The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 12
Capítulo Onze - Percepções


Notas iniciais do capítulo

-u-



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Tudo isto parece estranho e irreal e eu não vou perder um só momento sem você. Meus ossos doem, minha pele está fria e eu estou ficando tão cansado.

Snow Patrol - OpenYour Eyes

Alley’s P.O.V

Corri de volta para o banheiro, que havia se tornado minha zona de conforto. Eu disse a ele que precisava de um banho, o que era verdade, mas principalmente foi uma desculpa para escapar da sala. Eu precisava ficar sozinha um pouco... pensar em alguma solução, ou em alguma rota de fuga... e ficar longe daquele sorriso torto lindo que estava se tornando irritantemente atraente.

Tranquei a porta atrás de mim, agarrando minha toalha de banho e um sabonete. Meu Deus o que estava acontecendo? Era uma coisa atrás da outra... eu acabara de testemunhar a coisa mais assustadora que eu já vi na minha vida... quando vi aquelas pessoas simplesmente atravessando o corpo dele, por um momento eu pensei que fosse desmaiar. Ele era real... mas ao mesmo tempo não. Eu podia vê-lo, mas ele não tinha nenhum reflexo, eu consigo tocá-lo mas aparentemente ninguém mais pode. E não era só isso, ele era realmente Bill Kaulitz. Certa vez eu vi uma foto dele, mas não pude acreditar logo de cara, seu cabelo era mais curto, seus traços eram mais infantis...

As emoções girando em minha cabeça estavam me fazendo sentir mal. O medo das coisas sobrenaturais acabaram de se manifestar para mim... a culpa, ao perceber que o mesmo menino, doce e frágil que eu havia socorrido era o mesmo cara que eu passei minha adolescência zombando e fazendo de chacota ... falando especialmente daquele sorriso meigo e genuíno que ele acabara de me dar, que eu achei muito irritante, considerando as circunstâncias... mas acima de tudo, confusão. A sensação de estar perdida. Insegura sobre o que fazer. Eu nunca gostei de incertezas. Sempre fui a garota que tinha um plano, que estava no controle...

Suspirei, entrando na água quente. Bem, eu sempre reclamava de minha vida chata e monótona, não é? E agora eu estou vivendo um mistério assustador, quase saído de um episódio do Scooby-Doo ou coisa do tipo. Uma vez debaixo da água quente ensaboei meus cabelos tentando não pensar naquele sorriso torto outra vez, ou como seu cabelo era macio e em seus olhos absurdamente castanhos e intensos me olhavam. Caramba! Não era só confuso pensar em uma figura fantasmagórica dessa forma, como também era muito embaraçoso! Aff, ele era um Kaulitz, certo? Quantos anos ele tem? Suas fãs praticamente não passam dos 12...

Concentre-se Alley... pensei enquanto enxaguava o shampoo de meus cabelos fechando os olhos. Bem, ele havia dito que aconteceu algo, mas ele não se lembrava o quê. Naturalmente eu supunha que só poderia ter sido algo ruim... um acidente, talvez? Será que ele poderia ser um fantasma? Mas, isso não faz o menor sentido. Fantasmas não podem tocar nas pessoas, podem?

Ele estava certo em relação a procurar por notícias onlines. Essa é a maneira mais fácil afinal, se algo aconteceu com ele deve ter alguma noticia em sites de fãs e blogs de notícias e fofocas... Esse seria o primeiro passo, descobrir o fundamento de tudo isso, aí talvez possamos pensar em como resolver todo esse drama. Sentindo-me um pouco mais resolvida por ter um plano inicial, saí do chuveiro.

Parei em frente ao espelho embaçado encarando minha imagem distorcida. Suspirando, amarrei a toalha em volta de meu corpo e abri a porta. Certificando-me que ele não havia vindo para esse lado da casa, olhei em volta e corri para o meu quarto.

Não tive tempo de ir a lavanderia nas últimas semanas, assim a pilha de roupas limpas em meu guarda-roupas estava precariamente limitada. Agarrei a primeira camisa e short que vi pela frente, sem prestar realmente atenção as cores. Debati-me com a possibilidade de secar meus cabelos, mas decidi deixar para lá. Era grosso, rebelde e levaria uma eternidade para secar, e eu demorei muito tempo de qualquer maneira, ele devia estar impaciente me esperando.

– Bem Bill – Murmurei enquanto deslizava um chinelo em meus pés. – Vamos ver o que podemos encontrar.


_


Quando voltei para o escritório, Bill estava sentado em uma cadeira do outro lado da sala, com um livro aberto em seu colo. Sorri timidamente para ele e me aproximei.

– O que você está lendo? – Perguntei.

Ele olhou para cima, parecendo um pouco agitado e nervoso. Fechou o livro e o ergueu para que eu pudesse ler. Bati a mão em minha boca, incapaz de segurar a gargalhada que estava por vir. Ele olhou de repente, envergonhado, e seu rosto corou em um profundo vermelho carmesim.

– Para leigos: O Cumprimento da Sexualidade Feminina? – Perguntei. – Interessante, então, como é Bill? Você já aprendeu o segredo do orgasmo feminino?

Ele franziu o cenho obviamente tentando parecer indiferente.

– Bem, as mulheres estão sempre dizendo que os homens não as compreendem... então, sabe, eu só estava tentando fazer um progresso aqui. – Tudo bem, eu tinha certeza de que ele havia pego esse livro porque era o mais próximo a pornografia que existia nessa casa.

– Ceeeeeeeeeerto – Eu disse lentamente. – Entendi. E o que sua namorada diria se soubesse que você está lendo coisas desse tipo?

Ele bufou chacoalhando os ombros e colocou o livro na pequena mesa ao lado da cadeira.

– Ah, eu não sei. Ela provavelmente iria querer testar isso comigo.

Oh. Eu não sei porque fiquei tão chocada com sua resposta, quero dizer, dane-se ele era uma celebridade, incrivelmente lindo então é claro que ele tinha uma namorada... Por que me sinto tão desapontada? Deus, isso é irritante... Forcei um sorriso em meu rosto.

– Tudo bem. Ahn... vamos ver se conseguimos descobrir o que está acontecendo aqui.

Voltei para o meu computador e abri a tampa. Ele seguiu mais uma vez sentando-se na cadeira a minha frente.

Quando olhei por cima da tela, ele estava me olhando com curiosidade.

– Por que demorou 45 minutos para se vestir assim? – Perguntou ele.

Olhei para minha roupa, algo que se assemelhava ao que uma pessoa daltônica teria escolhido, na verdade, uma pessoa daltônica, provavelmente, teria feito uma escolha melhor.

– Tá com inveja da minha camisa? – Perguntei levianamente. – Essa é única! - Ela havia pertencido a Louise, que trabalhava como assistente de uma loja desde que começou a faculdade. Ela ganhou essa camisa quando foi promovida, eu, particularmente, achava que era divertida e inteligente. Mas quando se tornou óbvio que ela nunca iria usar, eu simplesmente a peguei para mim.

– Eu realmente espero que seja mesmo. – Disse ele. Olhei para seu rosto arqueando uma sobrancelha. – Então... parece que você já tem uma ideia.

– Ok. – Eu disse. – Vou olhar em alguns sites de noticias, ver se alguma coisa aconteceu... – Como eu suspeitava que havia acontecido. – Enquanto isso... quero que você escreva tudo sobre o seu estado... Tipo, sei lá... qualquer coisa anormal.

– Minha vida inteira está anormal.

– Eu sei... Quero dizer... existem detalhes que você não me contou? Coisas que você poderia ter deixado de fora?

Ele mordeu o lábio por um momento, e relutantemente concordou. Peguei um caderno e uma caneta dentro da gaveta e joguei em cima dele.

– Toma – Eu disse. – Escreva, enquanto eu procuro. Assim, nós dois estaremos fazendo algo. – E talvez isso o impedisse de começar alguma conversa...

Ele resmungou mas obedeceu. Enquanto isso, eu não tinha certeza de por onde começar... voltei para o Google e digitei o nome dele. Uma longa lista de sites de fãs apareceu em minha tela. Bem... acho que vou começar com um desses, ao invés de fuçar sites de jornais com arquivos de notícias antigos para ler. Suspirei e cliquei no primeiro link. Isso seria um processo longo e demorado...

_

Estranho, muito estranho... eu descobri, depois de clicar e fazer o backup, que muitas das páginas listadas não funcionavam mais. Ou, as que ainda estava ativas pareciam que não eram atualizadas por um longo tempo, a maioria delas por pelo menos um ano.

Olhei na seção “Entrevistas” de uma dessas páginas não-atualizadas. Apareceram muitas transcrições e coisas do tipo... antigas do Access Hollywood, VH1, MTV... artigos da Rolling Stone, Billboard e outras diversas ‘fanzones’... mas um trecho em especial, chamou minha atenção. Uma transcrição de uma entrevista de rádio onde se lia: ‘Bill Kaulitz e suas travessuras” ‘ Comecei a ler...


– Ok, acho que já acabei. – Anunciou Bill, atirando o lápis em cima da mesa. Eu o ignorei e continuei a ler, deixando escapar risinhos. – Alley...?

– Você realmente fez xixi em cima de um telhado no Sundance Film Festival? – Perguntei incrédula; - Uau Bill. Existe uma coisa chamada banheiro sabia?

– O quê? - Ele latiu. – O que você está fazendo? Não está procurando a notícia no lugar certo.

– Foi mal... eu me deparei com isso... acredite em mim, eu não estava procurando ativamente entrevistas onde você confessa que urinou em público...

– Olha, eu realmente precisava fazer ok? Não tinha outra opção... nem outro lugar. – Ele resmungou. – Você foi uma jornalista má em uma vida passada, não foi?

Suspirei.

– Eu preciso fazer uma pausa depois disso ok? Deixe-me ver o que você escreveu.

Ele olhou para mim e empurrou o pequeno caderno sobre a mesa. Apanhei-o estudando suas palavras. A maioria das coisas que ele escreveu já havia me dito. O incidente onde ele assustou sem querer seu irmão no banheiro e o modo como o pote de Gel pareceu flutuar sozinho no espelho... Como todos se referiam a ele na terceira pessoa... como sua mãe parecia magra e abatida e ficou visivelmente perturbada quando seu nome foi mencionado... e como ele tinha usado a mesma roupa por semanas e não havia tomado banho desde que havia despertado.

Olhei para a cara dele...

– Sem banho? – Perguntei franzindo o nariz – Isso é meio nojento. Você.. hum... quer tomar um agora?

Ele balançou a cabeça.

– Parece que eu tenho necessidade de ir tomar banho? – Perguntou ele. Eu balancei minha cabeça lentamente. Era verdade, ele parecia tão perfeito e impecável quanto numa sessão de fotos. – Eu não estou sujo, nem me sinto sujo. Meu cabelo nem sequer eu tenho arrumado mais... Também não tive que fazer a barba... Só percebi que essa era uma das coisas loucas que ia de encontro a todas as outras bizarrices que estão acontecendo.

Eu balancei a cabeça outra vez, silenciosamente pensando passo a passo nos fatos. Invisível, intocável, exceto para mim, e claro, a objetos inanimados... perfeito e nunca muda ... incapaz de explicar como tinha chegado até aqui, apesar de que ele tinha dito que ele orou pedindo ajuda ...

– Continue procurando. – Ele exigiu. – Puxei o laptop para mais perto e segui suas instruções. – Ok... manchetes... Galeria de notícias... Digitar o nome da banda. TOKIO HOTEL... ok. Bem, aqui vamos nós... Arquivos...

– E agora?

– Cala a boca, que eu estou procurando.

Olhei por todos os títulos mais recentes. A última atualização, não tinha mais que duas semanas, de imediato, chamou minha atenção. Olhei para a tela, não acreditando no que eu estava lendo...

`Continua o vocalista da banda mais popular da Alemanha em coma um ano após o acidente.´

O quê? Tinha algum erro nisso. Olhei nervosamente para ele antes de clicar no link. Bill tinha se virado e olhava fixamente para uma de minhas pinturas.

– Ei, você que faz isso? – Perguntou, apontando para a obra nas paredes.
– Sim – Eu disse distraidamente. Agora não era hora de bancar o crítico de Artes. Voltei-me para a tela e comecei a ler rapidamente sentindo meu estômago revirar...

– Uau, eles são realmente muito bons. É isso o que você faz pra viver?

– Ahn, obrigada... e não. – Oh Deus. Pelo que pude perceber, o artigo era real... Quero dizer, não podia ser uma brincadeira, nem mesmo a MTV teria tanto mal gosto assim. Não é de se admirar que todos os sites que entrei não foram atualizados... A banda não foi capaz de fazer nada no período de um ano... – Bill – Perguntei baixinho, sentindo minha voz estrangulada. – Que... que dia é hoje?


– 25 de junho não é? Isso é o que tava no jornal...

– De que ano?

– O quê? – Ele perguntou confuso. Levantou-se e caminhou para o meu lado da mesa. – O ano? Que tipo de pergunta é essa?

– Apenas me responda por favor.

– 1965 – Disse ele, depois sorriu para a piada ruim. Quando ele viu a gravidade de minha expressão, suspirou. – Tudo bem, 2007.

Eu balancei minha cabeça lentamente.

– Não... – Sussurrei. – Não é – Seu rosto congelou imediatamente. Eu podia ver o medo em seus olhos quando ele respondeu.

– Do que você está falando?

– Leia isto. – Eu disse suavemente, levantando-me da cadeira e acenando para que ele viesse sentar. – Está na página da MTV de notícias...

Ele se sentou e começou a ler. Eu estava logo atrás dele, relendo o artigo sobre seu ombro.

10 de junho de 2008

O líder da banda Tokio Hotel, Bill Kaulitz, permanece há um ano no hospital após um acidente de escalada quase fatal que o deixou em coma.

Bill, agora com 19 anos, estava com seu irmão gêmeo Tom Kaulitz, 19, e um amigo próximo da família em um ginásio olimpico na cidade de Hamburgo em junho passado, quando seu cinto se soltou e ele despencou quase 30 metros do chão. Andreas Rüschel, o amigo que acompanhava os gêmeos, recorda o acidente horrível.

“O mosquetão ficou destruído” disse Andreas. “Tentamos dizer-lhe para ficar quieto, assim um de nós poderia chegar até ele e segurá-lo antes que ele caísse, mas ele estava tão alto que não conseguia entender o que nós estávamos dizendo. Então a corda escapou e ele caiu.”

A queda de Bill, resultou em cinco costelas quebradas, vários cortes, quebrando também suas pernas e um edema cerebral que o fez perder a consciência. Desde o acidente em Junho de 2007, Bill recuperou-se de todas as lesões, mas ainda permanece em coma. A família está muito abalada e já se ouvem boatos para o desligamento dos aparelhos que mantém o vocalista vivo. Um protesto de fãs em massa nos países da Europa e da América Latina surgiu em contrapartida pedindo que todos tivessem calma e que não fizessem isso com Bill. Tom Kaulitz não se dispõe a dar entrevistas já que seu estado emocional é crítico. David Jost, o produtor da banda, diz que ainda não desistiram de salvar Bill.
“Nós ainda estamos esperando, ainda orando por Bill” disse Jost em uma entrevista a MTV na semana passada. “No entanto não há planos futuros para a banda, a Tokio Hotel não é nada sem um de seus membros.”

A família Kaulitz não quis comentar sobre a saúde de Bill. ´

– Bill... - Eu chamei baixinho.


Ele lentamente girou e se levantou. Seus olhos estavam escuros e indefinidos, sua pele estranhamente pálida e sem vida. Eu não sabia o que fazer, tentei de novo... - Bill ?

– Licença - Ele disse abruptamente, roçando seu corpo pelo meu indo em direção a porta. Estendi a mão e segurei seu braço.

– Espere! - Eu disse hesitante, embora não tivesse certeza do por quê. O quê eu iria dizer pra ele ? "Sinto muito pelo seu estado vegetativo?" Ele se virou para mim brevemente e todos os vestígios do sarcasmo lúdico já desaparecidos de seu rosto. - Eu... - Comecei lentamente. - É verdade? Você não se lembra de nada...?

– Não. - Ele respondeu puxando seu braço. Assisti impotente enquanto ele descia correndo as escadas. Eu queria segui-lo, olhar melhor seu rosto... mas invés disso voltei para o computador, sentando mais uma vez na cadeira e lendo pelo que parecia ser a milésima vez aquele artigo. Li e reli mais e mais, tentando dar sentido a tudo. Isso não era possível! Como uma pessoa poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo?


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