Apenas Rin Kokonoe escrita por x_Le_x


Capítulo 1
- Only




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Ouvi uma voz familiar me narrar um conto infantil.

Eu estava adormecendo em suas pernas. Por mais que eu tentasse resistir, meus olhos me entregavam a todo o momento, pesando e implorando para que os fechasse.

Depois de minutos ouvindo o que ela me dizia, descobri que eu ouvia uma versão de Alice no país das maravilhas, porém, diferente da versão real, esta tinha um toque especial. Ela havia sido escrita por ela, eu não tinha dúvidas disso.

Era noite e estava abafado. Devido a isso, uma gota de suor percorreu em minha face.

Pouco tempo depois, o bastante para ela notar que estava quente, a voz se calou e eu senti uma brisa beijar meu rosto.

Então, eu adormeci.

***

Frio. O clima havia mudado e tinha uma coberta sobre mim. Quando abri meus olhos o dia já havia clareado, porém o sol não tinha nascido.  Eu estava vestido com as últimas roupas que eu tinha usado no trabalho. Um lado de meu corpo estava mais aquecido, e o mesmo lado, tinha marcas onde alguém esteve deitado.

Certamente, ela havia dormido embaixo de meu braço. Olhei para meu outro braço. Este agarrava o caderno de Kokonoe. Suspirei me levantando levemente, tomando cuidado com o caderno.

Do lado do futón, encontrei meu óculos fechados.

                Ela ainda estava aqui?

                - Kokonoe? – eu a chamei, colocando os óculos.

                Permaneci sentado esperando. Nenhuma resposta.

                Abri o caderno.

                Percebi que minhas mãos tremiam. Eu estava ansioso?

                Folheei logo para as ultimas páginas a fim de encontrar a prova de que eu não estava louco.

                Então, sim. A história de Alice estava escrita lá. Ela havia passado a noite aqui.

                O pedido que eu havia feito na aula de sexta-feira ela já havia cumprido.

                A tarefa era reescrever um conto com suas palavras e o de Kokonoe realmente estava impecável.

***

                Agora eu estava preocupado em pensar que Reiji estaria preocupado. E quando soubesse que ela esteve aqui, moveria uma ação ou algo parecido contra mim.

                Fiquei de pé. Meu corpo doeu graças à noite que dormi mal ajeitado.

                - Kokonoe? – tentei em vão mais uma vez.

                Onde ela estaria?

                Caminhei até a cozinha, e então levei um susto.

                A mesa de café estava posta. Dois pratos, duas torradas e um ovo em cada. O Café estava coado.

                Agora eu tinha certeza que ela ainda estava em casa.

Cutuquei uma das torradas só para ter certeza, e esta ainda estava quente.

                - Eu sei que você ainda está aqui...! – sai andando da cozinha esperando por alguma reação.

                Caminhei até a sala, e quando cheguei a um ponto que eu enxergava sofá, encontrei-a deitada em meu tapete. Nesse instante ela dormia.

                Depositei o caderno em cima da mesa de canto e fui me aproximando dela.

                O peito de Kokonoe vagarosamente se movimentava devido à respiração.

                Já do seu lado, fui me abaixando, até que perdi a força e cai de joelhos sem fazer barulho.

                Apesar de ser minha casa, eu estava aliviado por saber exatamente onde ela estava.

                Enquanto estava adormecida, negava toda a maturidade que carregava nas costas.  Parecia só mais uma das crianças de minha classe.

O que ocorrera fora que na noite passada, após chegar do trabalho fui descansar.

               Quando percebi, havia sua voz distante. Ela estava em casa e eu deitado sobre seu colo.

Agi errado sendo vencido pelo cansaso? Foi errado deixá-la ficar, ao invés de pedir para ela voltar para casa? Foi errado voltar a dormir em seu colo? Eu sabia as respostas.

                “Apenas uma criança” ... “Kokonoe é apenas uma criança”

                Por que meu corpo negava estas afirmações? 

                Olhei para ela. Eu gostaria de saber o quanto ela me quer. Gostaria de saber se o que eu represento é algo como um pai ou além.

                Mas... Por quê?

                Arrumei a franja dela que caia sobre seus olhos fechados e nesse instante senti que seu rosto estava gelado.

                Eu havia me esquecido que esfriara e que Kokonoe ainda vestia as trajes de verão que usara ontem.

                Chequei o relógio. Já passara das nove... Então na verdade, o sol se escondera devido ao dia nublado.

Vacilei com a idéia que a este ponto Reiji poderia estar pirando à procura dela.

                Hesitei em deixá-la dormir, mas a razão pesou em minha mente e eu a chacoalhei levemente pelo braço.

                - Kokonoe?

                Ouvi ela murmurar algo indecifrável.

                Tentei mais uma vez, e desta, uma Kokonoe com os olhos entreabertos me fitou.

                -Sensei... – ela abriu um sorriso.

                Devido a isso eu corei. Senti raiva de mim por isso.

                Kokonoe passou os braços por volta de minha cintura, grudando o rosto em meu abdômen.

                Eu travei. Tentei afastá-la, contudo meu corpo negava a ação. Ela estava tão fria que desejei esquentá-la pelo abraço.

                -V-você precisa... –fraquejei.

                Agora as pernas dela se passavam em volta de mim. O que ela estava fazendo?

                Havia afeição estampado em seu rosto.

                - Sensei, o café vai esfriar. – Ela avisou levantando os olhos para mim.

                Eu paralisei meus olhos nos delas. Em seguida, coloquei minhas mãos em seus cabelos acariciando-os e sem intenção a fazendo corar.

                Meu coração acelerou repreendendo-me.

                - Reiji deve estar preocupado. – eu finalmente consegui dizer.

                Kokonoe balançou a cabeça negativamente para mim sorrindo sem mostrar os dentes.

                - Eu disse para ele que eu iria dormir na casa de Mimi-chan.

                Suspirei.

                - Esse é mais um motivo para você voltar.

                O sorriso sumiu e senti que a força que ela usava para me abraçar aos poucos foi fraquejando.

                Vi ela se encolher.

                - Eu fiz café para duas pessoas... Se eu for embora... – ela sussurrou   

                Abri a boca, porém não consegui dizer nada. Eu havia ferido seus sentimentos? Fora o mesmo que negar o esforço dela?

                Repensei. Eu precisava corrigir isso... Ficar alguns instantes a mais aqui, talvez não fizesse mal.

                - Vamos tomar café juntos. – eu disse forçando um sorriso.

                Os olhos de Kokonoe cresceram e o sorriso de antes brotou nos lábios dela mais uma vez, devolvendo aquele que eu havia lhe dado.

                Kokonoe... É apenas uma criança.

***

               

                Mordi uma das torradas que estavam em meu prato e o gosto não estava ruim. Kokonoe devia ter aprendido a cozinhar desde que idade?

                - Estão frias... Não é, Sensei?  - Ela disse isso após mastigar e engolir um pedaço de sua torrada. – Não precisa comer se quiser.

                Enquanto engolia um pedaço da torrada eu balancei os braços.

                - Não, não! –  sem querer me exaltei – Estão ótimas!

                Ela riu deste meu comportamento me devolvendo um olhar carregado de compreensão.

                Eu me perguntava se ela podia me ler.

                Mastigamos o café em silêncio.

                Para ela, era prazeroso somente por ter minha presença junto da dela.

                Para mim, estava aconchegante por ter a chance de tomar café com alguém.

                - O Sensei está bravo por causa do que eu fiz?

                Com a xícara de café na boca, levemente arregalei meus olhos. Voltei a xícara na mesa.

                - Não estou. Só quero que não faça isso novamente.

                Eu não estava cumprindo meu papel de professor. Talvez eu devesse lhe aplicar uma bronca e passar um sermão por mentir para seu responsável... Mas... A partir do momento que ela estivesse dentro de minha casa, nós deixávamos de ser professor e aluna?

                Eu não poderia me deixar entregar por esses pensamentos.

                -Reiji deve estar te esperando – eu disse.

                Ela assentiu.

***

                Kokonoe já havia terminado de tomar seu café quando perguntei para ela se ela já estava pronta para ir para casa, então fomos para a porta da sala para assim irmos a pé até a casa dela.

                Ao abrir a porta, a brisa tocou não só a mim, mas a ela também, que se escondeu atrás de meu corpo tremendo.

Havíamos nos esquecidos de uma questão: O clima mudara, e o dia estava frio e com vento cortante.

                - Frio! – ela alegou, agarrando em minha blusa por trás.

                Senti as mãos dela descerem por minhas costas , causando um arrepio.

                -E-eu te empresto um casaco. – gaguejei.

               

               

***

                Estávamos na esquina da casa dela. Kokonoe vestia um dos meus casacos marrom e a veste ficara maior do que ela,  fazendo com que quando ela andasse arrastasse as mangas pelo chão.

Por mim não fazia mal contanto que ela estive aquecida.

                - Quer que eu te acompanhe até Reiji te receber? - ofereci

                - Isso vai dar problemas ao Sensei.

                Era gentil da parte dela.

                O vento barulhento soprou forte contra nós, fazendo com que ela voltasse aos meus braços.

                -Kokonoe! – Eu disse por reflexo.

                -Seu casaco!  - Ela se lembrou soltando de mim  e começando a retirá-lo com pressa.

                No mesmo instante, segurei o braço pequenino com uma de minhas mãos, parando-a.

                Se Kokonoe pegasse um resfriado eu seria o primeiro a me culpar.

                Agachei-me de frente a ela.

                - Fique com o casaco. Depois você me devolve.

                Kokonoe pareceu surpresa.

                - Obrigada... – ela respondeu fazendo com que um de seus dedos delicados tocasse meus lábios.

                Tentei me afastar, mas meu corpo teimoso rejeitou mais uma vez.

                Vi o rosto de Kokonoe e seus fios de cabelo loiro se aproximarem de mim.  Ela estava tão próxima que eu podia ouvir sua respiração.

                Os lábios dela pousaram nos meus e com isso fechei meus olhos  apreciando o curto momento.

                Que diabos eu estava fazendo?!

                Desta vez, Kokonoe se afastou de mim.

                Talvez aquele fosse o máximo da duração de seus beijos. Mas fora o beijo mais longo que eu recebera, mesmo que todos tenham sido vindos dela.

                Meu coração bombeou o sangue mais rápido, o bastante para que eles chegassem as minhas bochechas e eu corasse.

Eu sabia que aquilo era errado e eu estava assustado.

                Pousei meu dedo indicador sobre os lábios dela, dando um tempo para que meus pensamentos assimilassem o que havia acontecido.

                Ela retirou a minha mão sorrindo para mim.

                - Até Segunda, Sensei. – ela se despediu.

                Kokonoe me deixou agachado no chão dando as costas para mim.

                Vi ela arrastar meu casaco até a porta de sua casa, e esperei lá até que Reiji a recebesse e eu tivesse certeza que ela estava em segurança.

                Com certeza, Kokonoe inventaria alguma boa desculpa pelo casaco. Afinal, ela é apenas uma criança...

                                                ***

                Em casa eu descansava, depois de finalmente conseguir abrir a porta, pois havia sido um sacrifício, afinal minha mão tremera devido ao nervosismo.

                Sentei no sofá afundando meu corpo no mesmo.

                Apesar de tudo eu estava aliviado por ela não estar mais aqui.

                O flash do beijo voltou a minha mente e meu coração bateu rápido outra vez.

                “Kokonoe é apenas uma criança!” – Lutei contra eu mesmo.

               Foi então que meus olhos vidraram no caderno acima da mesa de canto, e quando percebi, eu já relia a história de Alice pela segunda vez naquele dia.

                Kokonoe é apenas uma criança... E eu apenas seu professor. Seu professor a quem devia lhe ensinar e manter a relação que meu trabalho me obriga.

                Suspirei.

                Sempre fui ciente de uma coisa:

                O único jeito de ensinar uma criança a amar é amando-a. – Só me pergunto se quem esta fazendo isso é Kokonoe ou eu.

               

               

               

FIM#  


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Notas finais do capítulo

Escrevi essa one-shot hoje... Esperto que tenham gostado! Deixem reviews ^--^



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