Hidden escrita por jduarte


Capítulo 42
Torturada


Notas iniciais do capítulo

mais um capítulo!!!!!
Beijooos,
Ju!



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   Bernardo foi com uma cara de machão para encarar Shenid pensando que ele era o que ia sofrer.

- Não. Não nos importamos, afinal não somos nada um do outro. – disse ele.

   Shenid riu acidamente, e bateu amigavelmente no alto do braço de Bernardo.

- Esse é o cara que eu conheço. Porque não vai se juntar a seus amigos verdadeiros, e deixa que dessa cuide eu?

   Ele ficou de boca aberta, enquanto eu lhe lançava um olhar de compaixão. Ele realmente achou que eu iria simplesmente sair andando daqui sem nenhum arranhão? Bem, ele pensou errado.

   Aldeth amarrou mais a corda em meu punho, só que agora ele despejou alguma coisa em cima dessa corda, e a deixou escorrer por meu punho. Quando esta “coisa” passou rastejando por meu braço, minha pele ardeu como se o fogo estivesse lambendo meus braços, e eu gritei tentando puxar o braço junto ao corpo.

   Quando Bernardo foi falar algo, só ouvi Shenid, que apreciava minha dor, dizer:

- Mais um passo, e seu pai vai pra lá.

   Bernardo se conteve. Pai? É a segunda pessoa que menciona esse cara, e eu ao menos sei quem é ele, pensei enquanto as lágrimas voltavam em meus olhos, e eu sentia-me envergonhada e vermelha por estar sendo tão fraca quando meu instinto me dizia para ser um monstro.

   Deitei no chão com as mãos embaixo do corpo, e desejei – pela primeira vez – realmente morrer. Não agüentava ficar vendo tanta desgraça e tamanho sofrimento com os especiais. Não queria dormir em um lugar tão inseguro quanto à própria sorte.

   Senti meu corpo ser impulsionado para cima, deixando meu tronco fora do chão, e somente meus pés e a ponta de meus dedos da mão tocando nele. Senti as lágrimas escorrerem pelo lado errado de meu rosto. Apertei a boca para não gritar com a dor que me consumia rápida e ligeiramente.

   O silêncio dentro de minha cabeça era tão prazeroso. Porém sabia que em alguns minutos, ou segundos tudo ia acabar.

   Senti meu organismo ficar fraco e uma coisa horrível se passou dentro de mim. Meu coração palpitava rápido demais, e parecia que eu estava com medo, mas quando eu olhava para Bernardo e Adam tudo ficava bem.

   Eles pareciam portos-seguros ao meu lado, mas diferentes um do outro. Adam parecia mais seguro e mais calmo. Bernardo parecia amoroso e nada seguro. Mas que se dane, quem disse que eu quero um porto realmente seguro?

   Minha visão ficou bem embaçada, como se tivesse fumaça na “sala de tortura”. Meu ouvido ficou bem menos sensível, e meu tato mais bobo e parecia não responder ao meu comando devidamente.

   Meu corpo bateu no chão com um baque surdo, e meu punho esquerdo continuava quebrado. Ele já deveria estar bom, pensei aturdida. Olhei para Bernardo, mas meus olhos em nada conseguiram se focar, somente em uma luz azul pulsante que me deixava desnorteada.

   Algo parecia estar engasgado em minha garganta, e parecia que o canal de ar havia encolhido alguns milímetros. Tentei forçar algum som sair de minha boca, mas era como se eu estivesse presa em algum tipo de sonho muito ruim. Absolutamente nada saía. Passei as mãos das costas para frente, e senti o estalo do punho e a agonia percorrendo meu braço.

   Aldeth puxou a parte da frente de minha camiseta, e colocou-me ajoelhada. Fechei os olhos com a dor pulsante dentro de mim, e ouvi Bernardo dizer baixo, que não agüentava mais. Um soluço angustiado.

- Caph, será que você poderia arrumar as coisas? – perguntou Shenid.

   Caph pareceu assentir, e abriu uma porta no canto da “sala de tortura”, e puxou lá de dentro como se fossem amarras com espinhos pontudos e aparentemente rígidos. Tremi. Bernardo enrijeceu totalmente, não me passando nem um pouco de tranqüilidade. Fechei os olhos por alguns segundos, desejando que tudo aquilo não passasse de um sonho.

   Por favor, por favor, que eu acorde em casa, feliz, e sabendo que tudo só passou de um sonho! Por favor, pensei sentindo um aperto profundo em meu coração.

   Ouvi o som das amarras de aço vindo, sendo arrastadas pelo idiota de Caph, e estremeci, prometendo a mim mesma que não sofreria nada. Afinal, eu era de ferro, não era? Não podia sentir absolutamente nada em relação à dor.

   Mesmo sabendo de que tudo o que eu sentia era coisa de minha cabeça, não conseguia parar de pensar que poderia morrer ali. Seria quase certo afirmar que eu era uma verdadeira bocó.

   Poderia ter me escondido quando os guardas entraram em nosso esconderijo, ou fugido, mas não, eu fui fraca, boba!

   Depois de alguns segundos, ouvi o rastejar das amarras chegando mais perto. O aroma inebriado do ar se dissipou em segundos, e de repente, peguei-me rindo da cara de Shenid.

   A voz dele cortou o ar.

- Rindo de quê, monstrinho? – perguntou enraivecido e doido.

   Foquei meus olhos em Bernardo que só faltava berrar para eu calar a boca.

- Da sua cara de idiota.

   Ele ficou chocado, com muitos naquele lugar.

- Você acha que só porque é o Bam-Bam-Bam dessa joça, pode sair por ai jogando merda no ventilador que ninguém vai falar nada. Bem, meu caro babaca, as coisas não são assim. – prossegui sentindo uma coisinha estranha em minha garganta.

   Shenid afrouxou o cinto e eu ri mais ainda.

- Você pode ter dado para mim um veneno de escorpião, ter me sedado, mas essa sua cara de idiota compensa. Como você é burro, Shenid! – exclamei.

   Ele foi falar alguma coisa, mas o interrompi vendo as veias de seu pescoço musculoso e aterrorizador saltarem, como se estivessem em um trampolim.

- Nem percebe quando as coisas acontecem, não é mesmo? Você acha que tem o controle daqui, sendo que nem sabe o nome da metade dos mutantes que mantém aqui. – prossegui nem me dando conta de que ele havia puxado a arma, e apontado para meu peito.

- Cala a boca, sua boçal! – gritou ele, disparando contra o chão, e logo após carregando-a novamente.

   Shenid parecia um touro quando veio correndo em minha direção. Ele pegou em meu pescoço e apertou-o, levantando-me do chão. Senti minha cabeça girar com a falta mínima de oxigênio no cérebro.

- Você. Não. Têm. Moral. Para. Falar. Comigo! – disse ele.

- Idem. – murmurei apertando seu punho do tamanho de uma maçã, e deixando-o mais nervoso ainda.

   Shenid apertou a arma frígida e insaciável por sangue em minha barriga, e murmurou:

- Vou considerar a idéia de não te matar. Apesar de que, deixá-la bem ferida saciará por alguns dias a minha vontade de explodir sua cabeça.

   Engoli – quase – seco.

   Ele me soltou no chão, dando uma coronhada em minha cabeça, e batendo com o cano duro da arma em minha bochecha. Senti o gosto ruim do sangue na boca, e o cheiro embrulhou meu estômago.

   Limpei a bochecha com a parte de trás da mão esquerda, com cuidado para não machucar mais meu punho, e assustei-me. 


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Notas finais do capítulo

continua?