Saga Sillentya: Espelho do Destino escrita por Sunshine girl


Capítulo 5
IV - Distrações


Notas iniciais do capítulo

Acelerei o passo e trouxe outro capítulo mais cedo!

Definitivamente eu tô ficando mais esperta, antes tava mais lerda que uma lesma... rsrsrsrsrsrsrs

Pois é né, aproveitar essa última semana de férias para postar o quanto puder... *medo da facul*

Para quem não conhece ou nunca ouviu a música do Kris Allen, eu recomendo total, muito bonita!

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/125320/chapter/5

Capítulo IV – Distrações

“Tentando ser perfeito,

Tentando não deixar você cair

Honestidade é honestamente a coisa mais difícil para mim agora mesmo, sim,

Enquanto o chão embaixo de nossos pés está se esfacelando

As paredes que nós construímos juntos caindo

Eu ainda continuo aqui segurando firme o telhado

Porque isso é mais fácil do que contar a verdade”.

(Kris Allen – The Truth)

Minha segunda noite na mansão foi relativamente tranqüila, por voltas das dezenove em ponto, Christian bateu à porta do meu quarto, chamando-me para descer e jantar na maravilhosa sala de jantar.

Vesti-me com meu melhor jeans e uma blusa de mangas curtas, estava uma noite agradavelmente fresca em Roma.

Desci as escadas, caminhando lado a lado de Christian, e embora todos estivessem sentados à mesa, seriam poucos aqueles que participariam da refeição, e era fácil adivinhar por quê. Parecia que eles se reuniam mais por uma mera rotina, uma amigável confraternização, já que ao que parece, eu, Damien e Madelina – que assim que me viu, desviou os olhos –, éramos os únicos que realmente necessitavam de alimentos sólidos.

Agradeci quando Christian puxou uma das cadeiras para mim, e assentei-me, encarando todos os rostos ali. E só então, notei que havia mais uma figura assentada à mesa, ao lado de Giuseppe, uma senhora de rosto redondo, cabelos grisalhos e olhinhos pequeninos, escondidos atrás de lentes de grau.

Pela forma como Giuseppe segurava a mão dela em cima da mesa, pressupus que ambos deviam ser companheiros. Embora, houvesse algo no semblante dela que não se encaixava ali, mas só quando meus olhos baixaram para o prato de porcelana chinesa bem diante dela foi que notei: ela não era como os demais ali, era apenas... humana. A parceira humana de um Elemental, assim como minha mãe foi um dia para meu pai.

Logo, o jantar foi servido, pelo menos para aqueles que sentiam necessidade em se alimentar, e não me surpreendi quando belisquei a maça recoberta com molho. Na verdade, acho até que já esperava por isso.

Depois que todos, ou pelo menos, nós quatro, terminamos nossas refeições, Lucius contou-nos sobre uma das lendas a respeito dos feitos de Angeonoro Vallatori, na verdade foi de sua batalha gloriosa contra os dois mil Escravos das Sombras, impressionando Damien, fazendo com que ele arregalasse seus olhinhos azul turquesa, deslumbrado com o que o pai lhe contava.

Eu não precisava ouvir essa história mais uma vez... Já a tinha visto com meus próprios olhos. Um calafrio percorreu meu corpo quando me lembrei dos Devoradores de Alma.

Decidi tomar um pouco de ar no maravilhoso jardim da mansão, a fim de espairecer um pouco a mente, aliviar aquele turbilhão de pensamentos que agora assolava minha mente, deixando-me atordoada e sobrecarregada.

Olhei o céu estrelado, o manto negro que se se desenrolara mais uma vez, os inúmeros pontinhos cintilantes, revestindo-o. Estava uma noite tão bela e agradável, que era quase impossível cogitar a idéia de tornar ao meu quarto.

Então, sentei no canteiro de pedra, os cotovelos apoiados nos joelhos, e o queixo descansando nas mãos, e relaxei quando uma brisa leve sacudiu algumas mechas de meu cabelo.

Observei, fascinada, o belo jardim, com seu labirinto de grama, a fonte em seu centro, de onde jorrava uma torrente de água cristalina. Só então notei a figura que se esgueirava através do labirinto verdejante, seus cabelos dourados cintilavam na escuridão noturna; era Stella.

Vi quando ela aproximou-se da fonte, postando-se bem atrás da estrutura de bloco cinza, fechou os olhos, aparentando tentar se concentrar, e então elevou, graciosamente, quase como se dançasse, uma das mãos acima de sua cabeça.

Os dedos estendidos, a palma suavemente balançando em pleno ar, enquanto eu compreendia o que ela estava fazendo.

A torrente de água que jorrava da fonte oscilou, formando um longo chicote transparente e dançante, que logo envolveu a silhueta magra de Stella, circulando ao seu redor. Fascinada, e encantada com o balé das águas, aproximei-me dela, devagar, para não quebrar sua concentração.

Ela mudou a posição, baixando o braço que antes se balançava no ar, e elevando o outro, que se encontrava na altura de sua cintura, e o filete de água assumiu outra posição, transformou-se em uma cortina transparente e cintilante, correndo como o leito de um rio.

Stella notou a minha aproximação, e quebrou o ciclo mágico das águas, interrompendo sua dança graciosa, a água retornou à fonte com naturalidade. Ela abriu seus olhos cor de mel para a escuridão, direcionando-os totalmente para mim. E um gentil sorriso emoldurou seus lábios rosados.

- Olá, Agatha.

Aproximei-me um pouco receosa de sua figura, observando a fonte, onde poucos segundos antes, ela manipulava a água que jorrava dali.

- Isso foi incrível... – sussurrei, querendo elogiá-la por suas habilidades formidáveis.

Ela baixou os olhos cor de mel, as longas pestanas ocultando o brilho radiante que provinha de seu olhar, e riu delicadamente.

- Isso não foi nada. Minhas habilidades nem mesmo podem se comparar às suas, Agatha.

No exato momento em que seus olhos encontraram os meus, eu baixei meu semblante, um pouco constrangida. Stella notou meu aborrecimento e sorriu, caminhando em passos leves até mim.

- Você é exatamente como seu pai, detesta ser o centro das atenções.

Suas palavras fizeram-me fitá-la instantaneamente, enquanto meu coração espremia-se em meu peito.

- Conheceu meu pai? – foi impossível para eu não perguntar.

O sorriso em seus lábios rosados alargou-se ainda mais e ela parou a poucos centímetros de mim, tive que tomar a cabeça para trás para fitar seus olhos cor de mel, já que Stella era tão alta.

- Seu pai e eu tivemos o que se chama de relacionamento conturbado.

Arfei, sentindo que o espanto escancara meus lábios e arregalara meus olhos.

- Você era namorada do meu pai? – conjeturei, vendo-a negar com a cabeça. Muito que deliberadamente ela ergueu uma das mãos, seus dedos esticados, afagando uma mecha de meus cabelos.

- Quase isso. – finalmente me respondeu e depois complementou – Eu era apaixonada pelo seu pai, Agatha, muito apaixonada.

- Mas... – tentei encontrar em algum sentido naquilo, na forma como ela me olhava, quase como uma mãe olha para a sua filha, o carinho e o zelo que eu podia claramente enxergar nos seus olhos.

Ela desviou os olhos, tombando a cabeça para o lado, enquanto se afastava de mim em passos lentos e curtos.

- Claro que ele jamais me iludiu, Henry era um verdadeiro cavalheiro, de certa forma, ele também foi o meu melhor amigo e confidente. Mas... quando ele conheceu a sua mãe – ela riu suavemente, interrompendo-se –, na verdade, quando ele a viu pela primeira vez na Fontana di Trevi, ele se apaixonou instantaneamente, perdidamente por ela. E eu fui a primeira pessoa a saber sobre Eva.

Estaquei depois de ouvir aquilo, virando-me de lado, onde Stella agora estava, os olhos cintilantes observando o fino arco prateado no céu negro; a lua.

Ela sorriu consigo mesma, tornando seu rosto para mim mais uma vez, as lágrimas descendo através do seu semblante belo.

- De certa forma, Agatha, sinto como se você fosse minha própria filha. A filha que eu teria, se tivesse vivido minha história de amor com seu pai. – ela levou as costas das mãos até o rosto, limpando os vestígios traiçoeiros – Tenho esperado por você desde o dia em que soube que sua mãe havia fugido de Ducian, grávida de seis meses.

- Mas... você não deveria... me odiar, talvez? – indaguei, unindo as sobrancelhas, tentando decifrar o comportamento estranho de Stella em relação a mim. Ela não deveria sentir justamente o reverso?

Ela riu novamente, um riso de sino de ventos, tão delicado quanto o som suave das gotas de chuva refrescando a vegetação, ou o sibilar fraquinho de uma brisa fresca de manhã.

- Muito pelo contrário. Fui eu quem apoiou seu pai na fuga, eu o incentivei a ir atrás de sua mãe na América, eu o incentivei a viver esse amor.

- Você... Você devia tê-lo amado muito.

Stella assentiu e depois fungou, recompondo-se novamente, endireitando sua postura, mudando o peso de perna.

- Muito mais do que possa imaginar.

Ela tombou sua face para trás, olhando através das portas duplas da mansão, que estavam abertas, permitindo a entrada da brisa noturna.

- Preciso ir... – sussurrou ela – Tenha bons sonhos, Agatha.

- Obrigada. – agradeci, observando enquanto ela se retirava lentamente, e criando uma imensa afeição por ela. Admirando-a por sua coragem, benevolência e altruísmo.

Permaneci sob a noite estrelada por apenas alguns minutos, antes de me retirar para meu quarto, não esquecendo por nenhum segundo das palavras de Stella, e de como ela, mesmo o amando, o encorajou a viver um amor proibido e perigoso.

E ainda pensando na figura de meu pai, caí em um sono profundo e tranqüilo...

Quando despertei, não sabia ao certo se já era de manhã. Aliás, dentro daquelas grossas paredes e impenetráveis cortinas, eu sentia-me presa a algum tipo de dimensão paralela ou realidade alternativa, onde o tempo jamais avançava.

Como estava uma úmida e abafada manhã, vesti um esquecido vestidinho de algodão branco, que pendia até um pouco acima de meus joelhos, calcei as mesmas sapatilhas do dia anterior e penteei meus cabelos minuciosamente.

Desci as escadas, com uma certa euforia incontida, eu esperançava que hoje, Lucius contar-me-ia sobre o passado de meu pai. Porém, nem mesmo havia chegado à metade da escadaria, antes de notar o silêncio absoluto no qual toda a mansão estava envolta.

Terminei de descer o lance de escadas, estacando no assoalho lustroso. Olhei em derredor, constatando o que eu mesma já havia deduzido: não havia ninguém ali.

Cruzei os dedos, avançando cuidadosamente, enquanto o som de meus batimentos cardíacos preenchiam meus ouvidos. Virei-me, sobressaltada, quando uma voz muito conhecida ressoou:

- O que está fazendo acordada tão cedo?

Fitei os olhos azuis e cintilantes de Christian, poucos metros a minha frente e dei de ombros, mais desejosa por saber o paradeiro de todos.

- Acho que o hábito de acordar cedo nunca morre em mim.

Ele sorriu de canto, e eu aproveitei a deixa para fazer-lhe aquela pergunta que estava me incomodando tanto.

- Onde estão todos?

Christian aproximou-se de mim em passos curtos e rápidos, depois fingiu uma expressão de tédio, como se o paradeiro de todos não fosse nada demais... Pelo menos para ele.

- Stella deve estar com Damien, Ramon e Daisuke devem estar por aí, Madelina está trancada em seu quarto, como sempre, Giuseppe e Lucius foram resolver alguns assuntos nos limites da cidade...

- Espere! – eu o interrompi, espalmando minhas mãos – Você disse que Lucius e Giuseppe... saíram? Tipo, deixaram a mansão? – não pude esconder o ultraje em minha voz, eu era a única que tinha que permanecer trancafiada ali?

Christian notou minha irritação, sorriu de canto, pegou uma mecha de meu cabelo entre os dedos e depois a colocou atrás de minha orelha. Só então, seus olhos baixaram para o que eu vestia, e ele aprovou, para o meu constrangimento.

- Belo vestido. – murmurou ele, ainda com aquele sorriso irritante de canto.

Não agradeci seu elogio, preferi afastar-me dele e procurar por algo de útil que pudesse fazer na mansão. Estava cogitando seriamente a possibilidade de visitar a biblioteca da mansão, que Stella me mostrara no dia anterior, e passar o dia inteiro por lá.

Mas a voz de Christian interrompeu-me, antes que eu pudesse sequer me retirar dali.

- Não me diga que pretende passar o dia todo na biblioteca?

Virei-me para ele com um sorriso irônico e dei de ombros.

- Tem alguma idéia melhor?

Ele parou por alguns instantes, elevou os olhos azuis e cintilantes até o teto e deixou seu olhar vagar, tediosamente.

- Já viu como o dia está lindo lá fora? – perguntou-me ele e eu não tive como responder – Que tal um passeio por Roma? – sugeriu-me ele, com a postura relaxada e um meio sorriso nos lábios.

Eu esbugalhei meus olhos e escancarei meus lábios.

- Você enlouqueceu? E a advertência de Lucius? Quer trazer Mediadores até aqui?

Ele bufou, fazendo pouco caso de meus argumentos, mas eu devia admitir, um passeio por Roma era muito, muito tentador.

- Ora, Agatha, você acha mesmo que eu passei os últimos oitenta anos de minha vida trancafiado aqui? Você se preocupa demais, eu já deixei essa mansão por tantas vezes, e em nenhuma delas aconteceu algo de ruim. Vamos, venha comigo, e eu prometo que te protegerei.

Essa última frase veio acompanhada de um sorriso malicioso, mas eu preferi fincar pé. Cruzei os braços e o encarei, chocada.

- Você não toma jeito nunca, não é mesmo?

- Desde quando se divertir é algo errado?

- Desde que se tem um exército na sua cola, talvez? – debochei, e ele encontrou uma brecha em minha defesa impecável, afinal quem corria perigo com Christian por perto? É, definitivamente, eu havia perdido essa batalha.

Ele estendeu a mão gentilmente, e eu mordi o lábio inferior, hesitando muito mais do que havia planejado. Mas, baixei a guarda, de uma vez só e em um rompante, peguei sua mão, deixando que ele me guiasse através daquela insanidade.

Christian e eu “pegamos emprestado” o discreto Ford Focus Sedan que nos apanhara no aeroporto, e antes de girar a chave na ignição, enquanto eu prendia meu cinto, ele lançou-me um dos seus famosos olhares de diversão e perguntou onde eu gostaria de ir primeiro.

Eu não pensei duas vezes antes de pedir a ele que dirigisse até a Fontana di Trevi, depois de descobrir, através de Stella, que meus pais se conheceram lá, só havia um lugar o qual eu gostaria de conhecer.

Christian arrancou com o carro, e eu gostei da sensação do vento em meu cabelo e em meu rosto, de fato estava um dia belíssimo em Roma, e eu agradeci internamente por Christian me tirar – ainda que por pouco tempo – daquela mansão. Estava começando a ficar paranóica dentro daquelas paredes.

Observei o céu azul e límpido, o sol quente e brilhante, e nuvens tão finas e compridas que não representariam ameaça alguma ao meu dia ensolarado.

Vi o ritmo acelerado da grande capital italiana, as pessoas encaminhando-se para os seus respectivos locais de trabalhos, os prédios altos e retangulares, espremidos um ao lado do outro.

As ruas de pedra, as bancas que vendiam hortaliças frescas no bairro do Trastevere, passamos ao lado de uma das praças mais belas de Roma, a Piazza Navona, com suas vielas largas e cheias de pedestres, em frente ao Pantheon, uma das últimas construções do período greco-romano, em ótimo estado de conservação.

O que eu não conhecia, Christian fazia a gentileza de explicar-me, como o monumento a Vittorio Emanuele, edificado em homenagem ao primeiro rei da Itália. Ele também acrescentou que, no período dos regimes totalitaristas na Itália, Mussolini quis destruí-lo, e Christian disse que testemunhou com os próprios olhos.

Não me surpreendi muito com esse fato. Naquela época, Christian já estava com Lucius e Frederich, meu tio-avô e meu avô, respectivamente.

Alguns minutos depois, e nós já havíamos chegado à maravilhosa Via della Stamperia, onde Christian estacionou tranqüilamente o carro no meio-fio. A rua era sombreada pelas altas e imponentes construções, uma brisa suave deixava uma sensação agradável em minha pele.

Ao longo do curto trajeto, Christian ainda me mostrava os seus locais preferidos na cidade, e aqueles que ele dizia ficarem lotados de turistas. Viramos na esquina, já nos deparando com a imensa construção barroca da maior fonte do mundo.

Observei, fascinada, as estátuas brancas polidas, representando entidades mitológicas, a água que cintilava em um azul turquesa perfeito, a fonte era tão grande, que praticamente, ocupava toda a praça.

Muitas pessoas observavam a água fluente que jorrava das pedras brancas, a construção logo atrás delas, lembrava-me da arquitetura clássica, famosa no império romano.

Era tão alta e larga, que precisei elevar meus olhos até o céu azulado para poder osbervá-la melhor. E sorri; não haveria lugar mais romântico e perfeito para meus pais terem se conhecido e se apaixonado... À primeira vista.

Christian retirou sua jaqueta, ciente da temperatura agradável, e a pendurou em seu ombro direito, caminhando bem atrás de mim, enquanto eu empoleirava na borda, observando cada detalhe, e imaginando a cena em minha mente: meu pai colocando os olhos em minha bela mãe pela primeira vez.

Christian estacou a poucos centímetros de mim, sua mão avançou, atrevida, pegando na minha, e virando a palma para cima, onde ele depositou uma pequena moeda dourada. Ele sorriu e explicou-me:

- Dizem os supersticiosos, que se lançar uma moeda na fonte, de costas, ela garante um breve retorno à cidade.

Uni as sobrancelhas, e sorri ironicamente.

- Que eu me lembre, estou presa a Roma por tempo indeterminado.

Ele deu de ombros e fechou meus dedos ao redor da moeda.

- Isso não significa que você ficará aqui para sempre. Já viu Florença de perto? É tão linda quanto Roma.

Arqueei uma de minhas sobrancelhas, tornando a abrir minha mão e analisando a moeda que ele colocara ali. Virei-me para ele, entrando em seu jogo.

- E por que eu iria a Florença?

Mas sua resposta séria acabou por desfazer minha máscara de indiferença.

- Solomon está em Florença com a esposa neste momento. Lucius e Giuseppe foram até o correio mandar uma carta para ele, pedindo seu retorno imediatamente. Mas, se ele não puder vir, teremos de ir até ele.

- Solomon... – repeti o nome, tentando conciliar os fatos, mas logo o motivo pipocou em minha mente: Solomon era uma ex-Tristeza, conhecia os rituais, inclusive aquele que, possivelmente e futuramente, se eu escolhesse assim, removeria meu selo, sem colocar minha existência em perigo.

Sorri então, e sem pensar duas vezes, atirei a moeda por sobre meus ombros, virei-me a tempo de vê-la mergulhar na água clara e brilhante da fonte.

- Se for assim então – provoquei –, meu retorno está garantido.

Christian riu suavemente e então me puxou para outra extremidade da fonte, uma no qual havia duas grandes pedras amareladas, do qual jorravam, de ambas, um filete de água cristalina, que escorria por um suporte de pedra logo abaixo.

Ele curvou sua face, encaixando-a em meu ombro, sussurrando ao pé do meu ouvido.

- Está é a Fontanina degli Innamorati, dizem os supersticiosos, que se um casal de namorados bebe dessa água, ao mesmo tempo, nada será capaz de separá-los.

Eu corei e preferi mudar de assunto, afastando-me dele. O que fez seu rosto desmoronar um pouco. Mas o que eu poderia fazer? Não gostava dessas suas investidas, talvez porque no fundo, elas mexessem comigo.

- Puxa, que romântico... – murmurei, dando meia volta e caminhando despreocupadamente pela praça. As nuvens tinham se tornado mais densas e maiores àquela altura, e escondiam o sol.

Christian revirou os olhos quando eu o chamei, mas me seguiu, insistindo para me pagar um sorvete. E eu, mesmo a contragosto, aceitei. Logo, estávamos sentados nas cadeiras de plástico de uma sorveteria, observando o trajeto lento e preguiçoso das nuvens no céu.

- Então, gostou de ter fugido comigo ou preferia ter permanecido trancafiada dentro daquela mansão em um dia tão lindo como esse?

- É – concordei, provocando-o –, talvez não fosse tão ruim quanto eu pensei fugir com você. Acho que estou feliz, por pelo menos uma vez, ter dado ouvidos a você. – e ri um pouco.

Ele cruzou os braços e seus olhos azuis atravessaram meu semblante, naquele momento eu soube que ele estava remoendo minha atitude evasiva na fonte.

- Quero que seja sincera comigo, Agatha. Você promete que será? Pelo menos responda minha pergunta com toda a sinceridade.

Baixei os olhos, constrangida, não queria ouvir a pergunta dele, muito menos respondê-la, mas acho que devia uma satisfação a Christian, por tudo o que ele tem feito por mim nos últimos meses.

Ele inclinou-se na minha direção, repousou ambos os longos braços sobre a mesa, e sustentou meu olhar, apoiando seu dedo indicador em meu queixo. Seus olhos azuis encontravam-se semicerrados, e meu coração acelerou violentamente em meu peito.

- Diga-me por que você sempre foge de mim, sempre me evita quando tento me aproximar.

- Eu... Eu não fujo de você! – disse-lhe, mas minha voz vacilante entregou-me, e ele pegou-me na mentira.

Ele crispou seus lábios e cruzou as mãos sobre a mesa.

 - Não foi o que me pareceu agora pouco na fonte.

- Christian... – sussurrei seu nome, implorando internamente para que ele não revirasse aquela minha velha ferida.

- Você ainda pensa nele, não é? No meu irmão. Você ainda está apaixonada por ele, e pior, acho até que você tem esperanças de voltar a vê-lo algum dia.

- Não, não é isso. – respondi, mas meu tom era defensivo demais. E mais uma vez, ele sabia que eu estava mentindo.

Desviei os olhos, que àquela altura já ardiam, e mordi os lábios, tentando desesperadamente refrear aquela avalanche de sentimentos negativos e mágoas que eu acumulara no passado. Funguei e limpei os olhos com as pontas dos dedos, esfregando até que a umidade traidora recuasse para meus dutos lacrimais.

- Se não é isso – recomeçou ele –, explique-se, por favor.

Respirei fundo, prestando atenção em uma família de turistas que tirava fotos na fonte, as crianças já retiravam os sapatos, afobadas por molhar as canelas na água, mas vi os pais as impedirem a tempo.

Tornei meus olhos para Christian, vendo que ele ainda aguardava por uma resposta minha, uma que fosse verdadeira, e que fizesse sentido.

- Christian, você é maravilhoso para mim. É legal, carinhoso, divertido, mas... – fiz uma curta pausa, escolhendo melhor as palavras – Mas eu estou confusa quanto a tudo nesse momento, não consigo... decifrar o que realmente sinto por você. Eu sei que é algo forte, um carinho imenso, e uma conexão muito poderosa, mas não sei se estou pronta...

- Para se envolver com alguém. – ele completou minha frase, mas não parecia convencido disso.

- Isso. – assenti, enxugando as palmas suadas de minhas mãos em meu vestido.

Ele ergueu as sobrancelhas, puxou sua cadeira para mais perto da minha, e suas mãos buscaram pelas minhas, segurando-as delicadamente.

- Eu disse a você que seria paciente, não seria? Que esperaria até que você tomasse a decisão. E eu não estava brincando, Agatha. Espero pelo tempo que você precisar. – e sorriu gentilmente.

Retribuí seu sorriso e o aperto sutil em nossas mãos, agradecendo a sua imensa compreensão e paciência comigo. Christian era mais do que um amigo, era um confidente, um o qual eu poderia contar vinte e quatro horas por dia. Mas, estaria ele certo? Minha hesitação teria relação com meus sentimentos por Aidan?

Talvez no fundo, a resposta fosse sim. Porque, de alguma forma, eu sentia, eu sabia, que muito em breve, seríamos colocados frente a frente novamente. E toda aquela avalanche de sentimentos que eu estivera reprimindo nos últimos meses, viria à tona finalmente, indubitavelmente.

E minhas incertezas a respeito desse reencontro, deixavam-me ainda mais apreensiva. Ainda mais receosa. Por não saber o que esperar desse tão esperado reencontro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E o segredo da Stella foi revelado! Que fofa ela não? Tem tanta afeição pela filha da mulher que roubou o grande amor da vida dela... kkkkkkkk' Mas falando sério, ela será uma ótima amiga e influência para a Agatha...

E o que acharam dessa voltinha por Roma? Se eu fosse a Agatha, ficaria em uma dilema: Eu não sei se prestaria atenção na cidade linda e maravilhosa, ou no gato que estava ao meu lado... *oo dúvida cruel* rsrsrsrsrs...

Christian está se mostrando muito compreensivo e paciente com a Agatha... Mas será que algum dia a Agatha tomará a iniciativa de procurá-lo?

E ela já está pressentindo um possível reencontro com seu antigo amor! Aidan está voltando, não vou dizer quando pq quero pegar todo mundo de novo, mas uma coisa eu garanto, tá muito perto!

Próximo cap, teremos o passado do pai da Agatha totalmente desvendado!

Até lá...

Beijinhos!!!