Mutação Oculta escrita por Athenaie


Capítulo 29
Capítulo 29




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Começava a pensar que não ia aguentar a espera. Dias e noites pensando no que nos estaria reservado. Se há algo que tem que nos acontecer que aconteça de uma vez sem a tortura da espera. Pelo menos, isso não tive que passar. Na mesma noite, o Eric foi visitado no Fangtasia por um membro da autoridade. Era um vampiro aparentemente de origem francesa, pelo menos era a língua em que ele se expressava. O Eric respondeu-lhe em francês também. Em quantas línguas, seria ele fluente? O meu francês não é lá grande coisa, dá para entender e pouco e mais.

Os dois fecharam-se no escritório e eu fiquei com a Pam, nervosa em último grau. Era tudo novidade e eu não sabia sequer o que esperar. Só me restava acalmar-me e aguardar que ele me contasse.

A Pam estava com um ar muito apreensivo e podia até ver uma leve ruga de expressão na sua testa. Eles podem não ter emoções humanas, mas tem emoções fortes no que concerne à sua própria espécie e existência. A Pam estava muito preocupada com o Eric, mesmo que não estivesse em frangalhos como eu.

Ao fim de uns longos 30 minutos, o francês saiu fazendo uma subtil vénia ao Eric. Ele podia estar para ser julgado mas ainda merecia o respeito dos seus inferiores hierárquicos.

 - Daqui a sete dias estará tudo resolvido! – Disse ele quando chegou ao pé de nós.

A audiência tinha sido marcada para dali a 7 dias, em Paris. Estariam presentes os responsáveis pelas diferentes áreas e um grupo de juízes composto por cinco elementos. Estariam ainda muitos vampiros e vampiras com posições inferiores na hierarquia, bem como o James que segundo informações do Pierre (O francês que acabava de sair) levava consigo uma testemunha chave para o caso. Quem era a testemunha não se sabia.

 - Quem é o juiz presidente? – Perguntou a Pam

 - A Elena – respondeu o Eric sem expressão

 - Não sei se nos é favorável ou não. – Afirmou a Pam

 - Quem é a Elena? – Perguntei

O Eric disse-me então que a Elena era o vampiro mais antigo que se conhecia. Pensava-se que tinha cerca de 3000 anos de idade e pela sua idade era muita vez chamada ao lugar de juiz presidente, em casos que envolvessem vampiros com elevados cargos na hierarquia. Extremamente forte e poderosa era impiedosa e implacável nas suas decisões. Apesar de o Júri ser constituído por mais quatro juízes seria a opinião dela que iria decidir tudo.

 - E achas que ela te será favorável?

 - Sempre tive uma relação cordial com a Elena com respeito mútuo entre ambos. Não vejo motivos para ela ser contra mim. É apenas os 15 minutos de fama do James, vais ver.

A Pam não parecia tão segura e eu não estava de certeza.

Nunca me passou pela cabeça fazer a pergunta óbvia, se eu estava convocada também para a audiência, ainda assim ele dissesse que eu não teria que ir e eu ter esse trabalho a convence-lo. É claro que eu vou. Se é para morrer que seja de uma vez e não depois caçada pelas esquinas como um animal.

Ele também pareceu nem querer começar essa discussão e talvez no fundo quisesse a minha companhia, pelo que rapidamente tratamos das viagens para Paris para dali a 6 dias. Iríamos na noite anterior à audiência.

Estávamos em Junho mas tremi de frio quando saímos do avião no aeroporto Charles de Gaulle próximo de Paris. Desta vez viajamos num voo comercial juntamente com cerca de 150 passageiros. A nossa comitiva era composta pelo Eric, eu, a Pam e mais 4 vampiros que trabalhavam para o Eric e que eu conhecia apenas de vista por nos cruzarmos no Fangtasia. Eles pareciam não apreciar a minha companhia na comitiva e não era hora de iniciar relações cordiais com os súbditos de Eric.

Os restantes passageiros pareceram não reparar nos vampiros, apesar de eles se deslocarem hoje em toda a sua glória vampírica. Todos vestidos de preto. O Eric estava deslumbrante, com uma roupa parecida com a que o actor Keanu Reeves vestia no filme Matrix nem excluído o casaco comprido até aos pés. O seu longo cabelo loiro estava preso num complicado rabo-de-cavalo e o cabelo muito alinhado junto à cabeça com o auxílio de gel. Os vampiros gostam de se vestir para impor uma determinada ideia e posição e o Eric estava vestido para a guerra de poder. Parecia que ninguém o poderia deter e derrubar.

Não estavam minimamente preocupados se davam nas vistas no aeroporto ou não e caminharam à sua velocidade normal que é muito mais do que um humano conseguiria acompanhar. Não fosse o sangue dele no meu organismo e teria que ter ido a correr atrás deles para os acompanhar.

À saída do aeroporto dois Mercedes de cor preta e topo de gama aguardavam-nos com motoristas particulares que nos levaram para o hotel situado no centro de Paris, com vista directa para a Torre Eiffel. Era um hotel misto, para vampiros e humanos. Tinha pisos diferentes para as diferentes necessidades dos seus clientes. A decoração era uma mistura de diferentes culturas e estava obviamente talhado para receber qualquer tipo de hóspede, independentemente do horário ou alimentação do mesmo.

O meu quarto e do Eric tinha uma vista maravilhosa para a Torre Eiffel a qual podíamos admirar à noite. Quando se aproximava o nascer do sol, um mecanismo automático encerrava todas as janelas e portas do piso para que nenhuma luz penetrasse no piso, nem outros hospedes que pudessem incomodar o sono dos imortais.

Apesar do frio da noite, fiquei uns minutos a admirar a vista enquanto bebia um copo de vinho branco gelado que tirei do frigobar. Apesar de já ter viajado muito em trabalho e em férias havia dois países que sempre pensei em visitar e ainda não tinha havido oportunidade. A França e a Itália. Estava agora ali a admirar a paisagem em toda a sua glória e não era numa viagem que me permitisse sentir-me feliz. Não era assim que eu gostava de estar a visitar a cidade da luz.

Conseguia sentir as emoções do Eric cada vez mais fortes. Estava apreensivo à sua boa maneira vampírica, que obviamente nada tem a ver com o nosso estado de apreensão. Os vampiros sentem quase tudo com menos força do que nós, seja medo, dor, apreensão ou preocupação. Ou melhor talvez sintam com a mesma intensidade que nós apenas não se desesperam como os humanos. Enfrentam o perigo como arvores enormes a enfrentar os ventos fortes de um furacão. Podem vergar e até partir mas enfrentam de pé e com coragem. Era o Eric vampiro com mais de 1130 anos que eu tinha agora na minha frente. O seu olhar era gelado, os seus movimentos quase inexistentes. A sua cabeça bem levantada e altiva demonstrando claramente que ele é um ser superior e todos os outros devem curvar-se à sua passagem. Talvez nem toda a sua postura seja apenas do seu lado vampiro. Ele foi um príncipe viking. Um guerreiro vitorioso em muitas batalhas. Tinha enfrentado a morte, muitas e muitas vezes antes da transformação. Foi educado a aceitar a morte mas não abdicar do seu trono sem luta. Era assim entre os de sangue azul.

Ele veio juntar-se a mim à janela. Segurou-me pela cintura e com os seus lindos olhos azuis olhou-me longa e profundamente.

 - Não será a última vez que, vemos a torre Eiffel juntos! – Disse muito sério e altivo

 - Seja o que for – respondi – e como for, não tenho arrependimentos!

 - És valente – e sorriu antes de me beijar.

Já que podemos estar perante as nossas últimas horas de vida, o melhor é aproveitar o tempo que nos resta e aproveitamos inclusive depois de o sol nascer.

 - Pensei que adormecias sempre após o nascer do sol – disse-lhe, abraçada a ele na cama do hotel.

 - Tanto quanto tu adormeces à noite. Posso passar uns quantos dias sem dormir antes de começar a ficar fraco.

 - Ainda bem. Não encontro melhor forma de passar as ultimas horas da nossa vida, do que aqui, contigo.

Ele não respondeu e foi uma prova que não queria continuar a mentir-me. Havia uma grande probabilidade daquelas serem mesmo as nossas últimas horas e ele achou que eu merecia a verdade. Não há maior prova do respeito que ele tem por mim do que deixar-me enfrentar a verdade sem mascaras. Ele considera-me como igual e não como um ser inferior que é demasiado frágil e deve ser protegido. Senti-me também uma guerreira viking antes da batalha. A Vitória ou a morte.


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