Ponto de vista: Apolo

Por que todo mundo se ferra quando olha pra trás? Bem que meu pai dizia...

“Nunca olhe para trás, não vale a pena”

Mas o tonto aqui ouvia? Óbvio que não, quem ouve os pais? Sempre parece algo bobo e tal, mas quando acontece, você gostaria de ter ouvido.

Agora, cá estamos nós, eu, Annie e Athena, sendo levados para algum lugar que eu com certeza não sei qual é, dentro de um carro preto, vendados.

Que coisa animadora.

[...]

O barulho do carro cessou, finalmente.

Mas não creio que seja algo para se comemorar, certo?

- Ah, cara, nós vamos nos dar bem – disse uma voz conhecida. Ah, sim, eu conhecia aquela voz. Como não iria reconhecer? Mike. Ele estava no enterro de Zeus, sim, ele estava lá, importunando Athena.

- Nem me diga. Cronos vai nos recompensar por isso – disse uma outra voz, mais longe, que eu não reconheci.

- Vamos logo antes que ele reclame.

Eu ainda estava vendado e com as mãos amarradas precariamente nas costas, e acreditava que as duas compartilhavam a mesma situação.

Aquilo poderia ser o fim e... estava tão perto.

Eu não era muito de sair em campo e tudo o mais, mal atirei na minha vida. Eu ficava mais na área dos paramédicos, cuidando das pessoas que chegavam de missões, fazendo os exames obrigatórios, e era um dos poucos que mantia uma vida fora da Buddies, como acontecia no hospital.

Era algo... tenso.

Inesperado.

Nunca imaginei estar em uma missão de verdade, e aquilo era algo emocionante, e ao mesmo tempo, perigoso.

Someone told me long ago

There’s a calm before the storm

I know, it’s been coming for some time

When it’s over, so they say

It’ll rain a sunny day

I know, shinin’ down like water

Quando tiraram nossas vendas, era como se nos teletransportassem para uma época totalmente diferente.

Era tudo diferente.

Os móveis, os tapetes, as cortinas, a estrutura.

Os tons se concentravam em vermelho, dourado e vinho. Às vezes até tinha um marrom ou castanho.

Era uma casa que eu diria ter sido da baixa nobreza. Mas, nós não estávamos na Europa, e sim nos Estados Unidos, em Nova York.

Af. Acorde, Apolo.

Depois de acordar dos meus devaneios suspeitos, percebi que Annabeth já estava ajoelhada na frente de Percy, chorando. Ele não podia fazer nada, porque também estava amarrado. E os outros ficavam lá, olhando.

Athena parecia ter vestido uma armadura impenetrável. Ela estava incorporada como a personalidade que eu chamava de ‘velha Athena’. Séria e imponente. Isso eu sempre admirei nela, por mais que estivesse à beira da morte, nunca perdia sua postura.

I wanna know, have you ever seen the rain?

I wanna know, have you ever seen the rain comin’ down on a sunny day?

- Espero que tenham feito uma boa viagem, sim? – perguntou Cronos retoricamente, a quem eu reconheci pela foto que Zeus havia mostrado.

Mike e o outro cara sorriram, satisfeitos.

Ridículo.

- Oh, minha querida Athena, há quanto tempo, não é? Você se tornou uma bela mulher – continuou ele, tentando deixar Athena com raiva, mas isso não era fácil de se fazer, oh, não, não quando você não é Poseidon.

- Como vai, tio? Você está velho – rebateu ela, com um sorriso diabólico.

Poseidon a encarou incrédulo, como se ela fosse louca, provavelmente pensando a mesma coisa que os outros.

Que porra é essa?

Olhando atentamente para Cronos era impossível não perceber, seu sorriso havia vacilado, para se recuperar alguns segundos depois.

Athena 1, Cronos 0.

Ela continuou impassível, dando uma breve olhada a Poseidon.

- Curve-se à mim, Athena, o novo presidente da Buddies – disse ele.

- Faça-me rir, John – Athena disse, e Cronos mais uma vez foi abalado. – Você não aguentaria nem uma semana, acredite.

- Ah, sim, é claro, como eu me esqueci? Você é a herdeira, a queridinha do papai, a que dá o exemplo – ele disse. – Mas, até quando? – ele terminou, com um brilho perverso nos olhos. Credo, que coisa gay.

Yesterday and days before

Sun is cold and rain is hot

I know, been that way for all my time

‘Til forever, on it goes

Through the circle, fast and slow

I know, I can’t stop, I wonder

Athena foi empurrada por Mike e forçada a se ajoelhar. Mike enrolou a mão em seus cabelos e puxou sua cabeça para trás, mas ela continou antes, a dama de ferro.

Com certeza aquilo estava doendo e com certeza ela estava treinada para suportar a dor. Além de que, ninguém conhecia as aventuras de Athena e tudo o mais, mas como irmão, eu sabia, ela provavelmente já tinha sido torturada, era um dos motivos de ser tão fechada, tão centrada, tão... fria.

- Onde está o diário? – perguntou Cronos, com uma seriedade repentina.

- Ah, sim, o diário... Eu...

- Diga, Michael!

- Eu não o consegui.

- E o que diabos ficou fazendo naquele enterro?! Eu te disse aonde estava! E era um caixão de vidro – sua voz baixou consideravelmente, deixando-os com medo.

- E-eu me distraí, senhor – disse ele, olhando para Athena, insinuante.

- Agora vêem? – disse ele, olhando ao redor, para outros homens. – Vêem porquê não deixo nenhum de vocês ter um relacionamento? Por que é algo proibido? As mulheres e suas curvas só servem para atrapalhar!

- Ei – exclamou Anfitrite, entrando na sala.

- Não estou me referindo a você, em especial, minha querida.

- Eu concordo, sabe – murmurou Poseidon. – Aquelas curvas me tiram do sério.

Houve murmúrios de todos os lados, em concordância, mas eu tinha uma leve impressão de que ele falava de alguém em especial, ao contrário de Cronos. E isso se confirmou com a expressão de Athena.

- Você é um idiota – disse ele, encarando Mike. – E agora? Do que isso adianta? Se não temos o diário, não temos nada.

- Não é culpa minha se sua sobrinha é atraente! – gritou ele, batendo o punho na mesa.

- Sim, eu sempre soube que os genes de Métis eram ótimos – ele suspirou. – Mas não é desculpa.