Mutação Oculta escrita por Athenaie


Capítulo 24
Capítulo 24




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Passaram dias e semanas. O Mês de Dezembro ia já longo e ainda não tinha tido notícias do Mário e sentia-me presa. De casa para o bar, onde eventualmente o Eric acabou por me dar algo para fazer para eu me sentir útil. Criei uma página no facebook do bar que actualizava com fotos das festas e fazia publicidade a eventos. Tenho capacidade para gerir muito mais mas também não andava com cabeça para isso. Não era a melhor altura para investir em gerir o império dele. Alguns amigos apareciam no bar para me ver e sempre dava para desanuviar um pouco daquela espera insuportável.

Depois do bar para casa e dormir. O Eric sentia-me a definhar e tentava alegrar-me como podia. Quando eu estava no daqueles dias (ou melhor noites) em que me sentia profundamente infeliz, quando chegamos a casa o Eric sentou-me no sofá. Pediu para eu fechar os olhos. Fiz-lhe a vontade.

Quando ele disse que podia abri-los tinha na mão uma caixinha de veludo preta daquelas onde se costuma oferecer anéis. Olhei para ele com desconfiança. Não era a melhor altura para ele se sair com um pedido de casamento ou algo que o valha.

 - Abre, disse ele

Abri e lá dentro estava um magnífico anel. Era como uma aliança larga, em ouro branco, toda cravejada de diamantes à sua volta. Era realmente algo impressionante e tentei pelo menos ficar alegre pelo gesto.

 - Isto tem algum significado especial? – Perguntei-lhe

 - Tem, apeteceu-me alegrar-te e mostrar-te que te amo.

 - Só isso? – Era obvio que lhe estava a perguntar se aquilo significava algum pedido de casamento ou outro tipo qualquer de compromisso

 - Podia ser isso que estás a pensar mas sei que agora não andas com cabeça e não quero correr o risco de me fazeres engolir o anel. Assim sendo e para já, é apenas uma prenda e um sinal do meu apreço por ti.

Nunca fui mulher de chorar mas fiquei comovida com a atitude dele. É verdade que ele tem forma de saber os meus sentimentos, o que é uma vantagem mas a forma que ele escolhe lidar com o que sinto é sempre a forma certa. Meter mais um assunto na minha cabeça era algo que eu não precisava e ele tinha isso em conta. Quis alegrar-me apenas.

Coloquei o anel no dedo anelar da mão direita, já que é na esquerda que costuma significar um tipo de compromisso. Era lindo não havia duvida.

 - Obrigado Eric. Tu tens sempre a atitude certa na hora certa. Tenho que te dar esse crédito.

Ele sorriu e beijou-me na testa e deixou-me por uns minutos a sós com a minha prenda nova.

Quando voltou, fez-me um pedido diferente.

 - Posso morder-te?

Ele mordia-me sempre no sexo mas assim a propósito de nada, era a primeira vez que mo pedia.

 - Tens fome? – Saiu-me

 - Não. Mas gostava de beber-te sem ser no sexo. Confias em mim a esse ponto?

 Confiar, confiava mas parecia estranho. Não sabia bem o que sentir acerca disso. Ele sentiu a minha indecisão

 - Deixa, disse ele

 - Não, espera, estava a pensar. Há algum motivo especial para o fazer?

 - Quero sentir o teu gosto na minha boca e o teu sangue no interior do meu corpo sem ser em êxtase de prazer. Quero sentir esse prazer sem outro que me deturpe os sentimentos.

Podia ser estranho mas mal não havia de fazer. Ele nunca beberia mais do que a conta e afinal não é algo que me custe tanto fazer. Dói quando as presas perfuram mas logo depois há um alívio da boca dele que adormece a dor. Também faz parte das relações fazermos algo pelo outro só pelo prazer de o deixar feliz, desde que não seja algo a que sejamos completamente adversos

 - Pode ser – disse-lhe eu

Recostei-me no sofá, virei o pescoço para ele e fechei os olhos. Ele encostou os lábios ao meu pescoço, beijou-me carinhosamente e cravou as presas.

Abri a boca com a dor mas logo em seguida senti a dormência que a boca dele quente pelo meu sangue provocava. Relaxei e fixei-me em sentir os sentimentos dele.

Ele estava possuído por uma adrenalina imensa. À medida que engolia o meu sangue era como se todo o corpo dele entrasse em ebulição. Era como se eu lhe tivesse a dar vida e no fundo estava. Era uma sensação dúbia. Por um lado era um predador a alimentar-se de mim, por outro o amor dele por mim era inquestionável. E em menos de nada, ele parou de engolir e passou a língua pelas feridas para estancar o sangue. Afastou-se do meu pescoço e eu olhei para ele. Os lábios dele estavam vermelhos do meu sangue. Os olhos dele brilhavam e todo ele era vida. Sentia-se invadido por uma felicidade imensa, tanta que ele tinha dificuldade em gerir. Com a boca ainda vermelha do meu sangue beijou-me eu senti o meu próprio gosto. E desta vez começamos do fim!

Ele estava com a cabeça deitada no meu colo e eu entretida a mexer-lhe no cabelo.

 - Posso perguntar-te porque foi realmente que quiseste beber o meu sangue?

 - Está para breve eu ter que fazer algo que vai contra toda a minha essência!

 - Que é? – Perguntei-lhe

 - Deixar que te ponhas em perigo!

 - Nada me vai acontecer – assegurei-lhe

 - Não sei, não gosto da sensação e luto todos os dias contra a ideia de te impedir de o fazer pela força. Se algo te acontece como achas que eu vou-me sentir? Como achas que eu vou viver sem ti?

Isto era profundo demais, ainda para mais para ele. O Eric nunca pôs em causa a sua vida por ninguém.

 - Estavas a despedir-te de mim? – Brinquei tentando desanuviar a conversa

 - Não! O plano não era esse, confesso!

Puxei-lhe o cabelo com força

 - Pensaste em transformar-me? Como te atreveste? Deste-me a tua palavra! Eu confiei em ti!

 - Desculpa. Não lido bem com isto de te deixar ir de livre vontade ao encontro da morte. Não consigo aceitar a situação e se fosses como eu estarias livre de toda esta perseguição e serias forte o suficiente para te defender sozinha. No entanto tu confiaste em mim cegamente e eu amo-te como és e não fui, nem sou capaz. Não quero que sejas igual a mim. Quero-te quente e viva. Quero ouvir o teu coração e a tua respiração. Quero sentir para sempre o gosto do teu sangue e a forma humana como fazes amor comigo. Lamento ter pensado sequer nisso mas é óbvio para mim agora que não o conseguirei fazer contra a tua vontade.

E até aí não tinha tido noção do quanto estava a ser difícil para ele respeitar as minhas ideias e quando ele estava a sofrer para se mostrar respeitador daquilo que eu queria. Era obvio que era demais para ele. Um ser habituado a destruir os inimigos num piscar de olhos via agora a mulher que ama a entregar-se de bandeja aos inimigos (mesmo que tudo fosse um plano) e ele não poderia fazer nada para a proteger.

Quase que mudei de ideias e aceitei que ele resolvesse o problema da forma que entendesse mas havia algo em mim que também ambicionava ver cair os inimigos e esse meu lado negro falava mais alto.


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