When You Are Gone - Susana Pevensie. escrita por bellafurtado


Capítulo 1
Capítulo Único: When youre gone, I miss you.


Notas iniciais do capítulo

Uma one simples que eu fiz para dar um final feliz a Susana Pevensie. Espero que gostem.



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A lápide refletia meu rosto. Meus amendoados olhos azuis estavam molhados por culpa das lágrimas. Li pela última vez os dizeres que estavam inscritos no grande pedaço de granito polido:

                                               Pedro Pevensie

                                                1927  -  1949

                                              Edmundo Pevensie

                                                1930  -  1949

                                               Lúcia Pevensie

                                                1932  -  1949

Eu não agüentei. Desviei meu rosto daquele lugar. Ainda não conseguia acreditar... eles morreram. Meus irmãos morreram. Meu primo morreu. O professor Kirke morreu. Num acidente de trem! Por que pegaram logo aquele trem? Por que logo aquele trem se acidentou?

Senti uma mão em meu ombro e a olhei.

-Mamãe - murmurei entre soluços, chorando loucamente. - Mamãe, eu não aguento mais! Eu não consigo acreditar, não consigo...já fazem sete dias, mãe, e eu não consigo aceitar. Eu os quero aqui. Eu os quero aqui comigo!

Meu choro se tornou ainda mais desesperado, e eu caí na grama do cemitério.Minha mãe passou a chorar. Ela se agachou ao meu lado e me abraçou, tentando me consolar. Mas nada poderia me consolar. Eles se foram...

Olhei para as árvores que haviam em volta e pude claramente ver Pedro, Lúcia e Edmundo ali. Eles corriam e atiravam bolas de neve uns nos outros. Ed estava quieto em um canto, como se raciocinasse. Pareciam mais novos... Abri um enorme sorriso.

-Eu sabia que eles ainda estavam aqui! - apontei meus irmãos. - Ali, mamãe, olhe-os!

Minha mãe ergueu a cabeça para olhá-los, mas ergueu a sobrancelha como se não conseguisse vê-los. Mas, aí, eu apareci lá. Rindo e jogando bolas de neve. Olhei para a minha mãe, com uma expressão confusa, e tornei a encarar a imagem minha e dos meus irmãos. Mas não havia nada ali, além do gramado coberto de neve.

-Não... - murmurei, ainda apontando para lá. Deixei minha cabeça pender para o lado e murmurei: - Mas... mas eles estavam bem ali!

 -Susana, querida... - disse minha mãe, seus olhos marejados. - Eu sei que o momento é triste, mas... eles se foram, Su. Olha, quer daber? Fazem sete dias. Precisamos tentar voltar a viver normalmente. Um oficial da marinha nos convidou para uma festa numa mansão de praia. Isso vai ser bom... para nós duas. Está bem?

-Eu não quero - falei firme, olhando para a lápide me lembrando da imagem que vi há poucos minutos.

-Susana, você nunca recusou uma festa... é justamente porque o momento é difícil que você deve ir. Quem sabe não arranja um pretendente por lá? Afinal, você já tem 21 anos e...

Deixei minha cabeça pender para o lado. Pretendente... amor... porque eu tinha a impressão de que já tive alguém? À minha mente, voltou a imagem que eu vira há pouco tempo na neve. Eu sabia que era uma lembrança. Sabia que já tinha vivido aquilo. E isso estava me deixando louca... como se eu tivesse deletado essa parte da minha memória voluntariamente.

Talvez mamãe estivesse certa... talvez eu tenha que voltar a ser normal. Talvez isso seja só fruto da minha imaginação. Se eu voltar a ser normal, posso superar a situação. Não sofrer mais. Mesmo que meu coração sempre esteja rasgado pela falta dos meus irmãos.

-Está bem - murmurei, minha voz ainda embargada. Minha mãe se levantou e estendeu sua mão para mim. Dei um sorriso sem emoção e me levantei.

Mamãe imediatamente se virou para ir embora. Fui atrás dela. Mas, antes de sair, dei uma olhada para trás, para o ponto aonde aquela memória apareceu. Mais uma vez, não havia nada ali.

                                                                 ***

Eu estava andando pelo corredor de casa, indo em direção ao meu quarto, mas me detive na soleira da porta do mesmo. Simplesmente porque, quando olhei para dentro do meu quarto, não foi exatamente ele que eu vi...

O que eu vi foi eu, meus irmãos e minha irmã. Estávamos no quarto que ocupávamos na casa do professor Kirke, e eu tentava fazê-los pensar que tudo aquilo podia ser melhor. Pus a mão no ombro de Pedro e dei um meio sorriso. Lúcia nos encarou.

-Chega! - falei, agitando as mãos na frente do rosto. - Não quero mais ver isso, não quero!

-Susana! - minha mãe gritou, subindo as escadas apressadamente.

Eu estava no chão, encostada na porta, chorando quando ela chegou. Abraçada aos joelhos. Tentando me livrar daquelas imagens que me atormentavam. Já era difícil ter que conviver com a perda deles, não podia ainda ter que ver tudo aquilo!!! Não, não, não!

-Susana, calma... está tudo bem, querida... tudo bem. Tudo vai dar certo. Vem, vamos nos arrumar.

Ainda chorando, fui atrás de minha mãe e troquei de roupa. Estava agora com um vestido azul, meu cachos soltos caindo em cascata por meus ombros. Maquiagem leve, batom vermelho. Mamãe me olhou orgulhosa e sorriu.

-Você está linda, querida. Como se nada tivesse acontecido.

Como se nada tivesse acontecido... ah, como eu queria que nada tivesse acontecido! Porque quando eles se foram... eu... eu me arrependi. Me arrependi de tê-los tratado como crianças. Me arrependi de ser grosseira com eles. Me arrependi por nunca tê-los dado o valor merecido. Deus, eu sempre fui uma péssima irmã!

Sentada na minha penteadeira e encarando o espelho, tentei conter as lágrimas ao perceber isso. Fechei os olhos por um momento, lembrando-me do que mamãe disse: "Talvez você encontre algum pretendente...". Na minha cabeça, surgiu a imagem de um belo homem, cabelos e olhos escuros, moreno, feições hispânicas e cabelo comprido. Um homem lindo. Ele sorriu para mim.

-Susana? - ouvi a voz da minha mãe e rapidamente abri os olhos, me sobressaltando e agarrando a minha escova de cabelos, a qual usei para pentar meus cachos cuidadosamente. - Susana, querida, vamos!

Esbocei um sorriso e assenti. Levantei-me. Logo mamãe e eu chegamos à festa. Ela entrou rapidamente, mas eu fiquei parada ali, tomando fôlego, tomando coragem. As portas eram de vidro, de forma que era possível ver toda a paisagem à minha volta. Era simplesmente lindo. Mas aí, dei um passo para trás quando tudo o que vi pelas portas de vidro foi Lúcia, com os cabelos na altura do ombro, o uniforme jogado de qualquer jeito no corpo, um sorriso nos lábios.

Senti uma porção de lágrimas chegando aos meus olhos e murmurei:

-Não...

Mas aí, esbarrei em alguém. Olhe para trás e dei de cara com Teresa, uma garota de minha escola.

-Susana, querida, sinto muito por seus irmãos - ela disse sorrindo e agarrando minha mão. - Mas não pode fingir que é a única no mundo só porque eles se foram. Da próxima vez, ande para frente e com os olhos bem abertos, assim você não esbarra em ninguém.

Forcei um sorriso a sair dos meus lábios, só por educação, e puxei minha mão com força das de Teresa.

-Obrigada, Teresa querida.

E então, abri a porta lentamente e saí.

-E olhem quem vem lá! - disse um oficial. - A srta. Pevensie, senhoras e senhores!

Dei um sorriso, como se fingisse que tudo estava bem. Andei na direção da mesa em que minha mãe estava, mas um homem apareceu ao meu lado.

-Concede-me sua companhia, srta.?

-Claro que... - olhei para o rosto dele e arregalei os olhos. - Edmundo, o que faz aqui?

Ele sorriu.

-Achou que eu te deixaria sozinha aqui? Não confio em todos esse caras aqui com você.

Nós dois rimos. Senti meu outro braço sendo agarrado por um outro homem, e dei de cara com Pedro.

-Você também? - perguntei sorrindo.

-Eu também o quê, srta. Pevensie? - ele perguntou confuso.

Paramos em frente a um senhor com uma câmera. Ele pediu que sorrissemos, mas antes eu disse:

-Não finja que não sabe do que estou falando, Pedro querido.

Ele ficou confuso.

-Meu nome é William, senhorita.

-O quê? - perguntei, erguendo a sobrancelha. A confusão começou a tomar conta de mim. Senti o braço de Edmundo ficando cada vez mais leve, como se estivesse se desintgrando aos poucos.

Olhei para ele, meus olhos ficando confusos e tristes.

-Ed - murmurei urgente, olhando para ele.

-Por que você esqueceu? - ele perguntou urgente, sua forma tremeluzindo e ficando cada vez mais transparente, como se ele estivesse virando sua própria sombra. - Por que você não se lembra, Susana?!

Arregalei os olhos, percebendo que ele estava indo embora, sumindo. Não, não! Eu já o havia perdido, não podia perdê-lo denovo... não, eu preciso dos meus irmãos, preciso de Pedro, Lúcia e Edmundo!

-Não vá! - pedi urgente. - Ed, eu prometo que vou me lembrar, mas não vá! Não me deixa aqui, por favor! Eu preciso de você, eu preciso de todos vocês!

Ele olhou para mim e deu um meio sorriso, sua forma quase completamente transparente. Eu percebi que todas as pessoas em volta me encaravam, mas eu não ligava. Pela primeira vez na minha vida, eu não ligava. Eu precisava do Edmundo ali!

-Pedro! - pedi a ele. - Pedro, por favor! Por favor, ajuda! O Ed está indo embora!

Pedro estava apavorado.

-Senhorita, eu... eu não estou entendendo. Já disse que meu nome é William...

-Pára com isso! Pára! Se não quer ficar comigo, então porque apareceu? Pára de me fazer sofrer, pára, pára!

Edmundo sorriu para mim e disse:

-Eu vou voltar... se você se lembrar.

-Me lembrar de quê? - perguntei ansiosa, uma porção de lágrimas escorrendo de meus olhos. - Ed, do que eu tenho que me lembrar?! Por favor!!!

Ele só negou com a cabeça, e então sumiu.

-Pedro. Pedro, me ajude! Me ajuda, por favor, eu tenho que lembrar!

Pedro soltou meu braço e ficou me encarando. Seu rosto estava mudando, o que estava me deixando tonta. Todos em volta pareciam apavorados. Logo Pedro estava indo embora também.

-Pedro, você também não! - gritei. - Por favor, não!

Percebi que minha mãe estava ao meu lado, me sacudindo. Encarei-a.

-Mamãe, Pedro quer me deixar!

-Do que diabos você está falando,Susana? - minha mãe perguntou ríspida.

Olhei para Pedro, mas tudo o que vi foi um oficial me encarando assombrado. Ele se afastava lentamente, de costas, os olhos completamente arregalados. Em sua farda, os dizeres: William Pittsburgh.

Pisquei rapidamente, esperando que meus irmãos voltassem para lá, para o meu lado. mas não tinha nada.

-Aonde eles estão? - perguntei num sussurro para a minha mãe, lentamente, pois cada palavra que eu pronunciava doía.

-Eles se foram, Susana - ela murmurou em resposta. - Para sempre.

Arregalei os olhos, e me lembrei do velório, do funeral e do dia de hoje, quando eu e mamãe fomos visitar o túmulo. Eles estão mortos, Susana, eu me lembrei. Com essa frase, senti meu peito sendo rasgado brutalmente. Doeu. Eu estava sozinha. Quando eles se foram, eu fiquei sozinha.

Olhei com os olhos cheios de lágrimas para a minha mãe. Ela parecia aflita, principalmente pelo fato de que todos em volta me encaravam como se eu fosse louca. Bem... talvez eu estivesse louca.

-Desculpe - murmurei para mamãe, e então, saí correndo.

Corri, esbarrando em algumas pessoas e passando por Teresa que murmurou algo sobre "Susana não tem auto-controle o suficiente para passar por uma grande perda, coitada". Continuei correndo, até chegar à praia. Tirei meus sapatos e olhei em volta.

Na praia, Lúcia olhou para mim, Pedro e Edmundo e saiu correndo para a água, tirando sapatos e o casaco no caminho.Pedro, eu e Ed fomos atrás. mais uma daquelas lembranças... aquelas que eu sentia que eram minhas, mas que não me lembrava de onde. Girei, mas para todo o lugar que eu olhava naquela praia, essas lembranças surgiam na minha frente. Eu não estava mais aguentando.

-Nãaaaaaao! - gritei esganiçada, me jogando no chão e escondendo o rosto nos joelhos. Apertei a minha cabeça para não ouví-los e escondi meus olhos para não vê-los. Isso estava se tornando impossível.

Percebi passos se aproximando de mim. Muitos passos. E nesse momento, foi como se tudo acontecesse em camera lenta. Aquelas imagens de mim, Pedro, Lu e Ed me encararam e formaram com os lábios as seguintes palavras:

-Lembre-se.

Pisquei, esperando que dissessem mais alguma coisa, mas quando meus olhos se abriram, eles não estavam mais do meu lado. Senti um par de mãos me sacudindo e olhei para seu dono: minha mãe. Seus olhos estavam arregalados e cheios de lágrimas.

-Não! - falei. - Não, eles estavam ali!

-Querida, eles não estão mais conosco - ela estava agoniada, como se eu tivesse que aceitar o óbvio. - eles não vão voltar!

Neguei com a cabeça e me soltei dos braços de minha mãe, me levantando. Corri em direção ao mar, aonde eu e meus irmãos estavam há poucos minutos. O oficial William tentou me segurar, mas eu fui mais rápida. Me joguei no mar e fui nadando, tentando achar meus irmãos. Mas não havia nada.

Tentei encostar meus pés na superfície, mas me afundei. Eu já estava muito longe.

-Lúcia!!! - gritei, e só a simples menção de seu nome trouxe memórias à minha cabeça. E essas memórias fizeram meu peito se rasgar novamente. Eu estava sendo dilacerada. - Edmundo!!! Pedro!!! Por favor! Do que devo me lembrar? - eu chorava. E então, sem receber respostas, murmurei: - Por favor...

Senti um par de braços me segurando e dei de cara com o oficial William me segurando e me puxando para a superfície.

-Não! - gritei. - Não, me deixe lá! Eu preciso encontrá-los! Preciso da resposta...

Eu chorava histérica, e eu oficial murmurou calma e amorosamente:

-Shh, está tudo bem, Susana. Tudo bem. Nada ruim vai acontecer, tudo bem...

Ele me depositou cuidadosamente na areia e alguém me enrolou em cobertores. Tremi e chorei, enquanto chamava meus irmãos baixinho. A única coisa que ouvi foi:

-É, talvez ela precise de ajuda.

                                                                 ***

                                           I always needed time on my own
                               I never thought I'd need you there when I cry
                                  And the days feel like years when I'm alone
                                               And the bed where you lie
                                                 Is made up on your side

Eu estava sentada, na minha cama. Abraçada nos joelhos. Chorando. Eu sei que, como todos os outros, já deveria ter superado. Mas era difícil. Toda a minha vida foi passada com eles. Foi vivida com eles. Olhei no relógio e percebi que haviam se passado 15 minutos desde que cheguei... estranho. Para mim pareciam ter sido horas.

Desde que eles se foram, tudo parece mais devagar, como se o tempo quisesse me fazer sofrer. Eu só queria que tudo aquilo acabasse logo! Será que era tão difícil assim?

Senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e olhei para o lado, aonde Lúcia costumava dormir. A cama ainda estava ali, arrumada, como se esperasse a volta de sua dona. E, sobre ela, as roupas lavadas que íamos mandar para minha irmã. Roupas que eram minhas e que eu nem queria mais. E decidi dá-las só depois de um mês ouvindo Lu dizer-me que elas eram lindas.

Me senti terrível. Porque eu estava sempre pensando em mim mesma, sempre querendo tudo para mim. Sempre querendo estar sozinha. Isso era bem irônico, já que agora tudo o que eu queria era ter a companhia deles.

Ouvi o barulho do trem. Pouco longe da minha casa, havia um trilho. Fui até a janela aberta e vi o trem que passava. Me lembrei do dia em que mamãe nos mandou para o professor Kirke. Mas aí, abri os olhos e vi Lu sorrindo para mim. Ela se virou e foi andando. Comecei a contar seus passos, mas aí ela pssou a sumir. Virei o rosto, me desviando daquilo. Estava cada vez pior.

                     When you walk away I count the steps that you take
                           Do you see how much I need you right now?

Eu preciso deles. Depois de uma vida ao lado deles, eu me sentia perdida sem sua presença. Fechei os olhos, fixando minha mente nas lembranças que tive. Queria lembrar do que meus irmãos pediam, queria tê-los de volta. Forcei-me primeiramente no rapaz moreno que havia visto enquanto me arrumava.

Ele surgiu na minha mente, novamente sorrindo para mim. E então, eu o chamei:

-Caspian.

Um choque percorreu meu corpo, como se eu o conhecesse há muito. Mas aí, um leão majestoso rugiu em minha mente, e logo depois eu estava beijando Caspian. Vários flashs do leão, do garoto, de mim e dos meus irmãos junto a eles e animais falantes... E aquilo era tudo verdade. E então, me lembrei que o leão se chamava Aslam. Ele sorriu para mim, e as palavras de meus irmãos voltavam-me à mente:

-Como você pôde se esquecer de Nárnia? E de Aslam, e de Caspian?

Senti as lágrimas chegando aos meu olhos. Então era verdade. Não era só um sonho, como eu insistia em dizer a eles. E não só era verdadeiro, como também estava em perigo. Naquela noite, eles foram atrás de Nárnia. E deram a vida por ela. O trem não se acidentou só por culpa de descuido... mas também porque eles eram necessário em Nárnia.

Agora tudo fazia sentido! E eu podia ter ido junto, ter ficado lá com eles... mas preferi esquecer. Caspian e Aslam teriam vergonha de mim. Meu amado Caspian... ele nunca me perdoaria. Assim como Aslam. O que eu fiz é imperdoável. Mais lágrimas do que nunca escorreram pelo meu rosto.

Fui até o banheiro para encher meu copo com água. Eu não queria encarar minha mãe tão cedo. Enchi meu copo, enquanto chorava e continuava me lembrando das coisas, e bebi meu antidepressivo. Minha garganta continuava seca, então abri a pia e comecei a encher meu copo... mas aí encarei o espelho, e Edmundo estava lá.

-Você se lembrou - disse ele sorrindo.

Não, eu não podia continuar a ver isso! Dei um grito estridente e joguei meu copo contra o espelho, fazendo com que ambos se quebrassem. Continuei gritando e chorando, e caí no chão. Eu estava enlouquecendo. Eu descobri a verdade, e agora ela me enlouquece!

Corri de volta para o meu quarto. Eu tinha que ficar com meus irmãos. Eu precisava deles. Se não podia realmente viver sem eles... como eu viveria? Fui até o meu quarto.

Olhei para frente e vi um pedaço de papel e uma caneta. Senti as palavras que eu queria dizer para os meus irmãos apertando meu peito, martelando minhas costelas. Tomei minha decisão.

 Fui até a escrivaninha e me sentei ali, olhando no porta-retrato uma foto minha com os três. Sorri e agarrei a caneta. Coloquei o papel numa posição confortável para começar a escrever.

                                                When you're gone
                              The pieces of my heart are missing you
                                                When you're gone
                               The face I came to know is missing too
                                                 When you're gone
               The words I need to hear to always get me through the day
                                                   And make it ok
                                                      I miss you

 "Queridos Pedro, Edmundo e Lúcia,

A dor de perder alguém é como um buraco vazio e sem fundo, ou como uma ferida que não cicatriza. Você fica se iludindo, pensando que tudo pode ficar melhor ou pelo menos normal; mas no fundo, você só espera que quem você perdeu volte para você.

É assim que eu me sinto. Eu estou sempre esperando vocês. E estou sempre vendo vocês.

Eu estava tentando ser normal de novo... mas é difícil sem vocês. Às vezes acho que estão aqui comigo... mas aí eu me lembro: vocês se foram, para sempre. Deus, eu sinto falta de vocês!

Vocês estão em todo o lugar, e eu não agüento mais isso. Olho para o quarto e vejo-os deitados, como na mansão do professor Kirke. Olho para a cama e nos vejo brincando de adoleta durante as chuvas constantes. Olho para a praia, e lembro de todos nós por lá, jogando nossos uniformes para o alto. Nesse instante, um trem está passando pela linha de trem que fica ao lado de nossa casa, e tudo o que consigo ver somos nós, nos despedindo de mamãe, a caminho da casa do professor.

Escrevo essa carta sabendo que não vão ler... mas se não escrevesse, enlouqueceria. Eu só queria que soubessem: eu me lembrei. De tudo.

Eu queria poder ver Aslam e Caspian de novo... mas eles nunca me perdoariam. Céus, como fui estúpida! Me arrependo tanto por não ter me lembrado a tempo! Eu poderia ter ido com vocês, poderia estar com vocês agora... mas eu preferi dar ouvidos à razão, ao invés de escutar a criança dentro de mim.

A única aqui dentro que sabia a verdade.

Mas isso não vai importar por muito tempo... estou indo ficar com vocês agora.

                                                                               Com amor, Susana,

                                                                     amiga e traidora de Nárnia."

                                       I've never felt this way before
                                             Everything that I do
                                              Reminds me of you
                                  And the clothes you left lye on the floor
                                         And they smell just like you
                                      I love the things that you do

Olhei a carta e esbocei um sorriso. Enrolei-a e deixei-a sobre a escrivaninha. Fui até a cama de Lúcia, aonde estavam as roupas que eu lhe daria. Olhei para o vestido branco e agarrei-o. Talvez eu tivesse a oportunidade de entregá-lo à minha irmã...

Vesti-o e soltei meus cabelos, deixando-os caírem em cascatas. Tirei o batom vermelho da minha boca e tirei meus sapatos. Abri a porta de casa e saí correndo, ouvindo os gritos de minha mãe me pedindo para parar. Ignorei-a e continuei correndo, mesmo ouvindo seus passos atrás de mim.

Em minha cabeça, eu só pedia para que meus irmãos, meu primo, o professor, Aslam, Caspian, a sra. Polly e Jill me perdoassem. Enquanto corria, tudo me lembrava Nárnia e meus irmãos: o trem,um garoto brincando com uma lanterna, um casal se beijando, um gramado.

Sentia a grama sob meus pés. O penhasco estava próximo. Apertei a carta na minha mão e continuei correndo. Parei na beira do penhasco,olhando para a grande altura dele. Olhei para a carta e encarei minha mãe, que corria ofegante atrás de mim.

Senti uma única lágrima escorrendo pelo meu rosto.

-Você não vem? - perguntou Lúcia ao meu lado. - Estamos todos lá embaixo.

Abri um sorriso sincero e perguntei:

-Você vai segurar a minha mão? Estou morrendo de medo.

Ela sorriu e estendeu sua mão. Agarrei-a e nós duas pulamos. Enquanto caía gloriosamente pelo penhasco, gritei:

-Desculpe!

Mas aquele pedido não era dirigido a ninguém em especial, mas a todos os que eu decepcionei. Com medo de que minha irmã me deixasse como eu a deixei, apertei sua mão com força. Olhei para o lado, mas ela ainda estava ali, sorrindo para mim.

-Seu vestido é lindo - ela disse corada.

-Ele não é meu. É seu.

Ela sorriu, e então, disse:

-Você passou no teste. É merecedora.

                                                When you're gone
                              The pieces of my heart are missing you
                                                When you're gone
                               The face I came to know is missing too
                                                 When you're gone
               The words I need to hear to always get me through the day
                                                   And make it ok
                                                      I miss you

E aí, largou minha mão. Arregalei os olhos, querendo trazê-la de volta. Olhei para baixo, e no mar, havia o rosto de um grande leão. Aslam. Ele sorriu para mim e deu um imenso rugido. Fechei meus olhos, preparada para o impacto, bem a tempo de ouvir minha mãe gritando meu nome com a voz embargada.

Mas não houve impacto. Mexi minhas mãos, e senti uma grama macia abaixo delas. Não deveria ter grama. Eu estava morta. Abri meus olhos, e me deparei com o que eu menos esperava ver. Mas, antes que eu pudesse processar a informação, ouvi uma voz me chamando:

-Vamos, Rainha Susana, seus irmãos lhe esperem junto com os outros.

Abri um imenso sorriso. Sim, eu estava certa. Estava em Nárnia. E sim, eu estava errada. Porque, no final das contas, Aslam me perdoou. E agora, eu estava junto dos meus irmãos de novo. Mesmo que isso tenha me feito abandonar todos os outros.


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Notas finais do capítulo

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beeijos:*
bellafurtado (: