8. A decisão.

– Entrem...

– Muito bem Heero... O que está acontecendo? Por que nos chamou aqui há essa hora?

Quatre e Trowa, que haviam acabado de chegar ao apartamento de Heero, o olhavam sem entender nada. Estavam preocupados. Heero estava frio. E fazia muito tempo que eles não o via assim... Todas as vezes que Heero ficou assim, alguém morreu...

– Falem baixo... Não quero que ela acorde. Ela demorou em pegar no sono...

– Ela? –Disseram em uníssono.

– Relena... – Ele disse, sem nem se preocupar em olhar para eles.

– Relena? – Perguntou Quatre, incrédulo.

– O que ela está fazendo aqui? – Continuou Trowa.

Heero não respondeu, deixando eles ainda mais curiosos...

– Heero... A Relena está tendo um caso com você? – Quatre finalmente perguntou. – Ela é a noiva do David.

– Não me fale dele... Eu vou matá-lo.

– Matar... David... Eu posso entender que você queira roubar a Relena dele, mas até matá-lo? Não é muito drástico? – Completou Trowa.

– Ele merece pagar pelo que fez...

– Pelo que fez? O que ele fez Heero? Pare de falar em incógnita e seja claro conosco. – Quatre estava, assim como Trowa, impaciente.

– Ele a forçou... A machucou... Vocês acham isso pouco?

– Você só pode ta brincando...

Trowa e Quatre não conseguiam assimilar o que acabaram de ouvir. Estavam perplexos. Horrorizados, melhor dizendo... Eu já tinha passado por todas as emoções existentes... Agora, só me sobrou uma, ou seja, nada... A única coisa que sentia era à vontade de acabar com David... Já não sentia ódio, nem raiva, nada... Só frieza e a vontade de matar ele. Que eu nunca gostei dele, todos já sabem, mas vontade de tirar à vida dele, essa era a primeira vez... E eu me encarregaria de fazer com que fosse a ultima.

– E agora, o que pretende fazer?

– Eu já disse... Matá-lo...

– Heero calma, respira... Pensa um pouco... Você pode mandá-lo pra prisão!

– E quem te disse Quatre, que eu o quero preso?

– Ah é? E Você o quer como Heero? – Interferiu Trowa. – Porque, se você matar ele, terá que se explicar...

– Eu tenho costa quente...

– Tudo bem... E como pretende mata-lo? – Quatre continuou.

– Eu estava pensando em tortura chinesa... O que acham?

Nesse instante, Quatre e Trowa se entreolharam, para depois começarem a rir...

– Legal, posso saber qual a graça?

– Você, primo... Tortura chinesa?

– Acham isso engraçado?

– Sim... Desculpa Heero, mas faz anos que nos conhecemos e somos amigos... – Nesse momento, Quatre parou de rir e começou a olhar com maldade. – Acho que você pode pensar em algo melhor...

– Agora resolveram me ajudar?

– Claro que sim... O que ele fez é imperdoável, primo!

– Ahhhhhh...

Um grito vindo do andar de cima despertou a atenção deles... Heero sobe as escadas correndo...

– Relena... – Heero entra no quarto e senta na cama ao lado dela. – Você está bem?

– Sim... Eu tive um pesadelo... – A respiração dela estava agitada.

– Calma... Eu estou aqui... Nada vai te acontecer!

Relena abraça fortemente a Heero. Ela chorava como uma criança. Trowa estava encostado no batente da porta e Quatre ao seu lado. Os dois assistiam a cena em silêncio. Até que resolveram que deveriam deixá-los a sós. Desceram as escadas sem fazerem barulho...

– O que você acha disso Quatre?

– Ainda não sei Trowa. Só sei que... Não da pra evitar! Heero realmente se apaixonou por ela... E é a sério!

Trowa respirou fundo... Continuou!

– Acho que você tem toda razão... Agora só nos resta ajudar esses dois!

Quatre assentiu com a cabeça. Os dois se sentaram no sofá à espera da volta de Heero...

–/-/-

– Heero... Por favor, me prometa que não fará nada contra David...

– Relena, você só pode estar brincando... Depois do que ele te fez? Você quer que eu o poupe?

– Não tiro sua razão... Até porque fui eu quem passou por tudo... Mas eu não quero que você suje suas mãos... Deixa... Eu me entendo com ele!

– Nem pensar... Não posso permitir que ele se aproxime novamente de você...

– Heero... – Relena levantou sua mão e tocou meu rosto. – Obrigada, por tudo que tem feito por mim... Por ter ido me socorrer e cuidado de mim! – Sua voz era doce e suave. – Mas não posso permitir isso... Não posso permitir que você suje suas mãos, nem que cause um desentendimento na sua família...

– Minha família é meu pai, e com ele com certeza não terei problemas...

– Eu não deveria ter te ligado... Mas você foi à única pessoa em quem pensei... Desculpa!

– Não diga isso... Você não tem do que se desculpar comigo... Relena, me deixa estar ao seu lado, deixa eu te ajudar...

– Você já me ajuda...

– Fica... Fica comigo!

– Heero...

Ele começou a se aproximar lentamente do meu rosto. Meu coração disparou... Eu não consigo mentir a mim mesma, desejo esse homem com todas minhas forças... Mas não posso, ainda não... Empurrei levemente Heero. Ele me olhou assustado, tentando entender qual o meu problema. Mas nem eu sei direito... Ele me encarou fixamente, para depois dizer:

– Você não gosta de mim ou é masoquista e gosta de um cara que nem te respeita como mulher?

As palavras dele me feriram... Mas eu não tinha o que dizer... Eu não sabia como explicar o que realmente sentia... Eu não amo David, disso tenho certeza. O que ocorreu naquele dia deixou meus sentimentos claros. Quanto a Heero... Eu o desejo, sou louca por ele... Tudo que mais quero é ser tocada, amada, beijada por ele... Heero para mim, não é qualquer um. Sinto por ele, o que nunca havia sentido por nenhum outro até então... E ai está o problema! Esse sentimento me assusta... Heero na minha concepção é inatingível... Podem me chamar de covarde, mas tive medo de dizer o que realmente sinto e me desapontar mais uma vez... Ele é tão bonito, perfeito, charmoso... O que será que ele viu em mim? Por que me escolheu?

– Me responde Relena...

– Heero, eu não sei o que te dizer... Mas posso garantir que você está errado se pensa isso de mim! – Olhei para ele com os olhos cheios de lágrimas.

– Então que é?

– Eu só posso dizer uma coisa agora... Apesar de tudo, apesar do que David me fez... Eu só conseguirei me sentir a vontade com você ou... Quando eu realmente tiver terminado tudo com ele... Até lá... Perdoe-me.

Abaixei a cabeça. Não conseguia mais encará-lo. Tudo o que eu disse era a verdade ou pelo menos parte dela... Os meus medos... Guardei para mim.

– Tudo bem... Sem problemas, Relena! Eu vou esperar mais... Mas, lembre-se tome logo uma decisão... Eu irei viajar com vocês... Vou vigiar David de perto e estarei esperando sua decisão! Em consideração ao seu pedido, mesmo estando contrariado, não o matarei... Mas, se ele pisar na bola de novo... Pode apostar que ninguém ouviu bem, NINGUÉM me segura! Entendeu?

– Sim...

– Ótimo! Te darei como prazo o tempo de duração dessa viagem. Que começará amanhã à tarde...

Heero saiu. Fiquei sozinha no quarto dele, juntamente com meus medos e pensamentos. Meu prazo foi estipulado... E agora? O que será que vai ocorrer?

–/-/-

– Heero? – Disseram Quatre e Trowa em uníssono ao vê-lo entrar na sala.

– Tomei uma decisão...

– Qual? – Quatre perguntou.

– Irei nessa viagem. Dei um prazo para Relena tentar resolver as coisas do modo dela. Se não resolver... Ai será do meu jeito!

– Uma decisão sensata!

Disse Trowa. Quatre assentiu com a cabeça. Depois de conversarem e eles desejarem a Heero boa sorte na viagem, Trowa e Quatre foram embora.

– Melhor eu ir dormir... Amanhã o dia não será fácil!

Heero subiu as escadas com desânimo. Entrou em seu quarto. Relena estava dormindo. Deitou ao lado dela na cama e logo após depositar um suave beijo no rosto da garota, virou de lado e dormiu.

–/-/-

– Heero... Você já fez o checking?

– Sim pai...

– Tua passagem e seu passaporte estão com você?

– Sim pai... Fica calmo... Está tudo pronto...

– Ótimo... – Hiko sorriu para o filho. – Estou feliz que você aceitou vir...

– Não perderia essa viagem por nada pai... Nada...

Olhei para Relena e David que estavam sentados juntos. Desejei quebrar ele ali mesmo e agarra-la na frente dele. Mas, como cumpro minhas promessas... Segurei-me!

Senhores passageiros para o vôo 6589 com destino a Cancun – México. Por favor, dirigirem-se ao portão 9...

Ao escutarem a chamada, os cinco entram no avião. Primeira classe. Hiko e Alicia sentaram na fileira de dois bancos. Já David, Relena e Heero sentaram juntos na fileira de três bancos. Exatamente nessa ordem, ela ficou no meio.

Passamos uma viagem maravilhosamente tediosa... Fiquei discretamente observando as atitudes de David e as reações de Relena. Ele várias vezes tentou segurar na mão dela, que discretamente se soltou de seu agarre... Sorri, me agradou muito ver a cara que ele fazia quando ela tirava a mão dele da dela.

As horas passavam, lentamente, até que meu pai, Alicia, David e Relena dormiram. Então aproveitei deste momento para atacá-la.

Passei minha mão no rosto dela, até ela despertar. Ao abrir os olhos, rapidamente ela olhou para ver se David estava dormindo, para logo em seguida me olhar assustada.

– Heero? O que está fazendo? – Me perguntou em forma de sussurro.

– Eu disse que viria nessa viagem. Vigiaria ele e você. Mas não disse que me seguraria.

Sussurrei no ouvido dela e pude perceber como o corpo dela reagiu a mim. Pude ver a respiração dela se tornar mais agitada. Ela vestia uma saia, que ia até o meio da coxa dela. Passei levemente minha mão pela perna dela, enquanto a outra eu enlaçava nos cabelos dela.

– Heero? – Ela sussurrou mais uma vez.

– Se não quiser que alguém nos descubra, é melhor fazer silêncio!

Nossos rostos foram se aproximando. Quando nossos lábios estavam para se tocarem...

Senhores passageiros, por favor, apertem seus cintos e endireitem suas cadeiras, porque vamos pousar...

Graças o anuncio da aeromoça, todos acordam e nós nos separamos bruscamente.

...Continua...