No silêncio do meu quarto, consegui acalmar a irritação que sentia pela presença de James na minha casa.

            Não sabia explicar, mas havia algo nele que me irritava profundamente, sem qualquer explicação aparente. Talvez fosse a sua ironia extrema, ou talvez fosse o facto de esbarrar com ele de formas ridículas.

            Empenhei-me em fazer os trabalhos de casa, e aproveitei também para estudar para algumas disciplinas em que não estava tão a par da matéria. Sentia-me tão embrenhada no estudo, que quando a porta do meu quarto se abriu de repente, levei alguns segundos a compreender o que se passava, até ver James entrar por ela.

            - O que é que estás aqui a fazer? – A irritação tinha voltado, como se nunca tivesse chegado a abandonar-me.

            O sorriso irónico que tanto odiava estava estampado na sua cara.

            - Desculpa. – Disse sem se dar ao trabalho de ser convincente. – Estava à procura da casa de banho.

            Mas que conveniente.

            - É a porta ao lado. – Disse, tentando ao mesmo tempo, conter a raiva que sentia, e despacha-lo dali o mais rapidamente possível.

            Ele, porém, não se moveu um milímetro. Olhava-me com atenção, a ironia esvaindo-se da sua expressão, que se tornou subitamente decidida e concentrada. Aquilo era novidade para mim. Nunca antes o tinha visto sem o seu sorrisinho irónico estampado no rosto.

            - Queres mais alguma coisa?

            Silencio total. Não estava a ver o que pretendia com aquilo. Os seus olhos encontraram os meus, e tornou-se difícil desviar o olhar. Só naquele momento reparei que eram de um castanho muito claro, com algumas nuances douradas.

            - Queres mais alguma coisa? – repeti um pouco mais decididamente.

            Semicerrou os olhos por um instante, como se estivesse a concentrar-se em algo que eu não conseguia compreender.

            Tão depressa que mal me apercebi da mudança, voltava ao seu estado sarcástico.

            - Não, nada. Só me vim certificar que não esbarrava-mos também na casa de banho. Seria extremamente desagradável, não achas?!

            Soltou um risinho e fechou a porta na minha cara incrédula.

            Não percebia porquê, mas algo nos seus olhos me tinha intrigado. E a única coisa em que conseguia pensar, era que queria distância daquele rapaz. Nunca ninguém me enervara tanto na minha vida inteira.

            Por isso mesmo, quase ia morrendo quando Charlie o convidou para jantar connosco. Enquanto pensava em todas as pragas possíveis e imaginarias que poderia lançar nos três ( sim, tinha acabado de incluir Charlie e Jacob nisto) senti-me aliviada quando ele recusou bastante educadamente.

            Acompanhei-o à porta a pedido do meu pai, mas fiz questão de o fazer em silêncio absoluto.

            Despediu-se de mim com aceno e um piscar de olho. Fechei-lhe a porta na cara como resposta, causando um estrondo.

            Não conseguia deixar de o imaginar a rir-se por detrás daquela porta. Irritar-me parecia ser a sua actividade predilecta.

            No fim do jantar, e depois de ter arrumado a cozinha, já que tinha sido Charlie a cozinhar, subi para o meu quarto e reparei na porta fechada de Jacob. Tinha começado a fechar também a sua porta, como protesto à minha sempre trancada.

            Tive um momento de hesitação. Pensei em Edward, que estaria provavelmente neste preciso momento por detrás da minha porta. E pensei em Jacob que sem dúvidas se encontrava por detrás da sua. Tinha de falar com Jacob, tinha algumas perguntas a fazer-lhe acerca do seu novo amigo. Depois teria a noite toda só para Edward.

            Bati à porta cuidadosamente, e ouvi um grunhido como resposta. Entreabri a porta e espreitei.

            - Posso entrar? - Disse enquanto entrava e me sentava ao seu lado na cama.

            Jacob levantou uma das sobrancelhas em resposta. Parecia ao mesmo tempo surpreso e contente por me ter ali.

            Já não me consegui lembrar da última vez que tinha estado assim com Jacob. Só agora me tinha apercebido de como o tinha negligenciado e de como tinha cometido um grande erro ao faze-lo. Jacob compreendia-me, apoiava-me, era fácil partilhar as coisas com ele. Ele era meu irmão, podia não ser de sangue, mas era. Contei-lhe tudo o que havia ficado por contar nas últimas semanas, sobretudo o meu namoro com Edward, do qual ele quase nada sabia.

            Ocultando, claro, a sua natureza, partilhei com ele as experiencias, as inseguranças, a minha alegria por ter encontrado alguém como ele. Jacob partilhou toda essa alegria comigo, e naquele momento, senti-me mais completa, do que nunca, por saber que ele estava comigo, me apoiava e fazia parte da minha vida incondicionalmente.

            Falou comigo sobre os seus problemas também, e foi bom ouvi-lo e aconselha-lo.

            Reparei nas horas e vi que já era muito tarde. Pensei se Edward estaria aborrecido comigo por o ter feito esperar, mas havia ainda algo que me faltava falar com Jacob, e portanto Edward teria de esperar mais um pouco. Só esperava que ele não se fartasse e fosse embora.

            - Jake, diz-me só mais uma coisa. – Esperou atentamente que lhe coloca-se a minha questão. – O que achas do James?

            Jacob encolheu os ombros.

            - Não me parece mau rapaz.

            - Vocês parecem dar-se bastante bem… - Tentei incita-lo a contar-me mais.

            - Pra te dizer a verdade, no início não gostava muito dele.

            - Porquê?

            - Não sei. – Parecia surpreso por ouvir-se dize-lo. – Não o conhecia de lado nenhum, mas não conseguia deixar de ter um pressentimento de que algo não estava bem... Com o tempo, vi que ele é um tipo fixe e muito divertido, devias ouvi-lo a falar às vezes, é demais.

            Riu-se, talvez com a lembrança de alguma piada que James lhe tinha contado.

            - A mim parece-me bem irritante.

            - Vais ver que mudas de opinião. Acho que ele é daquelas pessoas de quem não se tem uma boa primeira impressão. Mas se o conheceres melhor és capaz de mudar de ideias.

            - Não me parece. – Disse-o sem pensar, mas não deixava de ser verdade.

            - Acho que ele gosta de ti. – Jacob disse aquilo como se fosse bastante óbvio.

            - Porque dizes isso?! – Sentia-me indignada com aquela afirmação.

            - Não sei bem. É só um palpite não te chateies. – Acrescentou quando viu a minha expressão. – Ele não me disse nada, se é isso que estás a pensar. Mas a maneira como ele te trata, como fala contigo levou-me a pensar nisso. – Não falei à espera que continuasse. Até agora a sua explicação não era aceitável, e eu queria saber o que o levara a pensar tal coisa. -  Lá na escola todas as raparigas andam atrás dele, e nunca o vi assim com nenhuma.

            Ok, se era esta a explicação de Jacob, parecia-me bastante absurda.

            - De certeza que estas enganado Jake. - Pelo menos era nisso que eu acreditava.

            Jacob encolheu os ombros mostrando que não estava muito convencido disso, mas que também não era importante naquele momento continuar a discutir esse assunto.

            - Bem Jake, vou-me deitar, já é tarde.

            - É mesmo. Espero que amanhã não adormeças outra vez.

            Presenteou-me com o seu sorriso, que eu não via há tanto tempo.

            - Não te prometo nada. Boa noite Jake.

            Enquanto fechava a porta do seu quarto, prometi a mim mesma, nunca mais me afastar de Jacob.

            Dirigi-me com passos decididos à porta do meu quarto, e inspirei bem fundo preparando-me para o que aí vinha.