Ele demorou quatro dias até chegar ao fim do Deserto Hadarac. Então observou o horizonte, estreitando os olhos.

“Está com medo, pequenino?”, perguntou Saphira.

Ele balançou negativamente a cabeça.

“Não é bem medo, sabe... Eu acho que estou despreparado para isso...”

“Enfrentar Galbatorix?”

“Sim...”, ele revelou, suspirando em seguida.

Saphira tocou o braço dele com o nariz.

“Não fique assim, Eragon. Tudo dará certo.”

Ele sorriu para ela. Depois ele subiu na sela e partiu em direção às terras desconhecidas.

Mais ou menos sete horas depois ele já podia vê-las claramente. Não era um deserto que havia lá. Era uma enorme floresta com pinheiros quase tão altos quanto os de Ellesméra. O Cavaleiro ficou boquiaberto.

O clima também era muito agradável. Quando passaram voando sobre a floresta, eles puderam ver que haviam várias clareiras por lá e também vários lagos com águas bem límpidas. O Cavaleiro imaginou se havia alguém por ali, afinal, aquele parecia um ótimo lugar para morar. Comentou o que pensava com Saphira.

“Não tenho certeza, pequenino. Ninguém sabe sobre esse lugar. E esse fato... Me deixa intrigada...”, ela disse.

“Como assim?”

“Bem, como você mesmo disse, é um lugar maravilhoso. Eu me pergunto como ninguém chegou até aqui ainda...”

Ele considerou o ponto de vista dela. Era muito estranho, mesmo.

Então, de repente, ele viu um ponto preto um pouco longe. Seu coração disparou em seu peito. Seria o dragão do rei, Shruikan?

“Sim, parece que sim.”, Saphira disse grunhindo.

Então ela começou a voar mais rápido, indo de encontro com aquilo que eles haviam visto. Era realmente o dragão negro.

Quando os viu, levantou voo sem seu dono na sela e foi para cima de Saphira, em um ataque surpreendentemente forte, fazendo o dragão mais jovem perder o equilíbrio por alguns segundos. E ainda assim foi o suficiente.

Com a mesma rapidez que veio da primeira vez, ele voltou, começando a morder a cauda de Saphira, arrancando-lhe um rugido bem alto de dor.

Mas Saphira não era fraca. Aquele dragão podia ser mais forte, mais velho e bem maior do que ela – ele era apenas um pouco menor do que Galedr – mas ela nunca desistiria.

Ela virou-se para cima do dragão negro com uma velocidade surpreendente, e mordeu-lhe o pescoço, fazendo-o rugir bem alto enquanto sangue começava a escorrer onde Saphira havia cravado as presas.

“Saphira! E sua cauda?”, Eragon perguntou desesperado.

“Eu estou bem, Eragon. Vá atrás de Galbatorix!”

O Cavaleiro ia discutir, dizendo que nunca deixaria-a sozinha e ferida com aquele dragão enorme, mas foi interrompido por um golpe forte com a cauda de Shruikan em direção ao flanco de Saphira. Ela foi obrigada a soltá-lo. Então virou-se de costas para ele e voou o mais rápido que pode em direção ao chão, no lugar em que vira o dragão negro antes.

Eragon, que já estava preparado, pulou da sela do dragão, enquanto ele completava a manobra virando-se rapidamente para cima.

O Cavaleiro, que já empunhava Brisingr, olhou em volta, a procura do rei e avistou-o a uns oito metros de onde estava.

Galbatorix parecia muito jovem. Aparentava no máximo uns trinta anos. Ele era bem mais alto do que Eragon e tinha cabelos e olhos negros e uma pele bem clara. Na sua mão, já segurava sua espada negra que era quase tão grande quanto a de Eragon.

- Então – ele disse com uma voz cavernosa que fez Eragon estremecer imperceptivelmente -, você é o jovem Cavaleiro de Dragão...

Eragon percebeu que havia um toque de sarcasmo em sua voz. Ele segurou com força o punho de Brisingr e fez sua voz parecer o mais firme possível.

- Sim, sou eu, Galbatorix.

O Cavaleiro Negro fez uma careta.

- Refira-se a mim como Vossa Alteza, Vossa Majestade ou Rei Galbatorix, garoto – disse com uma voz calma e ameaçadora.

- Prefiro morrer a fazer isso – o jovem disse decidido e partiu para o ataque numa velocidade incrível.

O rei sorriu quando viu o garoto vindo para cima dele, mas não se moveu. Então, quando Eragon estava a um metro de distância, ele também foi para frente, segurando sua espada firmemente, em um movimento elegante e quase tão rápido como Eragon. Ele feriu o Cavaleiro mais jovem no abdômen, fazendo um corte não muito fundo.

Então Eragon parou subitamente, virando-se em seguida para procurar Galbatorix. Foi um erro. Ao fazer isso, Eragon não olhou para o chão, e foi daí que o rei apareceu. Ele deu uma rasteira no jovem Cavaleiro, fazendo-o cair. Então o mais velho levantou-se rapidamente, ficando por cima de Eragon. Ele estava prestes a colocar a ponta da espada na garganta do jovem caído, mas Eragon conseguiu rolar no chão, levantando-se rapidamente também.

Ele tentou golpear Galbatorix por cima, mas o outro já previra o movimento e bloqueou-o colocando a espada na horizontal.

Eragon começou a dar vários golpes, mas Galbatorix ou defendia-se ou desviava deles.

O jovem Cavaleiro percebeu que o rei não mostrava sinais de cansaço. Ele parecia estar se divertindo com aquilo. Então Eragon parou de atacar e recuou um pouco. Galbatorix riu, divertido.

- É só isso o que sabe fazer? Que pena... – ele balançou a cabeça, ainda sorrindo – Esperava mais do filho... De Brom.

Eragon arregalou os olhos. Como ele sabia? Então sentiu uma dor profunda e ficou tentado a olhar para o céu e procurar Saphira – ele sabia que aquela dor que sentira não era dele, e sim de seu dragão – mas não o fez. Ele sabia que esse erro podia ser fatal.

Então ele viu Galbatorix olhar ligeiramente para cima quando seu dragão deu um rugido longo. Foi muito rápido. Nem meio segundo. Mas Eragon aproveitou logo a chance e avançou num poderoso golpe. O rei ficou surpreso por uma fração de segundo e então segurou a espada de uma maneira que pudesse defender o golpe.

Mas Eragon conseguiu desviar o golpe no último segundo, atingindo Galbatorix e deixando um corte profundo em seu ombro.

O rei olhou para Eragon com um ódio crescente em seus olhos negros.

- Ora, veja só... Parece que eu subestimei-o – disse com escárnio e sorrindo. Depois o sorriso sumiu e sua expressão ficou séria – Mas você também me subestimou...

Ele não fez menção de usar magia para curar-se ou algo assim. Aquele profundo corte parecia não estar lhe causando dor nenhuma. Só parecia ter deixado-o com mais raiva ainda do jovem Cavaleiro.

Eles ficaram se encarando por uns dois segundos e então o rei atacou. Eragon conseguiu desviar do golpe, mas Galbatorix já havia começado outro, fazendo com que a espada descrevesse um arco e acertasse o ombro de Eragon também. O jovem grunhiu de dor, emboré não quisesse parecer fraco na frente do inimigo.

Galbatorix não deu tempo para ele se recuperar e já partiu para outro ataque. Agora ele atacava com cada vez mais fúria. Eragon já estava ficando cansado. Gotas de suor desciam por sua face, mas ainda assim ele conseguia defender-se bem.

Então, em um momento de sorte, ele conseguiu empurrar o peito do Cavaleiro Negro para trás, fazendo-o cambalear um pouco. Eragon aproveitou o momento. Deu uma estocada na cabeça de Galbatorix com o punho da espada e depois chutou seus joelhos, fazendo-o cair no chão.

Eragon apontou a espada para seu inimigo, e com uma expressão fria no rosto, disse:

- Brisingr!

Então a espada ficou em chamas.

O rei, surpreendido com isso, não teve tempo de levantar-se ou fazer outro movimento. Eragon abaixou a espada com força, em direção ao peito de Galbatorix, para um golpe mortal.

Mas no último instante... O rei desapareceu em uma nuvem negra.

Eragon ficou transtornado. Olhou em volta à procura dele, mas não viu nada. Apenas manchas de sangue na grama. Então ele lembrou-se de seu dragão.

“Saphira!”, chamou com a mente. “Você está bem?”

Ele procurou no céu, mas não a encontrou. Ele sentia sua mente, mas o contato parecia fraco, como se ela estivesse longe. Mas Eragon temia que aquele contato não estivesse fraco daquele jeito por causa da distância.

“Estou bem... Pequenino...”, ela disse finalmente, para o alívio do Cavaleiro.

“Onde você está?”

“Estou perto, não se preocupe...”

A voz do dragão, mesmo em mente, parecia fraca.

“Saphira, você não está bem... Venha logo, preciso cuidar de você.”

O Cavaleiro estava desesperado. Shruikan era forte. Muito forte. E tudo isso graças ao poder dos Eldunarís que o rei possuía.

Então, alguns instantes depois, Eragon avistou-a. Ele não podia vê-la direito por que ainda estava longe, mas tinha certeza de estar vendo grandes manchas de sangue. O Cavaleiro sentiu um aperto no coração.

O dragão pousou na sua frente com um estrondo. Agora Eragon já podia ver nitidamente as manchas de sangue sobre o corpo de Saphira. Ele correu para cima de seu dragão.

“Pequenino...”, ela murmurou.

Ele passou a mão pelas escamas dela.

“Descanse, Saphira. Eu cuidarei de você.”

Ela abaixou a cabeça um pouco, como se estivesse concordando e deitou-se no chão levemente, pousando a cabeça na grama e fechando os enormes olhos em seguida.

“Você venceu?”, ela perguntou cansada.

“De certa forma, eu acho que sim. E você?”

Ela não respondeu.

“Não precisa se envergonhar se você perdeu...”, ele disse gentilmente.

Ela continuou calada. Enfim, depois de alguns instantes, ela disse:

“Eu não perdi. Mas não ganhei também. Mas se quiser analisar melhor a situação, Shruikan conseguiu ferir-me mais do que eu. Eu só sei que quando ele ia me atacar, parou subitamente, quando eu vi a figura de Galbatorix na sela. Então os dois foram embora.”

Eragon escutou tudo com atenção enquanto curava os piores ferimentos. Saphira havia perdido muito sangue, mas ela não corria risco nenhum.

“Como foi a luta de vocês?”, Saphira perguntou.

“Eu acho que ele não usou todo o seu poder contra mim... Por isso eu achei um pouco mais fácil do que esperava.”

Ela abriu os olhos.

“Você também está ferido...”

Ele não estava sentindo nada no momento. Só queria ajudar seu dragão. Mas quando ela constatou isso, ele sentiu a dor no ferimento. Ele havia perdido muito sangue também.

“Cuide de seu ferimento primeiro. Eu sou mais forte e posso agüentar mais um pouco, pequenino...”

“Mas...”, ele ia protestar, mas Saphira o interrompeu.

“Vá logo.”

Relutantemente ele se afastou um pouco dela e foi cuidar de seu ombro.

- Waíse heill – ele murmurou.

A palma de sua mão brilhou e ele sentiu um formigamento no ombro enquanto o ferimento se fechava.

Então, com sua visão periférica, Eragon viu algo brilhante atrás do tronco caído que havia na clareira.

Ele levantou-se e, quando foi se aproximando, ele notou que era o punho de uma espada.

Eragon ficou totalmente surpreso ao perceber que já vira aquela arma. Ele havia visto-a em seu sonho. No sonho que ele teve recentemente com a garota estranha com cabelos azuis escuros.

Ele se abaixou para pegar a arma, mas então viu algo que chamou ainda mais sua atenção.