Amante Conquistado escrita por leel


Capítulo 9
Capítulo 9




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Vishous não pensou direito quando abraçou Alysia. Em seu torpor pelo pesadelo, relembrou o momento em que a pegou no colo e sentiu a paz que nunca teve. E no desespero daquela visão de horror que era seu sonho, da agonia de suas visões e de tudo de ruim que sempre fora sua vida, ele não conseguiu pensar em outra coisa. Precisava daquela doce corrente elétrica percorrendo seu corpo outra vez. Precisava… dela.
Foi por isso que a segurou, como se ela fosse sua única salvação. E foi como um bálsamo caindo em uma ferida antiga. Como se todas as coisas fossem postas no lugar. Como se, finalmente, ele estivesse onde deveria estar.
Minha.
Minha coisa nenhuma! Aquilo não estava certo. Afastou Alysia o mais delicadamente que pode. 
Ótimo. Tudo o que conseguira fora deixar uma expressão confusa no rosto da humana.
“Eu…” Droga, como era difícil pedir desculpas. “Não me entenda mal. Agi por impulso”.
Pelo menos não precisara mentir. Fora levado pelo impulso a abraçá-la. E encontrara mais do que alívio. Pequenos pedaços de sensações que ele desconhecia misturavam-se a um desejo que ele não poderia sentir. Não quando a Virgem Escriba queria decidir seu destino. Não enquanto ele ainda sofria ao ver a felicidade de Butch.
E nunca, em toda a sua vida, permitira-se sentir algo diferente de dominação em relação às fêmeas, fossem de sua espécie ou humanas.
Alysia sentara-se no colchão, ainda perto de Vishous. Tentava afastar o que fervia agora em sua mente.
Decididamente, estava sentindo-se atraída por aquele estranho homem. O abraço repentino provocara nela emoções tão novas quanto as que o vampiro tinha naquele momento. Como tinha sido bom, pensava, tentando entender tudo. Abraçara-a com urgência, mas com cuidado. Como se ela fosse preciosa. Como se fosse importante. Como se… fizesse alguma diferença.
Não era coisa demais para sentir num abraço só?
Alysia deixou escapar um sorriso.
“Está rindo de mim?” V. perguntou, de expressão um tanto amarrada.
“O quê, eu? Não…” Alysia deixara escapar uma gargalhada. Não conseguia se controlar. “Quero dizer… só um pouquinho. Você sempre muda de idéia rapidamente assim?”.
Vishous bufou. Sabia do que ela estava falando. Ela bulia com seus nervos.
E estava fazendo com que ele agisse feito um pateta.
“Bem, se quer saber eu não me importo”.Alysia continuou. “Não quero ficar brigando com ninguém. Acho que nossos gênios se chocaram. E os limites foram estabelecidos. Não precisamos mais nos estranhar”.
Olhou para o vampiro, que agora também estava sentado, com as mão sobre os joelhos. Tão sexy numa posição tão casual. Se ela continuasse encarando as coisas dessa forma, não ia prestar. Para ambos.
“E um abraço não é grande coisa assim”.Alysia olhou, com expressão divertida. “Não precisa sentir-se culpado por isso”.
O sorriso dela quebrou as defesas dele. Vishous sorriu de volta.
“Você é uma fêmea de valor. Mesmo depois de tudo, ainda importou-se em me consolar. E me fez até esquecer por um momento o que me atormenta”.
Enquanto isso, pensava que Alysia estava enganada. Ainda não chegara ao seu limite com ela.
Não seria nada bom quando ele decidisse testar esses limites.
***
As persianas ergueram-se assim que a noite caiu.
Alysia tinha voltado para sua cama, ficando de olho em Vishous por um tempo, temendo por outro pesadelo dele, mas caiu no sono outra vez. E não acreditou quando acordou e viu que as janelas, descobertas pelas persianas, revelavam que estava escuro lá fora.
Como assim já é noite?
Olhando ao redor, viu que seu guardião já saía do banheiro, de roupão, o cabelo molhado. Alysia perdeu o fôlego.
Santo Deus.
“Pode entrar no banheiro, se quiser”.V. disse.
Hum, ela tinha entendido o recado. Ele queria se trocar. Arrastou-se para fora da cama e foi entrando no banheiro.
“Não está esquecendo de nada?”.
Virou-se e viu que Vishous apontava para a roupa que usara na noite anterior, limpa e passada, sobre uma mesinha. Seu casaco estava sem mancha nenhuma. Que mágica usaram para fazer aquilo?
Alysia agradeceu, tomou um banho rápido, escovou os dentes e trocou de roupa.
Quando saiu, ele já estava pronto. Que pedaço de mau caminho, pensou. Usava uma jaqueta de couro e tinha um gorro dos Red Sox afundado na cabeça. Assustador, mas ainda assim um pedaço de mau caminho.
Foram para a sala de estar e V. foi brincar com seus computadores, enquanto Alysia olhava ao redor, um tanto deslocada. A decoração era muito masculina. Uma mesa de pebolim. Uma TV de plasma enorme pendurada na parede. Aquele pessoal tinha mesmo dinheiro.
“Pode sentar-se no sofá, Alysia. Fique à vontade. Se quiser, posso mandar trazer o café para você aqui”.Vishous disse, sem tirar os olhos da tela.
Sempre ligado em tudo, Alysia pensou.
“Quer me manter aqui dentro?”.
“Só quis ser educado. Achei que fêmeas gostassem dessas coisas”.
Ele continuava referindo-se às mulheres naqueles termos estranhos.
“Sim, nós mulheres gostamos disso. Mas não quero passar a noite toda aqui dentro”.
“E nem precisa”, disse Butch, saindo de seu quarto. “Não vai deixá-la aqui no Buraco, vai, V.?”.
“Já que sou voto vencido… não”.
A esposa de Butch saiu em seguida. Mais uma vez, era a elegância em pessoa.
Estendeu o braço para Alysia.
“Venha comigo, querida. Deve estar cansada dessa conversa de meninos. Vamos tomar a primeira refeição”.
Isso no mundo deles deveria equivaler a “café da manhã”. E Alysia estava mesmo precisando de um café.
Povo estranho esse, que toma café da manhã à noite.
“Sim, claro. Vamos”.
Vishous olhou para Alysia e Marissa saindo juntas pelo túnel, e Butch percebeu a preocupação do amigo.
“Relaxa, cara. Contei a Marissa o que aconteceu e pedi a ela que tivesse cuidado com o que diz a Alysia”.
V. continuava em silêncio, o olhar perscrutador. Alisou o cavanhaque. Depois acenou com a cabeça, concordando.
Todas as engrenagens da mente brilhante de Vishous deveriam estar funcionando naquele momento, o tira pensou.
“Até quando manteremos essa farsa?” V. perguntou, quase que para si mesmo.
“Não sei. Tomara que não seja por muito tempo”.
“Tenho o pressentimento de que essa primeira refeição não vai dar muito certo. Acho melhor ir atrás das duas. Ou Wrath irá comer o meu fígado”.
***
Alysia e Marissa saíram pela porta do túnel que dava para o vestíbulo. Butch e Vishous vieram logo em seguida.
Uau.
O piso do vestíbulo era um mosaico colorido. A decoração era meio rebuscada, sombria, mas de uma beleza muito particular. Alysia não sabia para onde olhar primeiro.
Passaram por uma pesada porta de madeira que levava até a sala de jantar. Um senhor de idade punha a mesa. Um mordomo. Devia ser o tal Fritz com quem Vishous falara na noite anterior.
Um mordomo entre aqueles machões. Isso não era estranho?
O homem da cabeleira linda já estava à mesa. Butch e Marissa tomaram seus lugares. Um pouco sem jeito, Alysia sentou-se também, na cadeira à direita de Phury. O cão de guarda postou-se ao lado dela.
“Nem pense em fazer uma de suas gracinhas”, disse ao sentar-se.
Alysia olhou para ele com uma cara de “quem, eu?” e ajeitou-se na cadeira. Como era ruim estar no meio de estranhos.
A mesa era uma festa para os olhos: vários pães. Uma bandeja cheia de bolinhos. Bolo. Sucos e leite. E era uma quantidade imensa de comida, suficiente para saciar a fome de metade do planeta.
A detetive esperava pelo momento de se servir quando o bonitão, acompanhado de uma mulher – provavelmente sua esposa – entraram na sala de jantar, seguidos daquele cara assustador que apagara o incêndio. Ela não tinha reparado na cicatriz no rosto dele, assim como nas argolas dos piercings dos mamilos sob uma camiseta de manga comprida, preta e justa. E tatuagens no pescoço e nos punhos.
Aquilo estava virando uma cena típica de A Família Adams, mas numa versão realmente aterradora.
Zsadist foi o primeiro a registrar a presença de Alysia na mesa.
“Ela ainda está aqui?”.
“Não seja rude, Z.” Phury respondeu.
“Para mim tanto faz, contanto que não toque fogo em mais nada. Não vou bancar o bombeiro de novo”. Z. devolveu, enquanto enchia uma bandeja de comida.
Vishous olhou para Alysia com uma expressão de ‘eu não disse?’ nos olhos. Ela teve vontade de erguer o dedo do meio para ele. Mas não seria mal-educada no meio dos outros.
“Disseram a Fritz pra tirar todos os castiçais da sala? Se vou fazer a primeira refeição com essa maluca, não quero correr risco nenhum”.Rhage disse após sentar-se ao lado de Mary, que lhe deu um cutucão.
“Rhage, você está deixando a moça sem graça!”. Virou-se para Alysia. “Não ligue para ele. Meu marido gosta de fazer brincadeiras”.
“T-t-udo bem. Já percebi isso”.Alysia respondeu.
Ia ser assim agora? Todo mundo lembrando o tempo todo o que ela havia feito na noite anterior?
Gargalhadas irromperam na mesa. Butch e Phury riam com vontade, apontando para Rhage.
“O que é isso agora, Irmão? Um guerreiro como você, com medo de uma mulher inocente?” Phury disse, enquanto punha um pão doce no prato.
“Fala isso porque não foi na sua testa que ela quase abriu um rombo”.Rhage atalhou.
“Nossa, quanto drama. Desde quando age como uma mocinha, Hollywood?” Butch provocou.
Vishous quase engasgou com a xícara de leite que tentava tomar. Depois riu também.
“Vamos ver se você acha isso coisa de mocinha, tira”.Rhage pegou um bolinho e acertou bem no nariz de Butch.
“Seu filho-da-puta. Vai manchar minha roupa nova!” Butch tentava evitar que caísse gordura em sua camisa importada.
Marissa e Mary perceberam o perigo e levantaram-se de fininho. Marissa ia chamar Alysia, quando Phury gritou:
“GUERRA DE COMIDA!” e jogou um pão doce em Rhage.
Tarde demais.
“Phury, seu animal!” Rhage selecionou um pêssego maduro da fruteira e arremessou, mas Phury foi mais rápido e abaixou a cabeça.
O pêssego atingiu o casaco recém-limpo de Alysia.
“Meu casaco!”.
“Hum, agora quem é o alvo fácil, hein?” Rhage caiu na risada, sentindo-se vingado.
“Isso não vai ficar assim!” Alysia alcançou uma maçã e devolveu o arremesso de Rhage. Jogou com tanta força que ele só conseguiu bufar quando a maçã pegou bem no meio de seu peito.
“Uf!”.
“Tenho de reconhecer. Ela tem boa pontaria”.Z. disse enquanto saía da sala, tratando de salvar a bandeja para Bella.
“E a culpa disso tudo é sua!” Alysia gritou, jogando um bolinho em Vishous.
“Ei, eu não tenho nada com isso!” ele respondeu, entre risos.
Logo todos jogavam comida uns nos outros, para desespero de Fritz, que olhou o espetáculo da porta e saiu correndo.
Wrath ouviu uma confusão vinda da sala de jantar, e apressou-se para ver o que era, com Beth logo atrás.
Quando viu o que estava acontecendo, balançou a cabeça em descrédito. Na sua visão enfraquecida, eram vários vultos histéricos, trocando ofensas entre risadas.
Estavam aprontando outra vez. Às vezes aqueles marmanjos agiam como crianças de cinco anos.
E ouviu a voz de Alysia no meio. Como uma fêmea como ela entrara na confusão era algo que ele não compreendia. Se bem que, depois da cena no quarto de hóspedes, devia suspeitar que ela era mesmo capaz de tudo.
Wrath estava furioso. Precisava por ordem na casa antes que Fritz tivesse uma síncope.
Parou na soleira da porta e berrou a plenos pulmões:
“PAREM COM ISSO!”.
Todos ficaram paralisados, as mãos cheias da comida da primeira refeição transformada em munição, menos Rhage, que ainda conseguiu acertar Phury uma última vez.
“Não quero nem saber quem começou o quê. Limpem essa bagunça toda. AGORA!”.
Beth olhava aquele cenário de comédia pastelão, tapando a boca com a mão, segurando o riso.
“Vamos para a cozinha, minha shellan. Aproveito para acalmar o coitado do Fritz, que deve estar aterrorizado lá dentro”.
Virou as costas e todos começaram a rir. Wrath voltou, a expressão carrancuda.
O riso parou, e começaram a limpeza.



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