Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 14
Família é assim


Notas iniciais do capítulo

Aqui está outro capítulo.
Já tinha escrito ele há um tempão, mas como o Nyah ficou em manutenção ontem, só pude postar hoje.

Anyway... Tomara que vocês gostem.



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“Não.” Eu falei no tom mais sério e ameaçador que consegui, mas não parecia estar surgindo efeito.

Ele sorriu sombriamente.

“Oh, sim.” Falou.

“Nem pense nisso, Ares.” Falei rangendo os dentes. “Eu disse não.”

“Ah, isso vai ser tão divertido.” Ele sorriu.

Antes que eu pudesse protestar, seu pé se levantou e pisou exatamente onde os meus dedos estavam esmagando-os cada vez mais forte.

“Aaah!” Gritei baixinho de dor.

Fui obrigada a soltar a minha mão esquerda. Estava pendurada á 3 metros do chão em uma escada de incêndio, só com a minha mãe direita, enquanto um javali selvagem se preparava para me matar.

Ares ajoelhou-se e olhou para mim novamente. Seus lábios se contorciam em um sorriso maligno.

“Qual dos dedos eu puxo primeiro?” Perguntou ele para si mesmo. “Uhm... Vejamos.”

Eu apertei a minha mão o mais forte que consegui ás barras de ferro que formavam o chão da escada de incêndio. Só que eu sabia, no fundo, que aquilo não ajudaria em nada.

Ele fez um gancho com seu dedo indicador e puxou o meu dedão para trás. Não quebrou, mas doeu mais do que você imagina. Agora estava segurando o peso do meu corpo só com 4 dedos.

“Próximo.” Falou ele.

O javali ficava cada vez mais inquieto. Ares puxou o meu dedo indicador para trás do mesmo jeito que fez com o dedão, e dessa vez eu não agüentei. Minha mão escorregou das barras e eu caí os três metros no chão, bem encima da minha própria perna direita.

“Ai!” Exclamei em um tom quase inaudível.

“Onde está toda a sua coragem agora, Kelly? Lute!” Falou Ares ainda de pé na escada de incêndio.

Eu olhei para frente. Lá estava o animal batendo os cascos na chão. Eu tinha no máximo uns 20 segundos até ele me atacar. Tentei me por de pé, mas a minha perna doía demais. Eu desabei novamente, o que pareceu divertir Ares.

Arrastei-me para trás até encostar na parede. Tentei me apoiar nela e ficar de pé. Com certo trabalho consegui, mas no mesmo minuto o javali correu na minha direção. Estava no fim do beco, de modo que não tinha para onde correr.

Eu tirei o grampo do cabelo e o quebrei. A espada se formou na minha mão. Sua lâmina brilhava em um tom azul neon. Culpa dos letreiros de Tokyo.

Tentei me lembrar dos passos de Perseu, e achei um perfeito na minha mente.

Dei um passo para frente arrastando a minha perna machucada, e esperei até que o animal chegasse à distância certa. Quando estava á exato um metro de mim, eu apontei a espada para baixo, girei, e o acertei em cheio nas costas.

Ouvi um horrendo som vindo dele. O javali se chocou contra a parede atrás de mim. Tentei andar para trás, mas acabei esquecendo que minha perna estava doendo. Eu desabei no chão, o que não era nada bom tendo em vista que ele estava se virando e tomando impulso para me atacar novamente.

Eu lembrei de outro golpe. Segurei a minha espada com toda a força que eu tinha e esperei o javali pular encima de mim. Assim que isso aconteceu, para a surpresa de Ares, eu forcei a espada contra a barriga do animal, fazendo-o produzir outro som horrendo de dor misturado com ódio.

“Eu mandei dar o fora!” Exclamei.

O bicho virou um pó dourado que a brisa levou. Minha espada voltou a ser um grampo. Eu a pus de volta no cabelo e deitei a minha cabeça no chão.

Do nada... Senti o chão tremer. Ares tinha pulado para o andar d baixo. Eu fiquei sentada. Pensei em tentar me levantar, mas desisti da idéia. Já tinha feito o suficiente.

“Não era para você ganhar.” Queixou-se. “Estava apostando no javali.”

“Sinto muito.” Sorri. “Mas vai precisar mais do que isso para me matar.”

Nesse exato momento ele sorriu. Era o sorriso mais sombrio que eu já tinha visto. Não sei se foi ele, ou se isso já iria acontecer de um jeito ou de outro, mas senti todo o meu corpo arder. Era como se minhas veias estivessem virando fogo, e queimando lentamente.

Depois de uns 4 segundos parou. Eu respirei fundo e olhei para ele.

“É a... Maldição.” Falei.

“Acertou em cheio.” Sorriu. “Não se preocupe. O javali era só um teste inicial. Você não tem idéia nem da metade dos monstros que ainda vão aparecer.”

Senti meu corpo arder novamente, só que dessa vez de raiva.

“Você é um grande covarde!” Rugi. “Fica se escondendo atrás de monstros porque não tem coragem o suficiente. Se quer me matar, faça isso logo!”

“Bem que eu queria.” Concordou ele. Esperava que ele sentisse raiva de mim, e realmente tentasse me matar, mas não foi o que aconteceu. “Eu poderia acabar com você em menos de 3 segundos. Mas... Para que eu faria isso se posso ver você correr perigo todos os dias? Isso é, com certeza, muito mais divertido.”

Um raio cortou o céu, e ele revirou os olhos.

“Você não me assusta!” Falou Ares para o céu, e depois para mim. “Seu papai não esta gostando muito da minha diversão, mas ele não vai me impedir. Quer saber? Já passou a época em que eu podia ver diversão de verdade ao vivo e á cores. Gladiadores? Isso sim era bom! Agora veja só... Tenho que passar as minhas férias vendo luta livre na TV. Que saco...”

Ele suspirou.

“Espera... Então você ma amaldiçoou... Por que estava entediado?!”

“Oh! Veja Hermes! Ela não é esperta?” Zombou ele olhando para o céu novamente. “É claro que sim! Vou passar todos os meus dias de férias vendo você lutar contra os monstros que aparecerem. E se eu tiver muita sorte... Poderei ver um deles acabar com você. Será divertido.”

“Isso não vai acontecer!” Protestei. “Não sou uma gladiadora! Não pode m forçar á lutar!”

“Te forçar? Ei! Que história é essa? Eu sou o seu tio, esqueceu?” Ele sorriu fingindo-se de simpático. “Eu estou deixando você fazer uma escolha! Não é isso que você tanto gosta?”

“Que tio legal...” Resmunguei. “Que escolha eu tenho?”

“Lute ou morra.” Encolheu os ombros. “Faça o que quiser. De qualquer modo... Eu vou me divertir demais vendo isso.”

Com essa frase ele subiu em uma moto que eu nem mesmo tinha notado que estava encostada na parede, ligou o motor, e foi embora.

Ouvi alguns japoneses gritando algo que provavelmente deveria ser um xingamento para um motoqueiro apressado, enquanto tentava me levantar.

Eu manquei para fora do beco, só para notar que estava completamente perdida. Olhei para as ruas. Não tinha idéia de onde eu tinha vindo. Eu poderia até me lembrar se corresse um pouco por ai, mas com a minha perna daquele jeito era impossível.

Escolhi uma direção aleatória e comecei a mancar pela rua. Muitas pessoas passavam por mim, mas nenhuma delas falava nada. E de novo eu estava em um estado deplorável, por ter caído á 3 metros do chão, ter sido atacada por um javali selvagem, e ter deitado no chão da rua.

As roupas que Afrodite comprar por 25 dracmas, que deviam ser equivalentes á 1,400 dólares estavam completamente surradas. Acho que se ela me visse daquele jeito iria me matar por ter desperdiçado seu dinheiro com um encontro que nem era com uma pessoa comum, e sim com o meu tio. Mas preferia não pensar naquilo.

“Desculpe pai... Eu não queria entrar nessa fria, mas... Não deu para evitar.” Falei mentalmente olhando para o céu.

Foi aí que uma loja me chamou atenção. Na verdade... Uma galeria, ou coisa do tipo. Bem... Era uma pequena porta metálica que parecia dar de entrada para uma loja, mas na verdade mostrava uma escadaria estreita levando ao segundo andar.

Encima da porta estava uma placa que me chamou muito a atenção. Era como se fosse um chamado dos Deuses. Embora estivesse escrito em japonês, tinha uma figura diferente. Era a moeda que Afrodite usara para comprar a roupa. Um Dracma.

Tinha um senhor em pé na porta. Seus olhos eram tão puxados que eu não tinha idéia se ele estava me observando ou estava de olhos fechados. Acho que a primeiro opção, pois quando estava prestes a entrar e subir as escadas mancando ele fez uma mensura para mim, e apontou para o andar de cima enquanto falava alguma coisa.

Eu simplesmente concordei com a cabeça e disse “Arigatô”.

Não poderia subir aquela escadaria, por isso fechei os olhos e desejei estar lá encima. Deu certo. Lá estava eu.

Para a minha surpresa o segundo andar era imenso. Estava tendo uma enorme exposição sobre mitologia ali. Tinha milhares de esculturas, quadros, textos ampliados e pendurados na parede, e muitos, mas muitos quadros.

Eu fui andando para ver se tinha alguma coisa que podia me ensinar um pouco mais sobre mitologia, mas... Tudo estava  escrito em japonês.

Eu parei em uma sala um tanto estreita e diferente das outras. Não tinha ninguém e, além disso, ainda tinha um banco que dava de frente á um quadro enorme que ocupava a parede inteira. Tinha uma barra de ferro branca na altura da minha cintura que era um sinal claro de: “Não ultrapasse”.

Olhei atentamente o quadro. Eram os Deuses.

Só sobe disso, pois pude reconhecer o meu pai. Lá estava Hermes com um capacete com duas asinhas do lado. Ele estava em pé ao lado de outros dois que eu ainda não conseguira reconhecer.

Eu me levantei do banco e segurei a barra com as minhas mãos.

“Eu estou bem.” Falei para a imagem depois de ter certeza de que na havia ninguém por perto. “Eu... Venci um javali, mas acho que você viu isso, né?”

A imagem não respondeu como era de esperado.

Olhei para a imagem ao lado. Era de um Deus bem bonito que segurava um arco e flecha. Atrás dele tinha a pintura do Sol e foi aí que percebi que se tratava de Apolo.

Mas... O rosto não tinha nada a ver com ele. Era bem diferente.

“Eu não tenho esse nariz.” Disse uma voz ao meu lado.

Eu olhei assustada, e vi que era ele. O Deus do Sol estava com o mesmo sorriso de antes.

“E eu também não tenho certeza se eu tenho todos esses músculos...” Falou ele apertando seus próprios braços. “Ah, eu tenho sim.”

“Como você me achou?” Perguntei admirada.

“Eu dou o meu jeito.” Ele encolheu os ombros. “Você me prometeu que ia ficar longe de perigo.”

“Eu tentei, mas...!”

“Um javali, né?” Adivinhou ele.

“É. Como sabe?” Perguntei.

“Deduzi pelas marcas no carro.” Falou ele descontraído.

“As marcas do... Ah não! Eu sinto muito mesmo!” Eu me desculpei.

“Ei... Calma. Chega disso.” Falou ele sorrindo.

“Você... Quer que eu pague?” Perguntei pensando em como arrumaria dinheiro para aquilo. “Bem, eu pago. Só não lance uma maldição nem nada parecido.”

Ele riu.

“Não! Não faria isso. Esquece o carro. Ele vai estar inteirinho quando nós voltarmos.”

“Sério? Você pode concertá-lo?” Perguntei.

“Claro que posso.” Afirmou. “E por falar em concertar... Eu vi a sua briga contra o javali. Presumo que sua perna ainda esteja doendo.”

Eu passei a mão pela lateral da minha perna. Estava mesmo.

“É...” Murmurei.

“Senta ali.” Apontou ele para o banco. “E deixa que eu dou um jeito nisso.”

“Mas você é o Deus do Sol.” Falei sentando-me no banco.

“E do arco e flecha, e da música... E da medicina.” Sorriu ele contando nos dedos.

“Legal.” Foi a única coisa que eu consegui dizer.

Ele pôs a mão sobre a minha perna e eu corei um pouco. Seu toque era quente, e imediatamente fez a minha perna se descontrair. Ele disse algumas palavras em grego, provavelmente, e levantou-se.

“Pronto.” Falou ele. “Vai estar novinha em folha daqui a uns... 2 minutos.”

“Ótimo.” Sorri. “Muito obrigada mesmo.”

Ele sentou-se ao meu lado no banco e pôs-se a admirar o quadro.

“Aquele ali é o seu pai, como já deve ter notado.” Ele apontou. “Do lado direito dele é o Dionísio, Deus do vinho e das festas. Ali no canto... É a Afrodite. E aquele é o marido dela, Hefesto.”

“Jura?! Esse é o marido dela?” Perguntei admirada.

“É... Ele teve uma história complicada.” Disse Apolo. “E tem também o Ares, mas acho que podemos pular ele, certo?”

Eu fiz uma careta, e ele riu.

“É gente boa quando não está irritado.” Falou Apolo. “O difícil é ele não estar irritado.”

Eu ri dessa vez.

“Você luta bem sabia? Mas... Seu pai disse que nunca treinou.” Falou ele em dúvida.

“Eu nunca treinei.” Admiti.

“Então como você...?”

“Assistindo Perseu. Em DVD eu digo.” Contei.

“Sério?!” Ele riu. “Nossa! Você tem potencial! Por que não treina? Poderia ir para o acampamento meio sangue e...”

Acampamento meio sangue? O que era aquilo?

“Ah! É mesmo... Seus pais querem que você tenha escolhas...” Ele lembrou-se. Ao ver a minha cara de dúvida explicou. “Esse acampamento é feito para meio sangues treinarem e virarem heróis. Fica em Long Island.”

“Ah... Mas... Eu moro em New Jersey.” Falei. “Não vai dar.”

“Então... Eu tenho uma outra solução!” Ele pareceu muito animado repentinamente. Ele ficou de pé com um pulo, me fazendo sorrir. Encheu o peito de ar e fazendo uma pose de herói. “Eu posso te treinar.”

Segurei o riso.

“O que? Mas... Você é um Deus ocupado.” Falei.

“Nem tanto.” Ele disse. “Deixe eu te treinar! Você poderia acertar um alvo á quilômetros de distância! Seria imbatível no arco e flecha! Então... O que me diz?”

Acabei dizendo sim. Depois de ter destruído o capô do carro dele, achei que era o mínimo que eu podia fazer. E também... Eu precisava de treinamento e gostava de Apolo. Parecia ser o melhor tio que eu tinha.

Mas... Uma dúvida me ocorreu. Se eu pedisse ajuda a Ares ele me deixaria morrer. Afrodite me ajudara pois julgara que seria divertido. Por que ele estaria fazendo isso?

“Por quê?” Perguntei e minha voz falhou um pouco. “Por que... Você me ajudaria?”

Ele franziu o cenho.

“Por que eu não ajudaria?” Perguntou sem entender. “Afinal... Somos uma família, não é? É isso que fazemos.”

Juro que aquilo tocou o meu coração. Ele sentou-se ao meu lado novamente e me abraçou. Ele era quente e macio, e pela primeira vez em algum tempo eu me senti... Bem.


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Notas finais do capítulo

Enatãããão?

Quero saber se ficou bom, por isso... Reviews!

Até o próximo capítulo, certo?