Perspectiva escrita por mamita


Capítulo 19
Chegadas e Partidas.


Notas iniciais do capítulo

Quem será que chegou? Espero que gostem do capítulo. Boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/122224/chapter/19

PDV Rose

Ouvimos alguém bater na porta, e isso era absolutamente incomum. Poucos humanos nos visitavam, acho que nessa casa apenas o chefe de Carlisle esteve aqui uma vez. Mais incomum era o fato de meus sentidos captarem o aroma característico de nossa espécie, sem sombra de dúvidas atrás da porta havia um vampiro, ou mais já que eu conseguia distinguir vários aromas.

Esme me olhou assustada (tenho certeza de que retribuir o olhar) e abriu a porta receosa, mas nada me preparou para o que eu veria. Uma vampira sorridente invadiu nossa sala cheia de malas, atrás dela um vampiro muito assustador coberto de cicatrizes nos olhava como se nos analisasse.

Imediatamente me coloquei na frente de Esme em uma posição claramente defensiva, se ele fosse nos atacar eu estaria preparada. Mas de repente fui tomada por uma confiança infundada de que eles não nos fariam mal. Os instintos naturais que normalmente se afloram em situações de risco sumiram e eu relaxei. Sem deixar o flanco de Esme, obviamente. Confiar, desconfiando. Esse era o lema de meu pai humano.

Então como se nos conhecesse há décadas, disse:

- Oi Esme, eu me chamo Alice e esse é o Jasper. Vocês nos deram muito trabalho, nós estamos procurando por vocês há algum tempo.

Dizendo isso, ela colocou as malas que carregava no chão da sala, fechou os olhos e inspirou o ar como se o cheiro da casa lhe fosse familiar. Depois, olhando tudo com encantamento e exultante de tanta alegria, falou para o companheiro:

- Lar, doce lar. Gostou Jass? Eu disse que era maravilhosa. E eles têm uma biblioteca incrível. Esme agora faz arquitetura, ela aplicou alguns de seus conhecimentos aqui.

Como ela sabia tanto sobre Esme, sobre nós? Para começar, como ela sabia nossos nomes? Quem era essa criatura? Ela continuou bailando pela sala como se pertencesse ao lugar. Só então pareceu notar minha presença e se dirigiu a mim:

- Onde fica o quarto de Edward?  Ele foi caçar com o Emmet, não foi? Quando ele chegar e vir o que eu farei, você irá amar Rose. A expressão que ele fará será impagável.

Em meio a sua fala ela ficou estática, seu olhar saiu de foco como se ela estivesse em meio a um transe. Mas foi tão rápido, que se não fosse a visão apurada dos vampiros, não notaríamos aquele movimento. E assim como começou terminou, ela sorriu novamente e disse:

- Ouve uma complicação na cirurgia do menino com problemas cardíacos, Carlisle se ofereceu para ficar Esme. O outro médico estava muito cansado. Ele só chegará amanhã.

O homem pigarreou e colocou a mão em seu ombro como se tentasse contê-la. Eles trocaram um olhar cheio de significados e ela colocou a mão sobre a boca visivelmente envergonhada. Eu me aproximei de Esme, que continuava estupefata ao meu lado, e passei meu braço pelo seu ombro. O homem nos olhou com ferocidade, talvez pressentindo que eu estava disposta a nos defender. Como se finalmente percebesse que não estávamos entendendo nada ela sentou-se no sofá e se explicou:

- Desculpe-me, é que ás vezes eu acabo me entusiasmando muito e não me controlo. Jasper tem razão, vocês não estão entendendo nada. Meu nome é Alice e eu tenho uma habilidade assim como o Edward. Foi esta habilidade que nos trouxe até vocês.

- Pode ler mentes? Esme quis saber.

- Não, eu vejo o futuro.

- Como? Agora foi a minha vez de ficar curiosa.

- Minha habilidade é ver o futuro. Mas é um dom vulnerável.

- Não funciona sempre? Esme ainda custava a acreditar.

- O futuro é baseado em decisões. Quando as decisões variam, o futuro muda. No início foi um pouco difícil, eu funcionava como uma antena de TV que capta tudo. Sabe o que é TV?

- Sim, continue. Esme a estimulou.

- Eu captava várias imagens. Mesmo o que eu não queria ver, ou quem eu não conhecia. Agora eu já consigo controlar mais. Na maioria das vezes eu só vejo o que considero importante.

- E nos viu? Por quê?

Ela olhou para o chão e eu vi de relance um leve sorriso no rosto sisudo do tal Jasper. Depois, ela olhou suplicante para Esme e disse:

- Por favor, não ache estranho...

- Não mais do que tudo que já aconteceu, eu suponho. Esme parecia enternecida com ela.

- Não me lembro de minha vida humana. Ela disse pesarosa.

- É normal, com o passar do tempo as memórias ficam cada vez mais distantes. Esme já tentava consolá-la.

Como eu queira que esta verdade se aplicasse também a mim.

- Não. Eu não me lembro de nada mesmo, nem de minha vida humana, nem de minha transformação, nem de quem me transformou, nem mesmo a dor. Nadinha mesmo.

- E? Não conseguia acreditar naquela história.

Ela poderia muito bem ser uma charlatã. Descobrir o nome das pessoas que faziam parte de nossa família era fácil, um pouco de tempo e algumas perguntas para as fofoqueiras da cidade. Quanto à caçada de Emmet e Edward, eles deviam ter comentado com alguém que sairiam para fazer trilha (era nossa desculpa para permanecer em casa nos dias de sol). E eles poderiam ter passado no hospital e perguntado por Carlisle.

O homem que a acompanhava falou pela primeira vez, dirigindo-se a mim:

- Ela diz a verdade. Pode acreditar. ´

Não sabia ao certo porque ele havia dito aquilo. Será que ele também tinha um talento? Talvez não. Talvez ele soubesse como é difícil acreditar nessa história. O que corrobora para minha certeza de que é um golpe, eles devem estar acostumados a isso. Sem me deixar tomar fôlego ela continuou:

- Como ia dizendo, eu não me lembrava de nada quando acordei para esta nova vida. Então tive minha primeira visão, era o Jasper. E naquele momento eu soube que ele era meu futuro, só que ele ainda não estava pronto para nosso futuro.

- Que futuro? Perguntei ainda muito desconfiada.

- Minha segunda visão foi esta casa.

- Quer a nossa casa? Eu gritei ao perguntar.

Eles eram bem espertinhos, esperaram estarmos apenas as duas em casa, sem a habilidade do Edward, a sabedoria de Carlisle ou a proteção de Emmet para vir e tomar nossa casa.

- Não. Ela estendeu sua mão, como que se defendendo.

- Então o quê querida?

Que ódio! Esme já a chamava de querida.

- Sei que é muito estranho, mas nos vi nesta casa, todos juntos, como se fizéssemos parte deste clã. Eu nos vi como parte de seu clã. Depois que Jasper estava pronto, eu fui à sua procura e quando nos juntamos saímos à procura de vocês. Nos aceitariam?

Esme me olhou como se implorasse minha aprovação, mas eu ainda não acreditava no que ouvi. Ela olhou então para a pequena e estranha vampira e disse:

- Não costumamos tomar decisões sem ouvir a opinião de todos. Como já sabe, Carlisle ficará no hospital e os meninos estão caçando. Mas ficaremos felizes em hospedá-los até que eles cheguem e possamos conversar. Não quero que crie falsas esperanças, mas creio que não haverá objeções, pelo menos não de mim.

A tal Alice lhe sorriu e ela retribuiu com o mesmo entusiasmo. E como se fosse uma velha conhecida, levantou-se e disse:

- Posso ocupar o quarto de Edward? É a melhor vista desta casa.

Em poucas horas as coisas de Edward ocupavam a garagem e ela estava instalada em seu quarto. Das inúmeras malas que ela trouxe, apenas uma valise e uma sacola era do homem. Esme o instalou no escritório de Carlisle, depois que transferiu as coisas mais pessoais de meu pai para a biblioteca.

Como ela previra, Carlisle só chegou em casa na manhã do dia seguinte e eles contaram com a ajuda de Esme para contar o motivo de estarem aqui. Ela e Alice criaram uma ligação quase que instantânea ao longo do tempo em que esperávamos pelos outros, logo que começaram a arrumação do quarto e da garagem.

Carlisle ficou deslumbrado com a habilidade de Alice, parecia um menino que ganha um presente que queria há muito. A habilidade de Edward foi amplamente estudada pelos dois, o que tornou o assunto natural para ele. Mas agora ele teria outro objeto de estudo. Ele sempre foi o líder de nossa família e se dependesse de sua aprovação eles já podiam se considerar aceitos. Mas havia Edward, eu contava com ele para ter algum auxílio em minha recusa em acreditar tão prontamente o que eles diziam. Ele saberia o que de fato eles pensavam e se tudo aquilo era realmente verdade.

Quando Edward passou pela porta, ele já estava fumegando de raiva, com certeza já sabia que suas coisas estavam na garagem. Esme o repreendeu com um olhar e algum pensamento conciliador (ela já estava rendida aos encantos da tal vidente).

Eu me aproximei de Emmet assim que ele entrou em casa e ele me beijou nos lábios:

- Eu já não suportava tanta saudade, meu amor. Quase que obrigo Edward a beber mais uns cervos. Os tais leões da montanha são um pouco difíceis de encontrar.

Só depois disso ele percebeu a presença de Alice e Jasper, assim como eu assumiu uma postura defensiva em minha frente e olhou Esme. Tenho certeza que ele calculava a possibilidade de defendê-la também. Edward colocou a mão em seu ombro e disse:

- Ele não vai nos atacar. Eles chegaram há alguns dias e não atacaram. A fêmea gosta de Esme, não permitiria que ele a atacasse. Querem fazer parte de nossa família. A fêmea (meu pai olhou para ele), quer dizer Alice, está certa que está predestinada a ser de nossa família.

Alice entrou novamente em transe e imediatamente Edward se virou para mim, olhando-me de forma assombrada. Alice abaixou o olhar e ficou fitando o chão, o tal Jasper passou a mão ao redor de sua cintura, como se a consolasse.

- O que foi isso? Como fez isso? Ele perguntou boquiaberto para ela.

- Alice também é talentosa, querido. Ela pode ver o futuro. Esme explicou.

- O que viu Edward? Carlisle quis saber.

- Rose não está gostando da presença deles, especialmente a de Alice. Acho que está com ciúmes. Ela se convenceu que eles não dizem a verdade e está indignada com o fato de vocês terem acreditado tão depressa. Como tomei a decisão de aceitá-la e com certeza Emmet também não será contrário, Alice nos viu parabenizando-a por fazer parte de nossa família. Depois ela viu Rose se levantar e sair raivosa, o semblante de Esme era de mágoa. Parecia tão real, foi como se eu estivesse vivendo o momento como um espectador bem próximo... Pode fazer isso de novo?

Edward disse deslumbrado sem nem perceber a situação vergonhosa em que me colocou. E eu o odiei por isso, eu queria arrancar sua cabeça dolorosamente. Ele tinha revelado a todos como eu me sentia e como me comportaria, e agora todos me olhavam com repreensão, como se fosse eu quem tivesse feito algo errado. Ele não quis mais me olhar. Não sei se porque ele sabia como eu imaginei seu desmembramento ou porque no momento eles eram mais interessantes para ele.

Eu senti algo que não consegui entender, era uma dor imensa no peito que se misturava a uma queimação que parecia aquecer meu corpo e deixar minha visão vermelha. Eu senti um nó em meu peito, como se ele ainda abrigasse um coração vivo e este deixasse de bater. E eu olhei para a tal Alice, ali se fazendo de vítima. Jasper a abraçou com mais força e Esme colocou a mão em seu ombro (já havia me trocado por ela). Agora eu era a vilã que trata mal as pessoas que se aproximam de nossa família. Foram eles que invadiram meu espaço, roubaram a atenção de minha mãe e a admiração de meu pai. Até o telepata insuportável já os apoiava, só porque ela era tão estranha quanto ele.

Como ela previra, eu saí de casa batendo ás portas, em direção à floresta. Não conseguia entender o que aconteceu, mas me deu uma imensa vontade de chorar. Ainda pude ouvir Carlisle consolando-a:

- Tudo bem querida, não foi sua culpa. Rose tem seu próprio tempo para aceitar as coisas. Foi assim conosco também, ela levou um tempo para nos aceitar como parte de sua família. Em pouco tempo serão amigas, ou melhor, irmãs.

Ouvi Esme suspirar, não sei se por mim ou por ela. Emmet me seguiu, mas só se aproximou quando eu já havia me acalmado. Ele não disse nada, apenas me abraçou. Então, ainda afagando minhas costas disse:

- Edward mandou dizer que sente muito. Ele obedeceu a um comando de Carlisle, como é seu costume. Sabe como eles ficam treinando esse poder dele. Então descreveu o que viu de forma mecânica, sem refletir. Ela não queria envergonhá-la, está muito arrependido. Alice também, ela se sente culpada e até pensou em ir embora depois do que aconteceu para não aborrecê-la. Esme está preocupada, ela me pediu para levá-la de volta para casa.

Claro! Agora ela era a boa moça e eu a vilã. Mas na verdade eu estava morrendo de vergonha de olhar para Carlisle e Esme. O que eles pensariam de mim? Como sempre Emmet quebrou os muros que me protegiam. Ele segurou meu rosto entre as mãos e beijou meus lábios de leve. Então prendeu meu olhar em seus olhos que estavam muito dourados devido à caçada recente. Ele sabia como me deslumbrar.

- Não vou te julgar meu amor. Sabe que pode me dizer tudo, não?

- Não quero voltar, não posso olhar para eles.

- Vergonha ou raiva? Ele quis saber.

- O que importa? Fará alguma diferença? Agora eu sou o monstro.

- O monstro mais lindo de todo o universo, me sinto na obrigação de acrescentar. Me deu outro beijo e sorriu.

- Não é hora para brincadeiras Emmet.

- Não estou brincando. Você é realmente a mais linda imortal de todos os tempos.

- Emmet. Eu o repreendi.

- Tudo bem amor. Vamos voltar, não há do que se envergonhar. Se quiser peço para que ninguém faça comentários. Vamos fingir que isso não aconteceu. Ou se preferir, posso pedir que Alice vá embora e volte quando for um momento melhor para você. Eles entenderão.

- Não. Assim vou magoar Esme e fazer papel de menina mimada. Eles deixarão de me querer e ela vai ganhar todas as atenções. Eles vão acabar por nos expulsar de nossa casa.

No momento eu não queria me sentir assim, era um misto de sensação de injustiça com vergonha e raiva e medo e insegurança, e todos os sentimentos juntos. Eu só sabia que era intenso e até então eu não conseguia entender todas as sensações. Eu queria matá-los e me achava com razão, mas ao mesmo tempo não queria magoar meus pais e sentia vergonha como se tivesse cometido um crime. Eu queria deixar de sentir, queria que aquela confusão passasse. Emmet me abraçou e começou uma trilha de beijos de meus olhos descendo em direção ao pescoço. Ele sabia qual era meu ponto fraco. E então eu me lembrei de como me entregar a ele calava todas as minhas inquietações. As sensações eram outras, tão mais físicas, prazerosas. Eu o surpreendi quando passei meus braços por suas costas largas e desci minhas mãos em direção à cintura (arranhado sua pele impenetrável com minhas unhas). Ele gemeu meu nome e beijou meus lábios com paixão, ele também queria. Mas de repente ele interrompeu o beijo e se afastou ofegante:

- Prometi a Esme que te levaria para casa o mais rápido possível. Temos que ir.

- Não quero. Protestei manhosa.

- Prometo que assim que falar com Esme eu vou te arrebatar para um lugar só nosso e terminar o que começamos. Vou te compensar minha “Cachinhos dourados”.

Ele esfregou seu nariz no meu e me olhou com a intensidade de quem estava tão sedento quanto eu de cumprir a promessa. Ele sabia como me convencer, ele usou meu apelido, a forma como me chamava quando éramos só nós dois. Fui vencida por seus argumentos.

Quando voltamos, Alice me olhava um pouco envergonhada e Edward sorria de forma divertida. O que eu havia perdido? Ele reprimiu o sorriso e Esme o olhou severa. Ele se levantou e caminhou em minha direção:

- Me desculpe, eu agi sem pensar. Não era minha intenção te envergonhar. Eu realmente sinto muito.

Eu sacudi os ombros como se não me importasse. Mas eu me importava, eu tinha me magoado muito. O sorriso sumiu de seus lábios e ele olhou o chão. Esme me abraçou e me conduziu até meu quarto. Ela se sentou em minha cama e ficou esperando que eu a acompanhasse. Quando eu me aproximei, ela fez como o Emmet e prendeu meu rosto em suas mãos:

- Olhe bem para mim filha, em meus olhos. Nunca vou deixar de te amar, eu não vou trocá-la por Alice. Não existe a possibilidade de deixar de amar a um filho, ninguém pode mudar o que eu sinto por você e seu irmão. Nada vai mudar.

Eu queria muito acreditar naquilo, mas como imaginei, não era verdade. Não que Esme fizesse de propósito, era tão natural para ela gostar da Alice, que ela não tinha a menor consciência do quanto a preferia. Eu e ela nos perdemos um pouco na guerra e eu não sou a pessoa mais amável do mundo. É difícil conviver comigo, eu admito. Além disso, Alice parecia ter estudado minha mãe, pois ela fazia tudo que Esme gostava.

Ela passou a fazer arranjos de flores para espalhar pela casa. Um toque que Esme apreciou muito. Conhecia a função de todas as peças de um faqueiro, ou do conjunto de porcelanas. Para quê? Ninguém comia como um humano nessa casa.

Com sua clarividência ela vivia presenteando-a com as antiguidades que Esme mais desejava. Passei anos procurando uma caixa de música “Caliope”, daquelas que trocam o disco, nunca achei. Elas eram especiais, pois eram feitas à mão, únicas. Na parte de dentro de sua tampa havia uma pintura, em sua maioria réplicas de quadros famosos, os discos de cobre eram perfurados um a um e quando passavam pelas agulhas produziam o som das músicas clássicas. Você podia comprar mais de um disco o que foi um avanço para o meado do século passado, uma caixa de música com várias músicas. Deixaram de produzi-las pouco antes de Esme nascer, a mãe dela tinha uma e ela a adorava. Acho que lhe lembrava sua família, sua mãe, ou a sensação de ser humana. Ela queria muito resgatar essa memória de sua vida, minha mãe quase nunca fazia questão de ter algo, por isso eu vivia procurando uma para presenteá-la.

Poucas semanas depois de sua chegada, Alice entrou em casa com uma imensa caixa de presentes e a chamou. Ela e Carlisle desceram e Edward se juntou a eles. Esme chorou de comoção ao abrir o presente e eu fiquei lá me sentindo injustiçada mais uma vez. Não tinha culpa se nos últimos vinte anos eu não tive um talento que me ajudasse a localizá-la. A tampa era bem trabalhada no estilo “Rococó”, a pintura interna era uma réplica de Monet (Bianca lendo e Maria pintando, algo assim. Claro que ela fazia uma referência a ela e minha mãe), era forrada de veludo azul e no disco ouvia-se “As quatro estações” de Vivaldi. Todos a admiravam como uma heroína, Esme foi tão enfática e carinhosa ao agradecê-la, que eu fechei os olhos e saí.

Depois que o circo acabou na sala ouvi o tal Jasper dizer a Edward:

- Não julgue. Não é inveja, é medo. A mãe é muito importante para ela. Nem sempre a mente se permite racionalizar o que se sente, eu sei disso.

Com certeza ele falava de mim. Mas como ele sabia essas coisas? Eu não estava com medo coisa nenhuma, eu queria era cortar a vidente em pedacinhos. Ela só soube que Esme queria a caixa de músicas porque eu havia decidido dar-lhe de presente se aniversário.

No mais a presença deles foi de certa forma valorosa para nós. Não precisávamos mais adivinhar o clima, ela o fazia. Ganhamos a segurança de sair mais, pois ela podia precisar quando o clima mudaria, quantos dias de chuvas teríamos, quando o sol sairia. Isso também aumentou significativamente os nossos jogos, obviamente ela passou a adorar Beisebol. Na maioria das vezes ela podia presumir a trajetória da bola, e isso a ajudava a ser muito boa. Além do mais, ela adorava arremessar, e eu devo admitir que quando ela o fazia, eram as bolas mais difíceis.

Emmet logo assimilou a presença deles em nossa vida, ele sempre foi muito bom em se relacionar com as pessoas. Alice adorava seu jeito despojado de encarar a vida e Jasper apreciava seu gosto por apostas, coisa que eu nem sabia que existia. Emmet e ele apostavam tudo, desde partidas de buraco até os resultados de corridas. O pagamento das dívidas era que me deixava intrigada, ele se pagavam admitindo que o outro fosse o maioral, contando histórias sobre o passado (humano e vampírico), confessando pequenos delitos e perdendo itens que o outro gostava (cards, livros, Lp’s), era até engraçado.

Carlisle estava fascinado com os poderes de Alice e creio que ele invejava a maneira como Edward compartilhava isso. Apenas meu irmão podia sentir a precisão e a intensidade de seu dom. Se Alice visse o futuro e estivesse dentro do raio de ação dele, ele também podia ver o futuro. Acho que isso os aproximou, eles não estavam sozinhos nessa estranheza toda, podiam compartilhar a sensação de serem únicos. Desconfio de que Jasper tenha um dom, mas nem ele, nem Alice, nem mesmo Edward comentam sobre isso. Aprendi uma coisa sobre Jasper, ele mede muito as palavras, e é muito modesto.

Alice e Edward não viviam às mil maravilhas, eles brigavam um pouco. Quer dizer, quase sempre. Alice implicava com o fato de Edward não ter uma companheira e queria a todo custo achar uma para ele. Ele ficava nervoso quando ela se concentrava em achar um futuro em que ele não estivesse só. Edward parecia saber algo que Alice queria muito descobri: “Porque Jasper fugia toda noite, deixando-a sozinha”. A primeira vez que isso aconteceu, Edward sorriu muito e Jasper conversou com ele antes mesmo de volta para casa. Eles também brigam por coisas corriqueiras, como o melhor lugar para caçar, e as benditas roupas.

Um dia os vi brigando por causa de um diário que Alice achou e que pertencia a ele, Esme teve que intervir na briga. Eu estava na sala e vi toda a cena que de repente me pareceu muito familiar. Eu senti um aperto no peito e a imagem de Ricky apareceu em meus olhos. Odiava me lembrar de minha família humana na presença dele, eu não gostava que ele visse o quanto eu desejava estar com eles, ser humana novamente. Minha mente começou a reapresentar muitas brigas minhas com meu irmão, como mamãe as terminava com pedidos de desculpas e castigos e como passávamos o castigo inteiro conversando e planejando novas travessuras. Então a consciência de que Alice e Edward eram de fato irmãos caiu em minhas mãos com um efeito inesperado. Apesar de ter certeza de que Edward e eu somos absolutamente incompatíveis eu fiquei triste ao perceber que nunca seria para nós como era para ele e Alice. Eu não sabia o quanto eu queria que nossa relação fosse como a deles. Eu não tinha a consciência que eu o detestava tanto porque no fundo sempre quis sua aprovação, seu afeto.

Ele me olhou tristonho, mas sabia que não podia fazer nada. Se em três décadas não havíamos conseguido e em apenas alguns meses isso era tão evidente neles, jamais seria assim para nós.

Minha vida seguiu seu rumo, e cada dia eu via crescer a presença deles em minha família. Obviamente eu adorava as tardes de compras com Alice, e seus elogios para minha beleza, era uma parte de minha natureza. Mas sentia que aos poucos eu era cada vez menos importante naquele contexto, e isso me levou a ficar cada vez mais dependente de Emmet e de nosso pequeno universo, o nosso quarto. E cada vez mais a escova de marfim e o camafeu com a foto de minha mãe tornaram-se pontos de equilíbrio em minha confusão de sentimentos.

Eu já havia me dado por vencida, eles eram de fato Cullens, pelo menos Alice era e isso não mudaria. Talvez ela fosse mais Cullen do que eu. E Carlisle havia aceitado, se ele aceitava eu não faria objeções. Lembro-me muito bem de minha mãe dizer que o líder de meu clã era meu pai e eu devia segui-lo. No fundo eu sabia o que havia mudado, eu sempre fui a preferida de mamãe, e depois passei a ser a preferida de Esme, sua única menininha (como ela disse na noite em que me pediu para ser minha mãe). Agora eu havia perdido o posto e era inútil tentar recuperá-lo, eu não sabia ser amável como Alice, nem tinha habilidades como ela.

Foi numa manhã comum que eu tomei minha decisão. Edward havia saído com Emmet e Jasper para comprar uma coisa, Carlisle estava de plantão e elas haviam acabado de chegar cheias de sacolas. Eu saí do banho que tomava e fui ao quarto de Esme pedir que ela fizesse a bainha de um vestido quando as vi. Esme desfilava para Alice vestida em uma calça pantalona sorridente. Alice a elogiava e também sorria.

Sabia que não devia ter aquela reação, era só uma roupa. Mas senti uma tristeza sem precedentes e sabia o motivo. Eu não era mais necessária ali, havia perdido meu lugar. O rosto de Esme dizendo: “Pouca vergonha” se materializou em minha memória e se contrastava com o rosto sorridente do quarto. Não era só com Edward que eu não conseguia ter uma ligação especial, eu nunca seria a filha que Esme merece. Já não havia mais sentido permanecer ali, por isso tomei uma decisão dolorosa. Eu vou abandonar os Cullen, eu vou embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Será que Esme deixará Rose partir. Por favor, comentem. Fico tão feliz quando deixam sua opinião.
Até o próximo capítulo.