Heather mexeu-se ao meu lado, incomodada. É incrível como duas pessoas podem transformar um ambiente jovem e alegre em um ambiente desconfortável e tenso. Bom, acho que ando lendo muitas histórias de Sir Arthur Connan Doyle. Acho que é melhor começar pelo começo. Minha amiga, Heather Sunshine, era antes minha inimiga. E namorava com um cara bonito e popular - ou o mais popular que qualquer aluno de uma escola minúscula de Franklin pode ser - chamado Adam Carrow.Acabei me tornando amiga dele.

As garotas de Franklin - especialmente as que andavam com Adam - Não tinham muita coisa na cabeça, fora maquiagem, purpurina e a cidade grande para onde gostariam de se mudar ao entrar para a faculdade. Eu devo ter sido a primeira que só tinha o terceiro item e algum conteúdo a entrar em contato com Adam. O cara ficou a fim de mim, terminou com a namorada e passou um tempo com a idéia fixa de ficar comigo.

Bom, o tempo passou... Eu não quis Adam - até por que sua ex-namorada se tornou uma das minhas melhores amigas. -, passei umas duas semanas em Los Angeles e ele percebeu que o que sentiu por mim foi uma atração passageira e que, na verdade, queria sua antiga namorada de volta. Pelo pouco que pude entender do discurso cheio de lágrimas de Heather, Adam estava com saudades e implorara para reatar. Por orgulho, Heather negou-se. Como o bom estúpido que é, Adam não desistiu.

Assim, os dois estão naquela novelinha infantil de amor e ódio. As principais vítimas do sofrimento? Gretchen Gardner, minha melhor amiga oficial, o namorado de Gretchen e melhor amigo de Adam, Tyson. E eu mesma. Ludmille Williams. Prazer.

Heather ainda está caidinha pelo Adam, que além de tentar desesperadamente reconquistá-la, adotou a medida menos efetiva para alcançá-la: Ciúmes. Adam andou dando em cima de Deus, o mundo e mais algumas alienígenas para chamar a atenção de Heather. Isso a faz desmanchar-se em lágrimas nos meus ombros sempre que pode. Agora que dei as devidas explicações, vamos à cena da lanchonete: Adam, Heather, Gretchen, Tyson, Ryan (Esses ultimos três tem sua própria novela... Vou contar isso depois, acho.), euzinha e Luke divíamos a mesa na hora do almoço de sábado.

Heather e Adam estavam deixando o ambiente desconfortável com suas expressões fechadas, um sentado de cada lado meu. Eu fingia não notar as tentativas de Adam de dar em cima de mim enquanto lia tranquilamente o volume 7 de Death Note. Heather olhava para ele pelo canto do olho, de modo magoado. 

- Adam, tem muito banco para lá. - afirmei. - Se importa de levantar essa bunda gorda daí e deixar espaço para que eu vire a página? 

- Perdão, Ludie. - pediu Adam sorrindo de modo safado e afastando-se dois palmos. - Mas seu perfume está tão gostoso que eu não resisti.

Por que você não morre, diabo!?

Lancei um olhar significativo a Gretchen, pedindo por ajuda. Certamente, Gretchen não era a pessoa certa para ajudar quem quer que fosse. Eu devia saber disso.

- Lud, que merda você está lendo? - perguntou ela sacudindo os longos cabelos castanhos - Se quer ler uma história com vários garotos bonitos, esse não é o recomendado.

- É tão a cara da Ludmille ficar lendo esses mangás cabeça. Essa nerd. - zombou Heather apertando as minhas bochechas. - Veja, eu tenho um mangá divertido de verdade para você.

Eu havia me arrependido de ter feito Heather e Gretchen entrar no mundo dos mangás. Eu o havia feito pois queria nós tivessemos alguns assuntos em comum, para variar. Contudo, estava se voltando terrivelmente contra mim. Um exemplo disso foi Heather tirando um mangá de dentro da bolsa, abrindo numa página marcada e colocando-o bem na minha frente. Na dita página, um homem loiro bonito e um garoto de cabelos escuros... 

- Isso é diversão! - Exclamou Heather com um sorriso pervertido.

- H-Heather... Esses homens estão se... Se beijando... - gaguejei ficando vermelha ao ver aquilo. 

Os garotos fizeram ruído de nojo enquanto Gretchen ria da minha cara. Um par de mãos conhecidas cobriu meus olhos ao mesmo tempo em que um perfume gostoso penetrava nas minhas narinas.

- Mas que merda, Heather! - exclamou a voz profunda. - Não mostre essas coisas para a Lud.

Heather riu e eu senti o mangá indecente ser tirado do meu colo. Meus olhos foram descobertos e Joshua Watson, o cara por quem tenho um precipício, sentou-se ao meu lado, empurrando Adam mais alguns palmos de distância.

- Qual é o problema, Josh? - perguntou Gretchen, provocativa - Pretende manter a Lud pura até o casamento?

- Exatamente. - Josh passou um braço pelos meus ombros. - Minha pequena Ludie, pura e inocente até o casamento.

- E então você casa com ela e... - Gretchen tapou a boca de Ryan antes que ele dissesse algo realmente impróprio para a hora do almoço.

- Por que não vão para o inferno, todos vocês? - perguntei, socando Josh até que ele tirasse o braço de mim.

- Volte a ler seu mangázinho emo outra vez, sua ingrata. - Josh falou em tom divertido. 

No instante seguinte eu estava de pé tentando dar uma... Como é mesmo o nome daquele golpe? Acho que chamam de gravata. Pois sim, estava tentando enforcar Josh com uma gravata. Isso não era realmente necessário, eu nem gostava TANTO assim de Death Note, mas deixar uma provocação dessas passar demonstraria que eu estava pegando leve e eu não podia demonstrar isso com Josh. Eu precisava ser má com ele.

- Que mangá você está chamando de emo, seu maldito inseto comedor de alfafa dos infernos!? 

Eu vou ter que dizer que estou ficando cada vez melhor nessa história de xingar os outros. Sério, eu mesma me ofendo com meus insultos.Heather e Gretchen se abraçaram - incluindo Luke no abraço, uma vez que ele estava entre as duas - e gritaram: "O amor é lindo!". Sério, eu não devia ter apresentado à elas os mangás. Elas achavam então que eu estava agindo com um tipo de Tsundére: Sendo má com Josh e brigando com ele o tempo todo para depois me apaixonar perdidamente e me tornar uma pessoa gentil. 

Não que eu fosse gentil antes, mas eu era má com Josh justamente por estar tão estúpidamente apaixonada por ele. Mas ele ainda era meu melhor amigo, então talvez eu não pudesse me encaixar na descrição de Tsundére de qualquer modo. 

- Lud, você vai me matar! - reclamou Josh tentando me desalojar de suas costas. 

- Lud feia, não mate o Josh. - pediu Ryan levantando-se tranquilamente e vindo me tirar de cima de seu melhor amigo.

- E agora você vem comigo. Precisa me ajudar com aquilo, lembra?

- Mas agora!? - exclamei, indignada.

Deste modo, terminou a minha participação no almoço de despedida das férias. Enquanto me arrastava para longe do meu almoço quase totalmente comido, Ryan soprou um beijo para Gretchen. Aproveitando para contar a segunda novela dos meus amigos idiotas...

Gretchen namora Tyson desde... Sei lá desde quando. Eu já a conheci namorando o Tyson. Eles são o tipo de casal que eu não consigo imaginar separado. Isto é, até que Gretchen, Josh e eu viajamos para Los Angeles e encontramos Ryan. Ryan apaixonou-se por Gretchen à primeira vista, eu acho. E decidiu que uma cidade que tem o amor da sua vida e seu melhor amigo pode ser um lugar divertido para se morar...

Assim, Ryan hospedou-se na casa de Josh e passou a lutar de verdade para ter Gretchen. Tyson não gosta nada disso. E Gretchen... Bom, eu não sei. Ela nunca me deu uma opinião direta de fato sobre o assunto. Eu também não perguntei. Se ela julgar necessário, vai me contar.  

Eu sempre disse, sempre soube. Amor é um problema e por isso eu odeio o amor com todas as minhas forças. Que saco, não é mesmo?

*

Depois de dois dias, o pior aconteceu. Vários cartazes em preto e laranja ou roxo e branco foram espalhados pela escola, anunciando um baile de halloween. Um baile de Haloween, não é brincadeira. Como esse bando de hereges pode pegar algo sagrado e legal como o Haloween e transformar num baile? Um baile com pares ainda por cima?

No intervalo de dez minutos, sete pessoas diferentes devem ter me perguntado se eu já sabia com quem ia ao baile. Quatro delas eram garotas e queriam saber se estava tudo bem convidar Josh.Isso no primeiro dia de aula. Só pode ser brincadeira.

Pelo amor de Deus! Por que todos acham que eu sou a namorada dele?

Certo, andamos juntos praticamente o tempo todo. E sim, eu realmente me importo, não quero esse bando de desesperadas convidando o meu - e eu repito: MEU - melhor amigo para a droga do baile de Haloween. Mas se ele quiser ir com alguma delas, que vá em frente e morra. Aquele inseto comedor de alfafa.

Vou ficar em casa feliz da vida, curtindo meu haloween feliz, com meu gato feliz e meu mangá emo feliz! E muito obrigada!Eu realmente não queria surtar, mas definitivamente estava surtando quando saí da ultima aula. Afinal, o discurso da professora não foi lá muito animador. Ela passou os últimos dez minutos da aula falando disparates sobre fantasias bonitinhas, nada de coisas ousadas e pervertidas.

Bah, como se as garotas fossem perder a chance de exibir seus preciosos corpinhos de ampulheta. 

No lugar de subir no skate e ir para casa como sempre, eu caminhava pelo estacionamento lentamente com o skate debaixo do braço. Meus pés me levaram até lá, não pergunte como. O que eu estava esperando afinal? Encontrar Josh entrando no seu carro e me convidando para o baile? Me oferecendo uma carona para casa, os cinco longos quarteirões? Argh, por favor! Essa não sou eu.

- Hei Lud.

E eu também não costumo levar um susto tão grande a ponto de pular quando as pessoas me chamam. Acho que devo maneirar no café. Está me fazendo mal.

- Hei, Adam. - respondi voltando a andar.

- Espera aí, Lud. Você gosta de halloween, não é? Eu estava pensando se...

- Não.

 - Você não gosta de Halloween? Oh! Mas você é tão... Halloweenesca.

- Número 1: Essa palavra não existe. Número 2: Está dizendo que eu pareço personagem de filme de terror ou algo assim?

- Nada disso! Se bem que você parece aquelas garotas sexys que aparecem nos filmes. Aquelas que seduzem os caras pra morte.

- Sim, Adam. Veja meu All Star sexy. Minha camiseta do Red Hot Chili Pepers herdada do meu primo mais velho não seduz você a morrer?

- Bem, mas eu estava pensando...

- Não, eu já disse. 

- Você não sabe o que eu vou dizer! 

- Tudo bem. Desculpe. O que você quer? 

- Quero ir ao baile de haloween com você.

- Não. E não vai chamar a atenção da Heath desse jeito, cabeção. 

- Não estou tentando chamar a atenção da Heather. - Nãããão, imagine!

- Então por que desvia os olhos ao falar, caro loiro infernal? 

Algumas pessoas já andavam pelo estacionamento em busca dos próprios carros e uma parte delas olhava na nossa direção. 

- Lud, maldosa... É só um baile. - Adam riu - Estava convidando como amigo. Embora eu não vá me opor caso você queira algo a mais.

Dei as costas a ele e continuei meu caminho com uma expressão vazia. Por dentro, eu o estava mandando mil vezes ao pior dos infernos. Por fora, eu podia nem tê-lo visto, tão fria era a minha expressão. Havia aprendido no semestre anterior que não adiantava muito ameaçar Adam de morte caso eu não fosse realmente matá-lo. Ignorar era a melhor maneira de lidar com Adam Carrow. E eu me sentia tão madura e superior ignorando ele...

Estragando minha saída superior, Adam estendeu a mão e puxou o elástico que prendia meu rabo de cavalo frouxo. Aquele maldito... Ele sabe quanto trabalho eu tive para furtar aquele elástico das coisas de Gretchen para prender a droga do meu cabelo? Estava sinceramente pensando em cortar aquela porcaria. Perdi a paciência e virei-me para recuperar meu elástico roubado.

- Meu cabelo não, Ada... Hmpnf! - Fui calada por seus lábios nos meus. 

Deixando as coisas bem claras sobre mim: Eu NÃO costumo sair distribuindo beijos pelo estacionamento. E também não costumo permitir que os roubem de mim.

 - Adam, seu estuprador comedor de alfafa! - Eu não sei por que eu cismei com a alfafa... Bem que eu podia ter escolhido algo menos ruim. Sei lá, tipo alho poró. 

- Hahahaha você suspirou quando eu te beijei. - acusou.

- Caso você não tenha notado, aquilo foi ofegar. Ofegar, de surpresa. Não suspirar. 

Por que os homens acham que a merda de um não significa sim? Digo, só pode ser algum tipo de retardo mental... Como ele pode me dar um abraço logo em seguida e pousar o dedo indicador nos meus lábios, como se pedisse silencio para o momento romântico. Eu podia apostar que Heather estava em algum lugar vendo a cena e ele sabia disso.

- Vou pegar você no dia trinta e um de outubro pontualmente às sete.

- Tire as mãos de mim ou pontualmente em cinco segundos, vou quebrar seus dedos. Um por um. 

Fiz o jogo dele. Me irritei e ameacei. Eu devo ser muito idiota, enquanto Adam deve ser um masoquista. Um daqueles personagens clichês que dizem "Você fica linda com raiva". Aquele esquisitão. Eu estava contando os cinco segundos. Estava no quatro quando uma pessoa chamou:

- Carrow!Josh. Nem sei o que eu fiz para merecer isso... Josh aproximando-se com uma expressão um tanto fria nos olhos enquanto Adam me largava.

Tsc... E eu louca para ter uma desculpa para arrancar os olhos dele... 

- Joshie, não vai fazer uma cena de ciúmes na frente de tanta gente, vai? - perguntou Adam, provocante - Estava falando sério no sábado?No sábado?

Do que ele estava falando?

- Sim, eu estava. - confirmou Josh num tom glacial. - E eu realmente esperava que tivesse sido claro o suficiente para esse seu cérebro retardado.

Eu estava pensando sobre como Josh xingava melhor que eu. Ele conseguia parecer ameaçador e impressionante e nem precisava chamar ninguém de comedor de alfafa/alho poró. 

- Bem, Josh. Você é meio lerdo. Alguém precisava arrancar alguns suspiros dela.

Rápido como a luz, o punho de Josh acertou bem no meio da cara zombeteira de Adam. Bem no lugar onde EU queria acertar. Só consegui dar um passo para a esquerda, ficando longe de Adam que caía. Minha boca ficou escancarada, deixando em evidência meu lado inteligente enquanto eu assistia Adam apertar o nariz. Será que Josh quebrou? Será que alguns estilhaços dos ossos prejudicaram a respiração de Adam e ele vai morrer? 

Ainda mais rápido que o soco de Josh, mais da metade dos alunos da escola se reuniu ao redor de nós três, gritando e agitando os braços. Adam já levantava e devolvia o soco. No rosto de Josh não! Droga. Enquanto eu permanecia parada feito uma boboca, alguém com mais presença de espírito gritou:

- Luke! Tyson! Façam alguma coisa!

Infelizmente para Josh e Adam, alguém separou a briga antes de Tyson: O coordenador. Deste modo, Josh e Adam foram levados direto para a diretoria no fim do primeiro dia de aula depois das férias de julho.Eu não estava certa do quanto o rosto de Josh fora danificado na briga... Mas eu sentia uma vontade enorme de danificar o que sobrou.