The Cullens escrita por Nina Guglielmelli, mulleriana


Capítulo 31
Despedida




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Cruzei as pernas no sofá, simplesmente para trocá-las de posição quando cansaram. Um de meus livros favoritos descansava em meu colo, com o marcador ainda em seus primeiros capítulos. Ainda assim, cada nota prendia completamente minha atenção. Era uma manhã de sábado; passara uma semana desde que conversara com Carlisle e tivera o pesadelo que eu me recusava a lembrar. Esqueci toda a idéia de gravidez e nem mesmo toquei no assunto.
Sorria sozinha enquanto observava Edward ao piano, tocando uma música que não reconheci. Ele girou um pouco o tronco e sorriu, esticando uma das mãos em minha direção. Deixei o livro no sofá e me aproximei. Edward me puxou para que sentasse em uma de suas coxas, e então repousou minhas mãos sob o teclado.
- Vai me dar aulas? – Perguntei.
Ele abaixou suas mãos, e agora só meus dedos acariciavam as teclas, sem apertá-las.
- Gostaria? – Ele perguntou de volta. Vi pelo canto dos olhos que sorria.
Assenti, simplesmente. Ele se mexeu embaixo de mim, arrumando-se no banco.
- Está vendo as notas pretas? Elas formam pares e trios, sempre alternados, na mesma seqüência. A nota branca antes de um par será sempre um Dó. As notas pretas podem ser bemóis ou sustenidos, dependendo da nota branca a quem se referem. Os pedais servem para prolongar, abafar e...
Edward continuou falando por um bom tempo, mas eu parei de ouvi-lo realmente. Me prendi ao seu rosto. Ele estava tão feliz, tão tranqüilo, que eu poderia gastar o dia todo ali, observando-o. De vez em quando me olhava e sorria, mas logo virava novamente para o piano, apontando cada centímetro dele para explicar como funcionava. Girei um pouco meu corpo e passei os braços em volta de seu pescoço, sorrindo abertamente quando ele riu.
Esperei que virasse novamente para colar nossos lábios. Demoramos para nos separar, mas não tanto quando eu queria.
- Amo você. – Ele sussurrou, afundando o rosto contra meu pescoço. Respirei fundo, abraçando-o com mais força e fechando meus olhos.
Teríamos permanecido ali por muito mais tempo. E, realmente, deveríamos.
O celular de Edward tocou. Eu me desvencilhei de seus braços – com dificuldade – e fui até o aparelho em cima da mesa. Número desconhecido. Dei os ombros e atendi, sentando outra vez em suas pernas.
- Alô? – Falei primeiro, sentindo os lábios de meu namorado percorrerem meu pescoço.
- Alô... Esse não é o número de Edward? – A voz do outro lado perguntou.
- É, sim. Eu...
- Ah, você é Bella! – A garota me cortou, sem emoção na voz. – Eu sou Irina.
Edward parou seus carinhos perto de minha orelha e ergueu a cabeça, confuso.
- É só que... Bem, é sobre Tanya.



                                                            ***


Entramos na sala de mãos dadas. Estava vazia, a não ser pelos bancos nas paredes, algumas flores nos cantos e o caixão ainda aberto.
Uma garota estava sentada, com o rosto apoiado nas mãos. Edward me soltou devagar e foi até ela, sentando ao seu lado e tocando suas costas. Ele ergueu-se e, após alguns segundos que levou para reconhecê-lo, o abraçou.
- Ela estava internada há um mês, mais ou menos. Pneumonia. – Murmurou. – Não achamos necessário dizer nada. Foi tão de repente...
Me aproximei do caixão enquanto Irina falava. Eu sabia o que me esperava mas, ainda assim, foi um choque. Tanya estava tranqüila; eu poderia afirmar que estava dormindo. Quem olhasse com atenção, perceberia que perdera cabelo em algumas partes da cabeça.
Senti uma mão envolver minha cintura, e não precisei virar o rosto para saber quem era. Uma lágrima involuntária escorregou por minha bochecha. Uma mão minha retribuiu seu abraço e envolveu seu quadril, enquanto a outra segurou sua camisa, próximo ao umbigo. Ele beijou minha cabeça, permanecendo em silêncio. Quando finalmente tomei coragem, ergui a cabeça para analisar Edward. Não demonstrava emoção nenhuma, mas, o que quer que estivesse sentindo, não era nada bom.
Poucas pessoas compareceram ao enterro. Eu duvidava quando Edward dizia que Tanya tinha poucos amigos, mas naquele momento vi que era verdade. Apesar disso, todos que acompanhavam o caixão pelos corredores do cemitério pareciam muito abalados. Eu não conseguia descrever o que se passava na mente de meu namorado, e isso me assustava. Deixá-lo sozinho com seus próprios pensamentos podia ser muito perigoso.
Permanecemos imóveis, em silêncio, até que o túmulo estava completamente fechado.
- Quer ir embora? – Sussurrei, olhando para seu rosto franzido. Seus olhos estavam presos em Irina, que colocava flores para a irmã. Ele assentiu, mas demorou para sair do lugar.



Aquele foi o fim de semana mais estranho pelo qual já passei, pelo menos desde que conhecera Edward. Mal nos falávamos. Podia até dizer que ele estava me evitando. Estávamos sempre ocupados com tarefas diferentes, em cômodos distantes, o que era muito estranho. Quando finalmente resolvia comer, deixava muito no prato – mesmo que eu tivesse feito sua comida favorita.
- Estou falando sério. O que está acontecendo? – Perguntei, sentada a sua frente na mesa de jantar. Ele forçou uma risada, balançando a cabeça.
- Estou bem, Bella. Mesmo. - E, mais uma vez, deixamos o assunto pra lá.
Estava cansada de insistir.
Na segunda-feira, estava de folga. Ele, não. Eu estava na sala quando chegou em casa; automaticamente me levantei, tentando evitar o clima ruim que nem mesmo sabia como começara.
- Espere. – Edward pediu. Virei e o vi ainda com a mão na porta. – Podemos conversar?
Hesitei, tentando entender seu tom de voz. Simplesmente assenti, ficando em pé perto do sofá. Edward fechou a porta, de costas pra mim. Fiquei olhando para ele, que demorou demais para soltar a maçaneta e me olhar. Quando finalmente o fez, sua expressão era sombria.


( Gravity – Sara Bareilles http://www.youtube.com/watch?v=nzKaOp8ES20 )


- O que houve? – Minha voz falhou ao final da frase.
Ele colocou as mãos nos bolsos da calça social, andando até mim sem pressa. Parecia muito pensativo. Suspirou, dando mais alguns passos incertos, até finalmente ficar em pé a minha frente. Era impossível definir o quão triste estava.
- Eu aceitei a proposta de Aro. Com a condição, e tudo o mais.
- Isso... É bom, amor. Se acha que é o certo... Vai ser muito bom pra você.
Sorri, mas só um pouquinho. Percebi que estava evitando meu olhar, e senti vontade de chorar.
- Irei embora de Forks. – Ele completou.
- É... É claro. Não pode querer uma grande carreira nesse fim de mundo. – Ri sem humor algum, tomando coragem para me aproximar e abraçar seu quadril. – E... Pra onde iremos?
Ele encarou a parede atrás de mim por um bom tempo. Não demonstrava mais nenhuma emoção, e também não retribuiu meu abraço.
- Edward?
Ele respirou fundo, antes de finalmente me olhar.
- Irei embora de Forks. – Repetiu. – Eu.
- O... O que? - Eu já havia entendido; só me recusava a acreditar. – O que isso significa? – Me soltei dele, encarando seu rosto com seriedade. – Pensei que estávamos bem. Pensei que... – Bufei. – Edward, por favor. Já passamos dessa fase. Estamos morando juntos há 5 meses, e isso...
- Isso foi uma grande besteira. – Ele me cortou, sombrio. – É tão difícil perceber?
Não consegui responder, e era isso o que ele provavelmente queria, porque esperou antes de continuar. Balançou a cabeça, negando, e respirou fundo.
- Bella, o que aconteceu com Tanya não é nada diferente do que acontecerá comigo.
- Do que está falando? – Franzi a testa, indignada. – Ela desistiu do tratamento há 1 ano!
- E eu, não. Mas só estou retardando o óbvio. – Sua voz não tinha vida.
Neguei com um movimento de cabeça freneticamente.
- Não vou a lugar nenhum. – Retruquei.
- Sei que não. Eu vou. Você pode ficar, continuar trabalhando aqui. Ou não. Não sei. Siga com sua vida. Eu vou fazer o que amo ao menos por algum tempo. Vou parar de pensar no futuro. Não se preocupe. – Ele sorriu, mas não vi nem um pingo de alegria. – Não vou parar de me cuidar. Ainda existem algumas coisas que quero fazer. Mas, quando chegar a hora... Quero ter certeza de que não mantive nenhum laço com ninguém.
Levei uma mão a boca, desabando.
- Edward... – Tentei dizer em meio às lagrimas.
- Você se lembra de Irina? De como estava triste? E nem mesmo era muito próxima de sua irmã. Ela era a única lá que estava realmente sofrendo. – As lágrimas que ele soltava eram silenciosas, ao contrário das minhas. – Eu não consigo suportar a idéia de que um dia seria eu, e você estaria chorando naquele banco.
Cessei meu choro por alguns segundos, finalmente entendendo o que se passava em sua cabeça. Ele estava intercedendo por mim, para que não sofresse com sua perda. Ele realmente acreditava que nos separar valeria mais a pena.
Não podia ser verdade. Não era.
 “A verdade, Bella...” – disse Tanya certa vez – “é que ele precisa de você. Não o abandone. Ele vai pedir que faça isso, ele vai acreditar que isso é melhor pra você, mas não o faça.”
Eu me joguei em cima de Edward, passando as mãos por seu rosto e esparramando suas lágrimas, sem querer.
- Por favor, não faça isso. Por favor. Olha pra mim! – Segurei seu rosto entre minhas mãos. Ele agora chorava ainda mais, a ponto de soluçar, o que não era muito diferente de mim. - Você não quer viver o agora? Não é isso que quer? Parar de pensar no futuro? Então façamos isso! Vamos viver o agora. Juntos, eu e você!
- Acha que eu não quero isso? Acha que não a amo o suficiente pra querer passar todos os segundos que me restam ao seu lado?
- ENTÃO PARE DE FUGIR DISSO! – As lágrimas mal me deixavam enxergá-lo.
- EU NÃO POSSO! Eu estou pensando em você. Não vê? Eu estou abrindo mão de você, para que não sofra. É a coisa mais difícil que vou fazer, mas é o certo. Eu não posso imaginá-la sofrendo. Me dói demais. Por favor, Bella, entenda... Por favor...
Fechei os olhos com força e colei nossos lábios. Ele não se desvencilhou.
- Por favor... Eu te amo. – Murmurei contra sua boca. – Fique.
Edward manteve as mãos o tempo todo nas laterais do corpo, evitando me abraçar. Permanecemos ali, ainda chorando, ainda trocando alguns selinhos e carinhos com nossos rostos próximos. Mas ele não me tocara, em momento algum.
Eu agarrei seu pescoço, esperando pelo momento em que ele ia me soltar e sair pela porta da frente. Ao invés disso, Edward abaixou as mãos e pegou minhas pernas, passando ambas em volta de seu quadril. Fui carregada em direção ao quarto enquanto trocávamos um beijo urgente. Eu entendi, pela maneira com que me segurava e me tocava, que aquilo era uma despedida. E ali, debaixo do cobertor impregnado com seu cheiro, nos amamos pelo que eu não podia acreditar ser a ultima vez.


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Notas finais do capítulo

Oi, é a Carol.
Algumas pessoas me perguntaram com que frequência eu costumo postar. Realmente, não tenho como dizer. Durante as aulas é impossível dar certeza de quando vou ter tempo para escrever, e agora, mesmo estando de férias, quero deixar esse final perfeito. Ou eu enrolo demais pra deixar tudo bonitinho, ou fico muito mal e deixo pra outra hora.

Podem acreditar, a partida do Edward está sendo tão triste pra mim quanto pra vocês, mesmo que eu já saiba como essa história vai acabar.
Por favor, não me matem.