Era tarde, e como era. Improvável para aqueles espertos, cuja mente trabalha a noite e afoga-se na luz do dia. Você, Tom, não gostava da luz do dia. Ela machucava seus olhos.

Eu amava o dia. O sol, o claro do céu. Eu dançava, eu cantava, eu sentia. Podia sentir o calor na minha pele, em cada célula do meu corpo uma nova energia. Uma energia que você invejou, e tentou, aproximando-se de minha ingênuidade, apropriar para si.

Mais do que a minha luz, Riddle, você se apropriou de minha alma. Do meu coração.

E quando chegava a noite, a sua luz brilhava, e me incendiava. Levava-me até dimensões ocultas, onde minha mente jamais pode ir sozinha. Penso que se não fosse você, Tom, minha essência não mesclaria o calor do dia com a beleza da noite.

E você cantava, sim, enquanto o sono não vinha. O anjo da música cantava canções na minha mente, delirando e dilacerando as esperanças ruins e alimentando as barras da felicidade. Não sabia eu, Tom, que fizera isso somente para alimentar a si mesmo. Alimentar o ardor que um dia não seria mais meu.

Seus planos, porém, falharam. Eu te dei a minha mente sem fraquejar, te dei minha essencia, te dei minha alma. Mas, por conseguinte, te dei meu amor, e este o marcará para sempre.

Pois, anjo da música, meu guia e guardião, reservara para mim o terno brado de tua glória.

Minha mente jamais estará em silêncio.