizesse, mas esse não seria o primeiro de muitos se dependesse de mim.


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