Amante Conquistado escrita por leel


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Depois de meses sem atualizar, capítulo novo! Curtam.



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Alysia não estava exatamente surpresa quando Vishous parou a Escalade em sua vaga no prédio onde ficava a cobertura. Se os vampiros eram capazes de manter uma mansão daquele tamanho, um apartamento em um dos prédios mais caros de Caldwell não devia ser grande coisa, afinal.

Vampiros. Ela estava mesmo repetindo aquela palavra para si mesma? Ela estava acreditando naquilo? Bom, talvez ela fosse precisar de um psiquiatra, porque comprar aquela história não era coisa de gente saudável.

Mas como negar o que estava bem ali diante dela? Vishous levou-a até o elevador e fizeram a subida em silêncio. Aquilo era tão perturbador. Pairava uma certa tensão no ar, ameaçando uma explosão a qualquer momento. Alysia tentou quebrar o gelo.

“Então você também vive aqui?”

“Não exatamente”, Vishous respondeu. “Digamos que este é o meu ‘lugar especial’”.

Especial não queria dizer exatamente uma coisa boa, neste caso.

Quando as portas do elevador se abriram para o vestíbulo que levava até a cobertura, Alysia assoviou. O lugar era simplesmente… de tirar o fôlego.

Vishous ficou ainda mais silencioso, observando as reações da detetive. Sentia-se quase que traindo a confiança dela por mostrar o que havia ali dentro daquela cobertura. Abriu a porta e as luzes se acenderam.

Alysia olhava tudo boquiaberta. Era muito mais do que ela imaginava. Sua atenção prendeu-se às amplas janelas da cobertura, que mostravam a noite escura de Caldwell. Quase hipnotizada, foi encaminhando-se para fora.

O vampiro olhava, expectante. Ela não tinha visto os “brinquedinhos” dele no meio do apartamento. De repente, Alysia virou-se e seus olhos brilhavam.

“Importa-se se eu for até lá fora para ver como é a vista?”

“Claro que não”, Vishous respondeu. “Vou cuidar desse braço enquanto olha tudo”.

Foi quando o olhar de Alysia mudou de foco, parecendo ver além dele.

Ah, droga.

“O que é aquilo?”

Alysia atravessou a cobertura e chegou perto do parque de diversões de Vishous. Estava de olhos um tanto quanto arregalados.

Parou diante da mesa e pegou uma das algemas que pendia de uma corrente.

“Parece que você gosta de pegar pesado nas suas... brincadeiras.”

Olhou em volta e viu as correntes que estavam presas à parede pintada de preto.

“Caramba, você leva isso a sério, Vishous.”

“Não é uma coisa de que eu me orgulhe, exatamente.”

Alysia olhou fixamente para ele.

“Isso não é da minha conta, não se preocupe. Mas não vou negar que estou um tanto surpresa.” Olhou ao redor, como que avaliando o que via. “De qualquer maneira, é um belo apartamento.”

Vishous respirou fundo. Se ela queria sair correndo, estava disfarçando muito bem.

“Bom, se ainda quiser ver como é a parte externa, fique à vontade. Vou dar um jeito nesse ferimento.”

E afastou-se, sem nada dizer, entrando no banheiro.

 Alysia o acompanhou com o olhar. Mas que criatura mais cheia de mistérios. E de surpresas. Quem poderia adivinhar que ele gostava de um fetiche desses? A detetive sentia uma pontinha de decepção. Sexo pervertido não era com ela. E, pelo visto, não era apenas uma brincadeirinha para apimentar as coisas na cama para ele. Vishous parecia ser daqueles que só conseguiam sentir prazer se a dor viesse junto.

Dor e prazer não poderiam estar mais distantes para Alysia.

Pensativa, ela foi explorar a área externa da cobertura. Aquilo sim era algo de que gostava. O vento frio avivando seus sentidos. O céu estrelado que parecia um pouquinho mais perto. A vista de toda a cidade, com suas luzes piscando na distância. Ela poderia ficar ali a noite inteira, sorvendo o ar gelado, admirando o que via.

Apoiou as mãos na amurada e olhou para baixo. Estavam tão alto. Sentiu uma leve vertigem. Alysia sorriu. Gostava daquela sensação de perigo.

“Não vai querer descobrir como é cair daqui de cima, vai?”

Alysia soltou-se da amurada, colocando a mão no peito.

“Quer me matar de susto?”

“Acredite em mim, já experimentei cair e não deu muito certo.”

Alysia riu. “Pare com isso.”

Vishous riu de volta. “É verdade.”

“Você é mesmo louco. Quando acho que já não me surpreendo mais… Lá vem mais uma novidade sua”.

Alysia logo se arrependeu de ter dito aquilo. Soou como uma indireta, mas foi totalmente não-intencional. Percebeu que Vishous endureceu um pouco a expressão.

Que droga.

Tentando mudar de assunto, apontou para o curativo no braço do vampiro. “Foi rápido”.

“Estou acostumado a tratar desses ferimentos.”

Ambos se aproximaram da amurada.

“Além do mais, temos uma cicatrização rápida. Logo nem me lembrarei desse corte.” V. falou.

“Então foi por isso que…”

“… você acertou Rhage e depois não viu nem marca nele.”

Alysia limitou-se a assoviar.

Seguiu-se um silêncio, em que ambos estavam absorvidos nos próprios pensamentos. Alysia foi a primeira a quebrá-lo.

“Tem uma vista belíssima da cidade aqui.”

Vishous concordou com a cabeça.

“Houve um tempo em que prestava mais atenção nessas coisas.”

Alysia olhou para ele, intrigada.

“Eu me pergunto o que lhe fizeram para deixá-lo tão duro. Você não abre uma fresta. Não deixa ninguém entrar.”

O olhar do vampiro se perdeu na distância.

“A vida é isso aí, não é? As histórias bonitas ficam só nas páginas dos livros.”

Foi a vez da detetive ficar pensativa.

“Gostaria de discordar de você nisso. A vida realmente nos torna mais duros. Mas ainda me sinto feliz com certas pequenas coisas.”

Olhou para cima, apontando as estrelas.

“Sempre me lembro de olhar para elas. Me fazem pensar na minha mãe.”

“Não odeia sua mãe por tê-la deixado?” Vishous quis saber.

“Já odiei. Não sei se a perdoei, mas procuro não julgá-la. Jamais soubemos o que lhe aconteceu.” Alysia respondeu, suspirando.

“Meu pai dizia que minha mãe adorava a imensidão e as estrelas. Podia passar horas simplesmente deitada, imaginando como seria mergulhar na escuridão. Então sempre repito o gesto dela, como se a sentisse por perto. Gosto de imaginar que em algum lugar ela está fazendo o mesmo.”

“Pelo jeito não fui o único a ter uma mãe imaginária.”

Alysia olhou para Vishous. O olhar dele era gélido. Duro.

Magoado.

Ela tinha perguntas silenciosas nos olhos. E ele simplesmente respondeu.

“Vivi por muitos anos em um lugar parecido com um campo de concentração. Minha mãe me abandonou lá por escolha própria. Sempre imaginava que ela estava por perto, passando a mão em meu cabelo, me consolando quando eu mais sofria.”

V. suspirou fundo, como se lembranças profundas tentassem tragá-lo, e depois passou a mão no braço ferido.

“Que bela merda de vida. E eis que você me arrancou mais do que jamais confessei a ninguém.”

E trancou-se de novo em si mesmo, voltando para dentro da cobertura.

***

Alysia abanou a cabeça, pensando que Vishous era como um daqueles sonhos em que a pessoa corria, corria, tentando alcançar um ponto e, justo quando estava mais perto, este sumia. Talvez isso explicasse a atração que ela sentia: ele era uma concha, que abria-se de vez em quando e permitia ver um pouquinho de seu interior, para somente fechar-se em seguida… e nunca mais abrir.

Ela estava um tanto cansada disso. Quanto mais descobria esses pedaços da personalidade dele, mais achava injusto que ele se escondesse do resto do mundo daquela maneira, a eterna muralha, sempre o guerreiro sombrio do qual ninguém nada sabia. E além do mais, não conseguia mais esconder de si mesma que gostava muito desse filho-da-puta arrogante. E sim, ela queria vê-lo feliz.

Alysia sentia que tinha duas opções: deixá-lo quieto em seu canto, ou tentar sacudir seu mundo um pouquinho.

Cutucar a onça com vara curta, ora, ora.

Ela nunca deixava nada quieto. Ficou com a segunda opção.


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