Capítulo quarenta e seis: Amigos do Freak

Cheguei a casa de Freak um pouco mais calma, esperava que a entrega não demorasse muito, para que assim logo em seguida eu pudesse suprir minhas necessidades, já passavam das cinco, provavelmente Charlie já havia chegado em casa e visto meu bilhete dizendo que estaria fazendo um trabalho em meu quarto e eu não queria interrupções.

– aqui está a entrega – ele disse me dando um papel com todas a as informações anotadas.

– não é o seu dia de fazer entregas? – perguntei levantando uma sobrancelha.

– ouvi vampiros rodiando a casa logo depois que você saiu, então, não sairei daqui hoje.

– sua casa ser rodiadas por vampiros não pode, mas eu já posso ser atacada por cinquenta que tudo bem? – perguntei retoricamente. – eu disse a você sobre o vampiro me seguindo.

– sim, mas acho que deve ser o mesmo, acho que ele só quer chegar até a casa, então você estando longe da casa não corre perigo nenhum. – ele informou-me sobre sua teoria. Afirmei a mal gosto e fui para o porão pegar a mercadoria.

Reprovei Freak mentalmente quando cheguei no lugar marcado, era simplemesmente meio caminho para Seattle no meio da estrada, um lugar totalmente deserto e longe da vista dos humanos, felizmente o ‘cliente’ estava mesmo interessado nas garrafas de vidro, imitando as de vinho, que eu havia dado a ele. Recebi o pagamento e voltei para casa de Freak sem parar em nenhum outro lugar, meu relógio beirava as oito e eu ainda queria fazer pesquisas antes de ir cumprir com as minha necessidades.

– se importa se eu receber alguns convidados aqui hoje? – Tom perguntou tirando minha concentração do microscópio, ainda tentava descobrir o máximo sobre meu sangue, Tom não sabia o porquê dessa fissuração para com esse líquido, mas entendia minha curiosidade e me ajuda quando precisava de algo, inclusive de veneno, como a remoção desse líquido era fácil, indolor e rápido algo quese assemelhava com a remoção do veneno de cobra, usavamos o seu próprio.

– não, claro que não, a casa é sua – abri um sorriso para ele – desde que me deixe ficar aqui.

– bem provavelmente eles ficarão até tarde e também sentirão seu cheiro também, caso eles queirão te conhecer será um problema? – fiz que não com a cabeça e ele assentiu – então sem problemas, eles chegarão por volta das nove. – ele disse por fim e se virou para a porta, - ah e a propósito, reabasteci a geladeira, se quiser fazer alguma pesquisa fique a vontade – ele indicou para todo o cômodo. Olhei para o meu relógio, apenas meia hora de sossego até que os amigos de Freak chegasse, só esperava que ele se lembrasse de nossas regras e não trouxesse ninguém aqui em baixo.

Concentrei-me novamente em minhas pesquisas, tentava descobrir qual poderia ser o sangue mais saboroso, tentando igualá-lo ao meu puro. Queria saber se ele ficava melhor com as toxinas humanas ou sem, se os glóbulos brancos interferiam no sabor, entre outras coisas.

Deixei-me levar na preparação das amostras que só notei o horário quando acabei tudo. Beirava as dez horas, com certeza os convidados de Freak já teriam chegado, ele por acaso se importaria se eu levasse algumas provas a ele? Provavelmente não, seus convidados certamente não eram humanos.

Preparei quatro taças para levar para Tom, todas com sangue AB sendo duas com fator RH positivo e as restantes com ele negativo. Em cada grupo o que diferenciava uma taça da outra em seu conteúdo era o fato de um sangue estar oxigenado e o outro não, ou seja, o sangue da primeira taça fora tirado da veia que chega aos pulmões, antes de receberem o oxigêneo, e o da segunda taça fora tirado da veia que sai do pulmão, após receber oxigêneo. Mexi levemente as taças e levei para cima, Tom adorava esses testes que eu fazia. Abri um sorriso e sai do porão fechando a porta atrás de mim.

A diferença de ambientes era chocante, o ambiente escuro que era sua sala parecia não pertencer a mesma casa que o quarto do porão, enquanto aquele era claro e branco com aparelhos modernos esse era recheado de tons escuros dando a sala um toque de antigo como o resto da casa. Parei em frente a um espelho para olhar o meu estado, havia passado horas sentada na frente de amostras – para Charlie eu provavelmente estaria dormindo, teria visto se ele tivesse me descoberto. Meu vestido por incrível que pareça não estava amassado, Tom encaminhou-me sua entrega de hoje cedo e eu fiquei com a mesma roupa desde então, minha meia arrastão desenhada combinando perfeitamente com o vestido que usava e meu sapatos de salto quinze.

Passei pela porta do cômodo em que Tom estava com seus convidados e o silêncio se estabeleceu pelo por ali, todas as pequenas conversas que estavam para surgir foram extinguidas antes mesmo de pronunciadas. Caminhei a passos firmes até Freak tentando não demonstrar meu choque por encontrá-los ali, eles preencheriam cada segundo da minha vida por acaso?!

– testes? – Freak perguntou assim que parei com as quatro taças na mão a sua frente. Afirmei com a cabeça – número anormal de taças para isso, duas são suas? – ele brincou e olhou para elas sua cabeça se fixou em uma mão minha, parecia até que ele olhava para o meu pulso. Mexi a mão para um lado e para o outro e ele seguiu-a com os olhos.

– pelo visto, mesmo que eu quisesse alguma não as teria – mexi minha mão para confirmar sua teoria, ele novamente seguiu-a com os olhos. – la tua cantante – disse baixinho recuperando sua atenção para mim.

– me dê – ele estendeu o braço.

– não – ri dando um passo para trás. – você não disse que duas taças eram minhas? – fingi levar uma taça até a boca.

– NÃO! – ele levantou do sofá, porém não caminhou até mim.

– sentado – disse ameaçando soltar a taça, não duvidaria que ele tentasse me matar se por um acaso eu fizesse isso. – você irá gostar disso Carlisle – disse rapidamente para um dos Cullen que olhavam fixos para nossa conversa. – em nome da ciência você irá dar apenas um gole nesse sangue. Tenho outra taça com o sangue dela aqui e não me importaria em tacá-la ao chão – alertei-o, nesse momento ele já parecia um cachorro olhando para um suculendo pedaço de carne na mão de sua treinadora. – beba – dei a ele. Assim que pegou na taça seus olhos escureceram

– Bella você é louca, ele pode te atacar depois que beber esse sangue e ativar sua sede! - Carlisle reprovou-me preocupado. Edward foi além dele e se postou ao meu lado, sabia que qualquer passo em falso de Tom em minha direção seria motivo para Edward ou me pegar no colo e sair correndo, ou avançar no vampiro.

Tom apertou os olhos e com muito sofrimento bebeu apenas um gole da taça, ele sabia que eu nunca blefava

– ok, próxima – ele disse ainda de olhos fechados. Troquei a taça do sangue não-oxigenado para o sangue oxigenado. Ele deu um gole, porém dessa vez não aguentou e bebeu a taça inteira tacando-a no chão logo em seguida.

– você precisa comprar um taça agora – disse olhando para os cacos de vidro.

– onde tem mais disso? – dei de ombros. – você não sabe?!

– antes uma pergunta – interrompi-o. - qual das taças? – indiquei para a que ainda restava em minha mão.

– a segunda óbvio! – ele disse incrédulo se perguntando como eu poderia pensar na outra. – a primeira estava impregnada com alguma substância. – ri das suas feições.

– não era ‘uma substância’, era sangue puro, retirado da artéria pulmonar. O outro era da veia pulmonar. – seus olhos se arregalaram – ainda quer disperdiçar o sangue bebendo-o sem oxigêneo? – com muito esforço ele disse que não mechendo sua cabeça em movimentos repetitivos para os lados.

– sei que isso você consegue alterar, só quero saber de quem é esse maravilhoso artefato. – vi seus olhos brilharem enquanto ele olhava para o sangue e resolvi brincar um pouco mais com ele.

– se prometer não…

– faço qualquer coisa! – ele me interrompeu no meio da frase.

– é meu sangue – levantei uma sobrancelha. Toda a familia Cullen se postou ao meu lado protetoramente achando que ele me atacaria, três deles rosnaram após ouvir a parte do meu sangue. A boca de Tom se abriu num perfeito ‘O’ – brincadeira – ri um pouco de sua cara e voltei a ficar séria – agora falando sério, é de alguem dos novos, não sei quem ainda, tenho um pouco mais lá embaixo, se comporte, experimente esses dois e me diga qual é a melhor taça enquanto busco mais. Ah e tome cuidado para nenhum deles me seguirem esse é o nosso segredo e não deixará de ser tão cedo, quem descobrir ou desconfiar de algo se juntará aos dois vampiros da semana passada – avisei para Tom, contúdo fazendo uma ameaça especial para os Cullen. Entreguei as duas taças cujo conteúdo ele ainda não havia bebido e mantive a outra em minha mão. Levei essa a boca e tomei todo o conteúdo em um gole só.

– você faz boas escolhas, esse aqui tem realmente um bom gosto – deixei a sala com todos me olhando incrédulos. Tom por eu ter bebido o ‘seu’ sangue e os Cullen por ter sido a primeira vez que eu bebia sangue tão naturalmente na frente deles como se fosse água.

Ouvi Tom se colocando na frente dos outros para impedir que eles me seguissem dizendo calmamente que eu já voltava. Desci as escadas que tinha subido há alguns segundos e peguei o resto da amostra de sangue que eu havia preparado, aproveitaria a cantante de Tom para ver realmente os esfeitos do meu sangue sobre outro. Fiz um pequeno corte em meu pulso com uma lâmina que deixava em meu bolso, deixei que uma quantidade razoável caisse em um pequeno pote, não poderia esquecer que ao menos que eu quisesse matá-lo não poderia misturar meu sangue puro.

Coloquei um pouco do veneno de Tom em cima do meu e esperei para o líquido branco se formar e se separar do que seria meu sangue puro. Após retirar o veneno neutralizado, colocando esse numa garrafa, misturei o meu sangue com uma pequena parte do da menina. O resto do que sobrou dela coloquei em uma garrafa de vinho esse pouco eu deixaria que Freak consumisse sem problemas, porém o resto dele, seria todo reservado para os mais absolutos testes.

Subi novamente as escadas, voltando para o primeiro andar, dessa vez com duas taças em minha mão e uma garrafa de vinho com o conteúdo trocado. Cheguei a sala onde todos estavam e mais um vez as conversas pararam, contudo todos pareceram aliviados ao me ver e, no caso de Tom, ao ver o sangue.

– qual das duas você preferiu – perguntei antes de entregar o sangue a ele.

– a da esquerda, pelo mesmo motivo de antes.

– está certo disso? – perguntei levantando a sobrancelha.

– sim, apesar de eu ter pedido para eles provarem e no mesmo momento um sair correndo – olhei para os Cullens mais uma vez, Jasper não estava mais ali e Alice se segurava para não ir embora procurá-lo, ela estava em duvida, vi ele entrando na sala momentos depois de eu aparecer, ele sabia que eu impediria-o de fazer algo que ferisse os sentimentos de sua família.

– são vegetarianos, você deveria saber pelos olhos, Carlisle é médico e os outros tem um grande controle, porém Jasper ainda encara seus problemas. – um misto de compreensão passou pelo rosto de Freak

– deveria perguntar de onde você os conhece?

– uma simples resposta, aquele ali é o Edward. – Tom rosnou involuntariamente e se segurou na cadeira. – vou deixar vocês se conhecendo mais, dei um sorriso maquiavélico.

– Bella, o sangue – Tom avisou-me

– a sim, mais alguns testes antes. – Freak segurou meu pulso quando fui entregar as taças para ele.

– Bella eu já não disse para você parar de se cortar?! Daqui a pouco você estará inteira fatiada. – ele disse expondo meu pulso, apenas uma cicatriz estava ali, aquela que eu havia feito a pouco, de resto já haviam todas sumido.

– Qual das duas? – Ignorei as broncas e perguntei. Ele levantou a que segurava na esquerda apertando os olhos como forma de se controlar para não beber mais.

– esse é o sangue mais viciante e mais gostoso que eu já provei em toda a minha vida. – ele disse indicando para taça em que meu sangue estava misturado… mesmo com o sangue da cantante a mistura do meu sangue trazia melhores resultados.

– saborei-o então, vou subir, preciso trocar de roupa, estou parecendo que vou ali rodar a bolsinha. – precisava usar essas roupas quando ia fazer entregas ou algo do tipo, não me importava em usá-las, porém ficar em um ambiente fechado com elas me parecia totalmente estranho. Virei-me para a porta andando a passos firmes.

– achei que você já tinha ido… como assim, Isabella? Como você irá ganhar seu dinheiro se não for? – olhei de relance para Tom e ele riu da minha cara. Virei-me novamente para porta, porém antes de sair fiz questão de demonstrar meu desagrado com a sua brincadeira tacando um dos seus vasos favoritos em sua cabeça. Milhões de pedacinhos de cerâmica surgiram quando o vaso chocou com a cabeça de Freak e uma pequena linha fina apareceu com o impacto. – você me machucou, qual é?! – ele passou a mão pelo ‘corte’ E esse era um dos meus vasos favoritos! – ele gritou comigo após notar qual vaso tinha sido quebrado em sua cabeça.

– ops – disse rindo, porém sem parar de andar em direção a escada – acho que você terá que ir lá na esquina comigo para conseguir dinheiro e poder comprar outro. – subi as escadas ainda rindo iria trocar de roupa e ir embora.