The Soul escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 24
Encrencada - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Oi flores do meu jardim! Tudo bem com vocês?

Mais capítulo fresquinho pra vocês! E esse é especial em gente, a Bellah e eu adoramos trabalhar nele!

Gente, antes que tudo queria agradecer a TODAS vocês que acompanham a FIC e deixam reviews tão lindos em cada capítulo! Muito obrigada pelo carinho flores, vocês são nossa inspiração.

Agora, sem mais, bora ler? Aposto que vocês devem estar loucas para saber como a Peg vai sair dessa encrenca néh. Então, aproveitem o capítulo e até lá em baixo!



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POV PEG:


– O. QUE. SIGNIICA. ISSO? – Ela disse assombrada, tampando a boca escancarada com a mão. - Quero uma explicação plausível, e agora!

Eu gaguejava e tentava buscar o pouco ar que eu conseguia. A fraqueza me dominou novamente e eu senti tudo escurecer. Eu havia sido descoberta, e meu filho agora corria perigo.


[...]


– Ela está acordando! – Uma voz comemorou, animada e não demorou muito para eu reconhece-la. Era a voz de Sophia. Minha cabeça doía... Minha mente estava confusa e eu ainda me sentia enjoada. Abri os olhos devagar e meus olhos logo deram de cara com os olhos Neve, Safira, Meia Noite de Sophia, que me olhavam compassivos. Logo me dei conta que... estava... No meu quarto. Eu estava em casa.

– Como se sente, minha querida? – Perguntou Finny, entrando imediatamente no meu campo de visão.

– Melhor – Respondi, me sentando na cama. – O que aconteceu?

– Você e Maya foram fazer uma patrulha e você não se sentiu muito bem e acabou desmaiando. Maya me chamou e te trouxe para cá.- Sophia explicou, então, eu instantaneamente me lembrei de tudo. Maya tinha descoberto minha gravidez! E agora, como sairia dessa enrascada?

- Ora, vejo que alguém finalmente acordou! – Disse a voz me Maya e imediatamente senti um frio percorrer minha medula espinhal. Maya estava parada na porta do quarto, fitando minha barriga saliente com seus terríveis olhos avelã.

– Oi... Maya. – Falei com a voz tremula e Maya entrou no quarto a passos largos, ficando parada ao meu lado na cama.

- Sophia e... Finny... Vocês poderiam nos dar um tempo a sós. – Pediu Maya secamente – Eu e Pet... Precisamos MUITO conversar.

– Claro – Respondeu Finny prontamente, me dando um beijo na testa. Sophia me olhou apreensiva. Seus olhos pareciam perguntar: ‘’Você vai ficar bem? ‘’

- Tudo bem Sophia, Vai ficar tudo bem. – Disse com a voz rouca. Não podia me entregar e estragar tudo. Não podia! Eu tinha que inventar uma história convivente... e rápido.

- E então... Quero uma explicação. E não adianta mentir. Você não vai me enganar. Não de novo. – Maya disse, assim que Finny e Sophia tinham saído do quarto.

- Maya... Eu não te contei antes por que... Tinha medo de você não me aceitar como Buscadora... Por que as minhas memórias ainda estão desconexas, incompletas. Ainda não consigo me lembrar de muitas coisas. – Comecei calmamente, mas dentro de mim, parecia que um vulcão estava entrando em erupção.

Então, lembrei-me de um livro, que eu havia lido quando dava aula da Faculdade, ainda no corpo da Mel. Ele contava a história de duas almas – Maré Flutuante e Onda Noturna. Essas duas almas, residentes do planeta dos golfinhos se apaixonaram perdidamente e foram enviados juntos para Terra. Por um período eles viveram tranquilamente, como um casal feliz e Onda Noturna ficara grávida de seu primeiro bebê. Só que numa fatalidade, ela sofrera uma hemorragia e perdido o bebê. Ambos teriam ficado arrasados e demoraram meses para se recuperar do choque. A cada dia Onda Noturna parecera mais fragilizada pela perda do filho. Mas certo dia, Maré Flutuante desaparecera sem deixar rastros. Ele nunca mais voltara. Então, Onda Noturna decidira fazer uma Fertilização In- Vitro, para poder ter um filho de seu grande e único amor de sua vida.

- Maya, você... já perdeu alguém? Alguém muito importante? – Perguntei casualmente.

- Sim. – Ela respondeu, parecendo não entender o rumo da conversa. – Mas por que essa pergunta agora?

– Eu... fiz uma fertilização In- Vitro. – Disse, torcendo para que Maya nunca tivesse lido aquele livro.

- Você... O Que? – Ela disse intrigada.

- Eu... Posso explicar. – Falei calmamente, agora, eu teria que por me plano em prática. Tomara que a história fosse convincente o bastante para ela.

Então, contei toda aquela mesma história no livro. Falei que me apaixonara perdidamente por uma alma, chamada Luar Flamejante. E que depois, teríamos sidos enviados juntos a Terra. Depois de um tempo separados, vivendo com famílias diferentes, nos encontramos e passamos a viver juntos, como um casal. Daí não demorara muito para descobrir que esperava um bebê. Meu primeiro filho. Mas numa fatalidade, teria perdido o bebê. Depois de um tempo do choque da perda do filho, Luar Flamejante teria desaparecido sem deixar rastro. Nunca mais voltara. E eu então, teria decidido fazer uma fertilização In- Vitro para realizar o sonho de ter um filho dele. Era a história perfeita! Sem falhas ou furos. Será que eu tinha conseguido convencer Maya?

– É... Uma história realmente intrigante! – Ela disse parecendo perplexa – Então, você... Decidiu fazer uma fertilização In - Vitro para ter um filho de seu parceiro desaparecido?

Apenas assenti. Meu Deus, eu estava cada vez mais me embrenhando numa teia de mentiras que um dia... Iria acabar me sufocando. Mas naquele momento, eu não me importava. A única coisa que me importava era ver meu filho seguro e levar meu amor, meu Ian de volta, em segurança para casa.

- Eu não sei... Devo mesmo confia em você? O que me garante que não está mentindo pra mim? – Maya disse franzindo o cenho.

- Querida... Desculpa interromper, mas... Você tem visitas. – Disse a voz de Finny que parecia ter aparecido do nada na porta do quarto. – Posso falar para entrar?

- Claro! Maya e eu já terminamos. Não é Maya? – Perguntei, mordendo o lábio inferior torcendo para que ela dissesse que sim. Maya assentiu, para o meu alivio e saiu do quarto se despedindo secamente. Suspirei aliviada e fiquei esperando a ‘’ visita.'’ Quem viria me visitar?

– Olá! – Cumprimentou uma voz melodiosa. Levantei a cabeça para ver que era. Mas não qualquer voz. A voz que eu daria o mundo para ouvir todos os dias da minha existência. A voz do meu Ian.

– Espectro de Fogo? – Exclamei boquiaberta. Senti meu bebê chutar dentro de mim ao ouvir a voz que pertencia a Ian, ao meu amor. Mas aquele não era Ian... E eu ainda estava brava pelo beijo que ele me dera. Quem ele pensava que era? Ele não tinha essa direito!

– São pra você – Ele murmurou baixinho, sorridente, estendendo um lindo buquê de rosas vermelhas pra mim e depois retrocedeu, fechando a porta do quarto. Se eu não o conhecesse podia jurar que aquele era... Eu ainda estava emburrada com Espectro por causa do beijo.

- Peg? Não está me reconhecendo? – Ele perguntou com um sorriso maroto, me deixando confusa. Mas logo eu entendi...

– Ian? É você? – Perguntei com os olhos marejados. Ele assentiu e meu coração parecia explodir em fagulhas e mais fagulhas de felicidade.

- Fiquei tão preocupado quando a mãe de Pet me ligou dizendo que você tinha passado mal... Então Espectro e eu fizemos um trato e ele... Deixou-me comandar meu corpo por essa noite.

– Ai meu amor. Senti tanto a sua falta. – Falei enterrando meu rosto em seu pescoço.

- Eu também. Vamos resolver isso meu amor, você vai ver. – Ele disse afagando meus cabelos loiros, me aconchegando em seus braços. E naquele momento, eu me senti segura. Me senti segura nos braços da ancora que sempre me dera forças para seguir em frente. Do meu amor. Do meu Ian.

Ficamos ali, aproveitando o momento. Os nossos corações descompassados, nossas respirações, mas quando juntas tudo se torna uma perfeita sinfonia!

- Durma meu anjo – Ian disse acariciando meus cabelos louros – Você precisa descansar.

- Ian... Promete que vai estar aqui quando eu acordar? Promete que não vai me abandonar?

– Eu prometo Peg. Prometo que nunca vou te deixar, não importa o que aconteça. – Ele disse sorrindo. E naquele momento, eu me senti segura. Senti-me segura como há muito tempo não me sentia... Adormeci profundamente em seus braços.



* POV. Mel


Benji não ficava quieto havia uma semana ou mais. Ele dormia levemente e às vezes reclamava durante o sono, ou se acalmava enquanto estava acordado, mas nunca sorria como antes, e o choro nunca estava longe de seus traços minúsculos. Porém eu sabia que não era culpa dele, ele estava apenas refletindo o meu estado de espírito. Eu estava preocupada e triste o tempo todo e cuidar de Benji nessa situação só piorava tudo, porque eu acabava fazendo a vida do meu pimpolho infeliz. Jared via como nós estávamos e fazia seu melhor para melhorar nosso humor, mas ele mesmo sabia que só Peg o traria de volta.

Quem poderia parar de pensar naquela coisinha frágil, desprotegida, lutando pelo amor na boca do inimigo? E de algum modo, eu me sentia culpada. A culpa não era de Jared por ter aceitado a ajuda de Ian ao invés da de Peg, ou de Doc por não perceber que os remédios estavam no fim, ou de Peg por estar no primeiro trimestre da gravidez tornando perigoso para ela sair em incursão, ou de Benji por estar doente ou de qualquer pessoa no mundo. A culpa era toda minha, eu começara um enorme efeito dominó. Meu leite não fora forte o bastante para manter Ben saudável.

Com Ben não estando saudável, eu o levei a Doc, que acabou com as suas últimas reservas de remédio. Então eu perdi a fé e Jared quis me ajudar a recuperá-la, determinado a ajudar nosso filho que eu não pudera proteger. E Peg tinha que zelar pela saúde do próprio filho também, e Ian insistiu em ir ao seu lugar para que Jared não fosse sozinho para buscar o remédio para o meu filho, que o meu leite não protegera da doença. Então ele foi pego para proteger Jared, para que ele pudesse salvar Ben e então Peg não viu alternativa senão ir atrás de Ian. E era por isso que tudo era minha culpa e por isso Benji estava inquieto.

-Benji, eu sou uma pessoa ruim? - Perguntei segurando-o a frente de mim de modo a olhar séria em seus olhinhos iguais aos meus. Ele colocou a mãozinha em meu rosto e apertou-o as unhas pequenas, balbuciando baixinho.

-Obrigada, querido.

-Ah Mel? – Chamou Jamie na porta, com uma pequena sugestão de riso nos lábios. – Tio Jeb está chamando na Sala de Jogos.

Fiz que sim e o segui. Observei meu irmão enquanto caminhávamos pelos corredores escuros. Ele parecia abatido como eu, porém ele nem tentava esconder que andara chorando. Eu sabia que ele sentia a falta de Peg tanto quanto eu. Ah, o que eu não faria para parar de doer...

-Alguma novidade? Sobre... - Perguntei hesitante. Ele fez que não encarando o chão a nossa frente, lutando para manter-se sério. Tirei sua mão de dentro do bolso e a apertei com força. Ele apertou de volta e trocamos sorrisos fracos. Chegando à Sala de Jogos, todos ouviam Jeb falar, amontoados na arquibancada de pedra. Peguei meu lugar ao lado de Jared e Jamie sentou-se ao lado de Alysson, deitando-a a cabeça em seu ombro. Ela beijou o topo da sua cabeça e pegou sua mão, acariciando-a com o polegar.

Tio Jeb revelou que logo seria hora de uma nova incursão, disse que era triste que Ian e Peg não poderiam nos acompanhar, mas que tínhamos que continuar lutando pela sobrevivência enquanto eles não voltassem. Felizmente, ele disse, ainda havia Sunny para nos ajudar, o que nos dava chances de sucesso garantidas. Pedi para ir junto, eu precisava sair um pouco dali, onde cada esquina me lembrava de Peg, sem contar que eu podia encontrar alguma pista, qualquer coisa que indicasse o que havia acontecido com Peg, depois de quase um mês que ela já havia partido ao resgate de Ian.

Eu podia ir, mas Benji tinha que ficar. Fiz que sim, aninhando meu filho contra o peito, pensando em quem eu podia confiá-lo enquanto estava fora. Jared disse que iria onde eu fosse e Kyle disse que Sunny não sairia sem ele. Jamie e Alysson quiseram ir também e ninguém se impôs, assim como ninguém mais queria sair. A captura de Ian havia assustado a todos. Fomos todos dispensados e a saída foi marcada para a manhã seguinte. Fui até tio Jeb que sentava na arquibancada com um gemido de velho. Sentei ao lado dele e ele sorriu.

-Você quer encontrá-la não é?

Fiz que sim.

-Eu preciso. Somos irmãs. É o que irmãos fazem.

Ele afirmou parecendo pensativo. Ele não conseguira salvar o próprio irmão. Benji tentou arrancar sua barba, puxando-a com seus dedos gorduchos e força inexplicável de bebê. Tio Jeb riu.

-E esse puxador de peso pesado aqui? - Perguntou soltando os fios brancos da mão fechada e apertada do sobrinho antes que ele os levasse a boca. Depois desistir da barba, Benji concentrou toda a sua atenção limitada de bebê em arrancar a bandana vermelha na cabeça do tio.

-Era o que eu queria falar com você...

-Estava demorando...

-Você poderia cuidar dele? Só uma semana, talvez menos. Por favor? Não vai te matar.

Ele me olhou, falsamente cauteloso.

-Será que não? E se ele me morder?

Ele sorriu e Ben sorriu de volta como se os dois fossem cúmplices. Será mesmo que eu devia deixar aqueles dois juntos? Sorri levemente, acariciando a cabeleira castanha de Benji.

-Está bem. – Ele aceitou – Eu fico com o filhote se você prometer nenhuma loucura lá fora. Promete?

-Prometo. - Respondi de pronto. Ele me olhou fundo nos olhos sério e achei que ele estava prestes a dizer que eu estava mentindo, mas ele ergueu o dedo mindinho.

-Promessa de dedinho?

-Tio Jeb...

Eu ri baixinho.

-Não, estou falando sério. Promete pelo seu dedinho?

Ele balançou o dedo mindinho a minha frente. Balancei a cabeça, não acreditando no que eu estava vendo. Um homem maduro como aquele me pedindo para fazer promessas de mindinho.

-Vê se cresce. - Eu disse rindo e entrelaçando nossos dedinhos. Ele suspirou fazendo que sim e tirou Benji do meu colo.

-Está pronto para passar uma semana divertida e educativa com o seu velho tio Jeb?

Ben abraçou sua cabeça e sorriu com o projeto de seu primeiro dentinho. Ele ia ficar bem, o meu menino. Só desejava que estivesse onde estivesse, Peg ficasse bem também.


O caminhão sacolejava e tremia, fazendo um barulho que parecia que ele soltava peças pela estrada a torto e a direito. Jared, Kyle, Sunny e eu dividíamos o banco da frente e Jamie e Alysson conversavam em voz baixa na caçamba. Suspirei, me encostando a janela do passageiro e olhando sem realmente ver a paisagem desértica passar diante dos meus olhos. Ao longe, pensei ver uma miragem, por causa do ar que ondulava pelo calor sufocante. Uma bola de metal retorcida tinha várias cores diferentes, jogada com descaso ao lado da estrada. Chegando mais perto, descobri que era real. Aquilo era... Um carro... Sim, tinha sido um carro... Verde-Oliva... Espera um carro verde? Uma 4X4! Era o carro de Peg! O carro que ela pegara para ir atrás de Ian quase um mês atrás!

-Para, para, para! – Eu gritei esbaforida quando passamos pela bola retorcida de metal, virando para ver de novo – PARA SUNNY, PISA NO FREIO!

Sunny pisou no freio sobressaltada, e o caminhão cantou pneu, derrapando na pista. Jared me abraçou contra o peito para evitar que eu batesse a cabeça no vidro. Quando o caminhão finalmente parou, soltei meu cinto e com um movimento rápido abri a porta e escapei dos braços de Jared, correndo para o carro que havia se transformado em uma pilha de entulhos revirada, claramente capotado várias vezes. Paralisei a alguns metros, incapaz de avançar. Tentei me convencer de que poderia ser de qualquer pessoa e finalmente tomei coragem para dar um passo a frente que fez algo tilintar embaixo do meu tênis. Desamassei o pedaço de metal enquanto os outros pulavam da cabine do caminhão, provavelmente me achando louca.

Era a placa do carro. SYC – 1345. A placa do carro que ela tinha pegado. Caí de joelhos, fraquejando de repente, tapando a boca quando as lágrimas invadiram o rosto. Não, não, não, não, não. Não podia ser... Peg estava... Morta? Ninguém sobreviveria a um acidente desses ainda mais com aquele seu corpo frágil. Eu não conseguiria olhar lá dentro se fosse para ver o corpo de Peg. E depois de um mês tudo estaria... Até pensar nisso me revirou o estômago. Jared foi o primeiro a chegar ao meu lado, passando o braço pelo meu ombro. Como se eu precisasse de ajuda. Peg tinha precisado de ajuda, mas não podíamos ajudá-la. E aquilo doía demais.

-Você está bem?

-É o carro dela. É... O carro que ela pegou... – Eu disse baixinho. – Não consigo olhar, você podia...

Ele fez que sim antes que eu pudesse terminar a frase e deu alguns passos a frente, procurando o banco do motorista, do que um dia fora um carro. Havia sangue seco no chão, tornando a areia uma lama macabra, mesmo depois de tanto tempo, e no airbag que costumava ser branco por trás do pára-brisa estilhaçado. Ouvi Jamie bater na porta do caminhão pedindo para sair e Kyle abrindo a tranca para deixá-lo. Quis gritar para que não o deixasse ver, mas não consegui desviar os olhos da desgraça a minha frente e logo os passos de Jamie caminhavam e ficavam mais vagarosos até pararem do meu lado.

Minhas lágrimas davam a ele todas as palavras que ele precisava para entender a cena a sua frente. Ele caiu de joelhos ao meus pés.

-Ela não vai voltar não é?- Ele perguntou. Fiz que não. Era apenas nesses momentos que eu via o quanto ele era frágil e eu não podia culpá-lo. A cada vez que ele tentava ser forte ele perdia alguém, primeiro mamãe e papai, e depois durante um tempo, eu mesma tinha sido tirada dele. E agora, que ele estava feliz, com todos que ele amava seguros e tinha a sua primeira namorada, aquilo acontecia com ele. E o pior era saber que não podia fazer parar de doer, nem nele e nem em mim. Jared voltou de mãos vazias, sentando-se ao meu lado. Jamie olhava com uma expressão destroçada no rosto.

-Não há nada lá dentro Mel. Só sangue, nenhum corpo.

As Almas, pensei sibilando na minha mente, nunca havia odiado-as como odiava agora. Haviam recolhido seu corpo. Eles não tinham esse direito, não tinham. O que será que tinham feito com ela? Podia tê-la enterrado em um cemitério qualquer de Tucson ou cremado seu corpinho frágil e entregado à mãe de Pet as cinzas em um vaso enfeitado. Pensar naquilo era tão... Fúnebre e... Irreal... Afinal, era de Peg que eu estava falando, minha melhor amiga, minha irmã, a pessoa mais cheia de vida no mundo todo. Havia tantas coisas que eu queria dizer a ela e não disse... E o filho de Ian que ela trazia no ventre com tanto carinho nunca viria a nascer, meu pequeno sobrinho ou sobrinha tão amada... E agora Ian também se perderia, porque salvá-lo não faria sentido. Ele não viveria sem Peg.

-Vamos Mel, temos que seguir viagem para chegar a Tucson antes do anoitecer.

Disse Jared em meu ouvido. Fiz que não, aterrorizada. Não podia, não queria. Aquele podia ser o último resquício de Peg, mesmo que fosse macabro era a única prova de que um dia ela existira, e não fora apenas um sonho meu. Jared levantou meu peso nos braços e não pude resistir, não tinha forças. Assisti por trás do seu ombro, Alysson puxar Jamie pela mão e o carro retorcido ficar mais e mais para trás. Não voltamos para o banco da frente, Jared me levou para dentro da caixa do caminhão. Kyle esperou que Jamie e Alysson entrassem e fechou a porta.

A escuridão caiu como uma luva, escondendo minhas lágrimas.

-Tente dormir – Pediu Jared acariciando meu cabelo e beijando minha testa.

-Só me responde uma coisa – Pediu baixinho. – Porque Peg?

-Para essas coisas não existe porque meu amor.


Sempre soube que após todos estes anos
Haveria risada, haveria lágrimas
Mas nunca pensei que eu sairia andando
Com tanta alegria, mas tanta dor
E é tão difícil dizer adeus.



POV. Peg


O telefone tocou no andar de baixo e ouvi os passos apressados de Finny para atender, arrastando as pantufas folgadas no carpete creme no andar de cima e na madeira da escada. Logo ouvi os passos voltando escada acima e a mão gentil da minha mãe me acordando-me. Não que eu pudesse realmente dormir. Depois daquela manhã com Espectro de Fogo tudo parecia ter me fugido, o sono, a fome. Quero dizer, Ian iria reagir àquilo de forma titânica não é? Eu me lembrava do jeito que ele enchera-se de ciúmes quando Austin chegou a 40 km de mim pela primeira vez e como ele me mandara afastar de Espectro antes de ser subjugado novamente. E ainda tinha a noite passada quando ele aparecera aqui, dizendo que Espectro tinha concedido algumas horas. Eu estava tão confusa... Eu tinha tempo ou não?

-É Maya, meu amor; - Finny disse baixinho. Rezei para que eu não fosse patrulhar com Espectro novamente. Eu precisava de um tempo para pensar.

-Boa noite, Maya. Algum problema?

-Desculpe incomodar novamente tão tarde, mas precisamos rever Sentinel Peak. Chego para te buscar em 20 minutos, patrulharemos até o raiar do dia.

Olhei para o relógio. 11 horas da noite. A que horas aquela Alma dormia? Ela sempre estava na delegacia quando eu entrava às 6:45 e sempre estava lá quando eu saía as 8. Sem contar nas duas vezes que ela já havia me ligado na calada da noite para me chamar para patrulhas até que o sol raiasse.

-Mas já não patrulhamos Sentinel Peak?

-É um parque grande. E você e Espectro não o patrulharam por inteiro suponho?

Ela perguntou. Resmungou algumas palavras de despedida e desligou. Sabia que ela ainda estava desconfiada de mim, sabia que eu mentia, quase podia farejar aquilo. Sentei de má vontade e entreguei o telefone a Finny que estava sentada na ponta da cama. Desabei a cabeça em seu ombro com um suspiro.

-Não quero ir mamãe.

Ela acariciou meu cabelo.

-Mas você tem que ir proteger a cidade, esse é o seu trabalho. Tenho tanto orgulho minha Pet, apesar de às vezes ficar um pouco aflita por conta dos...

Ela parecia relutar até em dizer a palavra com H.

-Eu sei mamãe. Mas nenhum humano me machucaria.

Ela beijou minha testa.

-Claro que não. E pense pelo lado bom – Ela disse levantando meu rosto de seu ombro, fazendo-me olhar para ela – Você vai estar com o seu... Amigo, o que te deixa feliz.

Fiz que não. Em comparação a ir a uma patrulha com Maya, ir com Espectro seria um sonho. Bem, minhas preces tinham sido atendidas.

-Vou com Maya.

-Oh. Tudo bem. Hum...

-Eu sei mãe, ela é perfeita.

Eu disse com sarcasmo pegando a bolsa que eu jogara de qualquer jeito ao lado da cama com dossel, espiando dentro dela, vendo se eu tinha tudo o que eu precisava para uma das piores noites da minha décima vida. Uma boa companhia seria pedir demais? Queria que Mel pudesse ser uma Buscadora comigo. Ela saberia o que fazer e com ela para me policiar eu nunca cometeria deslize nenhum e ambas nos protegeríamos, pensei...


POV. Mel


Quando acordei estava escuro e fresco. Abri os olhos, piscando e me espreguicei. Eu estava no caminhão, que tinha a porta escancarada. Uma fogueira lá fora lançava longas e escuras sombras nas paredes metálicas do caminhão. Me espreguicei e me levantei, indo para fora, onde Jared, Jamie, Alysson, Kyle e Sunny rodeando uma fogueira pequena que não fazia subir nenhuma fumaça e não chamava muita atenção, um tipo de fogueira que só um guerrilheiro sabia fazer. Todos levantaram os olhos ao me verem e Jared veio até mim, me ajudando a descer da caixa do caminhão, abraçando minha cintura.

Quando meus pés tocaram o chão ele me beijou com calma e carinho. Ele estava lá para mim e eu agradecia por aquilo. Aproximamo-nos devagar e sentamos ao redor da fogueira onde ele estava antes. Eu me sentia como se estivesse grávida de novo, com todos me olhando cautelosamente, observando cada movimento meu como se a qualquer segundo eu pudesse dar a luz ao irmão de Benji bem ali, no meio daquele amontoado de cactos e arbustos. Jamie me encarou como se estivesse com medo de mim.

-Está melhor? – Ele perguntou, abaixando e levantando o olhar como se não conseguisse sustentá-lo. Fiz que sim, encostando minha cabeça ao ombro de Jared, ainda um pouco sonolenta. – Estava tendo pesadelos? Quero dizer, você estava gritando enquanto dormia.

-E chorando. - Completou Alysson. Ele concordou com a cabeça. Eu não me lembrava de sonhar, de gritar, ou de chorar, mas eu podia entender. Eu não me acostumaria com o pensamento de que Peg estava morta.

-É difícil. Conhecíamos uma a outra de um jeito que ninguém mais conhecia. Quero dizer, ela já esteve dentro de mim.

Todos fizeram que sim, entendendo o que eu queria dizer. Eu conhecia todos os pensamentos de Peg, sabia de todos os seus segredos, angústias, medos, pensamentos, coisas que nem Ian sabia, e ela conhecia meu passado, minhas memórias, tudo o que eu já havia passado tudo o que eu havia ganhado e perdido através dos anos fugindo e me escondendo. Com um olhar apenas sabíamos o que a outra estava pensando. Era como se ainda partilhássemos uma mente só, unidas por um elo invisível, que agora havia se quebrado, para sempre. E sempre era muito tempo.

Resmungos baixinhos vieram do meio das árvores e todos nos entreolhamos preocupados. Rapidamente levantamos rápidos e certeiros como um raio, enterrando a fogueira e correndo para dentro do caminhão, fechando as portas, ouvindo os passos e resmungos crescendo a cada vez mais. Espera, eu conhecia aquela voz... Era...

-Isso não pode ser bom...

Concluiu a voz fininha e quase infantil do outro lado da porta do caminhão.


POV. Peg


Assim como com Espectro, eu e Maya não trocamos muitas palavras durante o percurso, mas era um silêncio diferente. Não era tenso, era frio, calculado e disciplinado como se as palavras fossem proibidas. Dirigimos pela interestadual, separadas por um vácuo desconfiado, mantendo a velocidade média de uns 80 km e chegamos a Sentinel Peak pouco antes da meia noite. Ela apontou para Leste indicando para onde ia e me passou as informações.

-Vou por aquele lado e você vai por lá. Quando achar os humanos, apenas os apague e traga para o carro.

Ela saiu sem esperar uma resposta. Fiz questão de fazer caretas impertinentes, imitando petulantemente seu jeito de falar. Era a segunda vez naquela semana que eu tinha que me enfiar no meio de cactos e arbustos espinhentos do Pico da Sentinela no meio da noite, com o risco de tropeçar, torcer um tornozelo e cair em cima de um cacto na melhor das hipóteses. Olhei para trás para ver se ela já havia ido e me voltei para frente resmungando em voz baixa tudo o que eu queria dizer para aquela mulher.

-Trazer para o carro... Eu mais rápido ia te trazer minha mão com mostarda e mel, sua louca. Ai de você quando Ian estiver finalmente estiver livre de Espectro.

Cheguei a uma clareira onde um caminhão estava estacionado e no chão arenoso havia uma fogueira que ainda crepitava abaixo da areia que havia sido jogada de qualquer jeito para apagá-la com pressa. Nenhuma Alma faria aquilo, tínhamos consciência ambiental, a fogueira poderia reacender e se espalhar por todo o parque. Aquilo sem dúvida era trabalho de humanos.

-Isso não pode ser bom.

Conclui me aproximando para ver mais de perto. A porta da caçamba se abriu vagarosamente e quase imperceptivelmente quase como se fosse obra do vento. Um par de olhos castanho-esverdeados me estudou com cautela. Eu conhecia aqueles olhos... Era...

-Peg? É... É você? É você mesma?

Perguntou hesitante a linda e impactante voz que um dia já tinha pertencido a mim.

-Mel?

Perguntei de volta com um sorriso subindo-me aos lábios. Ela abriu a porta e desceu da caixa com um salto, correndo até mim para me abraçar.



Sou muito grata pelos momentos, tão contente de ter te conhecido
Os momentos que passamos, eu vou guardar como fotos
E vou prendê-lo em meu coração para sempre
Eu sempre me lembrarei de você.


Ah, quantas vezes eu pedira para ver Mel de novo! Um coração já não aguentava mais de saudade daquela sulista linda, minha irmã! Parecia que fazia milênios que eu não via aquele rostinho bronzeado que já havia sido meu. Abraçamo-nos longamente, fazendo meu bebê chutar onde estava, provavelmente pedindo por um pouco de atenção.

-Isso foi um chute? - Ela me perguntou, soltando-me pra olhar minha barriga que já se elevara mais do que deveria em um 5º mês.

-A essa altura, já é uma disputa de Kick-boxing!

Rimos juntas nos abraçando novamente e ela me soltou virando-se para o caminhão, que jazia com apenas uma das portas abertas, sem fazer um único ruído. Se não conhecesse os humanos, imaginaria que não tinha nada nem ninguém lá dentro. Mas eu conhecia.

-Vamos gente! Podem sair, é só Peg!

A porta se abriu primeiro com cuidado, com outro par de olhos castanho-esverdeados sondando-me e de uma hora para outra se escancarava e Jamie correu na minha direção, me erguendo do chão pela cintura. Sempre achei que ele crescia quando eu não estava olhando e a essa altura do campeonato ele estava enorme! Ah, a puberdade... Eu ri enquanto ele me colocava no chão e me abraçava novamente. Seus braços estavam mais fortes do que a última vez também.

-Está bem – Eu disse me separando dele e olhando bem para ele – Não me sinto mais a Irmã mais velha. Eu poderia ser FILHA desse titã aqui.

Eu disse apontando para ele, que riu da minha piadinha.

-Não acredito Jamie! Você só pode estar vendo outra mulher? Nossa filha não se parece nada comigo.

Disse Alysson sorrindo, fingindo choque, sentada na ponta do caminhão com as pernas balançando no vazio abaixo dele. Jamie riu e soprou um beijo para ela que ela pegou no ar e guardou no coração. Aqueles dois eram tão lindos juntos... Depois de cumprimentar a todos, reacendemos a fogueira e sentamos ao redor todos juntos, como antigamente. Jamie tinha um braço por cima dos meus ombros e Mel segurava minha mão como se tivesse medo de que eu fugisse dela.

-E o que diabos você estava fazendo andando sozinha por Sentinel Peak há essa hora?

Perguntou Jared, cutucando o fogo minúsculo com um graveto, sentado do outro lado de Mel. Hesitei um pouco antes de contar, afinal agora eu era uma Buscadora, uma inimiga, e eles poderiam não aceitar bem, mas isso passou em alguns segundos. Eles eram minha família, e família era pra todas as horas, principalmente para as difíceis como aquelas.

-Aparentemente é os que os Buscadores fazem. E os que passam de Buscadores são obrigados e fazer também. Longa história.

-As lojas só abrem de manhã.

Disse Sunny, dando de ombros.

-E... Você tocou na palavra “Buscador”. Por acaso já se esqueceu de Wes? Explique direitinho essa história, mocinha. Pediu Mel de cara brava. E então eu expliquei. Expliquei como eu fora procurar os Buscadores para procurar Ian e como ele e a Alma que agora o possuía tiveram a mesma ideia. Narrei o interrogatório de Maya e como ela descobrira da minha gravidez e como Finny o fizera também. Expliquei como minha nova “mãe” era extremamente cuidadosa comigo. Os olhos de Kyle brilharam quando falei da irmã com a qual ele havia perdido contato desde antes de invasão.

-Não acredito que a So foi pega. Ela sempre dizia que eu e Ian não seríamos nada da vida, mas quem sobreviveu à invasão? Eu e... Eu.

-Devo te lembrar Kyle, que seu irmão não está morto e nem sequer suprimido.

Eu disse, fuzilando-o com os olhos. Contei a eles sobre o beco, do nosso beijo, quando Ian recuperou o controle por alguns segundos. Da nossa ronda naquele mesmo lugar e da noite passada, quando ele trouxera as flores vermelhas e dissera que Espectro o deixara “dar uma volta” em seu próprio corpo, só por aquela noite. Por algumas horas. Finny me dera um sermão de meia-hora, dizendo que devia ter cuidado com essa relação com “aquele garoto” por causa da minha gravidez e tudo o mais, sem saber que ele mesmo me ajudara a conceber o meu bebê.

-Então, minha garganta de grávida já está cansada de falar. Agora é a vez dos cavernosos aqui.

-Acho que falo por todos quando digo que prefiro o termo cavernantes, obrigado.

Disse Jamie sorrindo.

-As coisas continuam acontecendo. A colheita está quase pronta, Ben está crescendo mais a cada novo dia e não houve nenhum problema. Mas estávamos todos muito preocupados com você. Principalmente depois de hoje. - Mel disse a última frase quase como um sussurro fúnebre.

-Vimos o carro hoje – Disse Jamie – Achamos que estava morta.

Ele disse me abraçando forte pelos ombros. Agora eu voltara a me sentir a irmã mais velha, talvez até uma mãe. Mel encostou a cabeça em meu ombro e afagou minha mão com o polegar. Não acreditei que tinha os feito sofrerem. Sofrerem por mim Pobres dos meus irmãos, sempre lutando, sempre perdendo o chão sob seus pés, vez após outra.

-É como dizem... Vasos ruins demoram a quebrar. - Eu disse, tentando animar os ânimos. Todos riram comigo, mesmo que nervosamente, um riso para evitar o choro, e até o fogo pareceu feliz em se livrar daquele assunto, levantando e esvoaçando seus braços de chamas como uma dançarina, espalhando sua beleza pelo ar.

-E você volta com a gente não é? Para casa? - Jamie perguntou com os olhinhos castanho-esverdeados irresistíveis brilhando de esperança. Detestei ter que passar a mão por seu cabelo, beijar sua testa e lhe dizer que não.

E lá estamos nós em cada página
Memórias que eu vou sempre guardar
Avante em direção às portas abertas
Vai saber para onde estávamos indo?
Desejo-lhe amor, eu desejo-lhe sorte
Para você o mundo simplesmente se abre
Mas é tão difícil dizer adeus




-Não posso querido. Ian ainda está aqui. Mas eu volto logo, prometo.


Ouvimos passos quebrando espinhos ao longe. Todos se entreolharam. Sinalizei para o caminhão e todos foram na ponta dos pés silenciosamente. Puxei Sunny pelo braço para que ela ficasse e ela me olhou sem entender e fiz um sinal para que ela continuasse e ela fez que sim devagar, sem entender realmente o que eu queria dizer.

-Então, Gotas de Vidro. Como é o tempo em Montauk nessa época do ano? Estive pensando em levar minha mãe á NY para as férias.

Maya surgiu dos arbustos quando Sunny respondeu. Ela estava se tornando uma atriz-Alma muito boa, mas ainda tinha algumas coisas que precisava aprender. Agradeci por Jodi não ter acordado, porque sem Sunny, minha loucura na estrada custaria muito para a sobrevivência do grupo.

-O tempo é adorável! Se quiser um lugar para ficar, eu e Urso das Sombras ficaríamos honrados em recebê-la lá. Ora, olá você!

Ela saudou Maya, que entrou na clareira desconfiada, olhando de mim para Sunny com a cautela de uma perfeita Buscadora.

-Ah, olá Maya. Esta é Gotas de Vidro, ela é de NY e pediu que eu me junta-se a ela. Desculpe, não pude recusar. Quer juntar-se a nós?

- Acho que não é uma boa idéia. Creio que seja melhor que Gotas de Vidro vá embora. É perigoso aqui.

-Eu discordo, é Maya não é? Pet tentou me convencer, mas eu não vejo o por que. Estou aqui à semana toda. Não há humanos aqui.

Ela disse afirmando com a cabeça. Ela parecia mais ingênua que eu, Maya jamais acreditaria nela, se é que eu a conhecia bem. A Buscadora sorriu e se dirigiu para onde tinha vindo.

-Nesse caso, devemos ir, Pétalas Abertas Para a Lua.

-Só um momento, Maya. Prometi a Gotas de Vidro ajudar a arrumar suas coisas. Pode ir à frente, não deve demorar.

-Está bem. Até mais Gotas de Vidro.

Ela disse de costas. Sunny acenou e quando Maya desapareceu atrás dos cactos e arbustos espinhentos, sua expressão desabou e se tornou puro espanto.

-Ela é Lacey! - Ela disse de boca aberta. Fiz que sim olhando para trás, eu não podia me demorar.

–Acho que agora eu tenho que ir.

Concluí com um suspiro. Mel espiou se Maya já havia ido e desceu do caminhão me abraçando. Eu ia sentir tanto a falta deles... Mas seria por pouco tempo, convenci a mim mesma. Logo eu e Sophia teríamos o plano perfeito e tudo voltaria a ser como antes. Acordar com Ian abraçando minha cintura, tomar o café no refeitório, cercada por pessoas confiáveis, ajudar com a louça, ajudar na colheita, tomar um banho e ficar de bobeira até Ian volta, beijá-lo e perguntar como fora o seu dia. Dormir de conchinha. Dormir... Tudo como deveria ser. E ainda teria o meu filho alegrando ainda mais os dias, meu meninão ou doce menininha.

–Promete que vai se cuidar? - Pedi a ela. Ela fez que sim.

–E você? Promete que vai voltar? Sã e salva, você e o meu sobrinho?

Fiz que sim também, sentindo seu cheiro para guardar na memória. Cheiro de casa. Suor, terra, poeira e o cheiro metálico das pedras da nossa casa. Eu não poderia ficar longe por muito tempo. Quando me despedi de Jamie, pude ver que ele se segurava para não chorar Abracei-o, com meus bracinhos pouco fazendo para cobri-lo.

–Você tem que ser forte, está bem? Quando meu bebê nascer, você, ele e Benji vão poder começar um time de futebol, como isso soa?

–Pare de me fazer rir Peg, não tem graça.

Ele disse, correspondendo ao meu abraço com força. Aquilo partiu meu coração já destroçado.

–Eu prometo que vai acabar tudo bem. Eu alguma vez menti para você?

Ele fez que não.

–Então. – Soltei-o e toquei seu nariz com o indicador, olhando fundo em seus olhos – Seja forte.

Virei-me e apontei para Jared sentado ao lado de Mel na ponta da caçamba.

–Se não cuidar desses dois, vai enfrentar a minha fúria.

Ele me respondeu com um sorriso torto.

–Sua falta de confiança em mim me ofende.

Sorri de volta. Despedi-me de Alysson pedindo baixinho que cuidasse de Jamie, do seu coraçãozinho. De Sunny, pedindo que ajudasse a todos enquanto eu não podia e de Kyle prometendo trazer seus irmãos de volta. Dar as costas àquele acampamento e fingir que não me importava era uma das coisas mais difíceis que já tive que fazer. Só consegui não chorar e não olhar para trás, convencendo a mim mesma eu aquilo não era um “adeus” real, nem definitivo, era apenas um simples “até logo”, ou um “te vejo mais tarde”. Tão logo o plano estivesse pronto, eu e Ian iríamos para casa, tão apaixonados como sempre estivemos, ou talvez mais. Aquela experiência toda podia só fortalecer nosso amor.

Maya me deixou em casa e Finny me recebeu, surpreendentemente acordada, com um abraço. Tomei um banho para me livrar da poeira de Sentinel Peak e fui me deitar. Deveriam ser umas 2 ou 3 da madrugada, mas a hora não importava realmente. Rever Mel, Jamie e os outros havia enchido meu coração de esperança, felicidade, me deixando em um estado de espírito otimista, nostálgico e eufórico, e tive quase certeza que poderia sair voando pelo mundo como um balão se quisesse. Todas as minhas preocupações quase que evaporaram, dando espaço a pensamentos felizes. Quando o sono chegou não haviam sonhos como eu esperava, mas também não havia pesadelos, e isso era uma começo.

Apenas o sono com um sorriso no rosto era um bom começo.


POV. Mel


Antes de dormir, já de olhos fechados esperando que Jared terminasse de apagar a fogueira e viesse deitar, pude ouvir a conversa sussurrada entre Jamie e Alysson.

–Quando eu vi o carro, eu meio que... Sei lá, choquei, mas quando Jared disse que não tinha ninguém lá dentro foi tipo: PLIM! Uma lâmpada acesa na minha cabeça, sabe? Eu sabia que as Almas tinham curado ela. Eu até tentei ficar triste e me convencer que eu estava me enganado e tudo o mais, mas eu não consegui. Eu meio que sabia de tudo.

–Dizem que a esperança é a ultima que morre, não é?

–Era mais do que esperança... Era... Sei lá, era Peg. Não podia ter ido.

–Amo o seu jeito de pensar.

–Só isso?

Ele perguntou. Pude apostar que havia um sorriso malicioso em seu rosto assim como o que Jared fazia quando me provocava. Ele precisava mesmo de um BOM exemplo masculino para variar, porque os que ele tinha...

–Não, eu amo tudo em você. Tudinho.

–Também amo tudinho em você. - Respondeu Jamie beijando-a. Kyle reclamou no colchão que dividia com Sunny.

–Vão procurar um quarto!

Jamie e Alysson riram baixinho, mas logo se aquietaram. Um sorriso ainda estava em meus lábios quando Jared finalmente fechou a porta do caminhão e veio deitar, tateando o caminho até mim. Ele beijou minha testa, acariciando meu cabelo com carinho. Claro que ele sabia que eu estava acordada, eu nunca dormia depois de grandes emoções.

–Você está bem?

–Exultante! – Suspirei – Minha irmã está viva afinal!

Eu disse rindo baixinho. Não era muito dada a risinhos alegres, mas naquela noite me permiti. Eu não tinha mais que me preocupar. Peg prometera voltar, e ela não mentiria para mim. Ela salvaria seu amor e se agarraria a ela com unhas e dentes e eu duvidava que um dia ele sairia da vista dela de novo. Ela era uma guerreira, era forte. Às vezes até mais forte do que eu, e justo quando eu achava que a fragilidade a venceria, ela me surpreendia.

Logo nos encontraríamos de novo, eu sabia disso.


Os momentos que passamos, eu vou guardar como fotos
E vou prendê-lo em meu coração para sempre
Eu sempre me lembrarei de você.



Miley CyrusI'll Always Remember You




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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram do capítulo? Esperamos que sim!

Essa foi por pouco hein, mas a Peg conseguiu escapar de mais essa enrascada. hehe. Ufá.

Gostaram do reencontro da Peg e da Mel? =D. Espero que tenham matado a saudade do pessoal das Cavernas. Agora, é esperar pra ver como essa situação acaba néh.

Gente, hoje não tem nota do próximo capítulo por que eu e a Bellah ainda vamos trabalhar no próximo capítulo. heh. Mas prometemos não demorar flor.

Bom minhas amoras, é isso. Espero que tenham gostado do capítulo e até o próximo amores. Esperamos os lindos reviews de vocês hein?

Bjos da Caah.