Diario de um Semideus 2 - As Portas da Morte escrita por H Lounie


Capítulo 3
Encontramos a Morte




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O escorpião movia-se em nossa direção, as pinças faziam um barulho horrível e as patas também.

Parei para pensar em nossas opções. Bem, tínhamos uma adaga e pernas para correr. E mais nada.

– Luke, não acho que devemos...

– Me da a adaga.

– O que? Você não está pensando em...

– Me de a adaga e corra. Agora.

– Não! Não vou perder você outra vez, Luke.

Ele olhou para mim por alguns segundos, parecia quase comovido. Mas o escorpião continuava a avançar.

– Eu vou ficar bem sunshine, confie em mim. – Ele já se movia em direção ao escorpião.

– Não! – gritei.

Um pequeno estalo e não havia mais escorpião algum.

– Caramba Lyra, seu grito assustou o escorpião. – Riu Luke.

– Não seja idiota, moleque. – Disse uma voz, antes que eu pudesse responder algo a Luke.

O homem em nossa frente era branco como papel, tinha cabelos negros, cortados de forma desigual e sua capa preta agitava-se com o vento. Em sua mão direita, uma foice.

– Thanatos. – Sussurou Luke.

– A própria morte. – Sorriu o homem. - Aquela de quem ninguém escapa. Nem mesmo vocês. Está na hora de voltar semideuses.

Ele moveu a foice negra em nossa direção, com um movimento de sorte nos esquivamos de seu golpe.

– Devem voltar para o lugar de onde não deveriam ter saído! Ninguém escapa da morte!

Ninguém escapa da morte... Por que isso soa um tanto falso? ‘Sísifo’, disse a voz de um garoto em minha mente. Sísifo, sim, ele havia enganado a morte. Como foi mesmo?

– Vaidade. – Não foi mais que um sussurro, porém tive certeza que Luke ouviu. Ele sorriu para mim como quem diz ‘vai em frente’.

Na mesma hora, olhei para Thanatos com o que julguei ser uma expressão de fascínio no rosto. Eu não tinha um colar para prender a morte, mas sabia que uma vez vaidoso, sempre vaidoso. Convivi tempo suficiente com filhos de Afrodite para ser capaz de entender bem isso.

– Nunca imaginei que a morte fosse tão bonita. – Comecei, vendo Thanatos vacilar em seu golpe.

– Rá! Acha que me engana? Sei bem o que está tentando fazer menininha.

É, talvez não fosse assim tão fácil.

– O que? Obvio que não! Creio que o senhor não tem se olhado muito no espelho ultimamente, não é mesmo?

– Não tenho tempo para me olhar no espelho. Eu sou a morte! Sabem quantos morrem a cada minuto? Arrisco dizer que sou o deus mais ocupado.

– Então como consegue manter-se assim tão belo? Conte-me seu segredo senhor, gostaria de ser assim tão bonita.

– Ora vamos menina, o que está querendo? Sabe que não vou cair nessa.

– Mas Lyra tem razão. – Comentou Luke, chegando perto de mim como se estivesse pronto para levar o golpe da foice em meu lugar.

– Claro que tenho. O senhor é comprometido? – Disse piscando um olho. Thanatos apenas me olhou de canto.

Ele não era feio, mas não era o deus mais bonito que já vi, apenas não merecia todos esses elogios. Eu girava minha adaga que havia ganho de Leto na mão quando uma ideia me ocorreu.

‘Me desculpe Leto, mas é por uma boa causa’

– Porque você mesmo não olha? – Sugeri, mostrando a adaga para ele. – Veja como é bonito e depois me conte como faz para ficar assim.

Thanatos pareceu pensar por um instante, mas por fim baixou a foice e pegou adaga.

– Ah! Pythia! A adaga que matou Píton. - Comentou ele.

– Duas vezes. – Acrescentei. Ele sorriu.

No começo ele pareceu relutante, mas assim que viu seu reflexo, só faltou gritar que eu tinha razão.

Luke e eu ficamos o observando por algum tempo, ele parecia fascinado.

– Bem... Thanatos?

– Sim, querida?

Querida, quanto avanço em tão pouco tempo.

– Vamos... vamos ir ali, tudo certo? – Disse apontando para a trilha.

– Não quer ficar mais um pouco e compartilhar minha beleza?

– Gostaria muito senhor, mas temos que ir, é importante.

– Bom, vai querer a adaga? – Disse ele ainda sem tirar o olho de seu reflexo.

– Não, pode ficar. Ela é tão brilhante, não é mesmo? É perfeita para você.

– Obrigada então. Em troca, pegue o pequeno embrulho que está no meu bolso. – Thanatos nem se moveu enquanto eu mexia em sua capa.

Tirei de lá de dentro uma caixinha preta, dentro da caixinha havia uma pequena chave dourada, presa a um colar.

– Provavelmente isso lhes será útil.

– Ahn, obrigada, eu acho... – Por esse bônus eu não esperava. Coloquei o colar no pescoço, sentindo falta de meu arco dourado mais uma vez.

A chave parecia uma versão em miniatura da chave que se encontrava na empunhadura da nova espada de Hades, era dourada e com formas perfeitas, mas eu ainda não conseguia identificar um uso para ela.

Começamos a nos afastar da morte aos poucos, enquanto ele ainda parecia fascinado com sua beleza. Assim que tivemos certeza que estávamos longe, começamos a correr. E assim foi por muitas horas, até que eu desabasse no chão.

– Luke, eu não aguento mais! – Reclamei.

– Vamos Lyra, não falta muito, não podemos nos dar ao luxo de parar para descansar agora.

Ele pegou em minhas mãos e me levantou. Parecia extremamente cansado, mas também extremamente determinado. Passamos o resto do dia correndo por trilhas quando por fim chegamos aos pés do monte Tam.

– Estamos sem arma alguma, estamos mortos de cansaço e se encontrarmos um monstro, juro que eu me mato e acabo logo com isso. – Falei arfando, sentando no chão, tentando entender aquela estranha expressão de Luke.

– Você foi incrível lá em cima. Enganar a morte não é para qualquer um. – Ele sorriu, sentando-se ao meu lado e passando um braço pelos meus ombros. – O que acha que é essa chave?

– Não tenho certeza, é apenas uma ideia, mas...

– Mas?

– Mas acredito que seja uma das chaves da morte, uma das chaves que podem abrir e fechar o Hades.

Luke ficou calado um minuto, tomando a chave em suas mãos, analisando-a sem tirá-la de meu pescoço.

– Espero que esse presente nos sirva no futuro.

Assenti uma vez. Estava tão cansada que poderia dormir ali, mas não achava seguro, não faltava muito para o anoitecer.

– Leva muito tempo para chegar no seu esconderijo?

– Vamos ver. – Ele parecia pensativo – Estamos em Ross Valley? Marin... Califórnia. Hum. Não, não fica longe, tínhamos uma em uma caverna em Stinson Beach, as trilhas do parque do monte Tam nos levam até lá.

Definitivamente, ser filho do carteiro tem suas vantagens.

– Por que aqui? Quero dizer, um abrigo aqui, onde a nevoa é tão forte e bem aos pés do monte dos titãs?

– Não sabíamos no começo. – Disse depois de pensar um pouco. – Fomos nos adaptando aos fatos aos poucos. Estou torcendo para que ainda tenha algo lá, principalmente espadas.

– Daria qualquer coisa por um arco. – Sorri.

– Isso vai ser meio difícil.

Ele se levantou, me incentivando a fazer o mesmo. Andamos mais algumas horas com Luke assaltando uma loja de lembranças e lanchonetes aqui e ali pelas trilhas do par estadual do monte Tam. Ao fim de seus pequenos furtos, eu usava uma camiseta ‘Rocky litoral’ preta e Luke uma branca com as palavras ‘Trailside Killer’.

– Ficou linda, assassino da trilha – Brinquei com ele.

Era agradável estar na presença de Luke, mais do que achei possível. Ele era divertido, fazia piadas e nos roubou um ótimo lanche em uma cabana em uma das trilhas.

Já escurecia quando chegamos a uma praia, eu queria ficar ali na areia um pouco, mas Luke disse que tínhamos que nos apressar em procurar a caverna.

Obvio que não tive que fazer nada, Luke encontrou tudo sozinho. O lugar era pequeno, escuro e um tanto molhado. A pequena caverna era fechada por uma enorme pedra e pelos deuses, não sei como Luke conseguiu movê-la.

– As armas estão aqui. – Comemorou ele, largando no chão a sacola com batatas fritas e refrigerantes que pegou em uma lojinha e um dos pequenos colchonetes que ele encontrou em uma barraca nas trilhas.

– Isso é bom. – Disse em meio a um bocejo, soltando o outro colchonete perto do dele.

– Deve ter uma lanterna por aqui, mas não deve funcionar mais. Acho que nossa única iluminação será a lua. – Ele sorriu. – Com fome?

– Não, só cansada.

– Ok, acho que devemos dormir.

Arrumamos os colchonetes no canto mais seco da caverna. Luke pegou um refrigerante enquanto eu me colocava para dormir, entre a parede da caverna e ele.

– Boa noite – Sussurrei.

– Boa noite. – Ele beijou o meu rosto e na mesma hora senti minha pele queimar. Luke é tão... fofo, para um vilão.

– Esse dia foi terrível e cômico, como toda minha vida sempre foi.

– Esse dia foi divertido.

O sono já começava a batalhar comigo, via que Luke ainda falava, mas mal conseguia entender.

– ... Quando você disse que não queria me perder de novo, aquilo queria dizer que...

Não ouvi mais nada, já tinha caído nos braços de Morfeus.

Quando acordei senti que um braço forte estava sobre minha cintura e ao mover minha mão para trás senti o corpo de Luke bem perto de mim. Afastei seu braço devagar, não queria acordá-lo.

Sentei-me no colchonete, tentando recordar os últimos fatos ocorridos. Eu havia morrido, voltado, falado com uma mulher que dormia, enganado a morte e roubado lojas. Agora estava com Luke em uma caverna e precisamos chegar do outro lado do país de alguma forma.

– Bom dia. – Era Luke, mexendo nas pontas de meu cabelo.

– Bom dia Luke, dormiu bem?

– Muito.

– Desculpe por ter te deixado falando sozinho ontem, estava cansada. O que queria dizer?

Estava com medo de perguntar, mas mesmo assim perguntei

– Tudo bem, não era nada. – ele desviou o olhar.

– Tudo bem então. Tem alguma ideia de como faremos para chegar a Long Island?

– Pensei em roubar um carro, mas achei que não iria concorda. – Ele riu.

Aquilo não era uma coisa boa, mas parecia ser nossa única opção.

– Bom, creio que essa é nossa única opção, não é?

– Podemos pedir carona, mas isso é arriscado.

– Roubar um carro também, podemos ser presos.

– Eu sou rápido, qualquer barreira policial ficará atrás de nós, desde que o carro seja veloz também. Mas não é difícil achar esportivos na Califórnia.

– Quer roubar um esportivo? E aí, vai roubar a gasolina também ou vamos roubar carros até chegar em Long Island ?

– Boa pergunta, isso vemos no caminho, mas agora é melhor irmos andando, antes que os monstros comecem a aparecer.

Arrumamos algumas coisas e saímos. Levamos conosco os sacos de dormir que eram pequenos, as comidas e uma espada e uma adaga cada um, não que eu soubesse usar, aquilo era mais uma reserva para Luke. Agora tínhamos alguns dracmas, mas nada de dólares, o que era péssimo, significava mais roubo.

Deixamos a caverna e iniciamos uma caminhada um tanto despreocupada pela praia ainda deserta.

– Podemos ir ao Parkside café, posso conseguir algo bom para nosso café da manhã. – Luke sorria como um elfo lunático, mas eu não estava prestando atenção nele, minha atenção estava no topo de um monte, em uma pedra, onde um homem gritava.

Não era longe do monte Tam, mas este monte para onde eu olhava não era tão alto. Tinha boa parte dele coberta por pedras enormes e as águas do mar batiam com fúria na base dele.

– O que é aquilo? – Perguntei a Luke, apontando para o homem.

O homem gritava desesperado enquanto um pássaro bicava um dos lados de seu corpo. Luke olhou para o homem e suas mãos se fecharam em punhos.

– Prometeu.


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