Antes do Final Feliz escrita por Evvy, Lari-cullen, Yvve
O sabor era errado, mas o sangue era quente e molhado e acalmava
a sede louca que pinicava enquanto eu bebia apressada e
ansiosamente. A resistência do gato foi ficando mais e mais fraca, e
os seus gritos acabaram-se com um murmúrio. O calor do sangue
irradiou por todo o meu corpo, aquecendo até mesmo a ponta dos
meus dedos.
O leão havia se acabado antes de mim. A sede se alargou novamente
quando ele ficou seco, e eu afastei sua carcaça do meu corpo
enojada. Como eu ainda podia estar com sede depois de tudo isso?
Eu me pus ereta em um movimento rápido. De pé, eu percebi que eu
estava uma bagunça. Eu limpei meu rosto na parte de trás do meu
braço e tentei arrumar o vestido. As garras que haviam sido tão
ineficientes contra a minha pele haviam tido mais sucesso com o
cetim fino.
- Hmmm. - Edward disse. Eu ergui meus olhos para vê-lo encostado
casualmente no tronco de uma árvore, me observando com um olhar
pensativo em seu rosto.
- Eu acho que podia ter feito isso melhor. - eu estava coberta de
sujeira, meu cabelo cheio de nós, meu vestido manchado de sangue
e em fiapos. Edward não voltava para casa de viagens de caça deste
jeito.
- Você se saiu perfeitamente bem. - ele me assegurou - É só que...
foi muito mais difícil para mim observar do que deveria ter sido.
Eu ergui minhas sobrancelhas, confusa.
- Vai contra a minha natureza, - ele explicou - deixar você lutar com
leões. Eu estava tendo ataques de ansiedade o tempo todo.
- Bobagem.
- Eu sei. Velhos hábitos são difíceis de superar. Mas eu gosto das
melhorias no vestido.
Se eu pudesse corar, eu o teria feito. Eu mudei de assunto.
- Porque eu ainda estou com sede?
- Porque você é jovem.
Eu suspirei.
- E eu não acho que hajam outros leões da montanha por perto.
- Mas há muitos veados.
Eu fiz uma careta.
- O cheiro deles não é tão bom.
- Herbívoros. Os comedores de carne tem um cheiro mais parecido
com os humanos - ele explicou.
- Não tão parecido assim com os humanos. - eu discordei tentando
não lembrar.
- Nós podemos voltar. - ele disse solenemente, mas havia uma luz
de provocação no seu olhar - Quem quer que fosse por lá, se fossem
homens, eles provavelmente nem se importariam com a morte se
fosse você a entregá-la. - o olhar dele percorreu o meu vestido
rasgado novamente - De fato, eles iriam pensar que já deviam ter
morrido e ido para o céu no momento em que te visse.
Eu rolei os meus olhos e bufei.
- Vamos caçar alguns herbívoros fedidos.
Nós encontramos um grande bando de veados enquanto voltávamos
para casa. Ele caçou comigo desta vez, agora que eu havia pegado o
jeito da coisa. Eu derrubei um grande macho, fazendo uma bagunça
tão grande quanto a que eu havia feito com o leão. Ele havia
terminado com dois antes que eu terminasse o primeiro, nem um fio
de cabelo fora do lugar, nem uma mancha na sua camisa branca. Nós
perseguimos o bando amedrontado e horrorizado, mas em vez de me
alimentar, desta vez eu observei cuidadosamente para ver como ele
conseguia caçar de forma tão asseada.
Pensando em todas as vezes que eu desejei que Edward não tivesse
que me deixar para trás quando ele fosse caçar, me deixou
secretamente aliviada. Pois eu tinha certeza que ver isso seria
assustador. Amedrontador. Que vê-lo caçar iria fazer com que eu
finalmente o visse como um vampiro.
É claro que era muito diferente desta perspectiva, agora sendo uma
vampira eu mesma. Mas eu duvido que até mesmo os meus olhos
humanos tivessem perdido a beleza aqui.
Era uma experiência surpreendentemente sensual observar Edward
caçar. O seu disparo suave era como o bote sinuoso de uma cobra;
as suas mãos eram tão assertivas, tão fortes, tão completamente
inescapáveis, os seus lábios cheios eram perfeitos enquanto se
separavam sobre seus dentes brilhantes. Ele era glorioso. Eu senti
um choque repentino de orgulho e desejo. Ele era meu. Nada jamais
poderia separá-lo de mim agora. Eu era forte demais para ser
arrancada do lado dele.
Ele era muito rápido. Ele se virou para mim e me encarou curioso
com a minha expressão exultante.
- Não está mais com sede? - ele perguntou.
Eu dei de ombros.
- Você me distrai. Você é muito melhor nisso que eu.
- Séculos de prática. - ele sorriu. Os seus olhos eram
desconcertantemente adoráveis num tom de mel dourado agora.
- Apenas um. - eu o corrigi.
Ele riu.
- Você está satisfeita por hoje? Ou você quer continuar?
- Satisfeita, eu acho. - eu me sentia muito cheia, meio como se
estivesse com o estômago cheio d’água. Eu não tinha certeza quanto
mais líquido caberia dentro do meu corpo. Mas o fogo na minha
garganta estava apenas atenuado. Mas então, eu já sabia que essa
sede era apenas uma parte inescapável desta vida.
E valia a pena.
Eu me sentia no controle. Talvez o meu senso de segurança fosse
falso, mas eu estava bem convencida de que não iria matar ninguém
hoje.
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