Hidden escrita por jduarte


Capítulo 68
Memorável


Notas iniciais do capítulo

bom, não recebi mais reviews, mas estou extremamente inspirada por causa da leitura recente...
Então, aguentem!
Beijooos,
Ju!
ps: comentem pessoas!



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   Senti a presença esmagadora de alguém andando até nós, e então alguma coisa me cutucou por dentro, forçando meu corpo a se manter ereto. O que parecia um sacrifício enorme.

   Os olhos de Adam continuavam acesos do mesmo jeito, mas algo brilhava no fundo. Temor? Talvez raiva? Mas de quê?

- Ah, é... – disse a pessoa que se aproximava.

   Sua voz mexia comigo, como seu eu já a conhecesse de algum modo.

- Esqueci a identidade na mesa. – sua voz suave, porém rouca invadiu meus ouvidos.

   Imediatamente, meus olhos a mesma em busca da tal identidade, ou algo que pudesse me levar à seu nome.

- Por que não fica com a gente? – perguntou Adam.

   Sua voz demonstrava educação, mas seus olhos acabavam o denunciando.

   A coragem que eu tinha agora para enfrentar o estranho e Adam, agora não passava de migalhas de pães. Um gosto amargo me atingiu a boca do estômago.

- Hmm... Pode ser. Só não posso demorar.

   Ouvi uma cadeira se arrastando atrás de mim, e tive a vontade de gritar. Talvez ele mudasse de idéia de última hora, pensei.

   Inutilmente, tentei lhe encarar, mas as migalhas de coragem pareciam mais ridículas e imprestáveis do que nunca. Deus, como eu sou infantil!

   Adam se ajeitou na cadeira, como se fosse ficar mais confortável, enquanto alguma coisa na minha cabeça me mandava sair correndo em disparada pela porta. E essa era a razão de eu ter deixado a perna escorregar do banco do bar, e grudado no chão, se um assunto em particular não houvesse captado minha atenção.

- Ficou sabendo que Phew Doggings lançou um livro sobre mutantes? – perguntou a voz melodiosa.

   Meus olhos ainda estavam grudados no chão, fazendo com que minha nuca ficasse exposta, me deixando com frio.

   Adam pegou a cerveja e deu mais um gole, baixando-a com uma careta.

- Ouvi que foi barrado pelo Governo...

- Caso não houvesse alterações. – a voz disse.

   Adam parou a cerveja no meio caminho até a boca, e fez uma expressão estranha, como se tivesse levado uns bons socos.

- Ele conseguiu? – Adam perguntou recobrando às normais feições, alterando-a para cara de paisagem.

   E então, pela primeira vez, realmente, desde que ele havia entrado pela porta, olhei na direção daquele estranho.

   Eu tive a sensação de que estava segura quando seus olhos cruzaram os meus. A sensação de que se eu pulasse de um prédio, alguém estaria lá embaixo para me segurar. E esse alguém era ele. Como se estivesse num fim de tarde, e visse o Sol sumir por detrás de um monte de prédios altos e brutos.

   Seus olhos emanavam ferocidade e calmaria ao mesmo tempo. Um choque entre os dois. Uma sensação boa, familiar.

- Conseguiu – respondeu.

   Nesse momento eu não ligava para o fedor de axilas suadas, cerveja e cigarro que nos circundava. Não me importava em ficar sentada sentindo a bunda adormecer lentamente com o estofado barato. Não me importava que os banheiros tivessem cheiro de xixi. Não se eu pudesse ficar com ele.

   E se me perguntassem qual era minha cor preferida, sem dúvida, responderia: esmeralda.

   Um estalo em minha cabeça me fez acordar para a dura realidade.

   Sem a intenção de ir embora, mas ainda assim desconfortável no banco, tive a necessidade de cruzar as pernas.

   Adam e seu amigo continuaram sem dizer nada, então tive que começar de algum jeito, os tirando de um transe. Pigarrear alto e falsamente foi a única solução que achei. Como se estivesse com um pedaço de carne preso no fundo da garganta.

- Então ele conseguiu? – perguntei.

   O estranho me encarou novamente, deixando seus olhos varrerem meu rosto, e pousarem em minha boca. Eu não sabia o que era mais vermelho: minhas bochechas ou o forro das paredes do bar. Meu estômago se revirou várias vezes.

   Algo dentro de mim, que antes gritava para que eu corresse como uma gazela porta afora, agora berrava em plenos pulmões para que eu o atacasse como um monstro e o beijasse. Beije-o! Beije-o, sua idiota! Mas é claro que não aconteceu.

- Sim... Phew passou nos testes, - disse o estranho sorrindo de canto. – mas foi pego pelo Governo quando invadiram sua casa.

   Em um momento, havia calor e paciência, e eu conseguia entender tudo. E no outro, eles falavam sem parar sobre o Governo, metendo siglas em tudo quanto é lugar, e novamente me senti como se estivesse no meio de dois adultos falando de um assunto proibido. Uma intrusa.

- Quem está metido nisso? – perguntou Adam.

   Astif – cujo nome havia acabado de descobrir por meio de sua identidade jogada de qualquer jeito na mesa – riu levemente, me provocando arrepios.

- Quem você acha? – retrucou.

- Mas a AMAP não pode estar envolvida nisso!

   Astif riu.

- E está!

- Mas a ASN estava lá, estavam o protegendo! – Adam disse parecendo surpreso com algo.

   Algo me dizia que esse cara não era tão inocente assim.

- Se você estivesse lá, saberia que não estavam.

- Mas ele não foi preso, foi?

- Sim. Mas como você disse, por causa da ASN ele só pegou advertência.

- Que tipo? – Adam perguntou interessado.

- Do tipo um. Duas noites na CC.

   E então, era como se falassem grego.

   Franzi o cenho, tentando buscar em minha mente palavras que pudessem significar alguma sigla dessas. Mas nenhuma se encaixava.

- O que são essas siglas? – perguntei interrompendo-os.

   Ambos olharam para mim.

- Ah, qual é, Adam! Você não disse que iria responder todas as minhas perguntas? – perguntei enfatizando o “todas”.

- A AMAP significa: “Apreensão de Mutantes Altamente Perigosos”, ASN “Agência de Segurança Nacional”. – disse ele.

- E a CC? – perguntei.

   Astif se inclinou para sussurrar algo em meu ouvido. Um arrepio percorreu toda a minha coluna quando sua boca tocou meu ouvido.

   Será que ele perceberia o cheiro de meu perfume? Ou será que ele vai perceber que passei quilos de perfume só para camuflar meu cheiro?

   Onde sua boca percorreu, deixou um rasto quente, e até minha testa se arrepiou.

- A Cidade Contaminada. – disse Astif.

   Eu não sabia o que falar, nem o que fazer. Ele me deixava, de certo modo, totalmente desconcertada. Como se tudo o que ele fizesse, me atingisse, mesmo inconseqüentemente.

   Adam não sorria. Não depois de Astif e eu termos um “momento”. Não foi um momento exatamente, mas pelo menos foi o que eu senti.

- Porque você quer saber tanto? – perguntou Adam.

   Estaquei. Não havia o que dizer. Eu realmente não diria: Ah, sou uma mutante, e posso arrancar a cabeça de alguém só de pensar, praticamente. E meu irmão também é. Oh, só pra constatar, eu pretendo derrubar o Governo. Ou algo do tipo.

- Acho necessário saber de alguma coisa sobre mutantes nesses dias. – disse com as palmas da mão suando. Não sei como minha voz saiu estável.

   Adam me olhou meio desconfiado, e levantou. Pensei que ele fosse embora, mas então ele pegou a cerveja, deu um longo gole, e disse:

- Sabe, porque vocês não ficam conversando sozinhos, enquanto eu vou jogar mais uma partida de sinuca com meus amigos?

   Isso me pareceu ironia. Mas não consegui expressar nada. Pelo contrário.

- Tudo bem. – disse. – Eu já ia embora mesmo...

   Minha frase ficou no ar, como se tivesse sido cortada por alguma coisa.

   Levantei-me para ir embora, e já estava de pé quando uma mão quente me pegou o pulso. Fagulhas voaram da mão de Astif, fazendo mais uma vez com que meus pelos se arrepiassem.

   Meu Deus! Do jeito que ele me deixa arrepiada só de me tocar, vai pensar que sou uma maldita problemática!, pensei aturdida.

   De repente me senti ser engolida por uma névoa de lembranças, rodeando minha cabeça, me deixando tonta. Eram cheiros, beijos, toques, e dor.

   Rostos sem expressões, me machucando, barulhos de tiros, e algo mais. Esmeralda. O que marcava era essa cor vibrante, que ricocheteava as paredes de meu cérebro, me nauseando momentaneamente.

   Um choque rápido, porém potente, percorreu meu braço, e voltou para a mão de Astif. Uma vontade de sentar com a cabeça entre as pernas, me aturdiu. Era ridículo pensar que um toque pudesse me fazer sentir tudo aquilo. Mas de algum modo, parecia que eu tinha vivido tudo aquilo. Como um deja-vú incansável.

   Como se ele também tivesse sentido o choque, retirou rapidamente a mão.

- Desculpe. – disse Astif, tão baixo que tive que usar minha audição aguçada.

   Apertei meu pulso no lugar que ele havia segurado, tentando prender a sensação da quentura de sua pele em contato com a minha. Talvez até como se eu pudesse prender todas as memórias que me invadiram, somente se segurasse o pulso.

   Meu corpo inteiro estremeceu quando a memória de olhos esmeralda me invadindo. Toque-me novamente!

   Estava paralisada no mesmo lugar. Estarrecida, o encarando como se ele fosse um tipo de deus grego muito poderoso.

- Desculpe. – sussurrou de novo, como se eu não tivesse ouvido.

   Eu o havia escutado muito bem. Bem até demais!


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Notas finais do capítulo

continua??