Livre Arbítrio: Eu Escolho Você. escrita por MilaBravomila


Capítulo 13
Capítulo 13




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A semana seguinte chegou e foi rapidamente. Eu esperava ansiosa por cada treino, finalmente estava aprendendo a me controlar. Era incrível a sensação que eu sentia cada vez que entrava em ação. Daniel me encontrava todas as noites no ginásio para aulas extras. Funcionava assim: nos treino diurnos eu aprendia a me controlar, lutando com os nephilns, e a noite, eu libertava meu corpo, para que evoluísse cada vez mais. Uma das vantagens dele ser imortal era que eu não precisava me segurar tanto. Era estranho lutar contra ele. Eu podia me libertar, era o momento em que eu abaixava a guarda do controle que mantinha com tanto esforço. Eu sabia que não poderia machucá-lo então era diferente de quando eu lutava contra os nephilins. Eu podia dar tudo de mim. Mas era tão difícil. Eu não conseguia atacá-lo plenamente, uma parte de mim simplesmente não queria. Não importava o quanto ele insistisse. Eu estava realmente sendo ridícula, não havia a menor chance de eu colocá-lo em perigo real, mas era mais forte do que eu.

Nós tínhamos acabado de terminar o treino, era sexta a noite, e ele estava recolhendo os objetos que havíamos utilizado. Depois de guardá-los em seu devido lugar Daniel me acompanhou até o prédio onde ficava meu dormitório. Essa hora era um pouco frustrante pra mim. Ele nunca subia, nunca me acompanhava até meu quarto. Eu estava sempre tão excitada com os treinos que tinha com ele. Era como se a luta despertasse um instinto selvagem em mim. Geralmente no final dos treinos a gente acabava se envolvendo fisicamente, como se o calor da batalha nos dominasse, e por várias vezes nos deixamos extrapolar para algo a mais. Em outras palavras: a gente dava uns bons amassos naquele tatame! Mas parava por aí. Ele sempre recuava quando o clima esquentava demais, o que não demorava muito para acontecer. Eu fazia de tudo para seguir em frente, mas ele sempre dava um jeitinho sutil de parar, e isso me frustrava. Eu sabia que ele me queria. E eu definitivamente o desejava, mais que tudo no mundo, eu queria Daniel. Queria me unir a ele de todas as formas possíveis, mas ele nunca cedia. Eu até que compreendia seus medos. Ele foi amaldiçoado por me amar e a partir daí foi obrigado a me ver morrer em seus braços todas as vezes que nos encontrávamos, nas nossas – ou melhor, minhas – muitas vidas passadas. O destino sempre nos juntava, por mais que ele tentasse fugir e não me encontrar, a cada dezessete anos nos reencontrávamos, e o inevitável acontecia: nos apaixonávamos. E toda vez que isso acontecia eu literalmente morria, sempre que ele me dava o primeiro beijo nos lábios. Essa era sua maldição: me encontrar e me perder, por toda a eternidade, pra sempre.

Eu ainda lembro da primeira vez que nos beijamos nessa vida. Foi o momento mais incrível de todos. Eu ainda consigo lembrar do medo que vi em seus olhos quando nosso beijo terminou e da confusão que ele sentiu quando viu que , desta vez, eu continuei viva. Nós ainda não sabíamos muito bem o porquê de as coisas estarem tão diferentes nessa vida. Havia a teoria sobre meu não-batismo, mas eu ainda não conseguia entender.

De qualquer forma, eu compreendia seu lado. Quem garante que se nós avançássemos um passo, algo ruim – tipo, minha morte – não podia acontecer. A verdade é que ele não estava disposto a me perder novamente, ainda mais agora que estávamos juntos – embora não fosse do jeito que eu desejava. Eu sabia que isso era difícil pra ele também, mas, sinceramente, havia momentos em que eu estava disposta a arriscar tudo, só para tê-lo.

A luxúria é um pecado. Eu sei. Mas não era bem assim, não era apenas físico, carnal. Era, mas não era. Eu queria me entregar a ele por completo, queria pertencer a ele, por desejo e, acima de tudo, por amor.

Nós estávamos em frente ao prédio onde ficavam os dormitórios dos alunos e eu ainda estava ofegante pelo treino, ou melhor, pelo o que houve depois. Nós nos beijamos tão intensamente! Ele disse tantas coisas pra mim, que me queria e me desejava mais que ao ar. Minha respiração estava ofegante, ele me manteve pressionada contra a parede do ginásio, apertando-se contra mim. E aí, de repente, se afastou, como sempre.

Minha boca ainda formigava.

- Você vai me acompanhar até lá em cima? – eu perguntei bancando a inocente. Eu nunca iria desistir de tentar.

Ele sorriu, me deu um selinho e respondeu:

- Melhor eu ir pro meu quarto... – e acrescentou com uma ênfase desnecessária - do outro lado do campus.

Amarrei a cara.

- Ok!... Olha.. não vai. Fica. – Eu atropelei as palavras, engolindo um caroço que se formava em minha garganta - Só pra conversar. - olhei pra ele implorando.

Ele me avaliou.

- E sobre o que você que conversar?

- Sobre sua espada, aquela dourada. Você pode falar sobre isso? – eu disse inventando qualquer coisa, só pra disfarçar. Na verdade, era um assunto que eu gostaria de saber, mas não agora. Bom, valia qualquer coisa pra tê-lo por mais um tempo.

Daniel me encarou e acrescentou poucos segundos depois:

- Ok, vem comigo.

Fomos de mãos dadas até próximo ao prédio onde ficavam os quartos dos professores – isto é, anjos. Nós cruzamos com algumas pessoas no trajeto, e todas pareciam não se importar em nos ver juntos. Era diferente. Todos sabiam da nossa história, éramos uma lenda, uma triste e incrível história de amor. Muitos ainda custavam a acreditar que eu estava aqui. Era mais fácil para os nephilins acreditar que um anjo caído – ou vários - andava entre eles do que uma humana, fadada a morrer após o primeiro beijo. Acho que era isso que mais os surpreendia... o fato de eu não ter morrido ainda.

Na frente do prédio dos professores não havia ninguém. Daniel me abraçou por trás e abriu as asas. Fomos voando lentamente até a cobertura. Maravilha, ele “morava” na cobertura.

Como se conseguisse adivinhar meus pensamentos ele disse enquanto pousávamos na varanda:

- Existem dois apartamentos na cobertura. Um é da Francesca e do Steven. O outro é meu. Você tem um namorado respeitado, Srta Price.

Eu sorri e o beijei nos lábios.

A varanda já era incrível. Enorme e fabulosa. O parapeito era de vidro e o piso de mármore ultra-branco e polido. Havia modernos postes de luz a espaços regulares, mas não era luz elétrica que emanava deles, e sim de grandes velas brancas que ficavam perfeitamente acomodadas no suporte de vidro do topo dos postes. As velas proporcionavam um contraste perfeito entre o moderno e o rústico, o mundano e o místico.

No centro da varanda estava uma mesa quadrada de tamanho médio, como tampo de vidro e um lindo suporte de mármore que o apoiava, além de duas confortáveis poltronas de couro branco para completar. No centro da mesa, um belo vaso, repleto de lírios brancos. Meus favoritos. Um sorriso se abriu em meu rosto. Ao fundo da varanda, duas enormes portas de correr, de vidros lisos, davam passagem para o quarto. As paredes de cada lado das portas de correr eram feitas de espelho e uma cascata de água escorria junto ao espelho, lentamente, como se o acariciasse. Na parte de cima, um belo tom de verde conferido pelas samambaias completavam o perfeito quadro.

- Nossa. – falei sem ar. – É perfeito.

- Obrigado.

Fomos andando na direção das portas que davam acesso ao quarto. Quando ele as abriu, parecia uma extensão da varanda atrás de mim: um amplo e branco quarto, com mármore branco perfeitamente polido no piso e paredes, vidros, velas e flores brancas eram vistos por todo o local. E havia uma cama box enorme, que ficava de frente para o resto do quarto e de costas para a varanda. Ao fundo, uma porta, que eu julguei ser a suíte. Era tudo tão moderno, tão clean, tão perfeito. O cheiro era suave, incrível. As velas davam o clima perfeito para fazer minha imaginação fervilhar.

- Se aquela porta ao fundo leva ao banheiro, como que pessoas normais entram nesse quarto, Sr. Grigori? - perguntei de forma curiosa ao perceber que não havia outra porta além daquela.

- Não entram. A não ser que consigam voar... ou sejam convidadas. A varanda é a única entrada. – ele respondeu suavemente, enquanto se aproximava de mim.

Eu estava maravilhada. Sem dúvida era o quarto mais lindo que eu já tinha visto. Caminhei lentamente em volta da incrível cama e deixei minha mão acariciar de leve o macio edredom que a cobria. Também era branco, é claro.

- Até que para anjos, vocês ostentam bastante, não acha? – Perguntei virando-me para encará-lo. Meu tom foi mais de brincadeira do que de acusação, não era a minha intenção insinuar nada. Daniel foi sério ao responder.

- Eu não pedi por isso, foi-me oferecido, é diferente. Eu posso viver sem e não sentir falta.

- Eu ... me desculpa, não foi minha intenção te ofender. – Eu falei rapidamente, começando a corar, ele havia entendido errado.

- Tudo bem, eu sei. Só queria te explicar. Eu não sou assim. – ele falou fazendo um gesto que apontava para todo o quarto.

- Eu sei. – Respondi baixinho enquanto me aproximava para beijá-lo.

Foi um beijo suave, cheio de amor, até eu interromper bruscamente, dando um passo para o lado.

- MEU. DEUS. – arfei.

Sobre uma prateleira de vidro próxima a mim, apoiada em dois suportes de mármore, eu vi a espada mais incrível que deveria existir. A espada que salvou minha vida.

Não resisti, tive que me aproximar. Minha boca abriu inconscientemente e eu fiquei vários segundo admirando aquele objeto divino.

- Você quer segurar? – ele perguntou suavemente, enquanto me abraçava por trás. Eu estava tremendo.

- Po-posso? – gaguejei.

Ele acenou uma vez e se afastou um pouco de mim.

- É claro que pode. – ele completou suavemente.

Eu estiquei a mão e a acariciei. Era de ouro maciço, eu nem precisava perguntar. A lâmina era grande, mas não muito grossa. Terminava em uma ponta triangular e mortal. Perfeita. Havia entalhes por todo o comprimento da lâmina, coisas escritas em uma língua desconhecida para mim. Meus dedos passearam por ela lentamente, sentindo cada pedacinho, captando a energia que emanava dela.

Finalmente me acalmei o suficiente para segurá-la. Era extremamente pesada. Eu tive que fazer uma força descomunal para mantê-la esticada a minha frente. O punho era mais grosso, com muitos símbolos entalhados.

- Eu...nunca vi nada assim tão incrível. – falei em apenas um sussurro, enquanto a passava para as mãos dele.

Daniel a segurou com uma habilidade impressionante. Era como se não pesasse nada, como se fizesse parte dele, assim como os sai faziam parte de mim, mas de um jeito ainda mais intenso que o meu. Era quase como se ela estivesse viva nas mãos dele.

- Você é a primeira, além de mim, que a tocou. – ele falou segurando a espada a sua frente.

Não respondi. Ao invés disso, senti uma lágrima quente rolar pelo meu rosto.


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