No corre-corre da minha vida profissional é fácil passar-se dias quase sem dar por conta e só quando percebi que não ia trabalhar nesse dia é que reparei que era véspera de natal.

Passei o dia a vegetar em casa. Da cama para o sofá, do sofá para o computador, do computador para o telemóvel e finalmente era noite. Como não há consoadas só para um, vi um filme, li um livro e programei deitar-me cedo.

Pelas 22 estava na caminha, como uma boa rapariga e adormeci.

Acordei com algo que bateu na minha janela. Meio assustada, meio ensonada, levantei-me para ver o que era. Será possível que algo tivesse sido projectado à altura de um quarto andar?

Enquanto examinava o vidro, reparei em algo que brilhava no parapeito. Abri a janela para ver melhor e foi com espanto que encontrei um estojo de veludo preto com um laço dourado. Preso ao laço um cartão.

Mesmo ensonada olhei em volta à procura dele. Mais ninguém poderia colocar um estojo aquela altura sem uma escada magirus!!! Não o vi em lado nenhum e estava a gelar.

Fechei a janela e sentei-me na cama. O cartão preto e vermelho tinha apenas uma palavra: ERIC. Abri o estojo e lá dentro estava um relógio de mulher da marca Bulgari!!!!

É desta que vou à falência se tiver que comprar uma prenda equivalente para ele, pensei e sorri. Na realidade estava feliz, era um bonito gesto da parte dele, não tanto pelo valor astronómico da prenda mas pela simplicidade como a entregou. O jogo continua, pensei e resolvi alinhar com ele. Oh que raio, o que pior me pode acontecer? Morrer? Pois.

Pensei se ele estaria já no Fangtasia. A que velocidade se desloca ele? Ele veio de carro ou será que veio a correr?

Liguei para lá. Quando atenderam, disse o meu nome e pedi para falar com ele.

 Disseram-me que não estava. Pedi para deixar recado para que ele me telefonasse se ainda passasse por lá aquela noite.

Desliguei e fui fumar um cigarro à cozinha. Estava demasiado alerta para dormir. Depois fui até à sala, deitei-me no sofá, liguei a tv e ao ar condicionado. Estava um frio de rachar. Nada me garantia que ele me ligasse de volta mas resolvi esperar pelo menos uma hora antes de tentar dormir. Com o calor e as luzes da TV comecei a ficar sonolenta e acabei por adormecer sem esforço ao fim de uns minutos. Voltei a acordar com o toque do meu telemóvel. Fiquei automaticamente alerta. Vi o número e era de um telemóvel. Atendi excitada.

 - Sim?

 - Querias falar comigo coração? – A voz dele era divertida e provocadora

 - Queria, quer dizer, quero! Quero agradecer-te a prenda que deixaste no parapeito da minha janela.

 - E queres agradecer-me como?

Oh bolas!

 - De certeza que não estás a propor-me sexo em troca do relógio! Se assim é, podes vir busca-lo!

 - Não! Não precisas pagar com o corpo pelo relógio. É uma prenda para ti, afinal podias tê-la comprado com os 50.000 euros do Mário mas como foste burra…

 - Eric, por favor! Tens um gesto simpático e tens que estragar tudo logo de seguida?

Ele riu-se alto.

 - Bom, disse ele, se não querias falar comigo para me chamar para a tua cama, vou-te deixar ir dormir.

 - Eric?

 - Diz.

 - Tu queres tanto assim fazer sexo comigo?

 - Sim!

 - Porquê?

 - Porquê???? – Desatou a rir outra vez – Dás-me tesão!

 - E dás relógios Bulgari a todas as mulheres que te dão tesão?

 - Não mas, há muito tempo que não dava o meu sangue a um humano e acho que não estou habituado a sentir tanta coisa. Talvez estejas a perturbar-me em demasia e devesse acabar com isto.

 - Deduzo que acabar com isto, significa, acabar com a minha vida?

 - Deduzes bem. E voltou a rir às gargalhadas

 - Olha que bom, é sempre saber que continua a haver quem me queira morta!

 - Não tenhas medo coração. Nunca te matarei antes de teres fodido comigo!!

Eu podia sentir que ele estava realmente divertido e era uma boa sensação. As provocações dele já não me ofendiam e até conseguia rir com ele.

Acabamos por ficar a falar ao telemóvel mais um bom bocado. Falamos de coisas divertidas, comparei-o com o pai natal mas sem a barriga e sem a barba e foi bom falar com ele como pessoas normais. Estava sem sono e a voz sexy dele ao telemóvel era como uma carícia quente pelo meu corpo.

Não pensei em precipícios, nem nada que o valha. Fui apenas eu e apenas ele numa conversa de amigos, de amigos que querem ser mais que amigos.

Finalmente ele disse-me que tinha muitos assuntos para tratar ainda nessa noite e eu despedi-me dele.

Antes de desligar disse-me:

 - Estou a cumprir aquilo que me pediste. Não te estou a forçar a nada. Quando me quiseres….chama-me!

 - Chamo-te? Ou telefono-te? – Perguntei divertida

 - Chama-me! Sabes que eu posso sentir-te! E desligou o telefone

E quase que entrei em combustão espontânea.