A Bibliotecária escrita por Shiroyuki


Capítulo 2
Capítulo 2 - Observar


Notas iniciais do capítulo

Era pra mim ter postado ontem de noite, mas eu não conseguii...
Bom, aqui tá o capítulo, boa leitura!



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O despertador tocava baixinho na mesa ao lado da cama, mas a pessoa que ali dormia já estava em pé há algum tempo, e se vestia calmamente, sem ligar para o barulhinho irritante. Saiu do banheiro, desligou o despertador e atravessou o corredor, entrando no quarto à frente, que era todo cor-de-rosa, cheio até o teto de ursos de pelúcia. Balançou levemente o volume em forma de bolinha em cima da cama murmurando um ‘acorda logo’ baixinho.

Desceu as escadas sem fazer nenhum ruído, desnecessariamente já que seu pai já havia saído há muito para trabalhar, e sua mãe havia se separado do marido há bastante tempo, (trabalhava em uma empresa nos EUA, então não tinha muito contato com as filhas) e se apressou em preparar o café da manhã. Logo sua irmã mais nova desceu, enrolada no edredon e com os olhos ainda fechados.

Guardou todos os livros que estavam em sua casa na mochila para devolver à biblioteca e escovou os cabelos de qualquer jeito. Passou na cozinha rapidamente para pegar uma torrada e se despedir da irmã.

— Tenha um bom dia, Hina nee-chan! – Hanabi gritou, quando viu a irmã se dirigir a porta para sair.

Como sempre, Hinata veio à escola muito antes do necessário. Ela sempre chegava cedo, pois era mais tranqüilo, e mais agradável do que ficar em casa. No silêncio da sua amada biblioteca, ela mergulhou no seu próprio mundo, despertando apenas na hora em que o sinal de entrada soou. Ainda com o livro na frente do rosto, ela se dirigiu lentamente á sala de aula, passando antes pelo pátio que separava a biblioteca do resto, e pelos corredores apinhados de gente. Pessoas passavam a todo o momento, rindo e fazendo brincadeiras, mas nenhuma delas parecia notar a pequena bibliotecária, com o nariz enfiado no livro e a mente viajando em alguma outra dimensão, e era assim que ela preferia. Era uma especialista na arte de ser invisível, passar despercebida.

Repentinamente, sentiu um puxão. Alguém estava perigosamente perto, e a segurava com certa força, no meio da multidão, como se ela fosse um escudo. Essa pessoa a girou para um lado, depois para outro, deixando-a tonta.

— Eu juro! Não fui eu! – uma voz rouca gritou em seu ouvido.

— Aaah! Como se eu fosse acreditar!!!Eu te mato, Uzumaki!!! – outra voz masculina gritou em resposta.

Seu corpo foi puxado para trás, ainda sendo usado como defesa, e então ela foi arrastada até o pequeno armário da limpeza, que ficava logo ali atrás. O som da porta sendo trancada a assustou, e involuntariamente ela começou a tremer, olhando para baixo.

— Me desculpa, garota, eu não devia ter feito isso, nee?

Hinata levantou brevemente o olhar, para ver quem a havia sequestrado. Era uma garoto razoavelmente alto, que ria abertamente e levava a mão atrás da cabeça em sinal de constrangimento, ou quem sabe, culpa. Mesmo com a luz precária que entrava pela pequena janela da salinha, ela pode notar o brilho intenso daqueles orbes azuis, e a rebeldia dos cabelos dourados. Ele era lindo. Sem perceber, Hinata já estava corada, com a boa entreaberta em surpresa e deslumbramento.

— Hm... acho que o Takagi já foi... ele precisa de um tempo pra se acalmar ’ttebayo.

Ele abriu a porta, pondo a cabeça para fora cuidadosamente, olhando para todos os lados, antes de sair, com Hinata o seguindo.

— Aaah... acho que ele já deve ter percebido que não fui que contei pra aquela namorada louca dele sobre as revistas pornô – Naruto tagalerava, enquanto caminhava sossegadamente no corredor vazio - Foi mal mesmo por ter te posto naquela confusão... anh... qual é seu nome mesmo...? – ele olhou para trás para falar com a bibliotecária, mas tudo o que viu foi um corredor deserto, e no fim dele, a professora que estava à caminho da sala de aula. Ao ver um aluno fora da sala àquela hora, ela se aproximou rapidamente, sem dar chance para ele fugir.

— O que você está fazendo, passeando na hora da aula? – ela perguntou, sorrindo amigávelmente.

— Eu... ah! Eu não fiz nada de errado, viu?! – ele choramingou em resposta.

— E VOCÊ ACHA QUE ESTAR PERAMBULANDO PELOS CORREDORES NÃO É ERRADO SUFICIENTE??? – Ela berrou, deixando cair a máscara de professora compreensiva e amena, e fazendo o pittbull enraivado e assassino que morava na esquina parecer um filhote de chiuaua com olhinhos grandes e pidões. A sua volta uma áurea vermelha e densa, digna de um serial killer, fazia Naruto tremer incontrolavelmente — Pode fazer o favor de voltar para a sala de aula? – ela disse calma, sorrindo e ajeitando os óculos.

— Hai, sensei! – Naruto saiu correndo sem nem pensar, fugindo pela sua vida.

-

— ... cuja pluralidade não impede de prosseguir a classificações de gênero e exposição de autores e obras, entenderam? – o professor falava com as paredes, tentando em vão chamar a atenção dos estudantes para si.

Hinata não ouvia nada. Por respeito ao professor, ela não lia seus livros em sala de aula, o que tornava esse tempo incrivelmente tedioso e improdutivo. Mesmo sem ler, ela não prestava atenção alguma no que os professores diziam, afinal, ela poderia muito bem ler alguns livros da biblioteca um dia antes da prova e se sairia com no mínimo um B.

Ao contrário do que acontecia sempre, hoje a mente de Hinata não estava vazia. Estava completamente recheada de pensamentos do loiro, e daquele encontro estranho. Ela mal conseguia manter uma linha de raciocínio coerente. Se sentia estranha, mas preferiu não ligar para isso... devia ser algo que ela havia comido.

— O que você me diz sobre isso, Srta. Hyuuga? – ela ouviu chamarem seu nome, e virou a cabeça mecanicamente.

— Eu não sei – ela respondeu o mesmo de sempre. O professor, que já esperava por isso, passou a pergunta pra um outro aluno qualquer, sem mais se importar com Hinata, todos já estavam mais que acostumados ao jeito dela, e não faziam mais observações incomodas sobre seu comportamento.

Depois de muito tempo, a hora do almoço finalmente chegou. Com o livro que estava lendo atualmente entre os braços, ela rumou, em seu próprio ritmo, para o refeitório, sem ligar para as trombadas, ou aqueles gritos impacientes de ‘vá mais rápido’. Nem ouvia os ruídos externos, afinal, isso não pertencia a ela.

Sentou na sua mesa de sempre, no canto mais afastado, perto da janela. Aquela era sem dúvida era a melhor mesa dali, tinha uma bela vista dos jardins, uma brisa gostosa no verão, e raios cálidos do Sol no inverno, mas todos pareciam tão preocupados em ficar sempre no centro, que nem sabiam da existência daquele lugar. A mesa era como a bibliotecária, ambos mantinham seus valores escondidos, apenas poucas pessoas podiam apreciar, mas isso era algo que nem ela, nem a mesa, sabiam. Ainda.

Hinata lia calmamente, enquanto comia o Melon Pan que era seu almoço, alheia a tudo a sua volta. Quando terminou, tanto a comida quanto o livro, ainda restava algum tempo do almoço, e ela sentiu a necessidade repentina de olhar para as outras pessoas. Esse era outro hábito peculiar da Bibliotecária. Ela gostava de observar tudo, e todas as pessoas, ao seu redor, quando não estava lendo, claro, pois mesmo sendo muitas vezes egoístas e superficiais, todos ali tinham histórias, e ela gostava muito de colecionar histórias. Eram tantas, e tão variadas, com finais inesperados, muitas vezes. Mesmo não tendo contato com nenhuma pessoa em especial naquela escola, Hinata sabia de praticamente tudo o que acontecia ali. Sabia sobre todos os namoros, intrigas, traições e fofocas, coisas comuns que ocorrem na vida escolar. Era de fato, muita informação confidencial, o bastante para deixar todos ali constrangidos e marcados até a 5ª geração, pelo menos. Essa é uma das vantagens para quem passa despercebido, mas ela não tinha intenção de usar seus conhecimentos a seu próprio favor, muito menos para prejudicar alguém.

Ela persistia em sua observação, voltando a sua atenção para a mesa logo à frente, onde Sanaka-san, que era Líder de Torcida passava a perna de um jeito bastante duvidoso na perna do garoto a sua gente, que era jogador do time de Baseball, ao mesmo tempo em que conversava, sorrindo afetadamente, com seu namorado.

— Você é a garota do armário, nee? – uma voz animada e alta desviou sua atenção.

—... – ela fitou sem expressão o rapaz sentado ao seu lado, que tinha a cara praticamente encoberta por um brilhante sorriso.

— Você não me disse seu nome...  – ele tinha o semblante confuso, com um pequeno biquinho se formando nos lábios. Hinata achou essa expressão particularmente fofa, mas continuou impassível.

— Hinata. Hyuuga Hinata – ela disse apenas, com a voz suave mal passando de um sussurro. O garoto pareceu supreso, pois não esperava por nenhuma resposta, mas se recuperou rapidamente e estendeu a mão, sorrindo ainda mais.

— Eu sou Uzumaki Naruto dattebayo! – ele praticamente berrou, ainda com a mão estendida, num gesto de cumprimento. Hinata olhou a mão, olhou para Naruto, e de novo para mão, sem entender. Naruto segurou a mão dela entre as suas, e balançou levemente. O gesto despreocupado a deixou com o rosto em brasas, mas ele nem percebeu.

— Naruto! Corre aqui! – alguém gritou na multidão.

— Ah! Eu vou indo... qualquer dia a gente ... anh... conversa? – ele terminou em tom de pergunta. Hinata apenas balançou minimamente a cabeça em tom afirmativo, e ele saiu correndo, de um modo espalhafatoso.

Hinata continuou em seu cantinho, sem demonstração alguma no rosto pálido. Mas, se algum bom observador a analisasse de perto, notaria o imperceptível sorriso que se formou em seus lábios róseos.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam dos reviews, eles são indispensáveis para a saúde do meu coração *3*

Kisu!