Mutação Oculta escrita por Athenaie


Capítulo 27
Capítulo 27




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A vida correu sobre rodas nos meses seguintes. O trabalho era interessante. A minha vida familiar também. Não estava afastada também dos humanos. Agora com um horário de trabalho que começava depois da hora do almoço tinha tempo para socializar com os meus amigos. Aos fins-de-semana havia sempre dois ou três que passavam pelo Fangtasia para me ver e beber um copo. Aos poucos o bar passou a ser um ponto de encontro das pessoas que me eram próximas e estava decididamente na moda ser cliente do Fangtasia.

Sentia-me feliz todos os dias. Os humanos tinham aceitado a minha relação finalmente, pelo menos aqueles que importava. Já não havia questões, nem medos, nem receios. O Eric era o homem com quem eu partilhava a vida e as questões de espécies foram decididamente encerradas. Vivíamos juntos, eu geria parte do seu império, estava feliz, era humana (pelo menos uma parte). Tudo estava onde devia estar.

A meio do mês de Maio que já começava a ficar bem quente, a Leonor foi mãe pela segunda vez. Teve uma menina de seu nome Magda e eu fui vê-la à maternidade e levar a prendinha da praxe.

Estavam lá praticamente todos os nossos amigos em comum. Fomos conhecer a Magda e dar parabéns aos papás e acabamos num café em frente a pôr a fofoca em dia. A maioria via regularmente mas o André, vindo recentemente da Alemanha, havia cinco anos que não o via.

Acabei por ficar a falar mais com ele do que com o resto, já que os restantes eu tinha visto muitas vezes ao longo dos últimos anos.

Eu e o André em tempos tivemos um caso e eu gostava muito dele, claro que agora como amigo mas continuava a nutrir um grande carinho por ele.

Ele sabia muito da minha vida, estava bem actualizado e ao contrário do que eu esperava não me colocou nenhuma das perguntas que os restantes me tinham colocado ao longo do último ano, excepto uma que eu não esperava.

 - Não tens pena de nunca vires a ser mãe?

Foi quase como me espetar uma faca e roda-la. Não que eu ambicionasse ser mãe mas ele foi tocar no único ponto que eu também sabia que havia de ser sempre a nossa diferença em relação aos outros casais. Isso e vivermos para sempre!

No entanto não era apenas pelo facto de que o homem da minha vida não poderia procriar comigo que eu não teria um filho. Com este ADN marado quem se atreveria a arriscar? Que género de ADN passaria eu adiante?

Portanto não era apenas pelo Eric que eu não pensava em semelhante coisa, também pelo que eu sou. Daí a alguém me atirar isso à cara ia uma grande distância.

Acabei por lhe dizer que não, que não tinha nenhum arrependimento por não ir ter filhos. A vida era como era e esse não era decididamente o meu destino.

O André ficou a olhar para mim com um olhar triste. Por fim surpreendeu-me outra vez:

 - Alex, eu ainda te amo. Deixa esse…..essa pessoa com quem estás agora e volta para mim. Juntos, poderemos ter uma vida normal e comigo poderás ser mãe!

Mesmo com o meu raciocínio rápido dos últimos tempos, precisei de alguns segundos para me recompor. Não fazia ideia que o André ainda sentia alguma coisa por mim e assim do nada fazer-me uma proposta deste calibre é coisa para deixar qualquer uma com falta de ar.

Quereria eu ter um companheiro normal? Uma família normal? Uma vida normal longe de todos estes perigos, mortes, sangue e capacidades sobre-humanas?

Haveria a estranha hipótese que eu me aproximei do Eric por apenas não ter encontrado um humano que me compreendesse?

Não. Uma certeza que eu já tinha em mim aflorou com toda a sua força do interior do meu ser. Eu não me aproximei do Eric por estar sozinha. Eu era diferente. Havia tantas provas disso. Aquela sensação de deslocamento em relação aos outros. A forma de pensar em relação a tantos assuntos. A sensação sempre presente que faltava qualquer coisa na minha vida, que algo estava reservado para mim e que eu tinha receio que nunca acontecesse. As minhas relações e namoros que acabaram sempre sem razão aparente. Eu não estava presente ou não queria estar presente? Eu era humana mas não era igual aos outros humanos. O meu lugar não é junto dos humanos, nem junto dos imortais. O meu lugar era apenas ao lado do Eric pois ele é o único que partilha comigo uma espécie de lugar especial entre os dois mundos.

 É triste magoar alguém, ainda para mais quando se sente um carinho especial por ela mas não havia outra hipótese senão ser verdadeira e honesta com o André. Não podia haver dúvidas e nisto de acabar com as esperanças de alguém a melhor forma é faze-lo de repente, como quem arranca um dente.

Assim, disse-lhe que não, que não queria uma vida normal, um humano ou filhos. O que eu queria já tinha e era o Eric.

 - Lamento! – Disse-lhe

Ele estava profundamente magoado mas acabou por dizer:

 - Eu já sabia que me dirias que não, por aquilo que sempre me contaram da tua relação com ele mas compreende que tinha que tentar.

 - Fizeste bem – disse-lhe – Nada pior do que não tentar e ficar o resto da vida a pensar nisso. Quando se tenta e falha, pode não ser isento de dor mas fica o assunto resolvido e não há ‘’ses’’ a aflorar à mente.

Quando regressei ao trabalho, pois tinha ainda uma reunião importante, pensei que apesar de tudo tinha sido bom reencontrar o André. Por ele que pode seguir a sua vida sem ficar a pensar em mim e por mim que tive a certeza que o Eric não era apenas o homem que eu amo, mas a única criatura com quem eu me sinto completa ao fim de quase 35 anos de existência. Tantas vezes que pensei que era estranha a paz que ele me transmitia. Era a paz de encontrar a nossa alma-gémea mesmo que fossemos seres diferentes!


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