Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 19
As quedas


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Se alguém olhasse pela janela naquela noite só veriam um borrão preto e um vermelho passando pela rua em alta velocidade. O borrão preto era eu.

Acelerei a moto ao máximo. Estava á mais de 220 km/h, mas a adrenalina estava me envolvendo tanto que a única coisa que eu conseguia fazer era acelerar mais e mais. Eu sei, eu sei... Era uma coisa irresponsável, perigosa, e completamente insana, mas no momento eu era fisicamente incapaz de parar.

“Diminua a velocidade!” Berrou Ares logo atrás de mim. “Agora mesmo!

“Nem pensar!” Respondi.

Ele jogou a moto para a direita e estávamos lado a lado. Nós fizemos inúmeros movimentos. Eu tentando evitá-lo e ele querendo me alcançar.

“Pare!” Exclamou ele ao meu lado, mas ficando um pouco para trás.

“O que?! Logo na parte divertida?” Perguntei sorrindo.

Eu acelerei mais ainda e ele ficou para trás. Na minha frente tinha uma curva. Pelo retrovisor eu pude ver a cara de pânico de Ares ao ver a curva.

Eu joguei a moto de lado. Consegui passar pela curva por um fio. Fiquei tão perto do chão quando inclinei a moto, que o meu braço arrastou no asfalto. Mas não ficou muito tempo, pois logo depois eu puxei a moto para a posição normal. Foi um milagre eu não ter caído no chão.

“Wooow!” Exclamei feliz e cheia de adrenalina.

Continuei em alta velocidade pela rua. Não queria parar por nada naquele mundo. Mas foi aí que Ares me alcançou. Sua moto empurrou a minha para o lado, e depois se afastou um pouco. A Harley roncava alto.

“Já chega! Você para aqui!” Exigiu ele.

Talvez fosse a adrenalina correndo pelas minhas veias, mas eu acho que notei uma pontada de preocupação na voz dele.

“Não mesmo!” Protestei. “Você não manda em mim!”

“Mando sim!” Disse ele.

Sua moto se aproximou da minha o suficiente para ele apertar as minhas mãos que seguravam o controle da moto.

“Desacelera ou eu quebro as suas mãos!” Ameaçou ele por cima do barulho da moto.

“Não!” Reclamei. “Me solta!”

Ele e eu começamos a brigar pelo controle da moto. Estávamos tão envolvidos nisso, que nenhum dos dois viu o quebra molas logo na nossa frente.

Quando Ares olhou para frente já era tarde. Se ele tivesse olhos achou que eles estariam arregalados. Sei disso porque os meus estavam.

As nossas motos foram lançadas para o ar. Nós dois ainda estávamos sentados nela enquanto o vento batia cada vez mais forte. Ele soltou alguns palavrões, mas eu estava chocada demais para dizer qualquer coisa.

De repente vi que Ares tinha largado o seu corpo da moto dele. Eu pisquei algumas vezes. Tudo estava acontecendo em câmera lenta para mim. Ao vê-lo fazer isso, eu também me soltei. As motos passaram por cima das nossas cabeças.

Nós cairíamos no chão a qualquer momento. Eu sabia que tinha que fazer alguma coisa. Por instinto eu agarrei a jaqueta de couro dele com força. Fechei os olhos e esperei o impacto.

Ares fez um movimento repentino. Eu estava em cima dele. As costas do Deus da guerra atingiram o chão, e ele se jogou encima de mim. Depois eu encima dele, e nós rolamos, e rolamos por causa da velocidade.

 Quando finalmente paramos eu abri os olhos. Não sentia nenhum osso quebrado. Meu queixo estava encima de alguma coisa alta. Primeiro pensei que fosse algum monte de terra, mas então vi que era a barriga de Ares.

Com muita dificuldade eu sai de cima dele. Fiquei sentada na grama ao seu lado procurando as motos. A moto dele tinha caído á alguns metros dali. A minha tinha atingido um poste.

Ela começou a pegar fogo, e eu soube o que aconteceria.

“Cuidado!” Exclamei afundando meu rosto em sua barriga novamente.

A moto explodiu e milhares de pedaços voaram por cima de nós. Quando julgei seguro eu levantei minha cabeça de leve para ver o rosto de Ares. Ele ainda estava um pouco atordoado, mas quando encontrou meu olhar ele voltou a si.

“Saia de cima de mim, filhinha de Hermes.” Disse ele.

Eu ia me levantar, mas ele me empurrou com a mão e eu cai de costas na grama. Meu cabelo agora era uma mistura de castanho claro com tufos verdes. Respirei fundo, e me pus sentada. Podia ver que Ares tinha feito o mesmo.

Acho que ainda tinha sobrado um pouco de adrenalina em mim, pois uma frase acabou escapando da minha boca.

“Uhul!” Exclamei. “Essa foi a corrida mais emocionante de toda a minha vida! Topa uma outra até a nossa casa?”

Ele ficou sentado e me fuzilou com o olhar.

“Você deixou o seu cérebro na moto, por acaso?!” Exclamou. “Você ia morrer, sua tonta!”

Eu pisquei os olhos. Voltei ao normal quando ele me lembrou que aquilo foi uma loucura.

“E você liga desde quando?” Perguntei.

Ele ia dizer algo, mas engoliu.

“Eu não ligo. Por mim você pode morrer e ir para o Tartaro.” Falou ele irritado. “Mas só se for lutando. Se quer se matar espere 50 anos.”

“Eu não ia morrer. Meu pai é o Deus das corridas. Duvido que eu estivesse correndo perigo.” Falei me levantando. “E também... Isso só aconteceu porque você puxou o volante da moto de mim.”

“Está me culpando?!” Exclamou enfurecido se pondo de pé. “Escute aqui, Alice...!”

Ele segurou o meu braço e eu berrei de dor. Ele me soltou assustado.

“Eu nem fiz força, sua chorona.” Falou ele sem entender.

Eu olhei para o meu braço. Era o mesmo que tinha arrastado no chão naquela curva. Na hora não tinha doído, mas agora eu podia ver que eu tinha um machucado enorme que ia desde o meu pulso até o meu cotovelo.

O que mais me assustava é que ele estava completamente branco. Quando Ares segurou e soltou, ele foi ficando vermelho aos poucos e começou a sangrar.

“Ah...” Gemi. “Droga...”

Ares não sabia o que dizer.

“Viu só?” Perguntou ainda perplexo. “A culpa é toda sua! Se deixasse de ser covarde e não fugisse das brigas, não acabaria assim.”

“Essa foi a coisa mais estúpida que eu já ouvi!” Exclamei cheia de dor. “Na última briga que eu entrei quase perdi o pescoço!”

“Culpa sua de novo!” Repetiu ele.

“Não! A culpa é toda sua!” Protestei.

Ares avançou na minha direção. Não parecia que ele ia me matar ou coisa assim, mas antes que eu descobrisse o que ele iria fazer alguém me puxou.

“Ei, calma aí!” Falou uma voz.

Eu olhei para a minha frente. Lá estava Apolo. Ele ficou entre mim e Ares, para impedir que ele fizesse qualquer bobagem.

“Não se mete nisso, Apolo!” Rugiu ele.

“Você tem que aprender a esfriar a cabeça.” Disse Apolo sutilmente. “Acho que já teve diversão o suficiente para uma noite, não é?”

Ares bufou. Ele olhou para mim, depois para Apolo.

“Não vai proteger ela para sempre.” Ele estreitou os olhos.

“Ah, não é? E você...” Apolo parou subitamente e nós dois olhamos para ele. “Opa! Sinto um haicai.”

Ares pôs a mão na frente da testa querendo dizer: “Mas que idiota...” e apressou-se em falar.

“Ótimo. Divida o haicai com ela. Acho que depois de me fazer pagar a conta de todo mundo no bar, ela merece.”

Ares foi até a sua moto e sumiu na estrada.

Ele sai antes que Apolo pudesse falar o haicai. Ele se virou para mim.

“Meus haicais são tão ruins assim?” Perguntou incrédulo.

Eu revirei os olhos.

“Bem... Ahm... Ele só deve estar cansado, eu acho.” Falei. “Como eu.”

Apolo olhou para o meu braço. Podia sentir ele arder. Estava sangrando, e doendo ao mesmo tempo.

“Uh... Está péssimo.” Falou ele franzindo o cenho. “Mas não é nada que o Deus da medicina não possa dar um jeito.”

Eu pisquei os olhos.

“Você é o Deus da medicina?” Perguntei. “Eu não sabia disso.”

Ele sorriu.

“Vai ficar impressionada.” Falou ele.

Ele passou a mão sobre o meu braço. Ele ardeu bastante, mas eu me contive ao máximo para não gritar, nem gemer. Apolo começou a cantar alguma coisa em grego eu acho, e o meu machucado começou a se fechar. Em poucos minutos não tinha mais nada ali. Era o meu braço perfeitamente normal de novo.

“Nossa... Como foi que você?” Perguntei.

“Acho que você sabe como.” Ele riu.

Ele era um Deus. Claro. Dããã!

“Ah... Legal.” Eu olhei em volta. “Ahm... Acho que eu vou andando e...”

“O que? Não mesmo.” Falou ele. “Eu te levo até em casa. Nós ainda estamos um pouco longe. E tenho certeza de que se você chegar sozinha, Ares vai te incomodar de novo.”

“Pois é. Então vamos andando...” Antes de eu poder acabar a frase, Apolo me segurou as minhas pernas e as minhas costas de um jeito que pudesse me carregar. “O que... Está fazendo? Me põem no chão. Eu não quero dar trabalho para você.”

“Não é trabalho nenhum. Para a minha força, você é extremamente leve.” Ele falou sorrindo.

“Mas... Eu posso andar. Você não precisa...!” Tentei protestar, mas ele não quis ouvir.

“Feche os olhos. Eu vou nos transportar para a sua casa. Isso pode deixá-la um pouco tonta.” Alertou ele.

Eu fechei os olhos. Por uns instantes eu senti tudo girar.

“Agora pode abrir.” Informou.

Eu abri os olhos, e lá estávamos nós. Em pé no meio da minha sala. Ele me pôs no chão e eu tentei ficar parada. Ainda sentia a minha casa girar...

“Quer que eu te leve para cima? Acho que está um pouco tonta ainda.” Ele sugeriu.

“Não... Não precisa... Eu... Eu consigo.” Eu tentei dar um passo, mas acabei caindo encima dele. Ele me segurou.

“Ei! Calma! Viu só? É melhor eu te ajudar.” Ele me segurou no colo novamente e começou a subir as escadas.

Pude sentir o meu rosto ir ficando vermelho a cada degrau que nós subíamos, mas tentei fazer com que ele não notasse. Quando a escada acabou ele me pôs em pé novamente.

“Ok. Agora acho que está melhor, não é?” Sorriu ele.

“Sim... Obrigada Apo- Ah!” Essa “Ah” fui eu tentando andar até a porta e tropeçando nos meus próprios pés.

Eu tentei me segurar na camisa de Apolo, mas a porta do meu quarto se abriu e de algum jeito... Nós dois caímos no chão. Eu encima dele.

“Desculpa... Eu não...!” Tentei falar com certa vergonha, mas ele me interrompeu.

“Não faz mal.” Falou ele.

Eu tentei me levantar, mas a minha mão que estava segurando o peso do meu corpo escorregou, me fazendo cair novamente. Só que dessa vez... Nós ficamos realmente próximos um do outro. Tanto que os meus lábios tocaram os dele.

Eu fiquei parada lá com os olhos abertos por alguns segundos. Apolo fechou os olhos dele. Eu separei nossos lábios devagar.

“Ah...” Não conseguia falar.

Ele abriu os olhos e olhou para mim. Podia sentir o meu rosto arder. Devia estar completamente vermelho, e a única coisa que eu conseguia fazer era olhá-lo.

“Não faz mal...” Repetiu ele só que um pouco mais baixo.

Eu pensei que ele fosse fazer alguma coisa, mas continuou lá imóvel. Quando do nada... Ele começou a rir.

Ele estreitou os olhos para mim de brincadeira.

“Ei... Isso foi de propósito por acaso?” Perguntou.

Fiquei mais vermelha ainda.

“O que?! Não! Claro que... Não!” Protestei. “Eu escorreguei! Foi completamente sem querer!”

“Tudo bem! Estava só brincando!” Riu ele ainda olhando para mim.

Eu saí de cima dele e me pus de pé. Ainda estava tonta, por isso achei melhor não me mover.

“Ah! Eu me esqueci de te falar.” Lembrou ele. “Eu vi a sua luta no bar. Nossa! Aquilo foi demais! Você aprendeu bem comigo, hein?”

Eu não sabia se a tonteira era por causa do transporte, ou por causa do beijo. Eu assenti.

“Ah... Obrigada.” Falei. “Você... É um bom professor.”

“E você é uma boa aluna.” Sorriu ele. “Gosto de você.”

“Também gosto de você.” Falei sem pensar. “Quero dizer! Ah... Eu gosto de você, por que... Você gosta de mim. Mas não... É que... Ah!”

Apolo riu.

“Eu entendi.” Ele sorriu e assentiu. “Nós nos vemos amanhã. É melhor você ir descansar.”

“Eu vou.” Concordei.

“Quer que eu fique na frente para você cair de novo, ou eu posso ir?” Perguntou rindo.

Eu revirei os olhos.

“Vai embora logo.” Tentei não rir, mas acho que ele notou.

Apolo desapareceu, deixando-me sozinha com um sorriso no rosto, que por sorte não foi notado. 


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Notas finais do capítulo

Então...

Recebo alguns reviews?